As aulas todas estavam muito cansativas naquele fim de semestre. Menos educação física. Era a matéria favorita de David. Junho estava começando acirrado, as notas semestrais saíram e todos estavam desesperados para recuperar as notas.
David tinha notas boas, assim como Scott e Zack. Hector e Max, no entanto, estavam meio desleixados. Um mês e meio se passou, e no momento, os Mirai estavam apenas sofrendo.
Erine apareceu no colégio só duas semanas depois do enterro. Scott dificilmente conversava com alguém. David era seu amigo mais próximo, seu rival, e mesmo ele não conseguia fazer Scott se abrir.
Zack tentava esconder que chorava algumas vezes, e Hector parecia não suportar a pressão colocada sobre ele. Talvez, ainda fosse cedo para ele liderar os Mirai...
Mas o quê realmente preocupa David era Erika. Eles não a viram depois do enterro. Gerard algumas vezes conversava com os pais de Zack, que incentivavam que eles seguissem como os Mirai.
A mãe de Hector detestava aquilo. Temia que os meninos sofressem um destino cruel também. Mas o pai de Hector parecia ser a pessoa mais confusa. Ele queria ver Hector sendo um líder, um herói. Mas ele odiava a ideia dos Mirai, odiava vê-lo seguindo com os garotos
David estava perdido em pensamentos, quando percebeu Hector chamando sua atenção.
-DAVID! -Ele berrou. A sala toda olhou para eles. -A aula acabou. Vamos embora.
Max riu, mas parecia nervoso.
Os olhares dos colegas se tornou diferente para com os cinco. Não ouviam piadas cruéis, não eram ameaçados e maltratados. E agora, David parecia sentir falta daquilo.
Ele se levantou e os cinco foram embora.
No caminho para casa, David ficou atrás dos amigos, andando devagar. Scott logo parou e foi até ele.
-Ei, você recebeu alguma coisa hoje cedo? -Ele perguntou.
-Oi? -David ficou confuso. -Não recebi nada. Por quê?
Scott suspirou.
-Parece que a nossa vez chegou.
David olhou em volta. O sol se punha à distância. Tudo estava estranhamente mais escuro e cinzento.
-Nossa vez?
Scott o encarou como se falasse de algo óbvio.
-É. Nossa vez. O conselho me convocou hoje de manhã. Me disseram que você ia ser chamado também...
Conselho...
Certo. Uma leve adrenalina surgiu em David. Uma animação nova.
Conselho.
Ele sorriu.
-Caraca... O CONSELHO!
Ele comemorou. Os outros três pararam.
-O quê a gente perdeu? -Hector perguntou.
David o segurou pelos ombros.
-O conselho internacional dos Eteristas, Hector!
-Que bom. -Ele sorriu e bateu no ombro do amigo. -quê é isso?
David parou.
-É como se fosse um clube para Eteristas! Todos nós vamos pelo menos uma vez na vida. É obrigatório.
Ele ria e dançava. Scott, por outro lado...
Max e Zack os olhavam, curiosos.
-E aí, como vai ser? -Zack perguntou.
-Vai ser um exame. Se a gente passar, vamos para um acampamento de treinamento!
-WOW! -Zack exclamou. -Isso é muito da hora!
Os cinco alegremente caminharam até chegar em suas casas. E é claro, David tinha visita.
Ele entrou e viu um homem alto sentado no sofá conversando com sua mãe e irmã.
-Querido! -A Mãe gritou e o abraço.
Jesse, como sempre, estava de mau humor.
-David vieram te pegar!
Apesar de tudo, ela fazia piadas. Mas continuava de mau humor. Ou pelo menos, ela queria que eles assim pensassem.
O homem sorriu para David.
-Sente-se, por favor. -O homem disse.
David se sentou no sofá, sorrindo.
-Olá... -Sua voz se esvaiu.
-Então, o grande homem, David. -O homem deu uma risada.
Os olhos do homem eram estranhos, azuis, mas não de um azul normal. Eram um azul profundo e escuro, como o céu do fim da tarde. Se cabelo curto e escuro estava penteado cuidadosamente para trás. Ele vestia um terno.
-Oi, é... Eu sou David, e...
Ele gaguejou e se perdeu.
O homem riu outra vez. Era uma risada calma e gentil.
-Não se preocupe. Eu sei o quanto você está animado. Vejo nos seus olhos. Eu vim ver você hoje por alguns motivos especiais. Mas antes, eu preciso que você confirme. Você quer ir para o treinamento de Eteristas?
David pulo de alegria no sofá.
-SIM!
-Pra quê serve isso? -Jesse perguntou.
A mãe comemorava o momento, junto de David.
-Para que ele possa ser um herói algum dia. É um procedimento obrigatório para Eteristas.
-Por quê?
-Chama-se controle. Precisamos ter controle sobre os Eteristas, saber quantos existem e quem são. Meu trabalho é treiná-los, normalmente nós enviamos alguns recrutadores, mas o caso de David é diferente.
-Oi? -David ficou alerta. Especial?
-Sim. -O homem ergueu um papel. -Este é um contrato. Gerard Boyer e Erika Ardenbrough estão pagando este treino para vocês, Mirai. Já visitei os outros quatro.
Erika?
-Mas por que a dona Erika pagou meu treino? -Aquilo estava ficando ligeiramente confuso.
-Ela confia em vocês. Ela me explicou tudo. Meu mestre quando soube, imediatamente mandou-me atrás de vocês.
Certo. Tanta informação simplesmente não cabia.
-Mas como assim? Confia como?
O homem coçou o queixo.
-Bem, eu conheço Erika há muito tempo. Em resumo, eu sou amigo da família Ardenbrough. Eu adoraria ter conhecido Joe. Mas agora, as coisas aconteceram.
David abaixou a cabeça.
-Entendi. Então, você foi pago pra treinar a gente.
O homem suspirou.
-Sim. -Ele olhou David nos olhos. -Este é o meu trabalho. Mas meu mestre vai adorar treinar você e os outros quatro. E eu vou ajudar ele. Vamos dar suporte e tudo quê vocês precisarem. Amanhã de manhã, nós viremos buscar vocês.
-Certo...
-Certo. Tchau, David. Vamos conversar melhor amanhã.
-Tchau... é... desculpe...?
O homem bateu a mão na testa.
-Perdão! Esqueci de me apresentar! Eu sou o Jeffrey Hackford.
Eles apertaram as mãos.
O homem então começou a ir embora. Jesse e a mãe acompanharam ele até a porta. Que encontro rápido.
David foi comer.
Mas por algum motivo, ele simplesmente sentiu uma sensação, como se algo simplesmente tivesse sumido.
O dia seguinte seria ótimo, pelo visto.
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Além de dormir mal por ficar ansioso, David também acordou tarde. 9 horas da manhã no sábado, e sua mãe o chamava.
-David! Está atrasado!
David levantou em pânico. Correu até a cozinha.
Jesse estava em pé, pegando café, e olhava para ele, com a sobrancelha erguida.
-Tá indo onde?
David parou.
-Eu...
-David! -Sua mãe chegou até ele. -Calma, não precisa correr.
-Desculpa.
David foi comer e logo após foi tomar banho.
Quando saiu, Jeff estava na porta.
-David, vamos? -Ele sorriu. -Não precisa levar nada além dos documentos que foram pedidos para sua mãe.
-Entendi! -David riu. -Vamos!
David deu um abraço na mãe e em Jesse. Seu pai estava saindo para o trabalho, e cumprimentou Jeff. Os dois conversaram por alguns segundos.
Quando David saiu pela porta, Jeff começou a ir para a rua.
David o seguiu.
-Certo, garoto, precisamos fazer rápido para não causar comoção. -Ele disse, sorrindo. -Se liga nessa, você vai adorar.
-O quê?
Jeff abriu a maleta que estava com ele. David não tinha reparado na maleta na noite anterior. Ele tirou uma... Chave de fenda?
Ele a ergueu e fez um movimento, como se perfurasse o ar. Ele então abaixou a chave, como se abrisse um zíper. Uma pequena listra branca ficou no ar, tremida.
Jeff então guardou a chave. Ele colocou uma mão dentro da listra. Então a outra e a abriu como se fosse uma porta. Como se fosse, não. Era uma passagem.
Do outro lado, ele via uma paisagem natural, diferente da paisagem suburbana de onde ele morava. Jeff entrou na passagem, David o seguiu.
Atrás deles, a passagem fechou.
Por um breve momento, David se perguntou se Jeff tinha alguma licença verificada ou algo do tipo.
-Bem vindo, David, -Jeff abriu os braços. -ao Arquipélago de Arcádia!
David ficou pasmo com o lugar.
As árvores eram altas, belas e brilhavam com a luz do sol, o céu azul e profundo parecia arquejar sobre a grande floresta. O terreno parecia subir muito. Atrás dele, ele via um desfiladeiro, que se erguia sobre uma porção imensa da floresta. Ele via pássaros, insetos, pequenos roedores próximos a ele, e além da praia, o mar.
O rugido do mar ressoava com o canto dos pássaros e do vento.
-O quê... -Ele não conseguia terminar a frase.
-É LINDA! -Jeff gritou. -Esta é minha casa, David. Venha, vamos.
Jeff caminhou. David o seguiu. O menino reparou que havia um caminho pavimentado, o qual ele estava em pé desde que entrou pela passagem. O caminho ia até uma escada, que descia por muitos metros abaixo.
Após alguns minutos admirando a paisagem, David viu um pequeno conglomerado de casas. A escada terminava em um pequeno caminho, que seguia até uma fonte, que se localizava no centro deste conglomerado.
As casas ali pareciam ser feitas de tijolos de pedra brancos. A pequena rua em que tudo se localizava ia de uma enorme mansão e passava estrada principal, e então seguia reto para o meio da floresta.
As casas tinham telhados que variavam de azul, vermelho e roxo.
-É aqui o centro? -David deduziu.
-HAHA, e você pergunta!? -Jeff tinha um enorme sorriso no rosto. -Este é apenas o centro, as casas onde os Eteristas que aqui vêm para treinar vivem ficam mais distantes. Temos sete escolas espalhadas pela ilha. A primeira, é aquela.
Jeff apontou para a mansão onde a rua começava. Parece que ele iria treinar em um ótimo local. Os dois então seguiram até o local. As ruelas tinham muitas pessoas.
-Todos aqui são Eteristas? -David perguntou.
-Não. Temos mercantes, viajantes, visitantes, familiares dos nossos alunos e até mesmo negociadores. Mas agora não importa, David. Vamos ver o mestre.
-Certo.
Eles andaram até a grande mansão. David percebeu vários postes no caminho. Mas nenhum possuía fios que os conectavam. Curioso, ele seguiu com Jeff até a entrada.
Jeff abriu a porta, e eles estavam em um belíssimo hall.
Os dois caminharam pelo hall. Jeff o guiou sem problemas. Pararam em uma recepcionista, onde David entregou os documentos que levou. Após isso, foram por um corredor, e saíram em um salão.
O salão era grande e parecia ter o chão feito com um material mais flexível.
-A gente vai treinar aqui? -David adivinhou.
-Só em dias de chuva forte. Nos dias normais e chuvosos vão treinar lá fora.
-Como assim nos dias de chuva forte?
-É exatamente isto. Chuvas fortes. Estamos em uma ilha tropical, então não ache que elas são raras.
Aquilo o deixou levemente alerta naquele paraíso.
-Beleza.
Jeff caminhou pelo salão, e foi até o final. Uma porta estava lá.
Atrás da porta, uma área grande e aberta. Um campo gramado, aparado, bonito e cuidado. Alguns equipamentos estavam lá.
Madeiras com alvos apoiados, pilhas de algo que parecia feno, pequenos buracos no chão, e alguns bancos de madeira que pareciam servir como arquibancada.
Ali, estavam os Mirai.
David sorriu e correu até eles.
Scott estava sorrindo. Aquilo era um bom sinal. David não o via sorrindo muito. Mesmo antes de Joe morrer. Agora...
Hector e Max vieram correndo. Zack, no entanto, conversava com um homem.
-David, cara que lugar lindo! -Hector gritou.
-SIM, MANO! -David exclamou.
Max pulava.
-Isso vai ser muito foda!
Jeff passou por eles, sorrindo.
-Mestre! -Ele interrompeu a todos. -Os Mirai estão aqui.
O homem que conversava com Zack se virou para eles. Ele foi até Jeff.
O homem era velho, seus olhos castanhos estudavam os cinco. Seu cabelo grisalho e espetado era raspado dos lados. Uma barba prateada crescia pelo seu rosto. Ele vestia uma roupa estranha: sua camisa azul e calça marrom tinham tons pasteis, o quê parecia fazer uma analogia entre céu e terra.
Ele, apesar de velho, era como Niccolo: alto e musculoso.
E David sentia uma leve sensação diferente perto dele, como um formigamento.
-Olá, David. -O Ancião sorriu. -Vejo que vocês cinco estão prontos para passar muito tempo aqui.
-É... -Disse Scott.
David estava animado. Muito animado. O tempo voou imensamente enquanto ele vinha. Ele iria até perguntar quando os cinco vieram até ali, mas não ousaria interromper aquele velho.
-Muito bem, meninos. -O Velho deu um suspiro. Ele fechou os olhos por alguns segundos e os abriu novamente. -Meu nome é Giorgio Battistini. Esta é a academia Battistini, fundada pelos meus ancestrais. Eu serei seu mestre no seu longo treinamento aqui. Sejam bem vindos, e aproveitem.
-Obrigado! -Disse Hector.
Os outros ficaram em silêncio.
-De nada. -Disse Giorgio. -Eu estou ciente de vocês cinco, estudei sobre suas famílias, nossa equipe estará preparada para guiar vocês cinco para casa hoje, peço que aproveitem seu fim de semana, pois a partir de segunda vocês virão para cá. Até lá, não esqueçam de ver suas famílias e se despedirem.
-Só isso? -David ficou com as expectativas quebradas.
-Sim, David. -Jeff interrompeu. -O mestre está extremamente ocupado hoje. Eu e a equipe de expedição vamos levar vocês para casa hoje. Amanhã à noite nós vamos buscar suas coisas. Deixem as separadas, pois hoje é o último dia em que dormirão em casa.
-Calma, como assim!? -Hector indagou. -A gente vai vir aqui amanhã pra dormir?
-Sim. -Giorgio disse. -Hoje eu estarei revisando o ambiente e preparando os seus dormitórios. Vocês cinco virão aqui amanhã de noite.
-A gente vai poder pelo menos voltar pra casa durante o treino!? -Zack estava quase entrando em pânico. -Eu preciso ver minha casa, minha família...
-Sim, Zack. -Giorgio tinha a voz serena e suave. -Nós vamos nos certificar de que vocês tenham visitas para suas casas. Não se preocupem, isso não é nenhuma prisão. Aproveitem o tempo livre. Até amanhã.
-Mas... -Zack protestou. -Acho que...
-Chega. -Disse Scott. -A gente já sabe o quê precisava saber. Vamos embora.
-Verdade. -Disse Max. -Agora não é hora pra ficar aqui pensando. Vamos pra casa uma última vez!
-Não uma última vez, mas... -Scott parou. -Ah, foda-se, vamos logo.
Giorgio parou.
-Vocabulário.
Scott estremeceu.
-Desculpa...
-Certo, certo, vamos. -Jeff interrompeu.
Os meninos então se juntaram a Jeff.
-Quando vocês vieram? -David finalmente perguntou.
-Jeff foi buscar a gente. -Disse Hector. -Eu vim primeiro. Demorou uma vida pra todo mundo chegar.
Demorou...
-Levei aproximadamente meia hora para levar cada um e voltar para buscar o próximo. -Disse Jeff. -Agora com todos juntos vai ser mais fácil.
Eles voltaram para a escada.
David olhou para a subida. Descer foi fácil.
-Mais fácil, né... -David disse.
-Mais fácil pra gente. -Disse Max. -Já pro Zack e o Hector que são gordos...
Ele riu.
David então se lembrou da equipe de expedição.
-Jeff... -Ele chamou. -O quê é a equipe de expedição?
-Eles normalmente transportam nossos viajantes. Agora estão abrindo a passagem para suas casas lá em cima.
-Entendi. -David foi até o primeiro degrau. -Aí, Scott! Aposto que não sobe mais rápido que eu!
David disparo escada acima.
-Ah, seu...!!
Scott correu atrás dele.
Quando saíram da passagem, já era começo de tarde. Talvez tivessem ficado algum bom tempo lá.
David percebeu que eles caminharam bastante, e em pouco tempo. Chegava a ser estranho.
Mas enfim, estava em casa. Ele explicou a Jesse e à mãe a situação.
A tarde foi passando, e começou a chover. A chuva logo foi completada com vento forte. Desde o início da semana as chuvas estavam assim. Ele se perguntou como seriam as chuvas na ilha durante o treino.
Os meninos apenas aproveitaram aquele dia. Dali em diante, a história deles iria começar, a história apenas deles. A história dos Mirai.
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Tristan acordou. Ele estava deitado em uma cama arrumada. Lençóis brancos, um quarto razoavelmente pequeno. Uma janela à direita, um cômodo com um vaso de flores à esquerda. Ele viu sua mãe sentada em uma cadeira ao seu lado. Ele quase esqueceu que estava ali haviam 3 dias. Era um hospital, ele se lembrava.
-Mãe... -Ele chorava.
Novamente, um pesadelo. Ele tinha pesadelos todos os dias com aquilo. Aquele olhar daquele monstro estava impregnado nos seus sonhos. Os dentes. Os braços. As garras.
O sangue...
Tristan chorava, sua mãe o abraçou.
-Não chora, querido. Não chora...
Quando chovia era pior. Ele sentia que estava revivendo o momento derradeiro.
Ele começou a fazer bolhas para que o som da chuva não o aterrorizasse.
E então, ele novamente relaxou para dormir. Talvez desta vez ele não tivesse nenhum pesadelo...