O parque de diversões estava absolutamente vibrante, transbordando vida e cores por todos os lados. O ar estava impregnado com o aroma doce e inconfundível de pipoca, algodão-doce e churros frescos. Esses cheiros se misturavam ao odor mais gorduroso de salgadinhos fritos, vindos das várias barracas de comida que estavam espalhadas por todo o lugar. O som das risadas das crianças e a música animada que saia dos alto-falantes dos brinquedos criavam uma sinfonia caótica, mas que, de alguma forma, parecia reconfortante.
A luz do sol fazia tudo ao nosso redor brilhar de uma forma quase mágica. As árvores ao redor das áreas de lazer balançavam suavemente ao ritmo do vento, criando uma atmosfera relaxante, como se o mundo ao nosso redor estivesse desacelerando. Caminhamos lado a lado, cada um perdido em seus próprios pensamentos, mas igualmente absorvendo as pequenas maravilhas do momento. Havia algo quase sobrenatural naquela paisagem, não porque o parque em si fosse algo extraordinário, mas porque ele era um reflexo de algo mais profundo — uma memória viva de um tempo mais simples, de um amor que ainda parecia fresco, mesmo depois de tudo o que havia acontecido.
Melissa, com um sorriso tímido, entrelaçou seus dedos nos meus dessa vez ela tomando a iniciativa, e a sensação de seus dedos acariciando a palma da minha mão me trouxe uma paz inesperada. Não parecia que tinham se passado cinco anos desde que nos afastamos, mas, ao mesmo tempo, eu sabia que muitas coisas haviam mudado. Ela me olhou com os olhos brilhando, uma luz suave refletida neles que me fez pensar que, talvez, fosse o único lugar onde o tempo ainda fosse gentil conosco.
— Você se lembra da última vez que viemos aqui? — Melissa perguntou, seu tom suave, quase como se quisesse reviver aquele momento em que tudo parecia mais simples.
Olhei para ela, absorvendo o que estava dizendo. A memória de nós dois, jovens e despreocupados, invadiu minha mente como uma onda de nostalgia.
— Como eu pude esquecer? Esse foi o dia em que você me desafiou a andar na montanha-russa mais assustadora do parque — respondi, tentando esconder o sorriso de vergonha.
Melissa riu, sua risada leve e melodiosa preenchendo o ar ao nosso redor. Seus olhos estavam vivos, repletos de uma energia que me fez sentir como se o tempo tivesse parado naquele instante.
— E você gritou tanto que até as crianças da primeira fila começaram a rir de você! — ela disse, provocando-me com um olhar travesso.
Eu revirei os olhos, mas não consegui deixar de sorrir.
— Eu estava apenas… testando a acústica do parque — brinquei, tentando me defender.
Ela riu ainda mais, me puxando para frente antes que eu pudesse me defender. A risada dela era como um refúgio, uma lembrança do quanto ela sempre soubesse como me fazer me sentir em casa, mesmo nos momentos mais difíceis.
— Vamos, vamos pegar um pouco de algodão-doce — ela sugeriu com um sorriso travesso.
Caminhamos até uma das pequenas barracas de guloseimas, onde um homem idoso, com um sorriso acolhedor, estava preparando o doce. Ele fiava o açúcar em nuvens delicadas de um rosa suave, que se desmanchavam na boca em uma explosão de doçura. Melissa pediu duas porções, e logo estávamos caminhando de volta pelo parque, cada um mordendo um pedaço da nuvem rosa e se deliciando com o sabor que parecia nos transportar de volta para a infância.
A brisa suave do fim da tarde trazia um frescor agradável, e o calor do sol começava a ceder à promessa do crepúsculo. As crianças ainda corriam pelo parque, suas risadas alegres se misturando com o som das rodas dos brinquedos girando no ar. A gente se divertiou tanto que nem viu o tempo passar e qundo me dei conta o céu estava começando a mudar de cor, como se estivesse pintado com tons de laranja e rosa, refletindo o fim de um dia perfeito.
Foi então que passamos pela galeria de tiro, onde o som de tiros secos e rápidos ecoava pelo ar. Melissa parou abruptamente, seus olhos se iluminando com uma energia travessa.
— Lembra como eu sempre ganhava esses jogos? — ela perguntou, com um sorriso travesso se formando em seus lábios.
Eu cruzei os braços, tentando não parecer interessado, mas sabia que a competição entre nós sempre foi algo divertido.
— Lembro que você trapaceou de alguma forma — respondi, com um tom de brincadeira.
Ela levantou as sobrancelhas, sorrindo com confiança.
— Não foi trapaça, foi talento — disse ela, pegando um dos rifles de brinquedo, o olhar cheio de desafio. — Vamos ver quem ganha agora.
Eu não pude resistir. Aceitei o desafio sem hesitar, pegando minha arma também. O atendente nos entregou as munição de brinquedo com um sorriso, e logo estávamos de frente aos alvos em movimento. Eu mirei cuidadosamente, tentando acertar o centro, mas Melissa estava simplesmente impecável. Cada tiro dela acertava o alvo com precisão, enquanto o meu, por mais que eu tentasse, errava por apenas alguns centímetros.
No final, o placar estava claro. Ela tinha me vencido de forma esmagadora, com quase o dobro da minha pontuação.
— Viu? Eu ainda sou a melhor — ela disse, com um sorriso de vitória, pegando um ursinho de pelúcia como prêmio.
Eu suspirei, aceitando a derrota com um sorriso torto.
Ela me entregou o ursinho com um sorriso travesso.
— Um presente para te lembrar que sou melhor nesses jogos — ela respondeu, com um olhar desafiador.
Continuamos caminhando, as risadas ainda ecoando em nossos corações. Logo, nos encontramos na entrada do salão dos espelhos, e sem hesitar, Melissa me puxou para dentro. O ambiente estava imerso em uma luz suave, e os espelhos distorcidos refletiam nossas figuras de maneiras absurdas.
Dentro do salão, nossos reflexos se multiplicavam em dezenas de imagens tortas. Alguns espelhos nos faziam parecer altos e magros, enquanto outros nos deixavam com cabeças enormes e corpos pequenos. Lançamos olhares desconcertantes, rindo descontroladamente. A ideia de nos vermos tão distorcidos e engraçados só aumentava a diversão.
— Olha essa! — Melissa apontou para um espelho onde eu estava com pernas ridiculamente longas e um corpo minúsculo.
— E esta? — mostrei-lhe outra, onde minha cabeça parecia ser do tamanho de uma bola de basquete, enquanto meu corpo era fino como um galho.
As risadas fluíam, e cada passo parecia nos afastar mais e mais da realidade. Mas enquanto nos perdíamos no labirinto de espelhos, algo peculiar aconteceu.
Parei subitamente, uma sensação estranha me invadindo. Ao olhar para um reflexo, percebi algo que me fez parar no lugar. A figura de Melissa estava ligeiramente deslocada, como se estivesse um passo atrás de onde realmente estava. Era sutil, mas o suficiente para me deixar desconfortável.
Fui até o espelho e piscando algumas vezes, olhei novamente, mas o reflexo estava normal. Eu me forcei a relaxar, tentando afastar a sensação. Não poderia ser nada. Apenas um truque da mente.
Mas algo em meu interior sabia que eu estava prestes a descobrir algo que mudaria tudo.
Saímos finalmente do labirinto de espelhos e o céu estava pintado com tons de laranja e rosa. O sol estava prestes a se pôr, e a luz dourada refletia suavemente nos olhos de Melissa.
— Vamos para a praia? O pôr do sol vai ser lindo hoje — ela sugeriu, com um sorriso suave nos lábios.
Apertei ainda mais a mão dela, sentindo um conforto inusitado, mas também uma inquietação crescente.
— Vamos — respondi, tentando ignorar a sensação de que algo estava prestes a acontecer.
E assim, deixamos o Parque dos Ventos de Draymoor para trás, sem saber que aquela seria uma das últimas memórias verdadeiramente felizes que compartilharíamos antes que tudo mudasse, e nosso mundo se transformasse para sempre.
Continua...