As ondas quebravam contra a costa, a luz do sol da manhã ardia naquela pequena praia. Ali, uma branca e brilhante bandeira reluzia. Os Mirai chegaram finalmente ao seu objetivo. Hector se aproximou da bandeira. Ele a encarou.
-É isto? -Ele olhou em volta. -Só arrancar daqui e levar para o velhote?
-É. -Disse Scott.
Max se aproximou e arrancou a bandeira.
-Calma, Max! -Zack gritou. -E se houver uma armadilha!?
Max o olhou.
-Foi mal. Na próxima eu olho antes se tem.
-Não é assim! Na próxima? E nessa vez agora!? Se não prestar a atenção, a gente pode...
-Mimimi... -Max o provocou.
-O QUÊ!?
-Paciência... -Scott resmungou.
-Vão com calma! -Hector interviu. -Não tem porquê brigar! A gente discute com mais calma quando voltar pra academia!
-Não! -Zack gritou. -Ele tá sendo idiota! Não pode só chegar e sair agindo igual burro! Depois que ele cair em uma armadilha, quero ver o quê a gente vai ter que fazer pra salvar ele!
-Gente... -David chamou.
-Não tem armadilha, Zack! -Max gritou.
-Ei! -David chamou novamente.
-Dessa vez não teve! E na próxima!?
-A próxima é a próxima! -Max gritou.
-CALEM A BOCA, PORRA! -Scott berrou. -Fala, David.
Os dois ficaram quietos.
-Tem uma armadilha sim. -David avisou. -E a gente caiu nela.
-Onde? -Hector perguntou.
-Mas eu olhei tudo! -Disse Zack. -Não percebi nenhuma até agora!
-Então por que tava me xingando!? -Max questionou.
-Porquê...
-Então, parece que a gente tá preso. -David continuou. -A armadilha foi que não tem nenhuma trilha pra voltar.
Zack quase teve um ataque de pânico.
-Não! Nós falhamos! Agora vamos ser reprovados no exame e nem sei qual vai ser nossa punição!
-Se é que a gente vai chegar lá de volta pra ser punido... -Max disse.
-Calma! -Hector olhava em volta. Ele chupou o dedo e o ergueu. -Deixa eu ver a direção do vento...
Ele olhou para a mata de onde vieram. Algum dos caminhos obviamente os levaria para a academia outra vez.
-Acho que é um teste que reprova mesmo. -Disse Scott. -Talvez eles fiquem fazendo isso pra gente perceber que o treino não vai ser fácil.
Zack continuava falando sozinho. Ele andava em círculos. Hector tentava encontrar um caminho.
-Já sei! -Gritou Zack. -Olhem a posição do sol! Podemos usar ele como direção, porquê ele está no leste agora, então temos uma direção a menos para ir.
-Sim, não vamos na direção que tem água. -Disse Max. -Obrigado por avisar. Se não tivesse dito, eu ia sair andando pelo mar...
-Devia mesmo, quem sabe não vira comida de caranguejo!
Hector e Max riram.
-Zack xinga muito bem. -David disse.
-PAREM DE RIR! ESTAMOS PERDIDOS! -Zack gritava.
-Cara, você é chato. -Scott falou. -Fica quieto que eu tô pensando em como voltar.
-A gente pode usar a Marca Etérea pra pular alto! -David disse.
-É! -Scott exclamou.
A marca brilhante brilhou nos dois. Scott e David começaram a dar pulos extremamente altos.
-Estão vendo algo daí de cima? -Hector perguntou.
-Tem uns três caminhos. -Scott disse. -Se eu tivesse prestado a atenção em alguma árvore...
Scott deu um pulo extremamente alto. Ele olhou em volta lá de cima. Quando pousou, ele caiu com força na areia.
-AH! -Ele agarrou o joelho. A Marca esvaiu e o brilho sumiu dele. -Bosta! Meu joelho...
-Cara, você é muito tonto! -Disse David. -Deixa que eu pulo aqui.
-É fácil falar, você é menor que eu!
David pulou mais uma vez.
-Já sei! -Zack disse. -Hector, usa seu martelo! Faz ele vir, e o David procura lá do alto!
-BOA! -Max gritou. -Zack você é um gênio!
-Diferente de você!
-Parem! -Hector disse.
-Mas... -Zack começou, mas desistiu.
Hector ergueu a mão e começou a se virar em uma direção.
-Ele até consegue se guiar para o martelo... -Zack analisou. -David olha na direção que a mão dele tá!
David pulava e procurava. Não demorou para que ele localizasse o martelo vindo à toda velocidade na direção deles.
-Agora, Hector para, e vamos ir na direção! -Zack disse.
-Gosto mais do Zack quando ele tá calmo. -Scott falou.
-Alguém tá meio tagarela, hein? -Hector disse. -Sonhou com a Myrella?
-Cara, vai tomar na sua bunda. -Scott olhou feio para Hector.
-Se preocupa não, Scott! -Max disse. -Eu te ajudo com ela.
Scott mancava atrás deles.
-Para com isso. Eu nem ligo pra Myrella...
-Você fica todo sorridente quando a gente fala dela! -David interrompeu. -Conta uma melhor.
Scott apressou o passo, tentando passar a frente, mas sem sucesso.
Os cinco foram andando pela mata na direção que David indicou. Para a sorte dos cinco, o caminho que usaram para ir até a praia era uma descida, portanto, chegariam a um local alto em algum tempo.
E assim, naquela quente manhã em uma ilha tropical, os Mirai se perderam na mata.
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Giorgio e Jeff ficaram no alto da clareira, onde conseguiram observar os garotos por algum tempo. Alguns guardas também foram enviados para resgatar os meninos caso algo desse errado.
Mas a espera de Giorgio foi interrompida, quando a recepcionista da academia apareceu.
-Senhor Giorgio! -Ela gritava -Tem um telefonema! É do departamento de segurança!
Giorgio foi até ela. O quê o departamento de segurança iria querer ligando àquela hora da manhã?
-O quê? Mas o quê eles querem?
-Os meninos que o senhor está treinando, eles foram convocados para uma missão.
-Uma missao... -Giorgio repetiu. -Sei. Eu vou ir. Jeff, espere os meninos.
O velho correu para a recepção para atender ao telefone.
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Tristan não conseguia mais conversar com ninguém a não ser sua mãe. Claire o visitou no hospital no dia anterior, mas ele apenas tremia quando olhava para qualquer pessoa. Qualquer um. Ele sentia que a qualquer momento qualquer pessoa poderia se tornar uma aberração devoradora de carne.
Ele estava em uma ala razoável, haviam cinco camas lá. Todas brancas, ao lado de cada uma delas um pequeno cômodo. Apenas Tristan estava naquela ala, o que o incomodava. As camas todas eram dispostas em frente a uma janela, que ficavam no mesmo lado do quarto. As janelas assustavam ele mais quê tudo, pois o monstro poderia atravessá-las a qualquer momento. Uma enfermeira constantemente trazia água para ele, colocando uma jarra em cima da cômoda. Cada dia, cada minuto daquele lugar preenchia o coração do jovem de medo.
Durante o dia, ele tentava assistir os desenhos animados e filmes que colocavam para ele. Ele tinha medo também, pois ouviu sua mãe e uma enfermeira conversando sobre a televisão, e que "ele não era aconselhado a assistir jornais".
É claro que não. Nunca se sabia quando os jornais iriam cobrir os desaparecimentos que ocorriam na cidade. E ele sabia que estavam sendo causados por "aquilo".
Ele não se atrevia a pensar naquela coisa. Mas não conseguia dormir sem sonhar com aqueles dentes pontudos, com aquelas garras podres e os olhos vazios.
Ele gritava a noite. Ele chorava o dia todo. E ele jamais ousaria olhar pelas janelas. Mas naquela manhã, sua mãe apareceu no hospital com uma expressão de alívio.
-Tristan! -Ela sorria. -Conseguimos proteção para você!
Ele a olhou, confuso.
-O quê?
-Sim! Eu falei com o departamento de segurança, e eles vão mandar um grupo de segurança pra te cuidar!
Ela começou a chorar enquanto falava.
-Mas como?
-Disseram que têm um grupo de heróis novatos que vai vir pra ficar com você enquanto a investigação vai seguindo...
Heróis novatos.
-Mas e se o monstro voltar?
-Eles vão te proteger. Você não vai acreditar quando ver os heróis.
Ela sorria em me
io as lágrimas.
Mas aquilo não era o suficiente. E se o monstro realmente viesse? Talvez ele não se importasse tanto com Tristan, mas e se?
-Eu tô com medo. Se a coisa voltar, todo mundo vai correr e me deixar.
-Filho, ninguém vai te deixar. Eu vou estar aqui pra você todos os dias. Eu te prometo.
Tristan tentou não chorar. Mas ele não aguentou. Ele se deitou na cama, tentando pensar em coisas boas. Mas talvez, apenas talvez, uma fagulha de esperança tivesse surgido nele.