Aria hesitou do lado de fora dos aposentos de Helena, segurando firmemente a bandeja. A risada que vinha de dentro parou-a em seu caminho. Com cuidado, ela abriu as portas e entrou, seu coração se apertando com a cena à sua frente.
Lucian, seu irmão adotivo do meio, estava ao lado de Helena. Os dois estavam absortos em uma conversa, com sorrisos calorosos e relaxados. Lucian inclinou-se ligeiramente para a frente como se compartilhasse uma piada privada, enquanto Helena segurava o estômago, rindo baixinho.
Era uma imagem de companheirismo fácil - uma interação entre irmãos perfeitamente encenada.
O peito de Aria doía enquanto os observava. Amargura borbulhava dentro dela, torcendo seus pensamentos. Deveria ser eu, pensou ela, segurando a bandeja tão fortemente que os nós dos dedos ficaram brancos. Eu deveria ter uma ligação fraternal com Lucian, não ela.
Ela era irmã deles por adoção, seus pais biológicos, o rei e a rainha, haviam adotado Lucian e seus outros irmãos anos atrás, quando ainda eram apenas meninos. Helena, por outro lado, era apenas sua meia-irmã, filha de seu pai e sua segunda esposa. Tecnicamente, Helena não compartilhava laços familiares com os irmãos.
Mesmo que ela fizesse isso, não era tão forte quanto a situação de Aria. Em termos de relacionamento, ela era a irmã biológica deles, enquanto Helena era a meia-irmã. No entanto, ela havia se encaixado sem esforço no papel de irmã amada, enquanto Aria, a filha biológica do casal real, era tratada como uma estranha.
Eles nunca sequer tentaram me conhecer, Aria pensou, sua tristeza se aprofundando. Desde que foram adotados, eles só me veem através da lente do que os outros dizem sobre mim. Nunca me deram uma chance.
Seus olhos ardiam enquanto ela observava Lucian sorrir novamente para Helena. Ele nem mesmo havia reconhecido sua presença.
Reunindo sua coragem, ela deu um passo à frente, limpando a garganta para se anunciar. O som atraiu a atenção deles, embora o olhar de Lucian fosse fugaz, indiferente.
"Ah, Aria," Helena disse calorosamente, sua voz pingando com falsa bondade. "Você está aqui com o chá. Que atenciosa."
Aria colocou a bandeja, sua expressão neutra. "Não é nada... não sou preguiçosa", respondeu ela de forma brusca.
Lucian, no entanto, mal lhe deu um segundo olhar. Ele gesticulou de forma displicente em direção à bandeja. "Bom. Então continue de pé e segure até terminarmos de conversar."
Aria se enrijeceu. "Com licença?"
O olhar de Helena alternava entre eles, seu sorriso vacilando. "Oh, Lucian," ela disse baixinho, tocando seu braço como se o repreendesse. "Isso não é necessário. Aria deve estar cansada—"
"Ela consegue," Lucian interrompeu firmemente, sua voz fria. "Ela disse que não é preguiçosa... Então tenho certeza que isso também não é nada demais."
As bochechas de Aria coraram de humilhação e raiva. Ela abriu a boca para objetar, mas se conteve, segurando sua resposta. Eles só vão torcer isso contra mim, pensou ela amargamente. E eu não posso me dar ao luxo de causar mais problemas para mim mesma.
Com uma respiração profunda, ela pegou a bandeja novamente e segurou...
Os minutos se alongaram, cada segundo parecendo uma eternidade. O peso da bandeja escavava em seus braços, seus músculos tensos enquanto seus braços começavam a tremer.
Eu não deveria ter que fazer isso, ela pensou furiosamente. Sou uma princesa, não alguma serva. Mas eles nunca veriam dessa forma.
Ela olhou para Helena, que ainda estava conversando com Lucian, seu tom leve e alegre. De vez em quando, o olhar de Helena se desviava para Aria, um leve brilho de satisfação em seus olhos.
Ela está gostando disso, Aria percebeu, cerrando os dentes. Fingindo se importar comigo enquanto toma tudo o que deveria ser meu. Minha família, minha posição, minha vida...
Seus pensamentos foram interrompidos quando a bandeja começou a escorregar. Seus braços cederam, e as xícaras de chá de porcelana prateadas se estilhaçaram ao atingirem o chão, o estrondo alto silenciando a sala.
Os olhos esmeralda de Lucian se estreitaram quando ele se virou para ela. "Você está falando sério?" ele retrucou, seu tom afiado. "Você não pode nem segurar uma bandeja direito?"
Aria se endireitou, suas mãos tremendo ao lado do corpo. "Não é meu trabalho ser tratada como uma serva", ela retrucou, sua voz tremendo de raiva e frustração.
"É seu trabalho não se envergonhar mais," Lucian respondeu friamente. "Recolha os pedaços e traga outra bandeja. Talvez dessa vez você consiga não estragar a situação."
O coração de Aria apertou com o insulto. Seu instinto era reagir, se manter firme, mas o peso de seu status a conteve. Qual seria o ponto? Eles nunca ouviriam mesmo.
Helena deu um passo à frente, colocando uma mão gentil no braço de Lucian. "Lucian, por favor," ela disse baixinho, sua voz cheia de falsa preocupação. "Ela teve um tempo difícil ultimamente. Vamos não ser tão duros com ela."
Os olhos de Aria se estreitaram. Ela podia ver através da atuação de Helena, o menor indício de presunção piscando em sua expressão.
"Não me defenda," Aria disse calmamente, sua voz firme. Ela se voltou para Lucian, forçando-se a enfrentar seu olhar gelado. "Eu vou buscar outra bandeja."
Sem mais palavras, ela se inclinou para juntar os pedaços quebrados, seus dedos tremendo enquanto segurava as lágrimas. Enquanto se levantava, a cabeça erguida apesar da dor no peito, ela viu o sorriso satisfeito de Helena.