O dia amanheceu com uma atmosfera diferente na Academia de Magia de Eldoria. Nos corredores, os alunos falavam em sussurros, trocando olhares desconfiados. Desde a luta de Cael contra o Cavaleiro do Eclipse, as conversas sobre ele se intensificaram.
Antes, ele era apenas um plebeu que ninguém considerava. Agora, havia algo diferente na forma como o encaravam. Não era apenas desprezo. Era cautela.
No refeitório, alguns grupos murmuravam enquanto Cael passava.
— "Você viu a luta dele? Ele conseguiu enfrentar um Cavaleiro do Eclipse!"
— "Mas como? Ele nem sequer tem linhagem nobre!"
— "Algo está estranho nisso tudo…"
Cael ignorou os cochichos e se sentou à mesa como se nada estivesse acontecendo. Ele pegou um pão e um pouco de sopa, começando a comer tranquilamente. No entanto, ele sentia os olhares sobre si.
"Então finalmente começaram a agir?"
Ele já sabia que seria questão de tempo até alguém tentar investigá-lo mais a fundo. Mas o que o intrigava era quem estaria por trás disso.
E naquela noite, ele decidiu tirar a prova.
Movimentos na Escuridão
A noite caiu, e a academia ficou em silêncio.
Cael deixou seu dormitório e caminhou pelos corredores vazios. O som de seus passos ecoava levemente contra as paredes de pedra. A lua cheia iluminava o pátio, lançando sombras longas que se estendiam como espectros pelo chão.
Ele sentiu a presença novamente.
Dessa vez, porém, não era apenas um espião.
Cael continuou andando, fingindo não perceber nada, mas sua mente já estava analisando a situação. Haviam pelo menos três presenças diferentes, todas tentando se ocultar na escuridão.
"Amadores."
Ao virar a esquina de um corredor, ele desapareceu.
Os espiões hesitaram ao perceber que haviam perdido seu alvo.
— "Onde ele foi?" — um deles sussurrou.
— "Ele não pode ter sumido assim! Continue procurando!"
Um deles deu um passo à frente… e sentiu algo estranho.
O ar ao seu redor ficou pesado.
Antes que pudesse reagir, Cael apareceu atrás dele.
O espião mal teve tempo de abrir a boca antes de sentir uma mão apertando sua nuca.
— "Boa tentativa."
Com um único movimento, Cael o prensou contra a parede. Os outros dois tentaram reagir, mas então sentiram uma pressão esmagadora descendo sobre eles.
Seus joelhos cederam instantaneamente.
O corpo dos três começou a suar frio.
A mana ao redor deles… simplesmente parou de fluir.
Era como se o próprio ar tivesse sido drenado de magia.
O primeiro espião, ainda com o rosto contra a parede, tentou resistir.
— "Q-quem… é você?"
Cael suspirou.
— "Eu é que deveria perguntar isso."
Ele o virou bruscamente, segurando-o pelo colarinho.
Ao puxar o capuz do homem, suas suspeitas se confirmaram.
Um brasão dourado bordado no uniforme negro.
"Família Von Auster… então finalmente resolveram se mexer."
Cael analisou o homem à sua frente. Ele não era um simples espião de baixo escalão. O controle de mana dele era avançado, o que indicava que fazia parte da elite da família.
Mas isso não importava.
— "Vou perguntar só uma vez." — Cael apertou um pouco mais o colarinho do homem. — "Por que estão me vigiando?"
O espião hesitou.
Então, um brilho sutil apareceu no fundo de seus olhos.
Cael percebeu um feitiço ativado.
— "Tsk."
Antes que pudesse agir, o corpo do homem se contorceu e tremeu violentamente.
Mana negra começou a emergir de seu corpo, queimando sua pele.
Os outros dois espiões arregalaram os olhos.
— "Não! O protocolo de queima—"
Era tarde demais.
A pele do homem começou a se dissolver lentamente, como se estivesse sendo consumida por dentro.
Ele arregalou a boca, tentando gritar, mas sua voz não saiu.
Em menos de cinco segundos, o corpo dele virou poeira.
O silêncio preencheu o corredor.
Os outros dois espiões estavam paralisados, horrorizados.
Cael os encarou, sua expressão ainda neutra.
Mas seus olhos brilhavam friamente.
— "Interessante…"
Ele cruzou os braços.
— "Então vocês estão dispostos a sacrificar seus próprios homens para esconder a verdade?"
Um dos espiões tentou rastejar para trás.
— "N-nós não sabíamos que ele faria isso…!"
— "A culpa não é nossa! Nós apenas seguimos ordens!"
Cael suspirou e olhou para eles com tédio.
— "Vocês são inúteis."
Com um simples movimento da mão, ele desativou a pressão mágica.
Os dois espiões caíram no chão, respirando pesadamente.
— "Voltem e avisem seus superiores."
Eles o encararam, ainda tremendo.
— "Diga a eles…" — Cael virou-se e começou a caminhar pelo corredor escuro — "… que se querem brincar comigo, que tragam suas melhores cartas."
E então, ele desapareceu.
Os dois espiões ficaram ali, sem conseguir dizer nada.
O medo que sentiram era algo que nunca haviam experimentado antes.
Afinal, eles estavam diante de alguém que não era normal.
E agora… a Família Von Auster também sabia disso.