Sábado, 9:20.
Vanda chegou ao hospital, e logo foi informada por Mil sobre a situação. Alguns dos funcionários do hospital corriam ali por dentro, assustados e confusos. Alguns entravam na sala e questionavam sobre Tristan, sobre as crianças e a situação. Alguns diziam que queriam ir embora, outros diziam ter poder para caso alguma das crianças precisasse ser protegida.
Mil os pedia licença, e dizia que ficariam bem. Mas eram muitos. O tempo corria, e a situação estava quase saindo do controle. Alguns dos outros pacientes estavam saindo do controle também, alguns corriam alegres, outros assustados, alguns aproveitavam a situação e tentavam fugir. Alguns pediam ajuda para chegar a outros lugares, variando desde o banheiro até a Terra Encantada de Oz.
-Tudo bem, Vanda. -Mil disse. -A situação começou a ficar complicada. As pessoas aqui são como nós. Vários funcionários querem ir embora por medo.
Gritos e xingamentos podiam ser ouvidos à distância. O pânico estava começando a se instaurar entre alguns dos funcionários.
-E se essa gente que quer ir embora surtar e tentar fazer algo contra a gente? -Vanda perguntou.
-A gente desce a porrada. -Anne respondeu. -Não é como se um médico pudesse vencer todo mundo aqui.
-Eles são vários! Não sabemos o quê podem fazer!
-Para de surtar, tia. -Scott falou. -Tá fazendo a mesma coisa que eles.
-NÃO, NÃO PARO! SE FOSSE A SUA MÃE ELA IA FAZER A MESMA COISA!
-E eu ia mandar ela calar a boca também.
-Scott, você não tá ajudando. -Erine o interrompeu.
-Vamos logo, estejam prontos pra sair daqui. -Paul falou. -Peguem suas coisas, arrumem tudo e quando chegar o meio dia vai todo mundo estar prontinho.
A confusão continuou. Por mais tempo. Vanda continuou reclamando e se descontrolando.
-Eu vou ligar pra Cassidy. -Vanda finalmente disse.
-Quem? -Mil perguntou.
-Mãe da Claire. -Tristan explicou. -Elas são amigas desde o colégio. Foi por isso que eu conheci a Claire.
-Que legal. -Disse Mil. -Ela vai lutar também?
-Não! Vou mandar ela ir lá em casa cuidar do Tristan!
-Por quê?
-Porquê eu vou com você matar aquele nojento.
-Ah. Pode ser então. Só não morre. Você sabe lutar?
-Não...
-Tá bom. Sabe correr se a gente precisar de uma isca pra atrair ele?
-Não.
-Você sabe...
Uma médico abriu a porta abruptamente.
-Olá, desculpem. Eu vim aqui avisar que tem visita.
-No meio dessa confusão? -Vanda perguntou.
-Todo mundo querendo sair daqui, deve ser um maluco pra tentar entrar no meio desse caos.
-Ou... -Paul disse.
-É. Ele chegou.
-Quem é, senhor?
-Uma moça chamada Clementina. Ela disse que foi ela quem salvou o garoto no dia do ataque. O relato dela sobre o suspeito é assustadoramente parecido com o do garoto. Tô quase acreditando que tem um monstro por aí.
-Deixa ela entrar. -Mil exclamou. -E deixem os funcionários que surtaram saírem.
-Certo.
O médico se virou, e saiu andando pelo corredor. Erine ergueu a mão, e de lá um cilindro metálico brilhante saiu de sua mão. Karen olhou para o metal, que saiu flutuando. Ele parou em cima da porta.
-Não ataque sem que ela faça algo suspeito. -Paul disse. -Precisamos ter certeza sobre quem vamos atacar.
-Ele tá certo. -Vanda disse. -Calma.
-Ela estava lá, então. -Erine disse. -Será que é ela mesma, ou se ele está usando o rosto dela?
-Todo mundo pronto? -Hector perguntou. -Glória tá querendo amassar um vampiro hoje!
-Calma, Hector. -Zack disse.
-Todo mundo, fiquem tranquilos. -Mil disse. -Vamos ver primeiro quem vai entrar aqui.
A porta abriu, e uma mulher entrou.
-Oi. -Ela acenou. -Tristan, não é?
Tristan começou a chorar quando viu ela. Ele se levantou e correu abraçá-la.
-Você me salvou! -Ele soluçava.
Todos ali encaravam eles.
-A vida do meu filho... -Vanda disse enquanto lacrimejava. Ela deu um abraço em Clementina.
Clementina era uma mulher de meia idade, visivelmente mais velha que Vanda. Ela era alta, seu cabelo era curto e loiro. Suas roupas claras faziam barulho enquanto Tristan se mexia ali.
-Tudo bem, tudo bem. -Ela afagou Tristan. -Você soube do quê aconteceu?
Ela se dirigiu para Vanda.
-Sim. Acho que você só vai acreditar porquê viu.
Clementina assentiu. Vanda estava tremendo. Ela estava perto demais. E se ela atacasse Tristan?
-Muito bem, Clementina, eu preciso que você venha com a gente. -Vanda disse. -Se o Tristan confia em você, eu também confio.
-Ir com você? Onde você vai?
-Vamos esconder o Tristan.
-E essas crianças?
-São os amigos dele. Se não fossem elas, Tristan não ia nem falar com a gente mais.
-Pobrezinho. Tá tudo bem, a gente vai te cuidar, mocinho. Sua mãe sabe o quê faz. Vamos com ela, tá bem?
-Sim. Eu confio nela e nos meus amigos.
-Ei gente! -Martha exclamou. -Acabei de lembrar! Contem os guardas!
-O quê? -Hector perguntou. -Por quê?
-Por segurança. Têm 55 guardas lá. Um a mais ou um a menos significa que ele chegou.
-Ele... -Clementina olhou para o grupo. -O psicopata, não é?
-Eles sabem que ele é um vampiro. -Tristan falou enquanto se soltava do abraço dela.
-Ah, que bom. -Ela olhou para Vanda. -Que monstro horroroso fazendo essas coisas com crianças.
-Pois é. -Vanda respondeu. -Vamos lembrar do que a Martha disse. 55 guardas. Agora, vamos esperar um pouquinho.
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Sábado, 10:00
Heather e Trixie riam juntas com Alex. Mas a brincadeira delas durou apenas meia hora. Elas dormiram lá em uma festa do pijama entre as três, mas Alex tinha aula de canto às 11:30. As duas então tomaram café lá, e estavam se preparando para ir embora.
A casa de Alex era pequena, para os padrões da família. A mobília, no entanto, era cara. Muito cara.
-Ah gente, me desculpem. Mas minha mãe não vai gostar se eu me atrasar, e aí não vai deixar a gente fazer mais festas do pijama. -Alex se lamentava.
-Querida, acompanhe as duas até a porta. -Sua mãe disse, através da porta do quarto. -E então venha se arrumar.
Enquanto passavam pela sala, elas conversavam.
-Ah, mas eu gosto de andar, não é legal esperar alguém levar você embora de carona, porquê não é perigoso andar na rua assim. -Heather provocou, falando alto no meio da sala.
-Heather! -Trixie disse.
Heather riu.
-É uma bobona. -Alex riu também.
Heather e Alex eram melhores amigas, faziam tudo juntas. Ou pelo menos, tudo que a mãe de Alex permitia.
-Sábado que vem, na minha casa. -Trixie disse. -Vou chamar as outras meninas também.
-Tá! Tchau! -Alex disse enquanto fechava a porta atrás delas.
As duas caminharam pela calçada, e saíram andando pela rua.
-E aí, vai ir embora já? -Heather perguntou. -Ou quer sair dar uma volta pelo bairro?
Seus pais iriam ficar muito irritados em saber que a família de Alex mandou duas garotas de doze anos saírem por aí à própria sorte.
-Vamos. Vamos ver se alguma das meninas tá em casa!
-Boa. Talvez a Tammy esteja.
Tammy era da turma no ano anterior, mas neste ano ela estava em outra turma. Ainda assim, ela manteve a amizade com as garotas.
Heather e Trixie andaram por aí por um tempo. Eventualmente, encontraram Claire sozinha, caminhando pela rua.
-Ei! Claire! Oi!
Trixie gritava e acenava.
Claire ouviu os gritos, então parou e esperou as duas se aproximarem dela.
-Oi. -Claire disse. -Onde vão essa hora?
-A gente tava na casa da Alex. -Heather debochou. -Mas a mamãezinha dela não quer umas plebeias conversando com a princesa.
Claire riu.
-Sei. Vamos ver o Tristan? Eu vou na casa dele.
-Vamos! -Trixie sorriu. -Não tem nada pra fazer em casa mesmo.
-Pode ser.
-Certo. Eu sei onde ele mora, me sigam. Souberam do quê aconteceu com ele?
-Não. Na verdade, eu estranhei que ele sumiu. -Trixie pareceu preocupada.
-É. Ele tá internado.
-O quê ele tem? -Heather questionou.
-Essa é a parte complicada. Vamos indo que eu vou explicar no caminho.
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Sábado, 11:00.
Nathan chegou no endereço que passaram para ele. Ele conversou algumas vezes com Claire durante a semana, agora os dois haviam combinado de se encontrar ali naquele horário. Ele ficou esperando na frente da casa com ladrilhos azulados. O muro era baixo, o portão era pequeno, e aquilo o dava uma leve paranoia de que a qualquer momento alguém pularia ali.
Mas a pior parte era Nate. Nate havia ido dormir na casa da namorada na noite anterior. Nathan estava em choque por isso. Ele não conseguiu falar com o irmão, e não ousaria contar para os pais. Os dois naquela manhã foram à casa de Hector, pois fizeram amizade com os pais do garoto.
As coisas estavam indo de mal a pior.
-Ei! Oi! Nathan! -Os gritos chamaram sua atenção.
Era Trixie. Ela acompanha Claire. E... Heather?
-Ah, oi. Oi, Heather. -Ele olhou para Claire. -Você trouxe elas pra cá? Achei que ia ser só a gente...
-O QUÊ? -Trixie arregalou os olhos. -Vocês iam se encontrar? Eita!
-Quieta, burra. -Heather riu. -Os dois são só amigos. -Ela deu uma risada debochada. -Só vieram aqui pra ver o Tristan. Juntos...
Ela riu de novo.
-Parem. -Claire corou. -Ele veio aqui ajudar o Tristan também. Vocês sabem...
-Ele nem conhece o Tristan. -Trixie disse.
-É que os amigos dele vão vir. Os nerds.
-É. -Nathan respondeu. Ele estava levemente vermelho. -Todos eles. O Scott vai vir também.
Ele olhou para Heather com um olhar debochado.
-Heather... -Trixie ergueu uma sobrancelha. -Não é sério né?
-Não! A gente é só amigo!
-É, melhor ser mais rápida que a Myrella, hein...
-Myrella? -Trixie olhou. -O quê é que...
-Chega, gente. -Claire disse. Vamos entrar. A mãe do Tristan me levou a chave hoje cedo. Vamos esperar eles lá dentro.
-Com um muro dessa altura, nem precisa de chave nenhuma. -Nathan comentou.
Claire abriu o portão, e os quatro entraram.