Joe acordou no hospital.
Ele se lembra daquele momento. Ele viu tudo em sua previsão com Angeline.
Se lembra de andar por lá. Mas se lembra também da frase mais estranha.
"Você..."
"Você quem abriu a boca de Saturno quando chamou o nome do Rei..."
Ele viu uma das portas do hospital, ela era uma abertura, a passagem eram vários dentes que funcionavam como porta.
Joe se lembra da voz de Linus vindo de lá.
Ele olhou para o lado.
Agora, estava acordado. Mas não estava bem.
-Joe... -Sua mãe estava ali. Ela chorava.
Respirar doía.
-Des-... -Ele não conseguiu terminar.
Gerard estava ali, também chorando.
-Por favor, Joe... -Ele soluçou. -Nada é culpa sua.
Joe viu outra cama no quarto. Scott estava deitado ali.
-Scott... -Joe tossiu.
-Joe... -Ele disse. Scott não chorava. Mas sua voz parecia triste. Ele parecia ter um nó na garganta. -Isso não vai ficar assim...
-Tudo... Bem.... -Joe conseguiu falar.
O inalador em seu rosto fazia mais difícil de falar.
Scott queria chorar, e isto era um fato. Talvez ele estivesse segurando, apenas.
Joe dormiu novamente.
Quando acordou, viu Martha e Anne em pé. Viu Erine logo atrás, junta de Paul e Matt.
-Joe! -Martha exclamou. -Por quê!?
Ela começou a chorar.
-Joe... -Paul disse. -Amigo... Você está bem?
Erine chorava sem parar.
-Joe! -Ela soluçava sem parar. -Me perdoa! Eu não fui com você... Eu não lutei por você... Eu deixei você sozinho...
Ela se ajoelhou, e Matt pôs a mão em seu ombro.
-Desculpe, querida. -Ele conseguiu falar. -Eu te perdoo.
Era o quê ela queria ouvir. Era o quê ela precisava ouvir.
Erine chorava, inconsolável.
Anne pôs a mão na testa de Joe.
-Idiota... -Ela tinha lágrimas nos olhos. -Sabe o quanto você assustou a gente? Mas tudo bem agora. Só isso não vai te derrubar.
Ela forçou um sorriso.
-Anne... -Ele não conseguia falar muito.
-Quieto. -Ela respondeu. -Você não precisa de palavras pra me fazer entender o quê sente. Sabemos que somos seus amigos do coração. Por favor, melhore.
Erine se levantou.
-Joe... -Ela pegou sua mão. -Você está encaminhado para uma cirurgia... Você me promete que vai ficar bem?
Joe tentou não tossir.
-Eri-ine... -Ele falou devagar. -Quando eu vou?
Ela se acalmou.
-Amanhã. Hoje é terça. Você está aqui desde a tarde de sábado. -Ela começou a chorar outra vez. -Eu fiquei com tanto medo...
Joe não conseguiu fazer esforço.
-Pode ficar... comigo...? -Ele não conseguiu terminar.
Lágrimas rolavam por seu rosto.
-É claro que eu fico. É claro, meu amor...
Matt fez um aceno. Gerard entrou na sala.
-Oi, Joe. Como está?
-Vivo... -Ele tentou falar.
Joe estava sofrendo. Doía muito. Tudo doía. Era o quê ele queria dizer.
-Certo. Parece quê você vai sobreviver, mas vamos ter que fazer uma cirurgia. Não se preocupe, você está bem.
-Mãe...
-Erika está muito abalada. Ela vai vir amanhã. Tudo bem?
-Sim.
Erine falou novamente.
-Eu vou ficar aqui, até que você fique bem.
Ele disse aquelas palavras para ela antes.
-Obri... -Ele tossiu. A dor deixou sua visão escura e borrada.
-Joe... -Erine chorou mais ainda. -Você vai ficar bem. Eu vou estar aqui. Erika vai vir também amanhã.
Joe relaxou ouvindo aqui.
Novamente, ele dormiu. E quando acordou, sentia algo diferente.
A sensação... Era como se ele estivesse bem. Era como se uma energia tivesse se manifestado dentro dele. Essas energias estavam ali para que ele pudesse se comunicar com seus amigos.
E ele sentia também, que era a última vez que faria aquilo.
Ele viu todos ali. Viu Erine, Martha, Paul, Matt. Karen estava ali também.
-Joe... -Ela disse, chocada. -Desculpa não poder te ver antes.
-Oi gente. -Ele viu Scott, Max, David, Hector e Zack. Gerard e sua mãe também estavam ali. -Essa festa é pra mim?
-Você tá falando tão bem. -Erine sorriu em meio às lágrimas.
-Meu filho... -Erika chorava. -Tudo bem. Já soubemos tudo o quê aconteceu.
-Oi, Joe. -Olívia entrou na sala também. -Eu acho que a gente não teve a chance de se conhecer. Eu sou a Olívia Muñoz. Eu quem fiz aquele Shopping esvaziar.
-Tudo bem, Olívia. Eu quem não pensei antes de atacar vocês . Desculpe.
-Joe... -Disse Hector. -Cara que dia horrível. Todo mundo tá tão preocupado... Scott principalmente.
-Scott... -Joe tossiu. -Você se machucou?
-Eu caí e desmaiei. Todo mundo acha que eu quebrei alguma coisa. Mas não quebrei. Os médicos me liberaram mas esses idiotas ficam dizendo que eu me quebrei porquê você não me cuidou e... -Ele parou pra secar as lágrimas. O garoto parecia muito irritado.
-Tudo bem. Nada disso aconteceu por culpa nossa. As coisas acontecem.
-Joe... -Disse Olívia. -Você se machucou enfrentando aquele assassino. Ele veio atrás do Niccolo. Mas escute, eu tenho algo. Niccolo quando soube que eu estava contra a organização me entregou um pequeno documento. Ninguém percebeu aquilo, até onde eu saiba. Ele contém detalhada a forma como aquela coisa funciona.
-Entendo. -Joe tossiu mais uma vez. -Mas por favor, me deixa falar com meus amigos, por favor.
-Certo. -Olívia disse. Joe viu uma pequena lágrima saindo do olho dela.
-Mãe... primeiro você.
Todos entenderam. Saíram da sala, e deixaram os Ardenbrough sozinhos.
-Oi, filho. Sabe o quanto eu me preocupo com a Erine? Ela passou todas as noites desde quê você foi internado aqui. Eu...
Ela parou para chorar.
-Você é a pessoa mais importante da minha vida. Niccolo me contou sobre meu pai. Não me disse quem é. Mas me disse o suficiente. Me contou sobre o tio Jake... Desculpa por tudo. Eu gostei muito do Gerard. Queria um pai como ele...
Joe parou de falar. A garganta doeu.
-Filho... -Ela chorava sem parar. -Eu te amo tanto...
Não tinha muito tempo. A energia estava acabando.
-Chama a Erine...
Ele tossiu de novo. O laço entre Joe e a Mãe era suficiente. Ela sabia o quê estava por vir.
Erika saiu.
-Erine. Rápido. Ele precisa ver todos ainda.
Erine entrou correndo e chorando.
-Joe, não...
-Desculpe. Eu precisava te ver uma última vez. Ter nosso momento. Eu não queria que fosse assim. Meu amor, me faça uma promessa, por favor.
-Qualquer coisa...
-Eu não vou voltar da sala de cirurgia hoje. Eu quero que você viva. Siga em frente. Seja feliz. Passe no exame...
Sua voz falhou de novo.
-Joe... -Ela chorou de novo. -Eu quero tanto ter nossos momentos de novo... -Ela olhou para ele. -Nunca, nunca vou conseguir encontrar um amor igual o seu. Mas eu te prometo, se você não voltar, eu vou seguir a vida. Eu vou vencer, e vou me lembrar de você até o fim.
-Obrigado, meu amor.
-Ah, Joe... -Ela chorava enquanto saia da sala.
Joe viu nitidamente o rosto dela. Inchado pelas lágrimas, torcido com a dor.
Martha, Karen, Anne e Paul entraram.
-Cara... -Disse Martha. -Não me diz que você vai morrer, Joe.
Ela chorou.
-É sério, cara. -Paul soluçava. -A gente tem que se juntar de novo no fim do ano. Por favor, mano, não desiste.
Matt cobriu os olhos. Ele gesticulou, e fez alguns sinais.
Joe entendeu bem.
-Obrigado, eu também te amo, Matt.
Matt riu. E a risada virou um choro. Ele tinha uma voz fina e baixa.
-Joe... -Karen nem conseguia falar. -Sai dessa, por favor. Eu não quero que você vá. Não quero ver a Erine e nem o Matt chorar... E nem mais ninguém...
Anne deu um passo. Ela mantinha a expressão firme. Mas seu rosto estava inchado.
-Joe... -Ela suspirou. -Me desculpa. Por tudo. Todas as vezes que eu fiz algo ruim... -A voz dela falhou. -Eu fiz muitas coisas ruins pra você antes... A gente brigou muito, mas não era pra acabar assim. -Ela pausou. -Mas, de uma coisa eu sei. Você é forte. Você aguenta tudo isso pra poder ver seus amigos bem e felizes. Você agrada todo mundo sempre, e aí quando precisa... Olha só, eu não posso fazer... Nada...
Ela desabou em choro.
-Tudo bem. Eu entrei nessa sozinho. Eu só peço que vocês vivam bem. Karen, você é boa com todos, e só precisa continuar assim. Paul, você é um cara legal. Martha, você vai passar naquele exame. Por favor, cuida da Erine pra mim no colégio pra onde vocês vão...
Ele tossiu.
"Anne, eu entendo você. Eu queria passar um tempo com você pra gente conversar e brigar mais. Mas não tenho mais tempo. Mas por favor, você é quem é forte agora. Deixo eles com você, proteja nossos amigos. E Matt... Eu sei o quanto você quer falar pra mim como gosta da nossa amizade, como queria jogar videogames de novo e correr por aí. Faz isso por mim com aqueles meninos. Eles precisam de alguém, precisam de força."
Joe estendeu a mão.
"Segurem, por favor."
Eles seguraram juntos sua mão. A marca dos Mirai surgiu, e todos ficaram com o sinal nas costas da mão. O sinal tinha um círculo verde abaixo da Clave de sol.
"Agora, vocês são como nós."
-Eu vou chamar os meninos. -Disse Anne. -E eu vou proteger todos aqui, Joe. Guarde minhas palavras.
Joe sorriu.
Finalmente, os Mirai entraram.
-Joe... -Zack chorou. -A gente não quer te ver assim.
-Levanta dessa cama! -David gritava com lágrimas nos olhos. -Você é o Joe! Você é o mais forte! Você nunca perderia assim!
Hector segurou ele.
-Chega, por favor. -Hector disse. -A gente vai esperar Você voltar da cirurgia e...
-Parem. -Scott mandou.
-Oi mano. -Disse Max. -Você acha que a gente consegue fazer algo sem você? Você vai melhorar pra ajudar a gente, né?
-Meninos... -Ele tossiu. -Me escutem bem. Hoje, eu dou minha última ordem como seu líder. Tomem cuidado. Aprendam antes de fazer as coisas. Gyazom é uma coisa ruim, mas são pessoas como nós. Por favor, não tentem agir com maldade, não sejam ruins ou cruéis. Vingança não leva a nada.
-Mas... -Hector começou.
-A vida de ninguém vale menos que a minha. Não sejam assim, por favor.
Hector suspirou.
-Mas Joe, ele te machucou. -Zack começou.
-Eu sempre quis ser um herói. Mas eu falhei. -Joe lacrimejava. Eu não quero que vocês sejam justiceiros. Lembram que me disseram que queriam ser heróis? Mudem o mundo, meus irmãozinhos. Eu amo vocês.
"Hector, você é forte e determinado. Leve os Mirai para longe. Max, você é forte, e sabe que Hector é meio tonto. Você pode proteger ele?"
Max fez que sim enquanto chorava.
"Zack, você é a mente brilhante que vai ajudar todos aqui nos próximos anos. David, você é muito poderoso, então nunca deixe suas emoções tomarem conta de você, pois ninguém vai poder te parar. Scott, me escute bem. Você não é culpado do quê aconteceu. Você vai ser muito forte um dia, porquê ninguém nunca diz pra você o quê você deve fazer, ninguém vai te parar nunca. Scott, você é quem vai abrir caminho para os Mirai. Por favor, seja gentil."
Ele tossiu.
Os meninos choravam, ninguém sabia o quê dizer.
-Joe! -Hector gritou. -Eu te prometo que vou guiar eles direito!
-Joe... -Max e David choravam.
-Chamem os outros... -Joe disse. Ele tossiu, e viu a escuridão vindo.
Estava chegando.
Os outros entraram na sala.
-Gente, me escutem... -Joe chamou. -Primeiro, Gerard, cuida da minha mãe.
-Garoto! -Gerard chorava também. -Tudo bem. Escutem bem, todos vocês. -Gerard Suspirou. -Joe quer falar. Ouçam tudo, e guardem com carinho.
Ninguém aguentava aquele peso.
-Obrigado. Eu sou só um garoto, pessoal. Minha vida foi como a de todos aqui. Todos tivemos defeitos e cometemos erros. -Ele tossiu. -Eu tenho arrependimentos, muitos. Mas por favor, não deixem que eu seja o pináculo da vida de vocês. -Joe riu. -Sempre quis usar essa palavra.
"Um dia, eu sei que todos vocês vão olhar pra trás e se lembrar de como eu era. Sei como todos me adoram. Mas isso vão ser só lembranças. Não esqueçam dos nossos bons momentos. Bons momentos serão boas memórias lá na frente. Eu quero que lembrem de tudo quê eu fiz de bom, não da minha morte. Esqueçam isto."
"Quantas vezes nós brigamos? Quantas vezes nos desentendimentos? Nós não podemos ficar em harmonia o tempo todo. Nós fazemos coisas ruins, mas superamos elas. Se não conseguirem superar este momento, então deixem para trás. Eu já fiz coisas ruins para todos aqui. E vocês todos esqueceram delas. Então, se não conseguirem esquecer esse dia, por favor, esqueçam de mim..."
Sua voz falhou. A dor veio com tudo.
Ninguém dizia mais nada. Erika e Erine choravam sem parar. Scott abaixou a cabeça. Gerard abraçou Erika e Erine.
Joe se sentiu triste quando lembrou que não conseguiu falar com os sogros...
Ele pensou nos seus amigos, família...
Ele então viu Linus, sorrindo em pé, ao lado de Erine.
-Faz tempo, amigo. Está pronto, ou quer dizer algo?
-Erine... -Ele chamou. -Diga aos seus pais o quanto eu gosto deles. Eu te amo. Mãe, eu te amo muito e vou ver você todos os dias. Todos vocês... Eu vou esperar todos vocês lá do outro lado. Vivam, sejam felizes, e façam história. E quando a gente se ver de novo, me contem a história de vocês. Quero ouvir tudo. Eu amo vocês. Estou indo, vou brincar com o Linus...
Joe piscou, e viu somente Linus com ele.
-Que saudades, Joe.
Linus era exatamente como ele se lembrava. Ruivo, magro, usava uma camisa verde-água e uma calça marrom. Ele correu, com as sandálias nos pés.
-Me espera!
Joe correu atrás de Linus, atravessando os corredores do hospital, até que saíram, e ele viu um bosque lindo, com flores e árvores. Via pássaros e animais brincando e cantando. O sol brilhava gentilmente, e o vento refrescava ele.
A dor passou.
Linus correu para dentro do bosque.
Joe riu alto, e então correu atrás dele, para nunca mais voltar.