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Chapter 5 - Angeline

A tarde daquele dia foi uma das mais conturbadas da vida de Zack. Logo de manhã, a notícia sobre Aureus atingiu ele em cheio. Sua mãe, que almoçava na mesa deixou o garfo cair no chão. Seu padrasto, que acabara de sair do banho parou, chocado na frente da televisão. Mas Zack estava aterrorizado de verdade. Eles encontraram aquele homem. Eles presenciaram as suas últimas palavras. E agora, o dever final do grande herói foi herdado por eles. Seus três irmãos corriam pela casa, alheios às notícias, enquanto a mãe quase chorava sobre a comida. Zack sabia o quanto a mãe adorava Aureus, ela era parte de um clube de super fãs dele, e as pessoas pareciam vê-lo como um tipo de deus. Quando não se venerava aquele homem, as pessoas se irritavam. E ele entendia, apanhou de James pela primeira vez quando disse que Lâmina-Dourada era mais legal. James era o pior de todos os valentões do colégio, ele era o líder do grupo de garotos que perseguiam os cinco. Não só isso, como ele conseguiu influenciar o resto da turma a odiá-los.

-Coma, Lynn, você pode acabar ficando doente se ficar assim. -Disse o padrasto.

Ela não respondeu, e Zack sabia que era melhor não falar nada, pois corria o risco de ela chorar. Ela estava extremamente preocupada depois da luta dele na noite anterior, e ficou brava também, por isso ele ficou sem videogames até sábado. Após alguns minutos de consolação, o padrasto conseguiu convencê-la a comer.

As notícias agora falavam sobre um animal que comia carne humana. Zack tentou ignorar, mas seu instinto o avisava que ele devia se lembrar daquilo. Cabelo vermelho feito sangue. Foi como ele memorizou aquilo.

O tempo passava rapidamente, ele precisava ir para a aula, mas também precisava digerir aquela notícia. Ele encontrou Aureus. Ele se almoçou rapidamente, escovou os dentes e pegou a mochila. Despediu-se dos pais e dos irmãos, então saiu correndo para a frente da barbearia.

Quando ele chegou, os quatro já estavam eufóricos conversando sobre a grande notícia. Ele viu gente em todo lugar, falando sobre o Elo e sobre a incrível aparição, sobre a misteriosa morte e sobre possíveis testemunhas do dia da explosão. E saber que eles encontraram o homem o fazia estremecer.

-Só tenho uma coisa a dizer. -Ele começou a falar assim que chegou, e todos olharam para ele. -Se alguém deixou o Aureus daquele jeito, então a gente vai ficar pior quando nos encontrarem.

-Pois é, mas ele pediu que a gente parasse essa merda de Gyazom. -Foi tudo que Scott disse.

-E como a gente vai parar se nem sabe o que é?

Ninguém disse nada. Eles apenas caminharam em silêncio até o ponto de encontro com Joe.

-Oi Max, você falou muito de mim pra sua mãe, né? -Joe disse quando chegou. Apenas sorriu e agiu como se tudo estivesse bem.

-Você viu a notícia da fera? -Foi o que Max respondeu.

Joe abaixou o olhar. Ele suspirou e olhou para os cinco.

-Vi. Eu não sei o que é. Mas eu sei quem pode ajudar.

Eles continuaram em silêncio, então Joe continuou:

-Tem um parque de diversões perto do colégio, ele abre sexta-feira e passa o fim de semana aberto. Nós vamos lá depois da aula. Mas a nossa investigação vai ter que esperar. Eu vou ir cuidar da minha namorada depois da visita.

Zack ficou aliviado.

-Que bom. -Ele disse. -Minha mãe me proibiu de sair com vocês hoje de tarde, vou estar de castigo o fim de semana.

-Eu não acho que eu possa fazer muito exercício hoje. -Disse Max. -Eu nem devia ter vindo, na verdade.

Max percebeu o olhar curioso dos amigos, mesmo Scott, que sabia que ele tinha ido ao hospital. Ele então explicou a visita ao hospital na noite anterior, e sobre o médico misterioso, Gerard Boyer. Joe complementou a história, falando sobre os Yates e o encontro surpresa com a mãe e Max, e sobre como Lucia Northwind já o conhecia graças a Max.

Quando eles terminaram, Hector começou a falar e então deu uma palmada na testa.

-Cacete, gente, eu esqueci! -Ele gritou.

-O quê? -Perguntou Zack.

-Amanhã é meu aniversário!

-E daí?

-A cerimônia dos doze anos vai acontecer! -Ele passou a mão na nuca. -Eu também queria que vocês fossem na minha festa domingo.

Os meninos ficaram animados. Finalmente alguma coisa que não envolvesse o perigo iminente. Hector explicou onde seria e passou o endereço aos amigos.

-Eu queria ir na cerimônia. -Comentou David. Zack percebeu naquela hora que o garoto andava muito quieto, mas evitou perguntar se algo o incomodava.

-Ah, eu queria que vocês fossem, mas é que é uma parada da minha família mesmo. Só eu e o meu tio podemos ir.

-O que é? -Perguntou David, curioso.

-Vocês vão ver na minha festa. Vai ser incrível.

Joe riu alto. Ele parecia estar se divertindo com o mistério imposto por Hector.

Eles chegaram no colégio e se separaram, para o habitual início da aula.

Quando a aula começou, o professor de Geografia, Julian entrou, acompanhado da professora de História, Starla. Zack imaginou que seria alguma aula especial, ainda mais depois dos eventos ocorridos naquela manhã. Starla foi quem começou a falar.

-Então, acho que a maioria de vocês já viu o que aconteceu hoje.

Ninguém disse nada.

-Assumindo que todos vocês tenham visto a grande notícia e que todos estão curiosos sobre como isso tudo foi acontecer, -Disse Julian, caminhando pela sala. -a professora Starla e eu iremos contar a vocês a história do Grande Vazamento.

Todos pareciam bem interessados na aula de história, pela primeira vez. Zack não entendeu. Então ele ergueu a mão e esperou o professor lhe dar a voz.

-Você é professor de história também?

-Sim. Eu não só sou um professor de história, eu vivi a história. -Ele olhava para todos na turma. -E hoje, a história está acontecendo. Todos os dias ela está acontecendo. A História acontece de maneira misteriosa, ela está em todos os lugares, todos os dias ela nos cerca e fica guardada em nossas memórias. Pensem: Será que daqui a dez anos alguém vai contar a história que vivemos hoje para as pessoas? Será que seus filhos conhecerão os seus antigos dias? Será que em cem anos as pessoas vão se lembrar dos seus nomes?

Julian gesticulava de uma maneira peculiar enquanto falava. Suas mãos balançavam, sua cabeça virava em todas as direções, e por algum motivo que Zack não entendia, isso prendia a atenção de todos.

-Julian, por favor, você está perdendo o foco. -Starla o interrompeu.

Zack não se incomodou com a interrupção. As palavras do professor mexeram com ele. Ele não havia parado para pensar naquelas possibilidades. Filhos? Como seriam as aulas das pessoas dali a dez anos? Ele tentou evitar pensar demais naquilo.

-Perdão, Starla. -Ele sorriu para os alunos e afagou a barba. -Muito tempo atrás, eu fui um estudante, como vocês. Ou melhor, um aluno, eu sei que a maioria de vocês não gosta tanto de estudar o que é passado aqui. -Ele riu, seguido de várias outras pessoas. -Acreditem quando eu estive no lugar de vocês, eu ouvi essa mesma frase do meu professor de história. Isso foi há mais de 20 anos, hoje eu tenho 36 anos, na época eu tinha 14.

"Eu entendo que muitos de vocês têm medo do que pode ser do mundo quando chegar a vez dos seus descendentes se sentarem nestas mesas. Antigamente, as pessoas também eram assim. Todos tínhamos medo do futuro. Ainda temos."

"Mas o que importa de verdade é o presente. É no presente que as coisas acontecem. É no presente que escrevemos o futuro e fazemos a história. E um dia, algum de vocês vai contar a sua história aqui na frente. Entendam, o que importa é o agora. É no agora que vocês estão e sempre estarão, não desperdicem o agora."

Ele respirou fundo algumas vezes, enquanto os alunos digeriam a mensagem.

"Muitos anos atrás, um grupo de cientistas resolveu fazer um experimento mirabolante. Eles não viviam no agora, como vocês, eles sempre pensavam no futuro, e nunca em melhorar o que podiam. O projeto Saturno, como foi chamado, era uma tentativa de criar uma máquina do tempo, e nenhum deles sabia o que faria se a máquina realmente os levasse ao futuro. Esse projeto, o Saturno, acabou crescendo rapidamente, e então ganhou espaço em um laboratório famosíssimo, que era chamado de Instituto de Ciências de Gardeville."

"Tudo corria muito bem no experimento, e depois de quinze anos, o projeto foi finalizado. O Saturno era extremamente instável, e podia acabar sendo desastroso, então, um grupo de voluntários que formaram um time entrou no Saturno. E eles saíram no futuro. Dois depois, eles reapareceram, acreditando ter alcançado uma nova era. Isso gerou uma extrema comoção no mundo."

"E, como era de se esperar, gerou revolta também. Ninguém sabe o porquê, mas um grupo de cientistas causou um cataclismo imenso no mundo. Esse grupo atuava em laboratórios clandestinos, e sem pestanejar, liberaram compostos químicos em locais aleatórios do mundo. Assim, uma grande quantidade de mutantes surgiu. Mas eles também tinham os próprios mutantes, criados em laboratório. E assim, o mundo entrou em um período que ficou conhecido como O Grande Vazamento."

"O pior tipo de monstro estava a solta em todos os lugares do mundo. As pessoas ficaram em quarentena por meses por medo de sair nas ruas. O pânico foi espalhado em todos os lugares possíveis. Mas haviam heróis, é claro. Aureus era o principal. Ele destruía mutantes rapidamente, ele era o raio de sol naquela época de escuridão."

"Porém... Sempre há um porém. Um mutante demorou para ser descoberto. Seu nome era Netérion. Netérion tinha a capacidade de influenciar as mentes das pessoas. Muitos ficavam violentos, machucavam as pessoas e atacavam familiares, pois as emoções negativas em seus corações eram intensificadas por ele. E o mutante que foi mais temido por todos: Abadom."

"Abadom era capaz de absorver rapidamente qualquer matéria orgânica, e quando ele estava próximo, a área num raio de 5 quilômetros era evacuada. E um dia, Aureus finalmente conseguiu chegar até ele. Ninguém sabe o que aconteceu depois, pois Aureus o afastou das pessoas, o levando para longe das áreas povoadas. No dia seguinte, o Instituto de Ciências de Gardeville foi encontrado arruinado, e Saturno havia explodido."

"E então, treze anos depois, ele finalmente retorna. Nós não sabemos o que foi que aconteceu com ele. Não sabemos o que aconteceu com Abadom. Mas muitas marcas daquele período ficaram nas memórias das pessoas. Muitas ficaram sem emprego, algumas caíram na pobreza, algumas morreram, outras desapareceram. E nós conhecemos pessoas que se encontraram com esses destinos. Houve até uma cidade que sumiu da noite para o dia. Ninguém sabe o que aconteceu com a cidade de Lunefields até hoje, alguns acham que a cidade foi destruída em algum ataque, outras acham que o governo deu um fim nelas. Pois é, teorias de conspiração estão em todos os lugares. Depois de tudo aquilo, não sabemos o porquê do laboratório ter sido destruído, não sabemos se Aureus venceu Abadom, ou se um segundo Vazamento pode ocorrer outra vez."

Ele suspirou. Olhou para Starla e então foi se sentar em uma mesa.

-Você falou bem. -Ela disse, e sorriu. -Perguntas?

A turma explodiu em caos quando ela tomou a dianteira da sala. Alunos em vários lugares erguiam a mão, conversavam e badernavam. A verdade é que eles desgostavam da professora Starla, e por isso a desrespeitavam. Mas Zack não aceitaria se rebaixar ao nível dos colegas, estava sempre firme e atento a aula.

O resto das duas aulas seguiu-se daquela forma, ninguém queria saber sobre os assuntos aleatórios que vieram depois daquele. A segunda aula acabou, e os professores se retiraram da sala. Para a alegria da maioria deles, a terceira aula seria educação física. Quando a terceira aula era educação física, e a aula era prática, eles podiam ficar no pátio até o intervalo, e assim correr para a cantina lanchar. Zack achava essa ideia bem idiota, visto que eles poderiam comer a qualquer hora, mas não podia (e nem queria) fazer nada a respeito.

Tudo corria perfeitamente bem, até que James se levantou e foi na direção dele. Ele parou ao lado de Zack.

-E aí, gordo, como vai?

Zack sabia que era melhor ele apenas responder ele. Zack não se considerava um garoto gordo, ele era rechonchudo, mas tinha ossos grandes. James era magro, diferente dele. Os dois tinham a aparência semelhante: olhos castanho-claros, cabelo castanho-claro, a altura era parecida, tudo o que os diferenciava era que Zack era mais branco que ele, James era um mulato médio, enquanto Zack era mais claro que ele.

-Eu tô meio cansado hoje. -Ele respondeu, sem olhar diretamente para James. Ele sabia que James mantinha um sorriso triunfante no rosto.

-Então fica melhor, logo a aula começa. -Ele apenas deu um tapa na nuca de Zack, e então voltou ao lugar no fundo da sala.

Ele podia ouvir os garotos rindo e fazendo piadas com ele. Ao total, os valentões da turma eram quatro, mas James era carismático demais, e conseguiu o apoio de vários outros alunos, enquanto a grande maioria era neutra quanto a eles. Mas Zack já sabia que, caso algo acontecesse, a turma ficaria ao lado de James e seu grupo.

-Você não tem ninguém do seu tamanho pra provocar, James? -Gritou Hector.

A sala toda ficou em silêncio. Zack percebeu que um desastre estava por vir. James riu.

-Por quê? O Zack é grande demais pra mim?

Várias pessoas riram ao ouvir a piada. Zack notou alguns três que pareceram não gostar daquilo: Myrella, Tristan e Rubem. Mas ele sabia que isso não mudaria nada, eles não perdoariam Hector por aquilo.

David então se levantou e olhou para James.

-Ah qual é, vamo lá James, cê sabe que se mexer com alguém mais forte você apanha, né? -Ele disse, e então ficou olhando para ele.

Os outros valentões, Rory, Aaron e Denis se levantaram, mas James ficou sentado em sua cadeira.

Scott e Max se levantaram também. Zack sabia que se uma briga acontecesse, os cinco iriam levar a pior, apesar da vantagem numérica. E além de tudo, Max não estava completamente recuperado, se ele apanhasse, poderia parar no hospital, e Zack não poderia deixar isso acontecer.

-Max, me escuta, você precisa ficar de boa, você ainda não melhorou! -Zack estava desesperado para que o amigo se acalmasse.

-Olha só, parece que o Max tá dodói e o amiguinho tem que cuidar dele. -James disse, e riu novamente.

Algumas pessoas sussurravam, alguns dizendo que os nerds iriam apanhar, outros pedindo para alguém apartar em caso de briga.

-Você gosta de provocar enquanto seus namorados te defendem, não é seu lixo? -Bradou Max.

O coração de Zack estava quase parando vendo aquilo.

-Tem coragem, seu merdinha. -Disse James, que se levantou. -Vai fazer o quê? Usar um desses golpes de desenho japonês que você vê?

Hector estava curvado, E Zack imaginou que ele estava tentando assumir postura de luta. Scott e David estavam em pé, firmes, enquanto Zack, desesperado tentava impedir Max de se envolver na briga.

-Vem descobrir! -Foi o que Max gritou.

Era exatamente o que ele iria fazer: imitar os personagens que ele gostava. Max firmou os pés no chão, separados, e ergueu os punhos a altura dos olhos, como ele aprendeu em um anime de boxe que ele gostava.

O Ether de Scott correu por seu corpo, e as mãos de James arderam em fogo. Aquele poder flamejante de James deixava Zack aterrorizado. Não só ele, o pessoal à volta entrou em pânico, mesmo Hector parecia temer o que viria. Apenas Max e Scott permaneceram prontos para a luta. David e Denis estavam prontos para avançar um contra o outro, quando o professor de Educação Física entrou na sala.

-PAREM JÁ! -Ele berrou, e todos os nove pararam. -O quê é que vocês pensam que estão fazendo?

-Esses caras não sabem brincar. -Disse James.

-Não! Foi ele quem provocou o Zack! -Denunciou Hector.

-Zack? -Perguntou o professor.

-Desculpa professor, eu levei muito a sério uma brincadeira do James. -Ele respondeu, e baixou o olhar.

-Peça desculpas ao James então.

James não sorria. Ele olhava com uma expressão de medo forjada.

-Me desculpe, James.

David, Hector, Max e Scott olhavam incrédulos para ele.

-O quê? -Gritou Hector, com a raiva estampada na cara.

-Deixem quieto. -Zack respondeu, apenas.

-Vocês não bateram uns nos outros, então eu vou perdoá-los e nós vamos seguir com a nossa aula.

O velho homem então fez a chamada e mandou a turma deixar a sala. Eles pararam em um canto do pátio, e Zack se sentou em um banco. Hector se aproximou e ficou em pé, encarando-o.

-Por quê?

-iria ser pior pra nós, você sabe.

-Não, Zack, não seria.

Max e David vieram logo depois. Scott tinha ido beber água. Os dois não pareciam ter aceito muito bem a decisão de Zack em tomar a culpa.

Scott, por outro lado, se sentia aliviado. Ele não queria brigar. Sabia que Myrella o odiaria se ele fizesse algo idiota. Desde o ataque contra Benício, ele estava extremamente abalado com brigas. Ele queria ser forte como Joe. Queria ser corajoso como ele. Mas no fim, ele apenas aceitaria as coisas da forma como eram.

Quando ele se juntou aos quatro, ele viu a discussão fervorosa deles, pois queriam uma reviravolta na situação.

-Sabem que no fim nós só vamos tomar a culpa, não é? -Foi a primeira coisa que ele disse.

-Até você, Scott!? -Gritou Hector.

-Se a gente simplesmente bater no James, ele vai ferrar com nós cinco. Mas se querem tanto acabar com ele, a gente tem que planejar isso.

Os quatro ficaram em silêncio. Olhavam para ele, esperando algo.

-Que tal se a gente pedir pra outras pessoas para entregar as coisas que ele faz com a gente? -Disse Zack.

-Não, acho que eles têm medo do James também. A gente precisa elaborar isso melhor.

Zack apontou para trás de Scott. Ele se virou, e viu o professor vindo na direção deles.

-Senhores, me permitem falar com o Maxwell? -Ele disse quando chegou.

-Quê foi? -Max perguntou.

-Eu vi a sua pose de luta. Você luta alguma coisa?

Max riu.

-Não, eu só queria ficar ameaçador.

-Pois bem, eu conheço uma academia incrível, rapaz. Passe lá depois das 18 horas, eu ensino luta lá.

-Tudo bem. Segunda o senhor vai estar lá? É que eu estou meio doente e não posso ir hoje.

-Doente? Se não está bem, e ainda foi capaz de demonstrar esse espírito de luta, então você é bem talentoso. Pode se tornar um grande lutador profissional um dia.

Max de repente parecia muito feliz. A notícia atingiu os outros em cheio, principalmente Zack. Ele não entendia como alguém poderia ter brigado em sala de aula e ainda assim ser reconhecido como forte. Brigar era errado, então deveria haver alguma punição, não uma oportunidade.

O professor entregou um cartão a ele, provavelmente o número e o endereço da academia. Ele cumprimentou Max com um aperto de mãos. Então se virou para os outros quatro.

-Vocês não estão doentes. Vão para a aula.

Sem outra escolha, eles se retiraram. Após a aula, eles passaram o intervalo com Joe, e Scott contou a ele sobre a briga. Joe deu uma lição de moral neles, e elles lancharam juntos, antes de se separar para ir para a sala novamente.

Zack evitava ao máximo chamar a atenção para si depois da briga. Ele temia que James quisesse revanche contra Max. E se Max apanhasse agora, depois de se machucar na batalha e ter de tomar vários remédios, ele jamais se perdoaria.

Entretanto, tudo permaneceu tranquilo durante as aulas restantes. Na saída, ele apressou os amigos, que sabiam que ele apenas temia uma briga iminente. Apesar disso, os quatro foram com ele até o ponto de encontro com Joe o mais rápido que puderam.

Joe estava conversando com uns amigos quando os cinco chegaram. Ele se despediu deles e foi na direção dos cinco, mas sua expressão se tornou macabra. Ele olhou como um animal feroz para alguém logo atrás deles.

-É melhor não tentar, ou você vai se arrepender.

O tom de sua voz também mudou, parecia mais ameaçador, mais animalesco.

Zack olhou para trás, apenas para ver Aaron olhando, congelado e com o medo estampado no rosto, para Joe.

-Desculpe. -Ele disse, e então foi embora.

Rory e Denis estavam fora da visita dele, mas ele imaginava que estavam próximos, observando.

-Acho que não precisava disso, Joe. -Disse Zack.

-Precisava. -Ele respondeu, olhando feio para Zack. -Ele ia fazer algo pro Max. Para de ser bonzinho com essa gente, Zack

O menino ficou em silêncio ouvindo aquilo. Vários alunos passavam em volta, seguindo seus caminhos, Myrella acenou de longe para os garotos. Hector então perguntou:

-O quê você ia levar a gente pra fazer, Joe?

Joe então sorriu, e a tranquilidade voltou à sua voz.

-Nós vamos ver uma vidente.

Os cinco ficaram confusos.

-Onde vamos achar uma vidente? -Perguntou David. -E nós já não temos o nosso vidente?

Max ficou em silêncio.

-Minha mãe vai levar a gente de carro. -Disse Joe. -Tem um lugar em que uma vidente atende, eu liguei e marquei uma consulta com ela hoje cedo.

Eles esperaram Erika chegar no seu carro vermelho. Os seis se amontoaram lá dentro e partiram. No caminho, conversaram sobre a encrenca na sala de aula, sobre a estadia de Max e Erine no hospital e sobre a vidente.

Scott de repente pareceu perceber algo.

-Esperem, então alguém envenenou a Erine? Mas por que alguém faria isso?

-Seja quem for, vai pagar. -Disse Joe.

-Não seja tão violento, querido. -Disse Erika. -Os meninos podem ficar com medo assim.

-Desculpem. Eu também quero saber o quê levaria alguém a envenenar ela.

-Essa vidente fica no centro? -Perguntou Zack.

-Não, mas fica em um lugar movimentado. -Respondeu Erika.

Eles ficaram quietos. Zack não contou a ninguém que deveria ir direto para casa depois da aula. O castigo poderia ser bem pior se ele não desse uma boa desculpa em casa.

Eles chegaram. Havia uma casa grande e verde em dos lados da rua, com várias plantas em todos os lugares do quintal. Zack se sentiu muito incomodado quando viu uma planta se movendo pela calçada.

-Tem uma planta viva aqui. -Ele disse, apontando para onde viu a mesma se movendo.

-Tem mesmo, vamos entrar antes que ela te pegue. -Disse Erika, sorrindo.

Aparentemente, o garoto tinha descoberto uma nova fobia. Os sete saíram do carro e Erika apertou uma campainha que ficava ao lado do portão. Uma mulher jovem de cabelos dourados apareceu na porta, sorrindo.

-Entrem, entrem. -Ela disse, e todos entraram.

Os olhos turquesa da mulher corriam freneticamente por todos os visitantes.

-Olá, eu sou Joe. Eu marquei a vinda aqui.

-Sim, sim, meu jovem. -Ela deu três tapinhas no peito de Joe com a mão direita. -Vejo que temos bastante coisa a fazer aqui.

Ela sorriu e correu para dentro da casa, seguida pelo grupo. Dentro da casa, foram para uma sala, onde havia uma grande mesa redonda com um mapa desenhado sobre uma superfície de madeira. Nas beiradas detalhadas da mesa, haviam escrituras em várias línguas, eram runas douradas esculpidas em um anel de madeira roxo que circundava a mesa. A mesa tinha nove pés, um central e oito distribuídos igualmente.

A mulher se postou na frente deles, e se apresentou.

-Eu sou Angeline Cloud, a vidente.

Os sete se apresentaram.

-Lucielle! -Gritou Angelina. -Traga chá para os convidados!

Uma garota negra se aproximou com uma bandeja com nove copos em cima. Um bule branco com detalhes roxos estava no meio da bandeja. Zack não conseguia parar de admirar a garota. Ele reparou no cabelo grande dela, no nariz fino e nos olhos castanhos, nos lábios grossos e como ela parecia estar em um estado de espírito elevado, pois sua presença transmitia uma calma contagiosa.

-Sua filha é linda, senhora. -Ele disse a Angeline.

-Eu não sou filha dela. -Disse Lucielle. -Eu trabalho aqui.

Angeline olhou para ele.

-Se você quer elogiar uma mulher, tem que dizer diretamente a ela. -disse, olhando para ele.

Naquele ponto, ele estava quase morto de vergonha.

-Desculpem. -Foi tudo o que ele conseguiu dizer.

-Tudo bem. -Disse Lucielle. -Bebam o chá.

-Não, obrigado. -Disse David.

-Vocês têm que beber. -Disse Angeline. -Faz parte do procedimento.

-Ah, então eu bebo. -David reclamou.

Todos os nove pegaram um copo. Os copos mudaram de cor quando alguém os pegava, cada um ficou com uma cor.

O de Zack era amarelo. Ele olhou em volta para ver as cores dos copos dos amigos. Scott tinha um vermelho, David segurava um violeta, Hector tinha um laranja, Max segurava um verde, Joe um azul, Erika um marrom, Lucielle um rosa e Angeline um preto.

Lucielle serviu o chá para eles. Todos beberam o chá rapidamente, então Angeline se sentou em um banco pequeno à mesa redonda.

-Quem vai vir primeiro ver o futuro?

Erika ergueu a mão.

-Eu vou.

Ela deu um passo a frente, quando todos foram interrompidos com um baque forte no chão de madeira. Zack olhou para trás e percebeu que Scott estava caído, inconsciente.

-Leve ele para o sofá! -Gritou Angeline.

Em uma das paredes estava encostado um grande sofá amarelado, então Joe largou seu copo no chão e colocou Scott deitado ali. Ele então recolheu os dois copos caídos do chão.

Angeline se levantou e foi até o sofá, e ficou parara olhando.

-Parece que nós vamos começar por ele. -Ela disse.

Ela gesticulou com as mãos a frente do rosto, e então uma fumaça branca começou a surgir do chão.

-Fiquem em silêncio. -Ela olhou para todos em volta. -Aqui vamos nós.