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Chapter 13 - Renascimento - Parte 2

De repente, tudo mudou. Uma escuridão profunda tomou conta dos meus olhos. Eu podia sentir a realidade se distorcendo à minha volta, como se eu estivesse sendo desconectado de tudo o que conhecia. Era como se estivesse caindo em um abismo sem fundo, onde a própria escuridão parecia me engolir, me levando para um lugar onde o tempo e o espaço não existiam.

A sensação era estranha, desconcertante. Eu não conseguia ver nada, não conseguia sentir nada, como se o mundo tivesse desaparecido diante de mim. Mas o pior não era a falta de visão ou sensação, era a ausência total de minha própria existência. Meu corpo, antes tão familiar, estava vazio, ausente. O silêncio era absoluto, e eu não conseguia nem escutar meu próprio coração. Estava como se eu fosse uma sombra, uma presença que já não fazia parte do mundo.

A escuridão ao meu redor era total, impenetrável. Não havia luz, não havia sombra, nem mesmo o brilho de uma estrela distante. A sensação de que o universo inteiro estava mergulhado em um vácuo sem fim me fez perceber que eu havia sido apagado. Não havia movimento, nada além de um silêncio profundo. Tudo estava imóvel, como se o tempo estivesse parado, como um lago congelado onde não havia sequer uma ondulação.

Mas então, de repente, uma visão começou a se formar diante de mim. Não era algo que eu esperava, nem algo que eu pudesse controlar. Era uma imagem vaga, algo que parecia emergir das profundezas da minha mente. Eu vi uma outra versão de mim mesmo, uma versão que parecia estar em algum lugar distante, na praia, com Melissa ao seu lado. A cena era familiar e ao mesmo tempo perturbadora.

Eu observava como ele segurava Melissa com força, como se ela fosse sua única âncora naquele mundo, mas então, de maneira estranha e incompreensível, ele a soltou. Ela caiu para o lado, e ele, sem nenhuma expressão, caminhou alguns passos para longe dela. Eu via seus movimentos com uma clareza aterradora, como se estivesse assistindo a um pesadelo que sabia ser inevitável.

Ele parou e olhou para o céu negro, onde uma tempestade imensa se formava. O vento rugia, como se o próprio céu estivesse desabando sobre ele. Eu vi seus olhos, agora desbotando de castanho para um negro profundo, mais escuro do que a própria escuridão ao seu redor. Eu sentia o vento ficando mais forte, mais selvagem, como se o próprio ar estivesse tremendo com a força do que estava acontecendo. O chão sob seus pés começou a tremer, como se algo estivesse se preparando para se soltar da terra. O céu parecia se rasgar, com nuvens escuras e densas que passavam rapidamente sobre ele, como se o próprio clima estivesse se curvando diante de uma força indescritível.

De repente, o vento aumentou, e eu vi o mar, agitado e violento, começando a se erguer em ondas monstruosas, de mais de cinquenta metros de altura. O mar parecia querer engolir tudo, como se o mundo inteiro estivesse prestes a sucumbir ao seu furor. Então, uma luz vermelha brilhou no meio da escuridão. Era como se uma força invisível estivesse puxando tudo para um único ponto. Meus olhos estavam fixos naquela luz, e então percebi: os cabelos dele estavam crescendo, se expandindo como chamas, refletindo a luz vermelha que agora tomava conta de tudo ao redor. O brilho de seus cabelos iluminava a tempestade, tornando-a ainda mais aterradora.

O céu se iluminou com raios poderosos que desceram sobre ele. A cada raio que atingia seu corpo, uma explosão de energia se espalhava ao redor, criando uma onda de choque avermelhada. Eu podia sentir a força daquela energia, uma carga tão intensa que parecia atravessar meu próprio ser. A terra tremia mais ainda, o vento uivava, e uma sensação de desesperança tomou conta de mim.

Eu olhei para ele, para aquela figura que agora se transformava diante dos meus olhos. Seu corpo estava coberto por tatuagens, símbolos estranhos e sinistros que surgiam como se tivessem vida própria, como se estivessem absorvendo sua essência. O vento se intensificou, agora trazendo vozes, sussurros indecifráveis, murmúrios distantes e lamentos. Gritos de agonia, como se o próprio inferno estivesse se manifestando ali. Um arrepio percorreu minha espinha. Era como se o próprio mal estivesse surgindo no mundo, como se a linha entre o humano e o demoníaco estivesse sendo rasgada diante de mim.

Finalmente, quando os gritos e os lamentos cessaram, o que restou foi um silêncio mortal, uma quietude tão densa que parecia impossível. A névoa negra que o envolvia se desfez, revelando uma figura imponente. Ele estava flutuando acima da areia, seus cabelos vermelhos escuros agora como uma cascata de chamas, a luz refletindo neles, criando um halo macabro.

Seu corpo estava nu, exceto por uma calça que eu reconheci, uma calça que eu havia usado, mas agora não parecia mais minha. Suas tatuagens, que antes eram apenas marcas estranhas, agora pareciam mais vívidas, quase como se estivessem pulsando, tomaram proporções incompreensíveis, preenchendo seu corpo com formas inumanas.

O silêncio era absoluto. Era como se o mundo inteiro estivesse suspenso naquele momento. Os olhos dele, antes fechados, se abriram de repente. O impacto foi imediato. O ar ao redor dele foi comprimido com tal força que parecia que o próprio espaço estava sendo esticado, deformado. O vento, antes tão feroz, agora parecia se dobrar diante da sua presença, como se uma força monstruosa estivesse liberando todo o seu poder. O som do vento, das ondas, de tudo, se dissipou, como se fosse engolido por algo muito maior.

O chão começou a tremer, e uma onda de choque se espalhou pela terra. As ondas do mar, que já eram grandes, agora se tornaram gigantescas, arrastando tudo em seu caminho. O céu, antes negro, foi rasgado por um vermelho profundo, tão intenso que parecia que o próprio céu estava sendo dilacerado. O mundo tremia sob a força daquele poder. O litoral norte, onde tudo isso acontecia, foi consumido por um deserto árido, substituindo o mar que antes existia ali.

Olhei para Melissa. Ela ainda estava ali, mas algo estava errado. Ela não parecia ter sido tocada pela tempestade, como se estivesse imune ao que estava acontecendo. Eu olhei ao redor, e para minha surpresa, a cidade de Thalyssia, minha cidade, não havia sido destruída. Algo muito estranho estava acontecendo. O que estava diante de mim não era um poder comum. Era algo muito maior. O homem, a figura que estava diante de mim, parecia ser o ponto central de toda essa destruição, mas ele estava de alguma forma controlando seus limites, marcando onde a devastação poderia ir. Eu não entendia por que ele havia feito isso, mas sentia que ele tinha um propósito, um objetivo que estava além da minha compreensão.

Foi nesse momento que um grito tenebroso cortou o ar. Ele parecia vir de todos os lugares, como se o próprio continente estivesse chorando pela chegada daquela força. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas algo dentro de mim me dizia que essa voz vinha de Zephiron – O Continente Perdido. E eu não sabia como, mas eu sentia que o mundo inteiro podia ouvir esse grito, como se estivesse ecoando através de todos os continentes.

O céu brilhou com uma intensidade vermelha tão forte que eu não conseguia mais ver nada. Era como se o próprio universo estivesse sendo consumido pela luz. E eu sabia, naquele instante, que o verdadeiro custo de tudo isso ainda estava por vir.

Eu havia presenciado a ascensão de algo além de minha compreensão. Algo que não poderia mais ser controlado. E agora, a pergunta era: o que aconteceria quando essa força se libertasse por completo?

Eu não sabia, mas uma coisa era certa: minha jornada estava prestes a tomar um rumo muito mais sombrio e desconhecido do que eu jamais poderia ter imaginado.