A noite obviamente não terminou com o surgimento daquele símbolo. Os seis ficaram parados, admirando a marca que apareceu em suas mãos. Ainda que fosse um detalhe, ele estaria com eles para sempre.
-Qual a do nome? -Perguntou Zack.
-Bem, -Joe riu. -Vocês já reclamaram algumas vezes dizendo que seus colegas os zoavam por causa dos desenhos japoneses que vocês viam, e eu resolvi escolher um nome japonês.
-E o quê o nome em japonês devia significar, pra gente? -David pareceu confuso. -Quer dizer, se zoam a gente por isso, então não é lá tão legal.
-Não é exatamente isso. -Joe se explicou. -Algumas pessoas simplesmente acham que algo que outras gostam idiota e veem nisso motivo pra procurar encrenca. Usar esse nome mesmo que todos usem isso pra ofender é uma forma de protesto nossa. Vocês entendem?
-"Nossa"? -Perguntou Scott -Tá falando como se você fosse zoado por gostar dessas coisas também...
Joe hesitou por um segundo.
-Bom, a gente chega em uma idade em que nós e nossos colegas entendamos melhor as nossas diferenças. Mas ainda assim, eu não tinha muitos amigos iguais a mim, como vocês.
-Já vi que é melhor eu não perguntar mais.
Os seis aceitaram aquilo muito bem. Depois daquilo, a conversa entre os seis simplesmente se prolongou e eles esqueceram de tudo por alguns segundos. A noite passou, e todos eventualmente foram embora.
Na saída, Joe viu o casal de idosos saindo, e foi novamente dar oi a eles.
-E então, conseguiram falar com sua filha?
O senhor suspirou.
-Me perdoe.
Ele se virou e foi embora.
-Meu jovem, nós dois não pudemos olhar na cara da nossa filha hoje. Fracassamos...
-Mas...
-Tudo bem, você não pode resolver tudo. Mas fique bem, garoto. Eu espero te ver outra vez.
A senhora deu um abraço nele, e depois foi embora.
"...Parece que você tem algo a dizer para alguém..."
Aquela frase incomodou Joe, e muito. Ele tinha muito a dizer para muitas pessoas. Mas havia algo... Algo que ele conseguiu dizer, mas queria ter dito muito mais vezes.
No caminho para casa, ele se lembrou de seu amigo de infância, Linus.
Quando Joe era mais novo, ele já era atraente, mesmo para algumas meninas mais velhas. Os outros garotos não gostavam dele. Mesmo estas garotas perdiam o interesse nele quando viam o tamanho nerd que ele era. Por essa razão, ele não tinha amigos.
Mas ele se aproximou de um menino de sua turma, Linus, que era igual a ele. Sem nenhum outro amigo, eles se divertiam o tempo todo, até o dia em que Linus contou a ele sobre sua doença.
"Joe, eu tenho câncer."
Aquilo destruiu o mundo de Joe. Era seu único amigo, e talvez ele o perdesse. E assim foi.
Joe visitou ele no hospital algumas vezes, ficou ao seu lado até p fim. Na última vez em que conversaram, Linus lhe disse que ele tinha de ser uma boa pessoa.
"Prometa pra mim que você vai ser o cara mais legal de todos, em nome de todos os nerds do mundo!"
Linus morreu naquele dia. Aquela promessa de orgulho nerd foi um protesto. E no velório de Linus, Joe entendeu que ele deveria ser quem era.
"Não importa o que haja, eu serei eu!" ele prometeu a si mesmo.
Os anos se passaram, e ele conheceu os garotos.
Joe dormiu tranquilo naquela noite. Apesar de tudo o que estava acontecendo, ele dormiu tranquilo.
E um "sonho" novamente veio.
Ele se lembrou de Boyer dizendo algo sobre a aura exterior e pensou que poderia ser isso a trazer aquilo tudo.
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"Destino..."
Dessa vez, era a sua própria voz.
"Solidão..."
Sem dúvidas, ele ouvia a própria voz falando.
"Grande Tragédia..."
Ele tentou responder, mas não conseguiu.
A voz começou a sumir, e uma outra surgiu. Dessa vez, ele viu uma luz com cor de rubi vinda da escuridão, e daquela luz veio uma voz.
"Joe... Há tanto tempo eu espero para falar com você... Agora, eu finalmente cheguei aqui, e não sei o que dizer. Não sei por onde começar..."
A voz fez uma pausa dramática. Ele tinha a sensação de conhecer a voz. Era um homem, mesmo ele não se lembrando do dono, ele sentia que era alguém importante, alguém com quem ele adoraria conversar.
Ele se perguntou se era algum deles vindo do futuro novamente.
Talvez até ele mesmo.
"Bem, eu não posso mudar o rumo das coisas. Elas aconteceram, e eu não pude falar com você antes. E nem poderei outra vez. Me escute com atenção, então. Nesse exato momento, um assassino está rondando você e aqueles meninos. Vocês seis não estão seguros. Ele ainda não sabe que vocês estão cientes da existência de Gyazom, então tome cuidado, e mantenha os Mirai em segredo enquanto ainda pode. Eu não consigo interferir, eu não passo de um resquício. Entenda que, quando o momento chegar, você vai tomar uma decisão importante. Ela vai ser trágica e vai contra tudo o quê você defende. Tudo o quê eu posso te pedir, é que mate o assassino. Algumas vidas precisam ser ceifadas pelo bem. Se você deixar que ele viva, muitas pessoas vão morrer. Pare-o, por favor. Quando o momento chegar, lembre-se das minhas palavras, Joe."
A voz foi sumindo aos poucos enquanto falava, e sumiu logo depois.
Ele acordou perturbado naquela madrugada. Sentou na cama e pensou um pouco.
"Contra tudo o quê você defende..."
"Mate o assassino."
Será que tudo aquilo valia a pena? Ele se levantou para beber água.
Ele se lembrou de Max e sua estadia no hospital. Se lembrou da história deles de quinta a noite. Eles foram atacados, e ele não estava ali. Por outro lado, enquanto ele protegia os cinco, Erine era consumida por aquele veneno.
Envenenada.
Ele tinha que encontrar alguma forma de resolver esse problema.
A marca dos Mirai brilhou em sua mão. Ele a encarou por alguns segundos. Ele voltou para a cama, e tentou dormir, enquanto sua mente era permeada por pensamentos horríveis.
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Zack se levantou de manhã com uma sensação ruim. Ele sentia aquilo desde que saiu da casa da vidente. Ele lembrava nitidamente de cada coisa que viu durante a sessão de visão de Angeline.
"Ainda sonhando, Izaac!? Onde está o herói que sua mãe espera? Vai decepcionar ela, igual ao seu pai!?"
Aquilo perturbou muito ele. Talvez ele realmente não conseguisse ser nada na vida do jeito que era. Ele era um bom menino, os professores diziam aquilo, assim como todos os outros adultos. Seus amigos, no entanto, quiseram proibir ele de contar que encontrou Aureus.
Ele se arrumou triste para o colégio naquela manhã. Será que tudo aquilo mudaria? Será que a investigação sobre Aureus iria levá-lo a algum lugar?
Como todos os dias, ele almoçou e saiu para o colégio. Quando se encontrou com Joe, ele ouviu a nova ideia louca do amigo.
-Galera, nós vamos ir para o Parque de Diversões no sábado! -Ele disse, animado.
-Fazer o quê? -Perguntou Hector. -Investigar?
-Nos divertir. Eu resolvi que a gente precisa fazer algo juntos pra esfriar a cabeça.
Os meninos se animaram.
-Vou tentar. -Disse Scott.
-Esse "vou tentar" foi meio desanimado. -Joe observou.
-Tá bom. Eu vou tentar mesmo. Mas não garanto nada.
Ao menos ele era sincero. Joe não sabia ao certo quais eram os problemas familiares de Scott. Mas ele os tinha. A única certeza de Joe é que ele sofria algo. Ele já perguntou ao garoto no passado, mas mesmo assim não conseguiu extrair nada sobre sua família.
Mas talvez estes problemas o levassem a maiores no futuro. E talvez, ele realmente pudesse se tornar algum tipo de assassino. 'Qual seria seu motivo?' Joe pensou. Vingança? Ódio?
Talvez ainda fosse muito cedo para isso. Joe antes precisava resolver os problemas com Gyazom.
Ele pensou por algum tempo.
-Vocês têm alguma teoria sobre o quê seria Gyazom? -Ele perguntou. Talvez devesse tentar raciocinar junto com os cinco.
-Provavelmente é alguém. -Disse Zack.
-E se for algum mutante? -Perguntou David. -Tipo, soltaram mutantes pra cacete naquele Grande Vazamento.
-Sim... -Disse Joe. -Até que é uma boa ideia. Quem sabe, talvez até uma fusão entre Abadom e Netérion.
-Olha, -Scott começou a falar. -Eu acho que a gente devia começar pelo óbvio. Aqueles dois aquela noite devem saber de alguma coisa.
-Então é por aqui que a gente começa. -Respondeu Joe. -Duas pessoas... Um homem grande e uma mulher baixa.
Os seis continuaram andando até o colégio, debatendo sobre a batalha contra as duas pessoas misteriosas naquela noite.
Aquele dia se seguiu após aquela conversa, e os meninos concluíram que deveriam esperar até sábado e assim começar sua jornada naquele fim de semana.
Assim, suas vidas seguiram-se normalmente até a sexta-feira, quando os cinco foram posar na casa de Joe.
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Niccolo não conseguia dormir direito desde a noite de quinta. Crianças? O quê elas queriam atacando a eles?
Olívia e ele estavam vagando pelo bairro nos últimos dias. Seus perseguidores não teriam piedade no momento em quê os encurralassem, e ele precisava encontrar algum abrigo para eles.
Naquela noite, eles estavam em um hotel. Não era o mais caro ou luxuoso da região, mas ele precisava se esconder. Provavelmente ele seria procurado primeiro em hotéis de baixo nível. Em suas viagens ele concluiu que um hotel mediano seria suficiente para aquela noite, ao menos.
-Olívia. -Ele chamou. -Durma. Eu ficarei de guarda aqui. Se algo acontecer eu te acordo, e então você vai fugir.
Olívia acabara de sair do banho. Ela era jovem demais para aquilo tudo. 24 anos não era uma idade digna de se terminar a vida.
Niccolo não gostava do quê as pessoas diziam quando viam ele se hospedando ali com uma garota com quase metade de sua idade. Não, ele achava repugnante um homem de 62 anos tentar algo com uma jovem.
-Você sabe que se você não dormir você não vai ter energia para a quando nos encontramos com eles.
Ela se sentou na cama única da suíte.
-Tudo bem. -Ele disse. -Eu aguento. Eu estou mais preocupado com aquelas crianças que nos atacaram. Por que eles sabiam de nós?
Ele estava de pé, olhando pela janela. Seu quarto ficava no oitavo andar do prédio.
-Não se preocupe tanto com eles. Não são perigosos. Precisamos imobilizar eles apenas. Se é que vão nos atacar de novo.
-Eu acho que vão. Mas tem algo errado com isso tudo. Eles não nos atacaram para matar.
-Me escuta, Niccolo! São crianças. Eles não vão tentar matar nenhum de nós!
-Não, não vão. Mas o quê me intriga é isso. O quê aquelas crianças queriam? Por que sabiam de nós?
-Provavelmente por causa da capa. Pessoas andando por aí usando uma capa marrom podem assustar crianças.
-Eu não sei. Eu ainda estou com a pulga atrás da orelha. Eu sinto que têm mais alguém envolvido nisso tudo.
-Se houver, nós poderemos conseguir ajuda.
-Assim espero. Aliás, me traga a sua capa, eu preciso refazer o feitiço de ocultação.
Sim, ele fez um feitiço que os tornava parcialmente invisíveis quando usavam suas capas. Mas aqueles garotos sabiam de sua existência. Se aqueles meninos não tivessem chego naquela hora, o assassino teria alcançado eles naquela noite.
Sua esperança cresceu quando aqueles meninos apareceram. Ainda assim, todas as coisas que aconteceram naquele período fizeram ele se incomodar muito.
-Bem, vamos primeiro tentar contato com aqueles garotos. -Ele se sentou na extremidade oposta da cama a qual Olívia estava sentada. -Dois eteristas de uma só vez. Talvez esses cinco sejam bem mais perigosos do quê nós pensamos.
-Bem, você disse que havia uma conhecida sua vivendo naquela rua. O quê exatamente você planejava?
-Eu iria pedir abrigo a ela. Pelo menos, se ela abrigasse você eu poderia confrontar aquele assassino sem precisar me preocupar com a sua segurança.
-E onde isso seria uma boa ideia!? Você é idiota? Por que uma qualquer iria me dar abrigo e não a você?
-A família dela tem um histórico de gentileza. Eu espero que ela ainda seja gentil, pelo menos.
-E por que você acha isso?
-Ela era uma menina bem meiga e gentil, até que algum imbecil fez uma coisa horrível com ela. Eu não quero falar sobre aquele nojento.
-Bem, então, quem é essa alma gentil e caridosa?
-Uma garota que estudou no colégio em que eu trabalhava, o nome dela é Erika Ardenbrough.