A praia parecia um sonho, um lugar onde o tempo se dissolvia e as preocupações desapareciam. O céu, tingido de laranja e rosa, refletia nas ondas que quebravam suavemente, criando um espetáculo de cores que parecia ter sido pintado especialmente para nós. O sol, lentamente se despedindo do horizonte, tingia a água de um dourado suave, fazendo com que tudo ao nosso redor adquirisse uma aura quase mágica.
Era como se o próprio universo tivesse conspirado para nos proporcionar aquele momento perfeito, longe da confusão do mundo lá fora. O som das ondas quebrando na areia, combinado com a brisa fresca do mar, formava uma melodia serena, como se a natureza estivesse sussurrando para nós, oferecendo um respiro tranquilo em meio ao caos que já sabíamos que estava por vir.
Sentamos na areia, nossos pés enterrados na areia fria, enquanto o silêncio se estendia por alguns segundos, criando uma sensação de paz absoluta. Não havia pressa. Nada mais parecia urgente. O mundo parecia ter desacelerado, permitindo que nos entregássemos completamente ao momento. Olhei para Melissa, observando como ela parecia absorver cada pedaço da cena ao nosso redor. Seus olhos estavam fixos no horizonte, mas havia algo em seu olhar, algo além da simples contemplação. Era como se ela estivesse absorvendo a beleza do momento, mas também refletindo sobre tudo o que tínhamos vivido, sobre tudo o que tínhamos perdido.
Ela sorriu suavemente, e esse sorriso parecia carregar uma profundidade que eu não conseguia compreender completamente. Eu sabia, naquele instante, que algo estava prestes a mudar. E ao mesmo tempo, eu sabia que, por mais que tentássemos, nunca poderíamos voltar a esse momento. Aquela paz, aquele amor puro, era algo fugaz, algo que já estava se desvanecendo.
"Você se lembra da última vez que estivemos aqui?", perguntei, minha voz baixa, quase um sussurro, como se não quisesse perturbar a magia do momento.
Melissa me olhou, seus olhos brilhando com uma intensidade que parecia mais profunda do que qualquer outra coisa que eu já tivesse visto. Seu sorriso se alargou, mais suave, mais genuíno do que qualquer outro que ela já tivesse dado.
"Como eu poderia esquecer? O mar estava tão calmo quanto nossos corações", ela respondeu, e a forma como falou essas palavras me fez sentir como se o tempo tivesse realmente parado por um momento. Sua voz estava carregada de nostalgia, mas também de algo mais. Algo que eu não conseguia nomear.
Essas palavras se encaixaram perfeitamente no vazio que eu sentia por dentro. Como se, naquele momento, ela tivesse dito tudo o que eu não conseguia expressar. O silêncio que se seguiu foi confortável, mas também pesado. Era como se estivéssemos compartilhando uma compreensão silenciosa, uma aceitação de que o que vivemos até ali era tudo o que podíamos ter. E que, por mais que tentássemos, não poderíamos reviver o que já tinha se perdido.
O desejo de estar com ela, de me agarrar a aquele momento e fazer com que ele durasse para sempre, crescia dentro de mim. Quase como uma força invisível, eu me inclinei lentamente em sua direção, sentindo o tempo desacelerar ainda mais à medida que me aproximava. Seus olhos, fixos no horizonte, agora estavam focados em mim. Então, com um toque suave, eu a beijei.
O momento foi mágico. Não era apenas um beijo — era uma explosão de sentimentos, uma troca de tudo o que tínhamos vivido e tudo o que ainda queríamos. Era um ato de amor, saudade e paixão imensa, como se estivéssemos tentando, sem palavras, guardar aquele instante dentro de nós, como se ele fosse a última coisa que nos restaria. O beijo foi cheio de promessas não ditas e de um desejo profundo de que o tempo se detivesse, que o futuro não fosse mais uma preocupação.
A brisa agora parecia mais suave, como se o próprio ar nos abraçasse com carinho. Eu a puxei para mais perto, sentindo o calor de seu corpo se misturar com o meu, e por um momento, tudo parecia perfeito. Não havia mais nada ao nosso redor, nada mais importava, exceto a conexão entre nós dois. Eu sentia como se pudesse ficar ali para sempre, sem pressa, sem medos, apenas vivendo aquele momento como se fosse o único.
Mas, como tudo o que é bom, aquele instante também começou a se desfazer. O céu, antes tranquilo, começou a mudar. As nuvens, que antes estavam leves e esparsas, começaram a se formar rapidamente em uma densa camada escura. O vento, que até então estava suave e acolhedor, começou a ganhar força. A brisa fresca tornou-se um vendaval, e o som do mar, que antes era relaxante, começou a se tornar cada vez mais forte, mais agressivo.
De repente, o som do trovão cortou o silêncio, tão alto e estrondoso que parecia rasgar o céu. Um choque de energia percorreu o ar, e tudo ao nosso redor começou a mudar. As ondas, que antes quebravam suavemente na areia, agora subiam com violência, como gigantes prestes a engolir tudo o que encontravam em seu caminho. A pressão no ar aumentava, tornando cada respiração mais difícil.
Melissa olhou para mim, seus olhos agora cheios de medo. O sorriso que antes iluminava seu rosto desapareceu, e sua expressão era de pavor.
"Zarte, o que está acontecendo?", ela perguntou, a voz quase inaudível em meio ao rugido crescente da tempestade. Suas palavras estavam cheias de pânico, e o medo em seus olhos fazia meu coração apertar.
Antes que eu pudesse responder, o vento aumentou ainda mais, fazendo com que as ondas do mar se erguessem como gigantes prontos para engolir tudo. O som do trovão parecia se tornar cada vez mais forte, e a pressão no ar parecia insuportável. Olhei para ela, o medo tomando conta de mim. A sensação de impotência era avassaladora.
"Precisamos sair daqui, Melissa!", gritei, mas minha voz foi abafada pelo som do vento. "Agora!"
Ela tentou se levantar, mas a pressão do vento parecia prender seu corpo à areia. Seu rosto se contorceu de dor, e ela se agarrou a mim, buscando apoio.
"Zarte... eu não posso... eu não posso..." ela disse, a respiração curta e difícil, cada palavra saindo com esforço.
Eu sabia que o tempo estava contra nós. A tempestade estava se intensificando com uma força quase sobrenatural. Mas por um momento, hesitei. Olhei para ela, os olhos que antes estavam cheios de vida agora estavam tomados pelo medo, e isso me destroçava por dentro. Mas a necessidade de mantê-la segura, de protegê-la, foi mais forte do que o medo.
"Fique comigo, Melissa. Não importa o que aconteça, nós vamos superar isso. Eu não vou te deixar", sussurrei, as palavras saindo com a firmeza de uma promessa, mesmo que eu soubesse que não havia certezas no futuro.
A tempestade se intensificou, com ondas violentas quebrando na costa e o vento nos arrastando, tornando cada passo mais difícil. Mas eu não parei. Eu a carreguei, eu a levei comigo, correndo contra a força da natureza, tropeçando, mas nunca parando.
Então, finalmente, a força da tempestade nos derrubou. Caímos na areia, e o som das ondas, o vento e o trovão se fundiram em um grito de agonia, como se o próprio mundo estivesse desabando sobre nós. Olhei para Melissa, o coração batendo descontroladamente em meu peito.
"Melissa, você está bem?", perguntei, a voz trêmula de pânico, minha mente cheia de medo.
Ela não respondeu de imediato. A pouca força que nos restava estava se esvaindo, e o único som que podíamos ouvir era o estrondo do trovão e o rugido das ondas. Eu a puxei para mim, tentando protegê-la com o pouco de força que me restava.
O fim estava se aproximando, e eu sabia disso. Não havia mais saída. Mas, antes que tudo se perdesse, eu a segurei com toda a força que me restava, olhando em seus olhos pela última vez. Não havia mais palavras, apenas o entendimento silencioso de que, por um momento, havíamos sido completos. Mesmo que o fim estivesse à vista, aquele instante nunca seria apagado.
Continua...