O vento ainda cortava o ar, e a tempestade continuava a rugir sobre nós, como se a fúria do mundo tivesse sido libertada. Cada rajada de vento parecia atravessar minha pele, mas a dor que consumia minha alma era ainda mais aguda, mais penetrante. Eu estava ali, com o corpo de Melissa ainda em meus braços, a alma completamente despedaçada. A perda era tão esmagadora que parecia uma tonelada de ferro sobre o meu peito. Não havia mais palavras. Nada mais poderia ser dito. O som do mar, os trovões, o vento, tudo isso parecia irrelevante, distante, como se o caos do mundo tivesse sido engolido pela minha dor e pela solidão que me envolvia.
Eu a observava, tentando, em vão, encontrar algum sinal de vida. Seus olhos estavam fechados, como se ela tivesse se retirado de mim de forma permanente, deixando-me sozinho em um mundo que já não fazia sentido. Seus lábios, outrora vermelhos e vibrantes, estavam frios, quase sem cor. O sorriso que ela costumava me dar, aquele que eu tanto amava, agora desaparecia na escuridão que tomava conta de tudo ao meu redor. Tudo o que restava eram os ecos de um amor que, em questão de minutos, se despedaçou. Eu só conseguia pensar no quanto a perdi. Por que ela? Por que a única pessoa que me completava tinha que ser tirada de mim dessa maneira cruel e inexplicável?
A sensação de impotência era como uma prisão. Não importava o quanto eu tentasse, eu não podia reverter o que estava acontecendo. "Por que?" Eu perguntei em um sussurro, sem esperar resposta. "Por que sou tão fraco? Se eu fosse mais forte, teria sido capaz de impedir isso. Eu poderia ter feito algo..." Minha voz se quebrou, as palavras se tornando um lamento sem sentido.
Eu a segurei com mais força, tentando sentir qualquer vestígio de vida em seu corpo, mas tudo o que sentia era a frieza da morte. Ela não estava mais ali. Não do jeito que eu a conhecia. Seus batimentos já não eram mais os mesmos, seu corpo já não respondia ao toque. Tudo estava se apagando diante de mim.
Mas eu não conseguia aceitar. Não podia aceitar. A dor que queimava em meu peito era imensa, e a sensação de estar completamente sozinho no mundo parecia sufocar qualquer pensamento racional. Eu me sentia vazio, inútil, como se todo o meu ser estivesse sendo consumido por uma escuridão implacável. Nada mais importava, nada mais fazia sentido. Melissa, a única pessoa que me amava, a única que me entendia, estava morrendo, e eu não conseguia fazer nada.
Mas, então, algo mudou. Algo no ar ao meu redor. Uma presença que não deveria estar ali. Era como se o próprio espaço e o tempo ao meu redor começassem a se distorcer, como se a realidade estivesse se quebrando de uma forma que eu não conseguia compreender. Algo além do que meus sentidos humanos poderiam captar. Uma sensação estranha, como um pesadelo tomando corpo em minha mente, algo que eu não estava preparado para enfrentar.
Eu senti, antes de ouvir, a mudança. O vento parou, a tempestade ficou distante, como se o próprio mundo estivesse se suspendendo por um breve momento. Então, uma voz suave e fria se fez ouvir, como um sussurro distante que parecia surgir de dentro da minha cabeça, mas também de fora.
"Você quer ser mais forte?"
A pergunta reverberou em minha mente, ecoando entre a dor e o desespero. Era como se a voz tivesse saído do próprio abismo, preenchendo o vazio ao meu redor. Não fazia sentido, mas ao mesmo tempo, parecia a única coisa que eu podia ouvir. Os ecos da minha dor foram silenciados pela pergunta, que parecia, de alguma forma, promissora, mas também cheia de um enigma que eu não conseguia entender. Meus olhos se abriram, e eu olhei ao meu redor, tentando identificar a origem daquela voz. Não havia ninguém. Apenas eu e Melissa, à beira do abismo, em um mundo que já não era mais o mesmo.
"Quem é você?" Perguntei, minha voz vacilando entre a incredulidade e o desespero. "Se você pode me dar poder, me faça mais forte! Eu aceito qualquer coisa! Eu quero salvar ela! Quero poder mudar o que aconteceu!"
O silêncio que se seguiu foi sufocante. A tempestade voltou, agora mais forte, como se o mundo estivesse reagindo à minha pergunta. O ar ao meu redor parecia mais denso, e cada segundo que passava me deixava mais tenso. Eu precisava de uma resposta, mas não havia como saber o que viria a seguir.
E, então, a resposta chegou. Não de forma imediata, mas com uma calma ameaçadora, como se a voz estivesse se divertindo com a minha angústia.
"Eu posso te dar o que você deseja. Mas, em troca, terá que me dar o que eu quero."
O peso dessas palavras caiu sobre mim, mais pesado do que qualquer coisa que eu já tivesse experimentado. O que quer que estivesse falando comigo não era humano, não era uma voz de conforto ou de compaixão. Era algo além de minha compreensão, e a oferta que me fazia soava perigosa, mas a minha necessidade de salvar Melissa era maior que qualquer dúvida.
Eu não entendi. Eu não podia entender. Mas a dor que me consumia, o medo de perder Melissa para sempre, tornavam qualquer preço aceitável. Eu não hesitei. Não havia tempo para hesitações. O desespero havia se tornado a única coisa real.
"Eu aceito!" Gritei, minha voz agora cheia de uma determinação desesperada. "Darei o que for preciso! Só me dê o poder para salvar ela! Quero mudar isso! Eu não posso perder ela!"
Eu podia sentir que a voz sorria, não de forma visível, mas em um lugar profundo dentro de mim. O frio, que antes parecia ameaçador, agora parecia algo familiar, algo inevitável.
"Uma decisão sábia, Zarte. Agora, prepare-se para o poder que almeja. Mas lembre-se, todo poder tem um preço. Um preço que você, talvez, nem saiba ainda que está disposto a pagar…"
Com essas palavras, o ar ao meu redor começou a tremer, como se a própria realidade estivesse se moldando à minha volta. Eu senti algo movendo-se dentro de mim, como uma energia escura e poderosa, algo que não era humano, mas que se espalhava por todo o meu corpo. Era como se um poder antigo, algo ancestral e desconhecido, estivesse se agigantando em mim, tomando o controle de minha mente e de meu corpo.
Eu não sabia o que estava por vir. Não sabia o que isso significaria, mas sentia que minha jornada estava apenas começando. A jornada para salvar Melissa. A jornada para descobrir o preço do poder que eu acabei de aceitar.