Depois de sair correndo do quarto, Aria segurou, apertados em suas mãos, os fragmentos quebrados da xícara, as bordas serrilhadas penetrando em suas palmas como para lembrá-la de seu lugar na casa. Sua visão embaçou, mas ela lutou ferozmente contra as lágrimas.
Ela não choraria. Não por eles. Não por pessoas que se alimentavam de sua miséria. Seu coração se sentia pesado, mas ela enrijeceu os ombros e forçou-se a caminhar rapidamente em direção à cozinha, mesmo sob os olhares zombeteiros das empregadas que a seguiam como sombras.
Ela ouviu seus sussurros abafados, seus sorrisos quase audíveis, mas se recusou a deixar que a ridicularização delas a quebrasse.
Na cozinha, ela descartou os fragmentos quebrados no lixo com mãos trêmulas. O som suave do clique ecoava no espaço vazio, zombando de sua solidão. As empregadas, vendo sua luta, não ofereceram ajuda.
Em vez disso, elas trocaram olhares convencidos, murmurando alto o suficiente para Aria ouvir.
"Olha só para ela", murmurou uma empregada. "Ela nem consegue fazer uma tarefa simples sem estragar tudo."
"Patética", acrescentou outra com um sorriso de desdém. "E ela se diz da realeza."
Aria as ignorou, suas mãos trêmulas ficaram firmes enquanto ela começava a preparar outra xícara de chá. Seus movimentos eram deliberados, cada ação um lembrete silencioso, a si mesma, de que ela poderia suportar aquilo, assim como tinha suportado tudo o mais.
Uma vez terminado, ela levou a xícara fresca de volta para o aposento de Helen, seus passos firmes, mas seu coração pesado com a apreensão.
No momento em que entrou, Helen estava agora deitada elegantemente em uma espreguiçadeira luxuosa, os lábios curvados em um sorriso arrogante. Lucien estava sentado por perto, seus olhos verdes escuros brilhando com traquinagem. Aria podia sentir a tensão no ambiente mudar à medida que seus olhares pousavam sobre ela.
"Ah, a empregada desastrada finalmente retorna", disse Lucien, arrastado, sua voz impregnada de zombaria. "O que te demorou tanto? Você se perdeu no caminho para a cozinha?"
Helena, sempre a atriz, interveio com preocupação fingida. "Grande irmão, não seja tão duro com ela. Ela está fazendo o seu melhor. Coitada da Aria, você deve estar tão cansada depois de toda a... excitação de mais cedo. Aqui, deixe-me ajudar você."
Antes que Aria pudesse reagir, Helen estendeu a mão como se fosse pegar a xícara de suas mãos. Mas, em vez de um gesto genuíno, o aperto de Helen se apertou inesperadamente, fazendo o chá escaldante derramar um pouco na mão de Aria. Aria estremeceu, contendo um grito de dor, mas Helen simplesmente soltou um gás teatral.
"Oh, não! Eu te machuquei irmã? Não foi minha intenção," Helen sussurrou, seus olhos ardilosos fingindo inocência.
Lucien deu uma risada sombria, claramente aproveitando a cena. "Cuidado, Helena. Ela pode começar a chorar de novo. Aria é bastante boa nisso, não é?"
Aria apertou os dentes, recusando-se a lhes dar a satisfação de vê-la se desfazer.
Helena estava prestes a fazer um comentário quando, uma voz firme cortou o ambiente como uma lâmina.
"Chega, Helena."
Ryan, irmão gêmeo de Helen, seu meio-irmão, entrou na câmara, seus olhos aguçados se estreitando diante da cena. Ao contrário de sua irmã, Ryan carregava consigo uma dignidade tranquila que desmentia sua perspicácia afiada. Embora ele não compartilhasse da inteligência de Helen, usava o pouco que tinha de maneiras que lhe valiam respeito ao invés de desdém.
"Você não tem nada melhor para fazer do que atormentar alguém que está apenas tentando fazer um trabalho que não deveria...?" perguntou Ryan friamente, seu olhar fixo em Lucien e Helena, alternadamente.
A situação de Ryan era um pouco similar à de Aria, mas ainda assim, melhor, porque embora ele não fosse tão inteligente quanto os demais e não conseguisse competir pelo papel de herdeiro, ele era bom em outras coisas e frequentemente ajudava a desenvolver o reino, ganhando aclamação e respeito das pessoas... assim, ele não era odiado como Aria.
"Relaxa, Ryan", disse Lucien, acenando com a mão desdenhosamente. "Nós só estamos nos divertindo um pouco."
"Diversão?" O tom de Ryan era incisivo, sua mandíbula se apertando. "Grande irmão... Se é isso que você chama de diversão, eu tenho pena da sua ideia de entretenimento." Ele era provavelmente o único que entendia a situação de Aria.
Helena bufou, cruzando os braços. "Honestamente, Ryan, por que você está sempre do lado dela? Você deveria saber que eu amo minha irmã, eu estava apenas brincando com ela. Por que você faz parecer tão—"
"Chega", interrompeu Ryan bruscamente, sua voz firme. "Se você acabou, Aria tem trabalho a fazer. Pare de desperdiçar o tempo dela... Lucien com sua permissão, ela pode partir."
Aria não se deu ao trabalho de esperar pela aprovação de Lucien e lançou um olhar grato a Ryan, mas ele apenas lhe devolveu um aceno sutil, com uma expressão indecifrável. Dispensada, ela deixou rapidamente a câmara de Helena.
De volta ao seu pequeno quarto, com poucos móveis, Aria afundou-se em sua cama, suas mãos tremendo enquanto esfregava a queimadura na mão. A dor era aguda, mas era nada comparada à dor em seu peito.
Ela se ocupou arrumando seu espaço e tratando da queimadura, esperando que a tarefa simples aliviasse sua mente, mas seus pensamentos continuavam a desviar-se.
De repente, uma imagem não solicitada atravessou sua mente. Lucian. Seu olhar penetrante amolecia, sua mão se estendendo para acariciar sua bochecha com uma ternura surpreendente. Ela quase podia sentir o calor de seu toque, o esboço de um sorriso em seus lábios enquanto ele se inclinava mais para perto...
Aria sacudiu a cabeça violentamente, banindo o pensamento. Seu peito se apertou com raiva e confusão. Por que diabos ela estava pensando nele daquela maneira? Ele a havia humilhado, zombado dela. A ideia era absurda.
Aria se pôs de pé, seu coração acelerado. "Não", ela sussurrou, balançando a cabeça. "Não, não, não."
O pensamento era absurdo. Este era o mesmo homem que a havia humilhado, zombado dela, tratado-a como se fosse nada. Como sua mente poderia conjurar tal imagem ridícula?
Ela pressionou as mãos às têmporas, desejando afastar o pensamento. "O que há de errado comigo?" ela murmurou. "Eu devo estar perdendo a minha mente."...
O dia seguinte amanheceu silenciosamente, e Aria levantou-se cedo para começar suas obrigações. O dia passou em um borrão de tarefas, limpeza, organização, buscando itens para a casa. Comparado ao dia anterior, foi misericordiosamente tranquilo. Ao final da tarde, seu corpo doía, mas ela estava grata por não ter sido humilhada como ontem.
Sua alívio durou pouco. O rei e a rainha convocaram todos para o grande salão, sua presença régia comandando atenção. À medida que a família e a equipe se reuniam, a rainha avançou, sua voz ecoando com autoridade.
"Temos dois anúncios a fazer," ela declarou. "Amanhã, estaremos hospedando uma grande cerimônia de boas-vindas para a chegada do grande Kalden Veyl."
Sussurros percorreram a sala. Kalden Veyl era um nome que carregava peso, sussurrado com temor e medo. Conhecido por seu poder incomparável e maneiras misteriosas, ele era uma figura envolta em lendas. Rumores diziam que ele havia praticado o nível mais alto de magia, que exigia treinamento de três anos, algo que pessoas comuns nem se atreviam a sonhar em seis meses.
Aria franziu a testa, sua curiosidade aguçada. Quem era esse homem que até seus pais todo-poderosos pareciam respeitar? Ela se perguntou.
"Como muitos de vocês sabem," o rei acrescentou, seu tom sério, "Kalden Veyl não responde a ninguém. Para ele aceitar nosso convite é uma grande honra... Ele estará aqui para inspecionar o Grande feitiço mágico soberano e ficará depois, para vigiar o reino por qualquer retalição do feitiço..."
A rainha sorriu, suas próximas palavras provocando uma nova onda de murmúrios. "Esta cerimônia também marcará o retorno de nosso filho mais velho, que passou anos treinando fora do reino."
Aria congelou, seu sangue esfriando. Seu irmão de criação mais velho estava retornando? O pensamento lhe revirou o estômago. Ela já estava lutando com Lucian e Dario, e agora o mais estrito e imponente de todos estava voltando?
"Oh, Deus", ela murmurou sob a respiração, um sentimento de pavor acumulando-se em seu peito.