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Chapter 35 - 35 — A LUA DO DIABO

Os dias depois daquilo decorreram normalmente. Augusto ficou o tempo todo em casa e nenhum telefonema foi dado a ele. O hospital continuava na mesma, sem pacientes. Rob continuava indo à escola e quem o levava e buscava era Elisa. Precisava ficar mais próximo do filho para que, quando avistasse a lua, fosse correndo para a igreja. Nem Berta e nem Ben desconfiaram.

Passaram-se quatro dias, e nada de anormal aconteceu, deixando o casal um pouco mais confortável. Elisa e Augusto aproveitavam o tempo do filho na escola para aprontarem por toda a casa. Na manhã do quinto dia, transaram pela casa toda. Quartos, banheiro, sala, cozinha e até do lado de fora da casa. Temiam que talvez Ben pudesse aparecer, mas isso era ainda mais excitante, já que corriam o risco de serem descobertos. Por algumas horas, esqueceram-se de tudo. Emergiram no sentimento de amor e prazer que um proporcionava ao outro e foram felizes por completo naquelas horas.

O último lugar em que transaram foi debaixo da grande árvore. Colocaram uma toalha de piquenique lá e fizeram o sexo mais gostoso da vida dos dois, entrelaçados pelo amor e desejo que um nutria pelo outro. Quando terminaram, ficaram deitados, ainda nus, admirando o dia. O sol estava escondido por detrás de nuvens escuras que ameaçavam jogar gotas de água a qualquer instante, mas não se importaram. Estavam felizes.

— Quando vamos poder ir embora daqui? — perguntou Elisa, esfregando a cabeça no peito nu do marido.

Augusto suspirou. Não queria aquela conversa. Não sabia quando poderiam sair dali. Teriam de seguir o plano de Ben. Um plano louco. Tinha medo do que poderia acontecer ao filho. Porém, no fundo do seu coração, sabia que ele não desejaria mal algum a Rob. Afinal, o garoto era filho de sangue dele. A desconfiança e medo que antes sentia por Bem se transformaram em confiança. Era por causa dele que estavam ali, mas o homem tinha sofrido uma perda enorme, e tudo que desejava era seu filho de volta. Ele mesmo disse que, assim que terminasse, poderiam ir embora. Deixaria Rob ir com eles, se assim desejasse, e ouvir isso o confortou.

— Não sei, meu amor. Não sei.

Nenhuma outra palavra foi dita. Augusto não contou a Elisa sobre a conversa que teve com Ben a fim de protegê-la. Elisa não contou ao marido sobre a conversa com o padre com medo de que ele não acreditasse nela. Se naquele momento os dois tivessem falado um para o outro sobre seus segredos, talvez o final que fosse diferente. Mas ficaram em silêncio com seus segredos presos dentro das mentes, fazendo o que nunca fizeram: escondendo algo um do outro.

Quando se deram conta, estava quase na hora de Rob sair da escola. Elisa entrou e se vestiu para buscar o filho. Antes de entrar no carro, deu um beijo no marido e disse para que preparasse o almoço. Augusto assentiu e ficou assistindo à mulher sair com o carro. Prepararia algo o mais rápido que pudesse, mas naquele dia o almoço iria atrasar um pouco. O céu começava a abrir e as nuvens negras se dissipavam. De dentro de casa, ele não viu, mas uma grande lua vermelha começava a aparecer no céu.

Quando percebeu a demora de Elisa para voltar, decidiu sair da casa, e foi quando seus olhos ficaram vermelhos com o reflexo do que via. O coração começou a pulsar rapidamente. O corpo gotejava suor. As axilas começavam a ficar molhadas. O dia finalmente havia chegado e aquilo o deixou trêmulo. Ouviu o barulho de um carro subindo pela colina e suspirou de alegria. Elisa voltara com o filho.

Porém, quando o carro apareceu na frente da casa do médico, o coração quase parou. Era Ben.

O homem saiu apressado de dentro do carro.

— Onde estão Elisa e Rob? Temos que ser rápidos. Michael o aguarda.

Augusto não encontrou palavras. Ficou quieto.

Ben foi até ele e o sacudiu.

— Onde estão seu filho e sua mulher? — berrou, cuspindo saliva no rosto do médico.

Augusto puxou uma grande quantidade de ar para os pulmões para conseguir responder:

— Na cidade. Ela... ela foi buscar Rob na escola.

Ben o fuzilou com o olhar. Foi até o carro e disse para o médico ir junto. Desceram a colina em velocidade acima do adequado para aquele tipo de terreno. Estavam quase saindo da estrada de barro quando os pneus do carro furaram. Ben tentou controlar o veículo, mas não conseguiu. O carro virou de lado e capotou três vezes, indo parar no meio da mata rala ao lado da estrada.

Os dois perderam a consciência.

Michael esperava pelo irmão no alto da colina. Ele prometera que o ajudaria. Aguardava ansiosamente por aquele dia. Finalmente teria seu corpo de volta. Além disso, a vingança estava próxima. Faria aquilo por seu pai, sua mãe e seu irmão. De lá de cima, ele não pôde ver o carro capotar e nem os dois passageiros serem levados por um grupo de moradores. Não conseguiu ver Marcos injetando uma espécie de anestésico no corpo deles, a fim de deixá-los inconscientes por mais tempo, mas, acima de tudo, para não deixar que Ben usasse seus poderes.