Chereads / Semente do Mal / Chapter 38 - 38 — EU TE AMO

Chapter 38 - 38 — EU TE AMO

Após chutar Berta para fora do carro, Elisa dirigiu o mais rápido que pôde até a igreja. Estacionou o veículo do lado de fora, espantou-se com o que viu.

Na praça havia uma multidão de pessoas. Esperavam pela vingança do padre. Porém, o que a deixou desconfortável foi ver a mulher pregada na cruz. Imaginava que pessoas morreriam, mas, a cada minuto que aquilo se tornava mais real, começava a pensar em desistir. Ligar o carro e fugir dali. Ir até sua casa e pedir ajuda a Augusto. Contar tudo ao marido e tentarem, de alguma forma, ir embora daquela loucura. Era tarde demais. Além disso, tinha de se lembrar que não eram humanos. Eram demônios.

Saiu do carro puxando Rob pelo braço. O garoto fazia força para se desvencilhar da mãe, precisava ir até a colina. Tinha prometido ao irmão que o ajudaria, mas não conseguia fugir. Foi arrastado até ao lado da mulher na cruz.

Quando Aurora viu o menino, lançou um olhar amoroso e disse com a voz baixa, quase inaudível:

— Vai dar tudo certo, meu amor.

Elisa a fuzilou com o olhar. Julio foi ao encontro dela e do garoto.

— Imaginei que viria, Elisa. Agora, teremos de aguardar.

Ela iria perguntar pelo que precisavam esperar, quando um grupo de pessoas apareceu, trazendo Ben e Augusto arrastados, inconscientes. Ia protestar dizendo para que poupasse o marido, quando sentiu uma pancada forte na nuca, e, aos poucos, o mundo escureceu.

Rob tentou fugir pelo meio da multidão. Foi agarrado e levado de volta ao padre.

— Peguem as cordas — disse Julio. — E, Marcos, não esqueça do sedativo. Ele não poderá ter forças para usar os poderes.

O garoto se debateu numa tentativa de sair das mãos das pessoas que o seguravam, mas era fraco demais para isso. Se Michael estivesse ali, poderia ajudá-lo. Mas não sabia onde o irmão estava.

Foi amarrado junto de Elisa, Ben e Augusto.

— Agora, esperaremos que o pai dos demônios acorde. Quero que ele veja o fim de sua ninhada. Nosso Deus ordena que ele sofra antes de partir.

As pessoas concordaram.

***

Berta dirigia o carro em alta velocidade. Bóris latia dentro do veículo, como se dissesse para que ela corresse mais rápido. O problema era que a mulher não sabia o que fazer. Tinha plena certeza de que, nesse instante, a igreja se encontrava lotada de pessoas cegas pelas pregações do padre. Odiava-se por ter aceitado mantê-los vivos. Deveriam ter matado todos assim que tiveram a chance, ou vigiá-los dia e noite. Principalmente o padre. Mas a cegueira da vingança tomara o coração de Ben.

Foi só quando passou pela casa de Aurora que teve uma ideia. Lembrou-se de que Ben havia dado à esposa uma espingarda para que se protegesse caso alguém tentasse machucá-la. Berta estacionou o carro do lado de fora da casa e entrou. Demorou alguns minutos até que achasse a arma e a caixa de munições. Voltou correndo para o carro e deu a partida novamente.

Estacionou atrás da igreja, de onde poderia chegar escondida e surpreender todo mundo. Mas um grito alto e agoniante, seguido de um urro de Ben, disse-lhe que chegara tarde demais.

***

Ben abriu os olhos e não pôde acreditar no que via. Sua mulher, o amor de sua vida, estava pregada, quase entregue à morte, em uma cruz. Augusto, Elisa e Rob estavam ao seu lado, conscientes e amarrados. Tentou se levantar para ajudá-la, mas suas pernas não o obedeceram, e os nós da corda o puxaram para baixo novamente.

— O que você fez? — gritou para o padre, que estava à sua frente.

Como resposta, recebeu um soco no rosto.

— Isso é por Valter, o fedorento que você matou. E pelas crianças que você sacrificou. E pelo meu Deus, que você desafiou.

Ben caiu de lado, chocando a cabeça contra o chão da praça. Marcos o levantou.

— Você? Eu confiei em você.

O homem sorriu e depois cuspiu na cara de Ben.

— E você foi enganado direitinho, seu filho de uma puta. Não era assim que você me chamava? — respondeu Marcos, com o olhar queimando em fúria.

Julio pegou um galão de gasolina do lado da cruz onde Aurora estava pregada. Começou a jogar o líquido inflamável pela madeira e pelo corpo da mulher. Ela não protestava, já tinha aceitado seu fim. No fundo, pedia a Deus ou ao Diabo para que, de alguma forma, salvasse seu marido e seus filhos.

De fundo, Ben berrava para que Julio não fizesse aquilo. Augusto, Elisa e Rob assistiam em silêncio. O garoto pensava em como sua mãe tinha sido má e sentiu o ódio crescer no peito por aquilo.

O padre acendeu um palito de fósforo e foi até o lado de Ben.

— Agora, assista seu amor indo embora para o Inferno. Logo vocês se encontrarão lá.

Arremessou o objeto incandescente na direção da cruz, que começou a arder em chamas. Antes que o fogo engolisse a mulher, ela falou:

— Eu te amo, Ben, e sempre vou te amar.

E então berrou quando sua pele começou a ser tomada pelas chamas. Um berro gutural que deixou os moradores encolhidos, mas, dessa vez eles não cederiam. Ela deveria morrer, assim como os outros. Pouco menos de um minuto depois, a voz da mulher cessou. Seus olhos ainda estavam abertos, mas não sentia mais dor. Ainda proferiu um "Eu te amo" inaudível para o marido, e, enfim, se foi.

Ben explodiu num grito, e, de sua boca, saiu um som inumano e incrivelmente alto. Aos poucos, encontrou forças para que seus pés o levantassem do chão. Marcos preparava a seringa para aplicar mais uma dose de anestésico no homem quando sua cabeça explodiu, espalhando sangue para todos os lados e em todas as pessoas que estavam próximas dele. Logo em seguida, outras pessoas tiveram o mesmo fim que ele.

Ao perceber que havia sido pego desprevenido e que Ben recuperaria seus poderes, Julio correu. Bóris avançou na direção do padre, e agarrou-lhe o braço, jogando o padre no chão. Mordeu-lhe nas pernas e na barriga, fazendo com que sangue começasse a jorrar de seu corpo. O padre se arrastou até o martelo que usara para pregar Aurora na cruz e bateu contra o corpo do cachorro, que caiu imóvel no chão, soltando um som de dor.

Julio correu para a proteção da igreja, onde trancou as portas. Como seu Deus tinha permitido aquilo? Por que seu grande Deus deixou que aquilo acontecesse?

Correu para os fundos. Pulou a janela e se foi, sem saber para onde. Ouviu gritos vindos da direção da praça, mas não parou. Tentaria ir embora dali. Tinha esperanças de que, com o enfraquecimento de Ben, a barreira de Rio Denso tivesse sido quebrada. Correu o mais rápido que pôde. Correu até chegar na placa de "Bem-Vindo a Rio Denso", onde o número de habitantes mudava a cada segundo. Pop. 505, Pop. 504. Pop. 503. Seu coração gelou. Correu ainda mais, até bater com a cabeça em algo invisível. Suas esperanças se esvaíram. Ele morreria ali, naquele lugar. Seu Deus o abandonara.