Na última aula da sexta, Grace deu oi às crianças, e todos saíram para a aula.
Enquanto andava, ela viu que Scott estava andando devagar demais. Não demorou mais do que 30 segundos para que o garoto perdesse o equilíbrio e caísse. Ela deu um pulo em uma velocidade extrema, e o segurou.
-Ei! -Ela gritou.
Grace colocou Scott no chão, e alguns alunos pararam para ver. Outros que já estavam acostumados apenas continuaram andando.
-Calma! -David disse à Grace. -Isso é normal.
-O quê!? Como assim normal!?
-Ele tem esses... ataques de vez em quando. Leva ele pra pedagogia, eles sempre acordam ele lá.
Grace ergueu Scott no colo, e rapidamente saiu com ele.
Nathan ficou confuso com aquilo também, mas Zack ficou explicando a condição de Scott para ele.
Quando chegou na pedagogia, Elaine a atendeu. Maurice, outro inspetor do colégio estava lá também.
-O quê aconteceu? -Elaine se levantou.
-Calma, é o garoto do Gordon. -Maurice disse.
-Ah, tá. -Elaine se sentou.
-O quê ele tem? -Grace perguntou.
-Vem, sabe aquela sala ao lado da sala dos professores? -Maurice questionou. -Tem um sofá lá. Quando esse moleque aparece apagado aqui a gente deita ele lá até ele acordar.
-Tá bem.
Grace estava mais calma agora. Aparentemente aquele era um evento que todos conheciam.
Ela chegou na sala. Lá, uma porta dava para uma pequena sala de lazer, com uma pequena televisão, uma mesinha de centro e um sofá vermelho. Ela deitou Scott lá e ficou ali, esperando alguém vir.
Não levaram mais do que dois minutos para que Scott acordasse.
-Hein? -Ele estava confuso.
-Ei, garoto. Tudo bem? -Grace se agachou perto dele. -O quê aconteceu?
-Lapso. Foi um lapso. -Ele olhou em volta. -Me acontece de vez em quando. Eu vejo algumas coisas e fico perdido no passado.
-No passado?
-Sim. Não no meu passado. Já ouviu falar em "memórias herdadas"?
-Já. Droga, menino, achei que era perigoso.
-Scott.
-Isso, Scott. Você sabe de quem são essas memórias?
-Mais ou menos. Só sei que são do meu nêmese.
-Nêmese? Que nêmese?
-Ah sim. Nós Eteristas meio que nascemos em par. Não sei explicar direito, mas é como se quando um nascesse, a Marca Etérea dele fosse dividida em... Calma...
-Em duas. Eu sei como é. Conheço alguns eteristas. É como se fosse uma pilha, um de vocês tem uma energia e o outro tem a oposta.
-Isso! É mais fácil explicar assim.
-Entendi. Você vê as memórias do seu nêmese. Viu algo em específico?
-Sim. Vi um grupo de valentões tentando me bater.
-E o quê aconteceu?
-Eu acordei.
-Entendi.
-Achei que você sabia disso.
-Eu não sabia. Mas tudo bem, agora é hora da aula. Vem, me ajuda a levar umas coisas que vamos usar durante a aula.
-Tá bem.
Os dois foram para uma sala onde os equipamentos de esporte estavam.
Lá, Grace pegou algumas cordas e algumas bolas de vôlei.
-Vamos levar isso.
-Certo.
-Você é bem quieto. Até me lembra alguém.
-Quem?
-Eu. -Ela riu. -Eu não costumava ser muito sociável na sua idade. Tinha problemas de família demais. Meu pai era alcoólatra e não era muito legal comigo.
-Ele te bateu?
-Muitas vezes. Mas no fim, as bebidas fizeram efeito, e ele morreu.
-E ele te disse algo antes de morrer?
-Não. Eu fugi de casa antes disso acontecer. Eu tentei ver como ele estava quando o Grande Vazamento aconteceu, mas ele já estava com Netérion dentro da cabeça.
-Netérion...
Por um momento, Scott percebeu que Netérion fazia algo bem parecido com o quê Claire fazia.
-É. Sabe, Netérion foi a coisa mais asquerosa que você pode imaginar. Todo mundo diz que ele incitava as pessoas a fazer coisas ruins. Mas a verdade, Scott, é que ele simplesmente provocava elas. Ele fazia com que os desejos mais sombrios dos corações das pessoas fosse irresistível. Por isso elas fizeram coisas horríveis. Ainda hoje, muitos crimes nojentos foram perdoados com a desculpa de quê foi o mutante quem convenceu as pessoas na época.
-Que nojo.
Por alguns momentos, Scott pensou em várias coisas. Crimes, ações ruins, brigas, problemas que podiam ser evitados. Ele se lembrou de Aureus. Quem será que deixou o homem naquele estado?
-Mas esqueça isso. Vamos terminar o dia logo.
Eles foram para a aula. Ao fim do dia, os cinco ficaram esperando Jeff como de costume. Agora, Erine e seus amigos também o esperavam, para que fossem para a missão. Na primeira vez que viu o grupo de adolescentes, Jeff ficou perplexo por não saber sobre o restante dos Mirai, pois ele acreditava que eram apenas cinco.
Agora, ele levava toda aquela gente para o hospital através de suas fendas.
Ao chegar, os meninos foram até Tristan. Claire não estava lá naquele dia.
Enquanto isso, Jeff voltou para Arcádia, como de praxe.
O grupo se reuniu no pátio do hospital, em uma calçada usada para observar o jardim. Alguns pacientes ficavam parados, encarando as flores. Um médico durante as primeiras visitas de Mil lhe explicou que as flores maravilhavam e distraiam a mente daquelas pessoas. Algumas chegavam a passar várias horas encarando as flores.
Os meninos naquela tarde se juntaram a Mil e ao grupo mais velho. Paul explicou o plano que fizeram para Mil.
-Vocês são loucos. -Mil sorria enquanto falava. -Mas vamos tentar. Eu posso machucar ele enquanto vocês se organizam.
Mil ergueu as duas mãos na frente do peito, e raios azuis brilharam entre elas.
-Uau! -Paul disse. -Choques. Você acha que consegue machucar ele com isso?
-Se a "gosma" for líquida, sim.
-Ótimo! -Paul disse. -Vai ajudar, e muito mesmo!
Mil sorria.
-Cara ele é igual a mim! -David gritou. Ele repetiu o feito de Mil, com suas faíscas roxas.
-Olha só! -Mil disse. -Aposto que não me vence!
Ele começou a fazer mais faíscas, e David o acompanhou na aposta de quem conseguia fazer mais eletricidade.
-Parem! -Zack gritou. -E o plano!?
-Já fizemos tudo. -Mil disse. -Não escutou?
-Sim! Mas e nós?
-Vão ficar aqui, cuidando do Tristan. -Erine disse. -Vocês não vão lutar.
-Por que não!? -Hector gritou.
-Prefiro não lutar. -Zack disse.
-Ela tá errada. -Mil sorriu. -Vocês vão levar o Tristan para casa sábado que vem. Nós vamos trazer o vampiro aqui e matar ele.
-Trazer ele aqui? -Erine estava confusa. -Como?
-A mídia vai noticiar o caso do Tristan. Vai divulgar o nome do hospital e aí ele vai vir atrás dele. -Mil deu uma risada quando contou.
-Espera aí! -Zack gritou. -Esse era o MEU plano!
-Agora é meu! -Mil deu outra risada.
Os meninos riram.
-Mas e se ele souber que o Tristan não tá aqui? -Hector perguntou.
-Aí ele vai atrás de vocês. -Mil respondeu.
-ELE NÃO PODE! -Martha gritou.
-Não pode mesmo. Por isso vamos armar uma emboscada e mandar os meninos quando acharmos o vampiro.
-E como nós vamos saber que tá tudo bem?
-Primeiro, vamos descobrir onde o vampiro está. Depois, vamos mandar os meninos para a casa do Tristan. E aí, vamos armar tudo do jeito que vocês planejaram.
-Mas senhor Maximillion... -Karen disse. -E se der errado?
-Alguém vai acabar morto.
-Entendi. E se ele descobrir onde os garotos vão se esconder?
-Então ele vai atrás das crianças.
-Beleza. VAI DAR TUDO CERTO!
Karen estava andando de um lado para o outro.
-Vocês acham que a gente não sabe se defender? -Max perguntou.
-Acho que não conseguem.
-Mil... -Max começou.
-Certo! -Hector disse. -Tudo bem! Vai dar tudo certo, o Mil sabe o quê faz!
-Hector! -Max grunhiu.
-Beleza. -Scott falou. -Tô com preguiça de lutar com um vampiro.
-Vocês estão certos. -David disse. -Mas matem aquele negócio, hein!
Max ainda protestava.
-Gente!
-Max, confia no nosso plano. -Hector disse.
-Max, você é o nosso lutador. Se o vampiro vier atrás, é você quem se fode. -Zack disse.
-Tá bom. -Max desistiu.
-Bons garotos! -Mil disse. -Vai ser tudo tranquilo! Mas se der ruim, é bom que vocês estejam prontos.
Max sentiu um arrepio naquele momento. A mesma sensação de quando ele tinha vislumbres passou por ele.
As coisas não vão como planejaram. Ele tinha certeza disso. Mas apenas ignorou o pensamento.
Assim, o grupo passou a noite debatendo sobre coisas aleatórias e logo esqueceram do iminente perigo com dentes pontudos.
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Elaine acabara de sair do colégio, já era quase meia noite. Ela dirigiu até um bar próximo, para comprar algumas bebidas para acalmar seus nervos. Quando saiu, ela estava indo em direção ao seu carro, quando ouviu uma voz:
-Oi, moça, pode me ajudar?
Ela se virou, e viu que um homem enorme a chamava. Um cabelo ondulado castanho descia até o peito, sua barba não era longa, mas era destacada. O que mais q assustou foi o tamanho dele. Ela não sabia, mas ele media exatamente dois metros.
-Pois não?
-Desculpa, é... -Ele coçou a cabeça e deu um sorriso caloroso. -Eu queria saber se o colégio ali na outra rua está aberto. Meu filho estuda aqui e perdeu a chave de casa lá.
-Já fechou, moço. Desculpe, mas não dá para abrir. Amanhã cedo o senhor pode passar lá e pedir, já que sábado a gente trabalha. Mas não tem aula.
-Tudo bem. É a chave dele só. Eu acho que ele pega de volta quando for para a aula.
-Tá bem! Desculpe, mas qual o seu nome? Segunda a gente pode avisar o seu filho se souber o nome dele na aula.
-Não precisa se preocupar com isso. Mas se alguém procurar, diga que meu nome é Ninguém.
-Ninguém?
-Sim.
Ele se virou e saiu andando pela calçada.
-Espere aí! Quem é você!? -Elaine agora estava preocupada.
Ela correu para dentro de seu carro e foi embora. Talvez fosse algum estranho tentando sequestrar ou assaltar ela...
No fim, ela não percebeu que um pequeno drone entrou em seu carro enquanto ela conversava com Ninguém.
O drone ficou no carro, e estava pronto para ser usado pelo Doutor para observar o colégio. Longe dali, o Doutor estava curioso sobre aquelas crianças que os desafiavam. Quem eram? O quê elas fariam a seguir?
Ele estava em uma sala de controle em seu laboratório, junto de alguns ajudantes. Ele se voltou para Hikiro, um dos seus assistentes.
-Certo, Hikiro. -Ele falava enquanto olhava algumas telas. -Não consegui localizar nenhum aluno suspeito ainda. Mas as coisas estão indo conforme eu preciso que vão. Acredito que até o fim do ano, nós já estaremos com os Mirai na palma da nossa mão. Fique de olho nesse drone aqui, eu vou usar ele para observar essa mulher. Se as coisas saírem do controle, vamos usar ele como distração.
-Certo, doutor. -Hikiro andou até aquela tela. -E se essa mulher atrapalhar?
-Vamos ter que tomar uma investida mais direta. Já mandamos outro drone para hackear o sistema do colégio. Se alguém descobrir, vai ficar alerta sobre isso. E então, nós vamos ter que enviar alguém da divisão de infiltração.
-Entendido. Mas senhor, e o Ninguém?
-Ele só está observando o território inimigo de perto. Não se preocupe com ele, se algo acontecer ele vai fugir.
-Entendido. Mais alguma coisa?
-Por enquanto é só isso. Mas fique de olho, porquê temos um ex-herói naquele colégio que pode ser um problema para o Crash.
-Um Ex-herói?
-Sim. Ele é a maior ameaça que temos no momento. Hoje ele é apenas um professor, chamam dele de Julian.