A noite foi um completo desastre para todos. Joe chegou à casa de sua namorada e a primeira coisa com a qual se deparou foi o sogro correndo, desesperado pelo quintal indo até o carro. Seu coração quase saiu pela boca. Ele correu até o portão, desesperado, pois ele sabia que algo estava acontecendo com Erine.
Quando o sogro o viu, ele gritou:
-Joe! Entre rápido! A Erine precisa de ajuda.
Joe não respondeu. Disparou pelo quintal e entrou na casa. Sua sogra estava tentando levar a filha para o carro, arrastando-a pela casa. Ele não pensou duas vezes antes de correr até ela e pegá-la no colo. Joe não sabia o que estava acontecendo, mas só queria proteger a amada. A garota olhou para ele. Sua pele, antes pálida, agora estava esverdeando, seus olhos pareciam estar lacrimejando, o nariz fino estava avermelhado e a boca dela visivelmente seca. Quando ela o viu, a boca se torceu em um sorriso fraco. Joe não hesitou em levar ela correndo até o carro.
Os quatro rapidamente se acomodaram no carro, Joe foi atrás com Erine deitada em seu colo. O carro partiu, tornando-se um borrão alaranjado sob a luz dos postes. A senhora Yates se virou e começou a falar.
-Joe, desculpe pelo susto. Eu não sei o que houve. Nós estávamos jantando, mas ela não quis comer nada, e então ela caiu no chão e não conseguiu mais se levantar sozinha. -Ela disse, com os olhos cheios de lágrimas e um nó na garganta.
Joe admirava a forma como ela não perdia a postura. Ele olhou para Erine, que fitava-o com olhos profundos e quase inconscientes.
-Fique calma, minha querida. Respire devagar, eu cuido de você. -Joe não tinha lágrima nenhuma nos olhos.
Ele se mantinha firme, e sabia que se perdesse o controle das emoções não conseguiria ajudar ela. Ele se lembrou da vez em que a mãe mencionou essa característica dele, remetendo-o ao tio. Tudo que ele sabia sobre Jake Ardenbrough era contado pela mãe. Ela descreveu ele como um homem gentil e inteligente, calmo e perceptivo. Mas no fim, ele perdeu o controle, e assassinou o próprio pai. Joe conhecia a história de seus avós, e sabia que o avô tentara matar a esposa e os dois filhos, o que levou o mais velho a causar tal atrocidade.
Ninguém disse mais nada, e ainda assim, os Yates se sentiam em segurança com Joe por perto. A estatura do garoto era suficiente para fazê-lo parecer ameaçador para muita gente.
Joe olhou novamente para Erine, que estava com a cabeça deitada em seu colo, com o olhar voltado para ele. Mas a ela estava suada e com febre, o que o fez ficar nervoso.
Em poucos minutos, chegaram ao hospital e levaram ela para ser atendida. Joe e a sogra levaram ela enquanto o sogro procurava um lugar para estacionar o carro. A sogra correu até a recepção explicar a situação da filha, Joe logo atrás, com a garota no colo.
-Eu sou Christine Yates. -Disse ela à atendente da recepção -Minha filha teve um mau estar e desmaiou, e...
Ela estava chorando desesperada e não terminou a fala.
-Está tudo bem, senhora. -Disse a atendente -Nós vamos encaminhar ela para uma avaliação imediatamente.
Ela fez um sinal, e dois enfermeiros vieram com uma maca buscá-la. Joe deitou-a na maca, e, junto da senhora Yates, seguiram os três. Deram apenas alguns passos quando um homem veio na direção deles.
-Levem ela para a ala de intoxicados!
-Intoxicados? -Perguntou Joe.
-Sim. Eu vejo uma aura saindo dela.
-Como assim?
O homem se aproximou deles, enquanto os enfermeiros encaminhavam a maca para um corredor à direita.
-Eu sou Gerard Boyer, profissional de saúde. Eu tenho a capacidade de enxergar certas condições nos corpos das pessoas.
Aquele seria um talento muito útil para alguém da área de saúde. Algumas pessoas nasciam com poderes especiais únicos, e pareciam ser o concedidos pelo destino.
-Eu sou Joe Ardenbrough, essa é minha sogra, Christine Yates.
Joe apertou a mão do médico, que apontou para uma faixa verde pintada no chão.
-Sigam essa faixa, ela vai até a ala de intoxicados.
Ele não disse mais nada, apenas se afastou. Joe entendia, Gerard tinha trabalho a fazer e não podia ficar conversando, e ele tinha que cuidar de Erine.
Christine olhou para ele e disse:
-Fique aqui e espere o Terence, eu vou ficar com a Erine durante a avaliação dela.
-Tudo bem. Mas não fique muito nervosa, Christine. Amanhã nós estaremos todos felizes e esqueceremos desse susto. -Joe abriu o seu sorriso caloroso, e Christine pareceu se acalmar com a visão.
Ele foi até a recepção, e em poucos minutos Terence Yates passou, desesperado, pelas portas do hospital. Joe acenou para ele, que veio correndo. Seus olhos estavam cheios de lágrimas.
-Está tudo bem. -Joe sorriu, e o desespero começou a sumir dos olhos do sogro.
-Onde ela está?
-Ala de intoxicados. Não sei o que é, mas um médico disse que viu na aura dela.
-É o quê? -Ele começou a ficar alarmado novamente.
-Vamos até lá, nós vamos descobrir o que ela tem.
Joe e ele seguiram a faixa, e os dois se perderam pelo hospital. Depois de quase vinte minutos zanzando em volta da faixa, eles encontraram Christine esperando na recepção. Quando os viu, a mulher parecia a ponto de cuspir fogo.
Joe sorriu e passou a mão na nuca.
-A gente se perdeu.
-Ela foi levada para um quarto, já recebeu o tratamento. O quê vocês dois estavam fazendo para se perder?
-A gente estava conversando e acabamos nos perdendo da linha. -Disse o sogro, envergonhado.
Ela não disse nada, apenas pegou os dois pela mão e os levou para a sala de descanso onde Erine estava.
Joe sabia como eram aquelas salas de repouso, normalmente haviam duas camas, entre elas alguma mesa onde deixavam água, comida e flores, que algumas vezes os conhecidos dos pacientes os enviavam.
Ao entrar na sala, a primeira reação de Joe foi exclamar.
-Mãe!?
Erika estava sentada em uma cadeira que havia sido deixada ao lado de uma das camas, ao seu lado havia outra mulher, também em uma cadeira. Quando olhou para a cama, Joe viu um garoto de magrelo de cabelos pretos deitado. Quando o reconheceu, seu coração bateu terrivelmente rápido, e seu corpo esquentou.
-O que aconteceu com o Max? -Joe estava perdendo a calma e a serenidade constantes.
-Os garotos voltaram para nossa casa depois que você foi para a casa da Erine. Eu e a Lucia acabamos de chegar aqui, e encontramos com a Christine. -Erika se levantou e abraçou Joe. -Não fique nervoso, eles dois vão ficar bem.
Joe estava com medo. Queria saber o quê estava acontecendo. Ele sabia que se alguma coisa acontecesse com os garotos a culpa seria dele. Ele olhou para Erine, na cama oposta. Ela estava dormindo agora.
-Por que os dois estão dormindo? -Perguntou.
-O que eu entendi foi que a desintoxicação é um procedimento incômodo e dolorido. E os dois não estavam em uma condição muito boa. -Respondeu Erika.
A mulher se levantou e olhou para Joe.
-Você deve ser o Joe. -Ela sorriu -Max me falou muito sobre você. Eu sou Lucia
Joe começou a ficar calmo. A afeição dos garotos e das pessoas que ele conhecia o moviam, era como um combustível psicológico. Christine e Terence se apresentaram para Lucia. Erika já os conhecia, Joe e Erine estavam juntos há alguns meses, mas se conheciam havia muito tempo. Enquanto a conversa fluia entre eles, Max se sentou na cama, com os olhos cheios de lágrimas e a respiração pesada. Joe se sentou na beirada da cama e pôs a mão no ombro dele.
-Oi, Max. -Ele sorriu. -Eu estou aqui, se acalma.
Max passou a mão no lado esquerdo do rosto, onde havia um grande hematoma.
-Pesadelo... Hector... -Ele dizia aterrorizado.
-O que foi, Max? -Lucia se aproximou, preocupada.
Joe foi até o corredor e pegou um copo descartável, então o encheu de água. Quando entrou no quarto, ele entregou o copo a Max e olhou pelo quarto. As camas tinham uma mesa de cabeceira ao lado, em cada uma havia um vaso com uma flor. A de Max era uma rosa, enquanto a de Erine era uma tulipa branca. A cortina estava aberta, e a janela dava vista à cidade barulhenta lá fora, havia uma porta em uma das paredes, aos pés da cama onde Erine estava, que levava à um banheiro.
-Joe... -Disse Max, com a voz exalando medo. -Eu tive um sonho horrível com o Hector.
-Foi um sonho ou mais uma previsão?
-Previsão. -Disse ele e começou a chorar. -Uma fera quer pegar o Hector. Ele tinha dentes enormes e quer devorar a todos nós. -Ele não conseguia terminar as frases, pois soluçava demais.
-Respire fundo, junto comigo. -Joe olhava nos olhos dele, e respirava lentamente, guiando-o.
O quarto estava em silêncio total, e o barulho das pessoas nos outros lugares era o único sinal de que havia mais alguém por perto. Mas o silêncio logo foi quebrado.
-Isso é uma reunião interessante. -Era Gerard, o médico. -Você não só conhece um Vislumbrador, como também coincidentemente veio exatamente na sala em que ele está neste hospital imenso.
Ele entrou na sala, gesticulando enquanto falava.
-O que quer dizer? -Perguntou Joe. -Você não veio à toa atrás de mim.
Gerard sorriu.
-Ele falou sobre uma fera faminta. Bem, eu não quero assustar mais ninguém. Descansem, e vejam o noticiário amanhã cedo. Mas você está certo, Joe. Eu me interessei por você. -Ele juntou as mãos e inspirou fundo, enquanto Erine balbuciava sobre Joe ser seu namorado. -Já ouviu falar sobre a tese chamada "O Destino de Astaroth?"
-Umas vezes, mas não me interessei.
-É aquela história que diz que não existem coincidências no mundo, não é? -Disse Terence.
-Exatamente, senhor Yates. -Gerard cumprimentou Terence e se voltou a Joe novamente. -Joe, eu vejo a aura das pessoas. Eu tenho uma pausa agora para jantar, e vim até você, então me ouça. O Destino de Astaroth diz que coincidências acontecem de maneiras misteriosas, mas interligadas. Eu imagino que você e esse garoto tenham se metido em algo grande, pois eu vejo em suas auras.
"Explicar como funcionam as auras é um trabalho muito complicado para agora, então preste a atenção no que vou te dizer agora. A sua aura diz várias coisas sobre você. E uma delas é o seu futuro. Eu vejo que você tem muitos objetivos. Vejo que você é extremamente forte e muito protetor. Mas eu também vejo que você não tem medo de consequências, e faria qualquer coisa pela simples vontade de se aventurar".
"Esse menino tem uma aura peculiar, eu vejo que ele tem muito talento, e vejo que ele mente muito bem. Ele sabe muito mais do que aparenta, ele entende as previsões dele, mas não consegue explicar o que vê, e agora há pouco, ele disse algo, mas não deu a informação completa. Você precisa trabalhar na maturidade desse menino o quanto antes, se ele disse que Hector está em perigo, então entenda isso, Joe. Uma fera terrível reapareceu no mundo e vai trazer muita dor para as pessoas, e você saberá o que ela é quando ver as notícias. Você tem uma bela namorada, com todo o respeito, uma boa mãe e um bom futuro. Mas você se envolveu com alguma coisa, assim como esse garoto".
"Eu vejo algo misterioso em vocês, uma aura externa, como se alguém em algum lugar do mundo quisesse se conectar com vocês, mas essa aura remete a algo perigoso, algo que eu não consigo entender, a aura de alguém ou alguma coisa terrível. Tome cuidado."
-Está dizendo que alguém está nos procurando? -Perguntou Joe.
-Eu não sei. A aura misteriosa vem de algum lugar, e é a mesma em vocês dois. Você tem uma aura que pessoas como eu, que podem ver auras, chamamos de "Aura dos Reis". Ela quer dizer que você será muito influente, um líder incrível e inesquecível, mas essa aura de terror e mistério é capaz de se sobrepor a sua.
Joe começou a sentir medo quando ouviu sobre a aura misteriosa. Se alguém estava querendo se conectar com eles, ele imaginava que era relacionado a Gyazom. Joe estava achando que Gyazom fosse alguém. Fazia sentido, se o destino de Astaroth dizia que essas coincidências estavam interligadas, ele achava que era dessa pessoa que partiam. Se ficasse esperando, Gyazom viria até ele. Se fosse atrás, encontraria, o que quer fosse. Gerard o olhava, parecia investigá-lo.
-Eu vi umas coisas estranhas no meu sonho. -Max falou, agora parecia calmo o suficiente para se comunicar. -Eu vi o Hector fugindo de uma coisa horrível, que queria devorar todos nós. Eu também vi o Tristan, um garoto da nossa sala fugindo dessa coisa. Depois foi mais pra frente. Eu vi o Scott e umas sombras com ele. Ele tinha outro grupo. Eu acho que a gente vai se separar algum dia.
-Max, tudo bem. -Joe sorriu para ele. -Talvez nós algum dia façamos alianças com outras pessoas. Talvez tenhamos nossos próprios grupos, mas isso não quer dizer que nós vamos abandonar uns aos outros.
Max desviou o olhar, e Joe percebeu que ele estava escondendo algo. Gerard não disse nada. Uma enfermeira então entrou no quarto com uns papéis em mão.
-Maxwell Northwind, por favor.
-Eu sou responsável por ele. -Disse Lucia.
-Ele está recebendo alta. Venha comigo, tem uma papelada para a senhora assinar.
Lucia se levantou e seguiu a enfermeira, Erika se levantou também.
-Lucia me espere, eu vou pagar para vocês.
Christine e Terence ficaram olhando, e Erine, sentada em sua cama, observava Joe e Max. Joe se levantou e foi até ela.
-Oi. Eu acho que não consegui falar com você hoje. -Ele pegou as mãos dela. -Me desculpe.
-Eu te desculpo se você levar ele pra casa em segurança hoje.
Ela tossiu. Gerard pôs a mão na testa dela.
-Ela está péssima. Parece que alguém envenenou ela.
Todos ficaram pasmos.
-Por que alguém faria isso? -Joe perguntou, incrédulo.
-As pessoas podem validar as piores atrocidades usando o ponto de vista delas. -Foi tudo o que Gerard disse. Os pais podem ficar aqui e passar a noite com ela. Mas Joe, cuide do garoto.
O tom de Gerard deixava Joe nervoso. Ele sabia que algo estava acontecendo, e estavam escondendo dele.
-O quê o Max teve? -Foi o tudo que conseguiu questionar. -Ele não estaria aqui se não tivesse sido intoxicado, certo?
Gerard assentiu.
-Ele caiu e bateu a cabeça no asfalto, e foi picado por uma aranha estranha.
Joe sabia que se perguntasse demais Max podia cair em lágrimas, então se levantou.
-Tudo bem, eu vou cuidar dele. Erine. -Ele foi até ela e lhe deu um beijo. -Mas amanhã eu venho cuidar de você, meu amor.
Erine sorriu, mas não disse nada.
Max se levantou e pegou suas roupas na mesa de cabeceira, então foi ao banheiro trocá-las.
-Eu vou ir jantar. -disse Gerard, cumprimentou os quatro que permaneceram na sala e saiu.
Joe deu um abraço em Terence e em Christine, deu mais um beijo em Erine e então acompanhou Max, assim que ele saiu do banheiro, para a recepção do hospital.
No caminho, Joe o confrontou.
-O quê você sonhou?
Max olhou para ele, e Joe percebeu que algo terrível estava por vir.
-Se nós continuamos com isso... -Ele engoliu em seco. -Vamos nos tornar assassinos.
Foi aterrorizante ouvir aquilo, ainda mais vindo da boca de uma criança.
-Você tem certeza? Me explica com detalhes esse sonho, por favor.
-É muita coisa. Mas eu vi alguém nos chamando de assassinos. Eu vi uma coisa horrível querendo morder o Hector depois disso, e eu acho que ele vai achar a gente cedo ou tarde.
-Está tudo bem Max, me desculpe por fazer você falar essas coisas.
-E quando o médico disse que eu estava escondendo as coisas? Por que ninguém disse nada?
Joe não sabia responder aquilo. Por sorte, Erika e Lucia apareceram e os chamaram para ir embora.
-A cabeça dele vai ficar bem? -Foi a primeira coisa que Joe perguntou quando saíram pela porta da frente.
-Vai. -Respondeu Lucia. -Parece que a batida não foi tão forte. Ele desmaiou por causa da toxina das aranhas. O que me intriga é que não era uma quantidade letal, era apenas para sedá-lo.
Joe imaginou que aquelas pessoas misteriosas tinham a intenção de raptar os meninos.
-Eles vão voltar. Vão aparecer de novo, e quando eles nos encontrarem, -A expressão de Joe se tornou sombria e perigosa, Max percebeu que ele poderia ser bem terrível quando quisesse. -eu vou fazer eles se arrependerem, e os dois vão pedir desculpas, para cada um de vocês cinco.
Max estava quase entrando em pânico, Joe estava com um olhar assassino, e o garoto temia que sua previsão se cumprisse.
-Mas isso não importa agora. Eles estavam parados na frente da sua casa. Eles queriam alguma coisa. -Max começou a chorar novamente, mas tentou se controlar. -Eles viram a gente porquê eu apontei pra eles, talvez a gente pudesse passar por eles e eles nem iam fazer nada.
Eles entraram no carro, e Erika levou os dois para casa. Max chorava muito no caminho, Joe e Lucia lutaram para acalmá-lo.
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Em algum lugar desconhecido, caminhava um jovem menino. Ele não sabia onde estava, não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que precisava prestar a atenção no que via.
Scott começou a ter os sonhos estranhos aos quatro anos. Ele não entendia o que via no início. Mas aos sete, pesadelos vieram. A mãe o levou em um médico, que o diagnosticou com "Memórias Herdadas". Não havia como descobrir quem era o dono delas, Scott apenas foi aconselhado a reparar em detalhes para investigar de onde vinham, mas havia a possibilidade de passar a vida toda sem nem saber a origem delas.
O vale por onde ele andava era nebuloso e escuro. Ele conseguia discernir formas de árvores ao redor, mas ele não conseguia ver nada em volta, podia apenas ouvir alguém conversando.
-Precisamos de abrigo, a polícia está vindo, por favor, eu vou compensar se você me ajudar.
Pareciam estar entrando em uma gruta subterrânea, mas ele sabia que aquela memória era de algum momento semiconsciente daquela pessoa.
Antes que qualquer coisa acontecesse, Scott acordou. O Sol brilhava lá fora. '9 horas já...' ele pensou. Ele se levantou e foi ao banheiro, depois, foi tomar o seu café da manhã. Ele deveria tomar banho e arrumar os irmãos, enquanto a mãe fazia almoço.
Sua irmã tinha 8 anos, o irmão 5, e as crianças bagunçavam enquanto ele comia. Scott foi o primeiro a ir tomar banho, depois, ele colocou o irmão no banho. Quando o garoto terminou, Scott o ajudou a vestir o uniforme e a pentear o cabelo, então os dois se sentaram para assistir desenhos. Essa era a sua rotina, e ele era acostumado a isso. Era uma sexta-feira tranquila, e também era o dia de iniciar a investigação, então ele se recostou no sofá, pensando em como começar.
As onze horas, o almoço estava pronto, e o noticiário começou. Ele ignorou os primeiros dois minutos. Enquanto comia, no sofá, uma notícia tomou a atenção dele. Os dois apresentadores do jornal pareciam estar chocados antes da grande notícia vir. O homem magro e velho de terno olhava profundamente para os telespectadores, a sensação era de que sua voz e seu olhar ultrapassavam a tela da TV.
-Nesta terça-feira, uma grande explosão chamou a atenção dos moradores locais na cidade de Gardeville. No início da noite, um clarão assustou as pessoas e devastou uma parte de uma área restrita. No centro desta cratera, havia um corpo, e as autoridades iniciaram uma investigação no local. Mas a grande surpresa veio ontem, quando a identidade do homem foi confirmada, e ele era ninguém mais ninguém menos que o antigo Primeiro-Elo, o lendário Aureus.
A simples menção do antigo herói atraiu a atenção de todos. A mãe de Scott correu até a sala para ver, sua irmã veio até a sala ver com os próprios olhos. No resto do bairro e em toda a cidade as pessoas entravam em choque ao ouvir a notícia.
Ninguém conseguia acreditar. Scott, estava suando frio, pois imaginar que ele e os amigos encontraram o Primeiro-Elo era uma notícia de suma importância, e ele sabia que ninguém poderia descobrir aquilo.
Os Elos eram a categoria mais alta de heróis no mundo. Atualmente, existiam onze Elos. Maximum Overload, por exemplo, era um deles. Havia uma hierarquia formada nessa organização, ela era chamada de "Corrente da Esperança" cuja função era proteger a sociedade, os Elos eram extremamente importantes desde a sua criação, mais de mil anos antes. Aureus era considerado o mais poderoso de todos, pois seus feitos eram grandiosos e inesquecíveis. O atual Primeiro-Elo, Lâmina-Dourada, era incrivelmente poderoso, mas muitos acreditavam que ele era inferior ao antigo.
Agora, uma corrida contra o tempo se iniciava, Scott sabia que uma grande comoção estava próxima, e muita atenção viria até eles. Depois do incidente na noite passada, ele temia que gente mais poderosa que aqueles dois viria até ele.
Ao se lembrar do incidente, Scott percebeu que ele teve muita coragem para lutar lá. E se sentiu mal por isso. Quando Benício foi atacado no banheiro, ele apenas deixou que acontecesse, nunca imaginou que entraria em uma luta depois daquela covardia. Ele parou de remoer aquilo e voltou sua atenção ao noticiário e à conversa da mãe com os irmãos, e logo se preparou para almoçar e ir debater com os amigos sobre a grande jornada (ou enrascada) em que eles estavam partindo agora.
O noticiário continuou, mas ele estava muito ocupado devorando freneticamente o almoço. Mas em outras casas do bairro, dois garotos prestaram a atenção em um notícia que passou despercebida por Scott. Max e Joe quase não conseguiram comer depois dela.
A apresentadora do jornal falava, passando a sensação de perigo iminente para as pessoas.
-Essa semana, dois casos terríveis de violência chocaram pessoas em várias comunidades, em regiões próximas à fronteira de Gardeville. Duas pessoas foram encontradas despedaças próximas a reservas ambientais. Um segurança noturno de um posto de combustível disse ter visto um monstro estranho, com dentes grandes e pontudos coberto de sangue rastejando pela rua. Ele estava traumatizado demais para dar entrevista para a nossa equipe. As vítimas ainda não foram identificadas, mas em um dos corpos, foi encontrado um tufo de cabelos vermelhos preso nas mãos da vítima.