O aeroporto de Thalyssia fervilhava com o som de vozes misturadas, anúncios sendo feitos nos alto-falantes e malas sendo arrastadas pelo chão. Mas para mim, tudo isso desapareceu no instante em que a vi.
Melissa.
Meu coração disparou como se estivesse correndo contra o tempo. Por um momento, prendi a respiração, quase incapaz de acreditar que era real.
Cinco anos.
Cinco anos sem vê-la, sem ouvir sua voz, sem sentir seu toque. Mas ali estava ela, parada no meio da multidão, olhando ao redor, até que nossos olhares se cruzaram.
O mundo parou.
Ela arregalou os olhos e, antes que qualquer um de nós pudesse dizer algo, correu em minha direção.
— Zarte!
O impacto do abraço foi forte. Melissa se jogou contra mim, os braços envolvendo meu pescoço com tanta força que por um momento eu mal consegui respirar. Mas eu não me importei. Segurei-a com a mesma intensidade, enterrando o rosto em seus cabelos, sentindo seu cheiro, sua presença, sua existência real e viva contra mim.
Eu fechei os olhos.
Por tanto tempo, tudo o que tive dela foram lembranças. A voz que se tornava distante na minha mente, o calor do seu toque que parecia cada vez mais um sonho. Quantas noites passei temendo que nunca mais a veria? Que ela tivesse desaparecido para sempre desse mundo cruel e implacável?
Mas agora… ela estava aqui.
— Melissa… — Minha voz saiu rouca, trêmula.
— Eu achei que nunca mais te veria… — ela sussurrou, a respiração quente contra meu pescoço.
Senti algo quente e úmido tocar minha pele. Ela estava chorando.
Afastei-me um pouco apenas para olhar seu rosto. Suas bochechas estavam úmidas, os olhos castanhos brilhando com uma mistura de alívio, felicidade e algo mais profundo, algo que palavras não podiam explicar.
— Eu estou aqui. — Passei os dedos por seu rosto, afastando as lágrimas. — Eu prometo, nunca mais vamos nos separar.
Ela riu entre soluços e segurou meu rosto com as duas mãos.
— Você está tão diferente… mas ainda é você. Meu Zarte.
O peito apertou ao ouvir aquilo. Eu queria acreditar que ainda era o mesmo, mas algo dentro de mim sabia que não era. Ainda assim, naquele momento, nada mais importava.
— Você sempre soube ver através de mim… — murmurei, sorrindo.
Ela abriu um sorriso lindo, aquele mesmo que sempre me fazia sentir que tudo ficaria bem.
— Eu senti tanto a sua falta.
Abracei-a de novo, sentindo o coração dela bater contra o meu.
Era real. Ela era real.
Por um instante, tudo parecia perfeito.
— Vamos sair daqui. Quero aproveitar cada segundo com você.
— Mas antes… — Ela me olhou nos olhos, um brilho travesso surgindo. — Eu quero um hambúrguer daqueles gigantes.
Eu ri, sentindo um calor bom no peito.
— Você não mudou nada.
Ela segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos.
— Vamos, então. E você vai me contar tudo o que aconteceu.
Eu ia. Mas não agora. Agora, tudo o que importava era que ela estava aqui.
Por um instante, me permiti esquecer tudo. O medo, a dor, as sombras do passado e do futuro.
Por um instante… fui apenas um homem que reencontrou o amor da sua vida.
E isso era tudo que eu precisava.
Enquanto isso, no coração de Zephiron – O Continente Perdido…
O que começou como uma pesquisa científica comum, voltada para entender os fenômenos atmosféricos extremos que assolavam o continente, havia se transformado em algo muito mais sombrio. O furacão vermelho, que destruiu parte da vasta floresta de Cambeza, não era mais apenas um fenômeno climático a ser estudado; ele se tornara uma porta para algo impensável.
A cratera, onde a pesquisa da equipe de cientistas se concentrava, era agora um campo de horror. Os destroços espalhados por toda a extensão da terra arrasada eram como cicatrizes de um ataque selvagem. No ar, pairava um cheiro forte de queimado, misturado com algo metálico, algo que parecia pulsar com uma energia obscura. Não era o tipo de evento que uma mente humana poderia compreender com facilidade.
Ayla estava paralisada, os olhos fixos na criatura recém-descoberta. O ser, de pele queimada e expressão petrificada, emanava uma energia doentia. Algo alienígena, completamente incompreensível, se escondia naquele corpo retorcido. A luz avermelhada que brotava de suas feridas parecia chamar por eles, como uma armadilha que aguardava o momento certo para se revelar.
Mas o que mais os perturbou foi o movimento de seus olhos.
— Ele está… vivo? — Ayla mal conseguiu formar as palavras. A sensação de medo e apreensão a envolveu, como se aquele olhar fosse capaz de rasgar sua alma.
A equipe, que antes parecia controlada, agora estava em pânico. Ninguém ousava se aproximar. O corpo parecia estar se recompondo, como se as leis naturais não tivessem mais poder sobre ele. A tensão no ar era palpável, a pressão da descoberta insustentável.
Dr. Lambert foi o primeiro a reagir. Ele avançou, tentando racionalizar a situação.
— Isso é impossível! — exclamou, mas sua voz vacilou. Ele se abaixou, estudando a criatura com um olhar meticuloso. A perplexidade e a incredulidade estampadas em seu rosto só aumentavam a sensação de terror crescente.
De repente, o corpo convulsionou violentamente. O som de ossos quebrando e músculos se esticando de maneira antinatural ecoou pela cratera, seguido por um grito visceral, que não poderia ser descrito como humano. O ser levantou os braços em direção ao céu, como se buscasse algo nas alturas, e com isso, a terra estremeceu sob seus pés.
O barulho foi tão intenso que parecia que o próprio solo estava sendo rasgado. O som horrível se misturava com um grito coletivo de terror, enquanto os cientistas se afastavam desesperados.
Ayla sentiu o coração disparar em seu peito. Algo havia mudado, algo que não podiam mais controlar.
E então, o inesperado aconteceu.
A criatura, com uma força indescritível, saltou para o ar, como se estivesse sendo puxada por uma força invisível. A energia vermelha que emanava de seus ferimentos explodiu em um flash ofuscante, iluminando a escuridão da floresta devastada e tomando tudo à sua volta.
Mas o que mais assustava era a onda de energia que a seguia. Uma sensação de desespero e terror, como se aquele ser fosse a porta para algo muito mais sinistro, muito mais antigo. Algo que havia sido despertado pela fúria do furacão.
Ayla não teve tempo para pensar. A explosão de luz e som foi tão intensa que a atirou para trás, batendo contra o solo, sem forças para reagir.
A última coisa que ela viu antes de perder a consciência foi o céu acima, agora tingido de um tom vermelho profundo, como se o próprio planeta estivesse sangrando.
Horas depois, nas instalações de pesquisa…
Ayla acordou em um quarto isolado, o corpo dolorido e a mente confusa. Os ecos da explosão ainda reverberavam em sua mente. Ela sabia que algo havia mudado. Algo fundamental e irrevogável.
Quando conseguiu se levantar, viu os outros cientistas. Alguns estavam feridos, outros visivelmente alterados, como se tivessem visto algo que não poderiam esquecer.
— O que aconteceu? — Ayla perguntou, sua voz rouca, enquanto olhava para o líder da expedição, Dr. Lambert, que estava com a testa franzida, concentrado em algo.
— Não temos respostas, Ayla… — disse ele, com um tom sombrio. — O que vimos lá… não é natural. Não faz sentido.
Mas o que mais perturbava a todos era o fato de que a cratera parecia agora ter se transformado em um epicentro de energia. A floresta ao redor estava começando a retornar à vida de uma maneira que desafiava qualquer lógica científica.
Novas plantas e criaturas estranhas estavam surgindo das cinzas. Mas não eram formas de vida normais. Eram criaturas de pele translúcida, cujos olhos brilharam com uma intensidade estranha, como se estivessem observando os cientistas de uma distância segura. E em cada novo movimento que faziam, havia uma sensação de que algo estava sendo vigiado. Eles estavam sendo observados.
— Isso não é mais uma pesquisa científica. Estamos lidando com algo… algo muito maior. — Ayla disse, suas palavras carregadas de medo.
E naquele instante, algo dentro dela sabia que não havia mais como voltar atrás. A terra de Cambeza, o Continente Perdido, não era mais apenas um lugar de mistérios. Agora, era um portal para algo ancestral, algo que os humanos não estavam preparados para entender.
E o que quer que tivesse sido despertado ali, naquela cratera, não ficaria escondido por muito mais tempo.