Os primeiros raios de sol iluminavam a cidade de Gardeville, onde se levantava, agitado, um garoto magro e baixo, cuja pele escura estava arrepiada em decorrência de seus pesadelos. David estava tendo pesadelos horríveis desde a noite da explosão.
Ele se levantou de sua cama e foi até a gaiola grande que mantinha em um cômodo de seu quarto. Ali, dormia Rodney, seu hamster. David costumava fazer carinho nele quando estava nervoso, mas não ousaria acordar o pequeno tão cedo.
Foi ao banheiro, lavou o rosto e encarou seu reflexo. Seus olhos violetas fitaram-se por alguns longos segundos, antes de começar o seu monólogo.
-Você é forte. Não tenha medo. Homens não têm medo. Enquanto você ficar com medo não será um homem.
Ele fechou os olhos, e refletiu sobre o que disse. Ele realmente tinha medo? Talvez os meninos do colégio, o chamando de 'Neguinho Purpurinado' estivessem certos quando diziam que ele não era homem.
Ele respirou fundo algumas vezes.
-Esqueça aqueles merdas, David. Vai dormir, você tá acabado.
David voltou para seu quarto, e percebeu que tinha passado mais de 20 minutos no banheiro, e agora não sentia mais sono nenhum.
Ele se deitou, e esperou. Quando se deu conta, o pai estava na porta, chamando-o.
-Levanta, rapaz. Tú tá aí faz horas, vem tomar café, bicho.
-Já vou.
Ele ponderava se teria dormido desde que levantou para ir ao banheiro. De qualquer forma, ele se levantou e foi até a cozinha para comer.
Sua irmã mais velha estava limpando a sala, enquanto o irmão mais novo assistia desenho animado. Ela olhou, com o olhar severo para David.
-São dez horas da manhã já, garoto! -Ela parecia brava, mas ele sabia que ela era assim por pura preocupação com sua saúde -Aqui não é hotel pra tú levantar a hora que quer! Vai ir lavar essa louça aí quando terminar.
Ela apontou para a pia, que estava cheia de pratos e copos. Seu pai estava saindo para o trabalho, ele saia tarde, diferente da mãe, que saía às oito da manhã.
Depois de lavar a louça, ele foi tomar banho, e passou o resto da manhã tentando fazer um penteado maneiro no cabelo. Mas não adiantava, seu cabelo crespo não podia ser moldado em um penteado bom. David odiava a forma como a única coisa elogiável nele era a cor de seus olhos. E isso quando os garotos não associavam a cor a sexualidade. David não entendia porquê os garotos viam violeta como cor de meninas, ou como ela definiria quem ele era. Mas ele achava que fazia algum sentido na perspectiva daqueles garotos.
Às onze e meia, a irmã já tinha feito o almoço, Jesse era uma cozinheira incrível, e sonhava em ser chefe de cozinha. Ele torcia pela irmã, assim como os pais, mas o resto da família a chamava de iludida.
Como de costume, os cinco se encontraram na frente de uma barbearia, mas David nunca reparava no nome dela. A camisa branca e a calça preta identificava os cinco como estudantes do colégio Moreil.
-Vocês tiveram notícias do cara moribundo da cratera? -Perguntou, assim que se encontraram.
-Nada, nem uma explicação. Tem coisa suspeita aí. -Disse Hector -Se queriam tanto que alguém testemunhasse sobre o ocorrido, por que não nos dão mais informações? -Ele olhou para Zack, que parecia irritado com o comentário.
-Se ninguém testemunhou então eles não têm informação. -Respondeu Zack, em tom ameaçador.
Eles não começaram a brigar, pois tinham que ir encontrar Joe no caminho. No dia anterior, eles combinaram de ir até a casa dele depois da aula. Quando os seis se juntaram, Max contou sobre as duas pessoas estranhas que viu durante a madrugada.
-Você acha que eles estão envolvidos com a tal Gyazom? -Perguntou Joe. -Você é a nossa melhor fonte de informação, Max.
Os meninos debateram sobre formas variadas de caçar aquelas pessoas, mas não sabiam o que fazer, pois tudo o que sabiam é que duas pessoas com capa marrom estavam, agora, em algum lugar da cidade e precisavam ser encontradas.
-A gente precisa de um lugar onde haja fofoca. -Disse Scott. -Se conseguíssemos entrar em algum bar por aí, a gente ia ficar informado rapidinho.
-O Joe pode se passar por um maior de idade pra entrar em um, ele é maior que qualquer adulto por aí. -Disse David.
Joe riu alto, então disse:
-Vocês tem boas ideias, meninos. Eu vou tentar essa estratégia. No fim de semana nós vamos ir em uns bares por aí.
Os meninos não gostaram da ideia de ir em um bar, mas esperavam com anseio pela aventura que vinha aí.
Quando chegaram ao colégio, seguiram a rotina normal. A primeira aula, inglês, passou rapidamente. A segunda era matemática, e a turma badernava enquanto a professora Rita passava o conteúdo no quadro negro.
David não dava muita importância para a aula, ele era péssimo em matemática. Ele passou metade da aula jogando conversa fora com Max. Tudo estava perfeitamente normal, quando Scott teve um de seus 'Lapsos'.
O garoto sofria de uma condição rara, chamada de Memórias Herdadas, que o fazia se perder em lembranças de uma pessoa que ele nem conhecia, mas enquanto a mente dele vagava por momentos frenéticos do passado, seu corpo entrava em pânico e tentava recuperar o controle, e como resultado, Scott tinha ataques epilépticos.
Hector levantou e segurou o amigo, enquanto Ruben, um dos garotos grandes da sala o ajudou a carregá-lo até a direção.
Myrella, que estava na turma há apenas alguns meses parecia chocada com o ataque do garoto. Zack explicou para ela a síndrome rara do amigo enquanto a turma retornava às atividades. Alguns minutos depois, Hector, Ruben e Scott voltaram à sala, e Scott se desculpou pelo susto.
Quando a aula acabou, David foi até ele, perguntar o que ele viu.
-Uma garota tomou uma facada. -Ele respondeu.
Scott não conseguia colocar em palavras suas visões misteriosas, tudo o que ele sabia é que aquelas lembranças pertenciam a alguém.
---
Enquanto isso, Joe se sentava, tranquilo em seu lugar, olhando pela janela da sala e pensando em Erine. Ele a viu somente na noite do acidente, e temia que a situação dela piorasse. Erine teve infecção no intestino e por isso não podia ir à aula e ficava em repouso o tempo todo. A aula de biologia do professor Anthony não atraia a sua atenção, pelo menos, não até o momento em que ele abordou um assunto de seu interesse.
-Vocês sabem de onde vêm os mutantes?
Joe voltou à realidade assim que ouviu aquela frase.
-Imaginei que não, então prestem muita atenção no que eu vou dizer agora. Quando nos referimos a mutantes, existem várias possibilidades as quais podemos imaginar. Quando uma pessoa nasce com diferenças genéticas, dizemos que elas passaram por uma mutação. Uma mutação genética pode causar diversas coisas em uma pessoa: ela pode ter seis dedos, pode nascer com membranas entre eles, pode ter órgãos extras e pode até ter raríssimas doenças.
"Mas quando nos referimos a Mutantes, com um M maiúsculo, nós falamos dos monstros que aterrorizam as nossas vidas. Existem três formas de um Mutante surgir. A primeira e mais comum é a acidental, quando um ser vivo é exposto à condições que tornem seu corpo incapaz de suportá-las, como um crescimento anormal nos poderes de alguém, ingestão de determinados alimentos, e diversas outras coisas".
"A segunda e mais rara, a Natural. Para o surgimento natural de um Mutante, são necessárias condições muito específicas. Por exemplo, um Mutante com capacidade de reprodução assexuada injeta uma pupa em um hospedeiro. A pupa é naturalmente um Mutante. Eu não consigo citar exemplos diferentes, pois quase todos os Mutantes naturais vêm da reprodução".
"E a terceira... Ah sim, a Artificial. Mutantes que são criados manualmente por seres humanos são Artificiais. E esse tipo de Mutante costuma ser o mais perigoso. O mutante que atacou a rua próxima ao portão Oeste na terça-feira era um Artificial. Vocês podem perceber que ele parece ter sido criado com habilidades selecionadas. Para quem não viu, ele era um tipo de homem grande e escamoso, com uma cauda longa e venenosa. Esse tipo de habilidade específica demonstra que elas foram selecionadas, implicando que alguém as criou manualmente. Lembrem-se disso, principalmente os aspirantes a heróis, pois percepção e capacidade de investigação é importante para qualquer um que queira se tornar um herói."
Quando o professor terminou, Joe se perguntou se Gyazom era um tipo de Mutante. Ele suspeitava que teria que lidar com alguns quando partisse a procura de respostas.
Assim que a última aula terminou, Joe se encontrou com os garotos no portão Oeste. Então, seguiram rumo à casa dele.
Quando chegou em casa, sentiu o cheiro de torta.
-Mãe, eu trouxe os garotos. -Gritou da porta de casa.
Os meninos estremeceram quando uma mulher de 1,94 de altura parou em frente a eles. Seu cabelo liso e castanho caía como uma cascata pelos ombros, os olhos azuis e profundos, iguais aos de Joe, observavam calmamente os cinco. Apesar da estatura, ela tinha uma aparência gentil, e um sorriso caloroso e acolhedor que era familiar aos cinco.
-Olá meninos, eu fiz torta e bolo para vocês. -Ela disse e então sorriu novamente. -Joe me falou muito de vocês. Sabiam que ele chama vocês de irmãozinhos?
Ela começou a rir, então os cinco seguiram. Joe parecia constrangido. Eles caminharam até a cozinha, onde a mesa estava recheada com torta salgada, bolo de chocolate e morango e sucos de diferentes sabores, incluindo maracujá, que Max tanto adorava. Eles demoraram até tomar coragem para pegar a comida. Com exceção de Hector, que já tinha um prato com três pedaços de cada. Depois de algum tempo, eles começaram a discussão sobre o plano de investigação. Joe e a mãe se dispunham em lados opostos da mesa, enquanto os cinco se distribuíam pelos lados.
-Vocês têm que começar se perguntando se isso é perigoso. -Disse a mãe.
-É o que eu tento dizer a eles o dia todo, senhora. -reclamou Zack. -Eles querem ir atrás de confusão, e um de nós pode terminar machucado!
-Calma Zack. -Começou David -Olhe, senhora... Desculpe, mas como é o seu nome?
-Eu sou Erika. Me desculpem por não ter dito antes.
-Então, dona Erika, a gente tá investigando um caso que pode ser perigoso, mas que pode ser inofensivo para a gente. O Zack é que é escandaloso e precipitado.
-Mãe -interrompeu Joe -Pode ser que estejamos nos envolvendo em problemas sérios. Mas talvez não sejam tão ruins assim -Ele de lembrou do homem extremamente ferido dentro da cratera. -O que eu sei é que a gente encontrou algo que vale o esforço, é a nossa chance de nos tornarmos heróis!
Erika sorriu. Joe entendia a preocupação da mãe. Desde o dia em que ela perdeu o irmão, ela nunca mais conseguiu parar de se preocupar com a segurança do filho. Assim que se lembrou do tio, Joe percebeu que podia convencer a mãe bem facilmente.
-Escute, mãe. -Ele começou, e a atenção de todos se voltaram a ele. -Eu não quero apenas descobrir o que é Gyazom e quem era aquele cara morto. Eu também sei que, se eu conseguir um trabalho como herói, eu também vou poder ajudar as pessoas. Eu quero ajudar Erine a se curar dos problemas dela. Eu quero descobrir quem é o meu pai, e, acima de tudo, eu vou encontrar o tio Jake.
Os olhos dela se tornaram sombrios quando ouviu aquilo.
-Por favor, não.
-Sim, mãe! Eu preciso!
-Joe, eu sei que você quer conhecer o seu pai. Mas não procure ele, por favor. Você sabe que quem procura acha. Essa Gyazom pode ser algo perigoso, e seu pai não era uma boa pessoa. Por favor filho, busque apenas encontrar o seu tio, se isso pode te agradar tanto assim.
Joe estava à beira das lágrimas. Os garotos permaneceram em silêncio. Ele não sabia o que o pai teria feito ou quem ele era.
-Você sabe que eu não posso deixar de ir atrás do meu pai. Se você não quer me dizer quem é, então eu vou encontrar o tio e ele vai me ajudar. -Joe não conseguiu evitar o choro, as lágrimas corriam pelo seu rosto, e a sua voz tremia quando ele falava.
Erika não chorou. Ela apenas abaixou o olhar e disse:
-Tudo bem. Procure por eles. Eu não quero mais atrapalhar os planos de vocês, me deem licença. -Ela se levantou e foi para o seu quarto.
Joe sabia que ela iria chorar escondida, pois ela jamais demonstraria fraqueza na frente dele. Erika sempre foi forte, pois passou por uma infância terrível.
Após alguns minutos, Hector quebrou o silêncio.
-Não fique assim, Joe. Sua mãe quer o seu bem.
Zack então pôs a mão no ombro do amigo.
-Eu também não conheci o meu pai. Minha mãe disse que ele morreu há muito tempo atrás. Você devia se concentrar só no que importa agora. Aliás, o que aconteceu com seu tio?
Joe limpou as lágrimas e recuperou a voz.
-Meu tio desapareceu durante o Grande Vazamento. Eu não sei o que aconteceu, mas eu sei que meu avô tentou matar ele e a minha mãe. Minha avó não teve muita sorte.
-Sinto muito por ela. -Disse Zack.
-Tudo bem. Vamos nos focar na Gyazom.
Max então levantou a voz para Joe e disse:
-Acho que você ainda tá pensando em como ir atrás do seu pai. Mas, quer saber? Pode ser que seu pai não queira saber de você. O meu pai dificilmente vai atrás de mim. Ele tem uma família e só liga para eles.
Max não estava chorando. Ele olhava para Joe com uma serenidade incomum.
-Obrigado, gente. -Joe sorriu, como sempre. -Amanhã é sexta-feira, e vocês podem vir aqui de novo. Digam aos seus pais que vão posar aqui. Minha mãe vai sair com as amigas dela, então a gente aproveita para sair e investigar.
Hector fez uma careta.
-Tudo bem, para você, sua mãe sair assim?
Joe olhou para ele, com a testa franzida.
-E por que não estaria?
-Meus pais dizem que uma mulher não pode deixar os filhos sozinhos em casa e sair. Dizem que elas vão atrás de homem por aí.
Joe olhou para ele, incrédulo.
-Escuta, Hector, as vezes as pessoas precisam saciar a necessidade de sair e se divertir. Minha mãe pode ir atrás de homens, se ela quiser. Se eu ganhar um padrasto, eu sei que ele vai me dar todo o amor que meu pai não deu. Ninguém deve ficar preso, irmãozinho. -Ele esfregou a mão na cabeça de Hector.
-Ele tem razão, o meu padrasto é muito bom comigo! -Interrompeu Zack.
Hector pareceu entender o lado dos amigos.
-Ei gente, eu quase esqueci, eu preciso que me ajudem a encontrar um presente para a minha mãe. Ela fez aniversário no fim do ano e até agora eu não encontrei algo bom.
-Ela faz aniversário quando? -Perguntou Max. Joe se impressionou ao perceber que eles esqueceram totalmente o assunto do tio. Ele se perguntou até onde poderia levar qualquer assunto sem que eles pensassem muito.
-Em dezembro.
Max fez uma careta.
-Já fazem quatro meses.
-Pois é.
Joe olhou para eles e então começou a rir.
-Caraca, o aniversário dela é bem perto do seu! -Comentou Zack.
-Pois é. Só que eu não sei o que uma mulher de vinte e nove anos gostaria de ganhar. Mas vamos logo, gente! Está na hora de ir para casa.
David, Hector, Max e Zack se levantaram e caminharam alegremente até a sala para sair. Scott olhou para Joe com a testa franzida e os olhos fixos nos dele.
-Treze. -Foi a única coisa que disse. Joe assentiu, mas não disse nada. Era melhor parar com a brincadeira de levar o assunto ao limite.
Os cinco se dirigiram à saída, acompanhados por Joe. Já estava escuro, David imaginou que fossem 19 horas.
-Esperem aí, os cinco. -Joe disse, então voltou para se desculpar com a mãe.
O quarto da mãe estava escuro, e ela estava sentada em sua cama. Joe se sentou ao lado dela.
-Desculpe, mãe, eu prometo que eu vou me cuidar. Eu vou ir até a Erine para cuidar dela hoje.
-Tudo bem. Eu não devia proibir você de ser livre.
-Eu te amo, mãe. -Ele deu um beijo na testa dela e então continuou. -Eu vou levar os meninos para casa.
-Oh, deixe eu me despedir deles.
Eles foram juntos até a sala de estar. Os cinco estavam parados, em pé.
-Boa noite meninos. Gostei de vocês. Venham visitar a gente mais vezes. -Ela deu aquele sorriso caloroso e os meninos sorriram junto.
-Obrigado pela hospitalidade, dona Erika. -Disse Zack.
-Muito obrigado, a gente vêm aqui de novo qualquer dia. -Disse Max, sorrindo.
-Valeu mesmo dona! -Disse David acenando.
-Quando fizer bolo avisa que eu venho correndo. -Anunciou Hector, e todos riram.
Scott não disse nada, apenas lançou um sorriso.
Os seis então saíram e tomaram seu caminho. David não tinha reparado no quintal da casa antes, que era longo e cheio de flores.
-Seu jardim é lindo. -Comentou.
-Minha mãe se esforça para cuidar dele. -Respondeu Joe.
David percebeu um carro vermelho estacionado na garagem, ao fundo da casa.
-Vocês parecem ser bem ricos. -Ele disse.
Joe riu e então explicou.
-É o meu tio, todo mês ele manda algum dinheiro para nós, somado com o salário da minha mãe, a gente tem uma boa renda.
Os meninos ficaram em silêncio, observando o jardim.
-Vamos, já é tarde. -Falou Scott.
Assim, os seis passaram pelo portão branco da casa, e partiram, rumo à rua principal. Quando estavam próximos a rua onde vivia Erine, Joe se despediu deles.
-Eu vou ir por aqui, vocês vão direto para casa. -Ele disse, sério, e quando ele falava assim, os cinco sempre obedeciam ele.
Eles andaram um pouco para a frente, quando Zack deu uma parada brusca.
-Gente, esqueci meu celular.
Zack era o único que tinha um celular entre eles, e normalmente o levava somente para caso seus pais tentassem ligar.
A rua estava totalmente deserta, e um dos postes se apagou quando eles passaram por baixo. A casa ficava bem próxima da esquina em que viraram, mas eles não seguiram em frente. Todos ficaram imóveis quando perceberam.
Duas pessoas estavam paradas, de frente para a casa.
-São eles! -Max gritou e apontou.
-Não aponte, idiota! -Scott bateu na mão do amigo, mas era tarde.
A figura menor virou e alertou a outra. Os dois então ficaram parados. Max olhava em volta, se preparando para a luta.
Assim que se moveram, a Pessoa menor fez um movimento, e pequenos animais saíram de sua capa. David podia diferenciar Sapos e Aranhas Mutantes. Hector e Max se posicionaram para a luta, Zack ficou no meio entre os quatro, David e Scott na frente. Hector ficou impressionado quando viu a marca etérea se espalhando pelos corpos de David e Scott.
Hector sabia que os usuários de Ether eram extremamente raros, e teve a sorte de fazer dois amigos com esse poder. Ether era parecido com uma tatuagem tribal brilhante, ela se espalhava pelo corpo do usuário e aumentava seus atributos físicos e podia guardar poderes especiais. Cada usuário tem o seu próprio padrão, e ele é permanente. Quando a marca passa pelos olhos, os olhos adquirem a cor da marca. No caso de David, a marca passava pelos dois olhos, já Scott tinha apenas no olho esquerdo. Assim como os padrões, as cores variavam de usuário para usuário.
Quando os pequenos mutantes se aproximaram, Scott e David dispararam pela rua noturna, chutando vários sapos para cima, então atiravam bolas de fogo em direção a eles. Os inimigos não saíram do lugar, permaneciam calmos, estudando os garotos.
Hector começou a pular em cima das aranhas, seguido por Max e Zack, rodando e pulando em uma dança macabra. Max acabou escorregando enquanto a fazia e caiu, batendo a cabeça no asfalto. Hector continuou esmagando as aranhas. David avançou contra o invocador, que pulou para trás em um velocidade impressionante, e o maior avançou contra ele. Scott continuou atacando os sapos, enquanto Zack protegia Max, que estava desacordado. Hector correu para uma lixeira próxima e atirou o maior saco de lixo que viu contra a pessoa grande, que se defendeu segurando o saco de lixo. David lançou uma energia elétrica azul pela mão direita, que atingiu-a e a derrubou. Mas levantou rapidamente, derrubando o capuz. Era um homem grande e parrudo, os cabelos e barba grisalhos lhe davam aparência de um homem de 50 anos. Alguns moradores começaram a abrir as janelas para ver a confusão lá fora, mas não ousavam se envolver. Hector percebeu que o homem estava irritado e agora iria atacar. Então, fez a única coisa que conseguiu imaginar.
-SOCORRO! DONA ERIKA! -Berrou, a plenos pulmões.
Scott percebeu e fez o mesmo.
-FOGO! -Gritou e lançou uma coluna de fogo o mais alto que pôde.
Os inimigos perceberam o que iria acontecer e dispararam pela rua, pularam em um quintal e fugiram. David parou e olhou para trás. Quando viu Max caído no chão, ele correu, desesperado, na direção do amigo. Scott veio junto, e Erika apareceu no portão de casa e correu para acudir.
Quando os quatro se juntaram, Erika apareceu no portão e veio ao socorro dos meninos. Ela foi até Max e colocou a mão em sua testa. Sozinha, ela ergueu o garoto em seus braços e ordenou que os quatro entrassem com ela. Alguns vizinhos saíam de suas casas para ver o que estava acontecendo. A marca de Scott e David se dissipou.
Lá dentro, Hector explicou o ocorrido a ela.
-Acalmem-se, Max está bem, eu vou levá-lo ao médico. Eu vou trancar a casa e vocês vão para a garagem, rápido!
Os garotos correram até a garagem, em alerta total. Erika foi logo atrás, com Max no colo. Hector saiu com a chave na frente, e abriu o carro. Zack, David e Scott se amontoaram no banco traseiro, Hector foi na frente, e Max ficou com os garotos atrás, ainda inconsciente.
Zack o chacoalhou e ele começou a acordar.
-O quê... O quê aconteceu? -Perguntou, ainda sonolento.
Ele olhou em para os amigos e para a mulher no volante, acelerando o carro pelas ruas vazias. A rua principal não estava congestionada, para o alívio de todos.
-Quanto tempo eu fiquei apagado? -Ele perguntou, quando voltou a si.
-Uns 5 minutos. -Respondeu Hector.
Erika acelerou pela rua principal e perguntou onde os garotos moravam. Ela os deixou em casa, um por um. Zack primeiro, Hector logo em seguida. David foi deixado no portão de casa, e correu para dentro. A mãe já estava em casa, e a irmã estava brava.
-Vai lavar a louça de novo. -Foi tudo o que ela disse.
David não falou do infortúnio que passou, pois sabia que a mãe não deixaria ir posar na casa de Joe no dia seguinte.
-Joe pediu pra deixar a gente posar lá amanhã, mãe.
-A gente? -Ela perguntou.
-Quer dizer, eu. Não, a gente, eu vou levar o Rodney comigo.
-Eu vou falar com o Joe antes. Se ele vier aqui e me pedir, então eu posso pensar em deixar.
David entendeu. Ele então foi jantar e se preparou para a aventura que vinha aí.
---
Erika chegou na casa de Max e buzinou. A Mãe dele veio até eles.
-O que foi? -Perguntou.
-Entre no carro, seu filho se machucou, preciso que venha com a gente para o hospital, eu pago.
Ela falou muito rápido, mas a mãe de Max entendeu. Scott ficou impressionado com o dialeto de mães, e como ela entendeu na mesma hora o que tinha de fazer.
-Gente, eu não preciso de um médico, estou bem.
-Não está não! -As duas disseram ao mesmo tempo.
Max continuou protestando, mas as duas não cederam.
-Eu moro nessa rua. -Scott apontou assim que o carro dobrou a esquina. -Podem me deixar na esquina, eu vou andando.
Erika parou o carro e ele saltou, então caminhou para casa.
Quando ele entrou, a mãe estava na cozinha.
-Você demorou. Tudo bem?
-Sim, a mãe do Joe trouxe a gente de carro. -Ele sorriu.
-Certo, vai jantar. -Ela olhou para ele, mas depois completou -Não faça muito barulho, seu pai chegou agora há pouco.
Ela fez um sinal de silêncio com o dedo indicador. Ele entendeu o sinal que eles utilizavam para dizer quando o pai estava ou não bêbado.
Scott jantou e tomou banho, tentando esquecer o que aconteceu mais cedo. Ele sabia que a mãe tinha percebido algo de errado, mas ela provavelmente não queria mais preocupações agora.
Ele foi dormir então, desejando apenas esquecer todos os seus problemas.