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Chapter 39 - 39 — OLHOS VERMELHOS

Berta não hesitou por um momento sequer. Assim que ouviu os gritos, saiu correndo. Bóris vinha atrás dela correndo tão rápido quanto a mulher. Passou pelo meio dos arbustos que ficavam atrás da igreja, a arma engatilhada e pronta para ser usada. Assim que atravessou a extensão do prédio, viu a multidão. Acreditava que toda a cidade estava por lá. Aurora encontrava-se presa em uma cruz, queimando. O cheiro de carne carbonizada invadiu o nariz da mulher e quase a fez vomitar.

Viu a vagabunda, Augusto, Ben e Rob amarrados. Ia atirar na cabeça de Elisa primeiro, aquela que a chutara do carro e escolhido o lado do padre. Aquela que contribuíra para a morte da sua nora. Mas, assim que levantou a arma, ouviu Ben gritar. Viu-o se levantando, e, por uma fração de segundos, pôde ver uma seringa na mão do homem do lado de Ben. Aquele que cuidava do hospital e o ajudava com todas as coisas. A única pessoa em quem seu filho tinha confiado. Não pensou duas vezes: mirou na cabeça dele e puxou o gatilho.

Aquilo fez com que o padre corresse. Ela atiraria nele também, mas acreditou que Michael ficaria furioso com ela por isso. Deixou-o ir. Atirou em mais alguns moradores e depois foi até Ben.

O cheiro de queimado de Aurora tomava conta da praça e algumas das pessoas colocavam suas mãos no nariz a fim de afastar aquele odor.

O filho estava de pé e parado. As pessoas começaram a se dissipar e ela disparou alguns outros tiros em uma mulher e em um homem que entraram em sua mira. Colocou a arma de lado.

— Ben, precisamos ir agora. Deixa isso para depois.

Mas o homem não pareceu escutar. Seus olhos começaram a ficar vermelhos. O mesmo tom que a lua carregava. Berta pegou no ombro do filho e o sacudiu. Aquilo pareceu despertá-lo. Ben respondeu com uma voz fria, fazendo com que os pelos do corpo de Berta se levantassem.

— Ok, vamos.

Ela desamarrou Rob e Augusto e, quando encarou Elisa, parou.

— Ela trouxe o garoto até aqui. Não podemos levá-la junto.

Augusto começaria a protestar. Não acreditava nas palavras da mulher. Sua Elisa jamais colocaria seu filho naquele perigo. Jamais o entregaria nas mãos daquele psicopata. Mas foi Ben quem interveio.

— Traga ela conosco. Depois tratamos desse assunto.

Rob correu até a porta da igreja, com lágrimas escorrendo pelo rosto. Encontrou Bóris inconsciente.

— Você fez isso com ele. Você trouxe a gente pro padre! — gritou, virando-se e encarando a mãe.

O médico foi até o lado do filho. Ajoelhou-se no chão e percebeu que o animal ainda respirava. Falou baixinho.

— Ele está vivo ainda, filhão. Vem, papai vai levá-lo.

Rob segurou firme no braço de Augusto. Quando Elisa foi pegar a mão do garoto, ele se desvencilhou, direcionando um olhar severo e triste a ela. Tudo que a mulher fez foi baixar a cabeça e segui-los.

Alguns dos moradores se negaram a fugir e tentaram atacá-los. Berta deu jeito em alguns, estourando os miolos de uns e atirando na perna de outros. Mas eles pareciam se juntar mais e mais, e, naquele momento, um grupo de vinte pessoas os cercava. Um homem alto e magro, com a cara afundada e olhos mórbidos foi quem falou:

— Deem o garoto, e deixamos vocês irem. Só precisamos do garoto.

Ben o olhou, ainda com os olhos vermelhos. Caminhou até o homem, que foi dando um passo para trás a cada vez que Ben se aproximava. O que o homem viu nos olhos de Ben o enlouqueceu. Ele berrou. Colocou as mãos na cabeça e correu, cambaleando e gritando sem parar. Tivera um vislumbre de seu futuro. Com apenas um leve movimento de mãos, Ben lançou todos os outros moradores para trás, fazendo-os cair no chão.

— Se não fosse pelo meu filho, eu já teria matado todos vocês há muito tempo. Teria torcido o pescoço de cada um com minhas próprias mãos e enviado suas almas para o Inferno, onde Lúcifer aguarda ansiosamente por cada um. Mas Michael me pediu para guardar isso para ele. Logo ele estará de volta. E vocês deveriam temer o que um garoto ressentido e preso por nove anos tem a oferecer.

Voltou para o seu grupo e continuaram até os carros. Dividiram-se em dois. Berta levaria Bóris no seu carro enquanto Augusto, Elisa e Rob iriam com Ben.

Partiram, deixando um amontoado de pessoas perplexas para trás. Algumas olhavam para os lados, a fim de encontrar Julio, seu porto seguro, mas sem sucesso. O padre havia se mandado no começo daquela confusão e deixado os discípulos para trás. Ao perceberem que estavam sozinhos, desesperaram-se. Alguns correram para suas casas e trancaram as portas, como se pudessem se proteger do que estava por vir. Outros pegaram seus filhos e tentaram sair pela única saída de Rio Denso, da mesma forma que o padre tinha tentado, e esbarraram na mesma barreira invisível. Outros ficaram na igreja, ajoelhados e rezando para o Deus que os abandonara, assim como seu padre.