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Chapter 4 - O Despertar

Acordei com o suor escorrendo pela testa, o coração disparado. A sensação do pesadelo ainda me assombrava, como se fosse algo real. As vozes continuavam a ecoar na minha mente, sussurrando como um coro espectral esperando por uma resposta. As perguntas... as perguntas que se repetiam incessantemente, formando um ciclo de dúvidas e angústia.

— Quem sou eu?

— Você sou eu.

— Onde estou?

— Onde você sempre esteve.

— Qual é o meu objetivo?

— Matar.

O grito que ecoou na minha mente foi o mesmo que escapou da minha garganta quando despertei. A realidade parecia fragmentada por um instante, os ecos do sonho reverberando dentro de mim. Meus olhos varreram o quarto, tentando me reconectar com o presente. Eu estava em casa, mas o medo e a confusão ainda me consumiam.

A luz fraca da manhã atravessava as cortinas, projetando sombras longas e distorcidas no chão. Levantei devagar, sentindo a umidade fria na pele. Meus músculos estavam tensos, como se meu corpo ainda estivesse lutando contra algo invisível. Caminhei até a janela, tentando me agarrar à normalidade. O céu azul se estendia diante de mim, indiferente à tempestade que rugia dentro da minha mente.

Olhei para o relógio: 7 da manhã. Melissa chegaria em meia hora. Eu estava atrasado, mas havia algo errado, algo que eu não conseguia definir. Meu corpo sentia um peso estranho, uma presença desconhecida que rastejava sob minha pele. O fim já havia começado, mas eu ainda não sabia.

O espelho no canto do quarto chamou minha atenção. Por um instante, hesitei antes de me aproximar. Meu reflexo estava lá, mas algo parecia... deslocado. Meus olhos estavam fundos, mais escuros do que o normal. Toquei o vidro, esperando sentir a superfície fria, mas por um breve segundo, tive a impressão de que algo dentro do espelho também se movia para me tocar.

Um arrepio percorreu minha espinha, e dei um passo para trás. Talvez fosse apenas a minha mente pregando peças em mim. Talvez.

Enquanto isso, no coração de Zephiron – O Continente Perdido, está Cambeza, uma vasta região de florestas e vales, onde muitas coisas sinistras aconteciam.

Um grupo de cientistas estava reunido próximo à cratera aberta no solo. Três dias antes, um fenômeno inexplicável surgiu na região: um furacão vermelho, completamente fora dos padrões conhecidos, devastou a floresta densa, deixando para trás um rastro de destruição.

As árvores haviam sido arrancadas desde a raiz, lançadas como pedaços insignificantes de madeira. A terra, outrora fértil, agora exibia rachaduras que brilhavam com um tom escuro e ressecado. Mas o mais perturbador era o silêncio. Nenhum som de pássaros, insetos ou qualquer forma de vida. Apenas o vento carregando cinzas pelo ar.

A equipe estava ali para investigar. Mas conforme se aprofundavam no terreno destruído, a sensação de que estavam lidando com algo muito além da ciência crescia dentro deles.

— Você notou isso? — perguntou um dos pesquisadores, um homem de cabelos grisalhos e expressão preocupada. Ele apontou para o chão, onde marcas profundas se espalhavam pela terra, como cicatrizes esculpidas por uma força inumana.

Uma jovem cientista se ajoelhou, analisando as marcas com olhos atentos. Seu nome era Ayla, uma especialista em fenômenos atmosféricos extremos. Seus dedos tocaram a terra chamuscada, sentindo um calor residual.

— O que é isso? — murmurou, franzindo a testa.

O líder da expedição, um homem de postura rígida chamado Dr. Lambert, cruzou os braços e balançou a cabeça.

— Algum tipo de relâmpago pode ter causado isso — disse, tentando se manter racional.

— Não — Ayla rebateu, seus olhos fixos nas marcas. — Não é algo natural.

Houve um silêncio desconfortável. O vento soprou, levantando poeira avermelhada. Ayla hesitou antes de continuar, sua voz mais baixa:

— Quase parece que havia algo dentro do furacão.

— Ridículo! — exclamou um dos homens. — Nada poderia sobreviver a um redemoinho daquele tamanho. Nada!

Mas Ayla não desviou o olhar. Seu estômago estava embrulhado por uma sensação que não conseguia explicar. Algo estava errado. Muito errado.

Então, um dos pesquisadores mais jovens gritou.

— Meu Deus... olhem isso!

Todos se viraram, correndo até onde ele estava. No centro da cratera, parcialmente coberto pela poeira, havia um corpo.

Ou pelo menos algo que lembrava um corpo.

A pele estava escurecida, como se tivesse sido queimada de dentro para fora. Os músculos pareciam retorcidos, e a expressão congelada no rosto da criatura era de puro terror. Os olhos estavam abertos, mas vazios, como se toda a vida tivesse sido sugada antes de sua morte.

Ayla cobriu a boca, engolindo o pânico.

— Isso... isso não é humano — sussurrou um dos cientistas, dando um passo para trás.

Lambert se aproximou, forçando-se a manter a compostura. Mas então, os olhos do cadáver se moveram.

O tempo pareceu parar. O corpo, que deveria estar morto, tremeu levemente, como se estivesse tentando respirar.

Ayla sentiu seu coração pular no peito.

— Ele... está vivo?

Antes que alguém pudesse reagir, o corpo convulsionou violentamente. Uma energia vermelha brilhou entre as rachaduras da pele morta, pulsando como um coração prestes a explodir.

Então, os olhos da criatura se abriram completamente. E o que olharam de volta para Ayla não era humano.

Um som horrível ecoou da garganta do ser, algo entre um rugido e um grito agonizante. O chão sob os pés deles tremeu. A poeira subiu como uma cortina.

E então, tudo explodiu.

De volta ao meu quarto, um calafrio intenso percorreu meu corpo. Eu estava prestes a me afastar do espelho quando um som abafado encheu o ambiente. Um zumbido. Fraco, mas constante.

Minha cabeça latejou.

De repente, uma mancha escura surgiu no reflexo. Algo começou a se formar atrás de mim. Uma silhueta, um vulto sombrio crescendo como uma sombra viva.

O zumbido aumentou.

Meu peito apertou. Eu queria me virar, mas algo me dizia para não olhar. Para não encarar o que estava por vir.

Mas então, o sussurro veio, grave e inescapável:

— Ele chegou!

Minha respiração parou.

E então, o espelho se estilhaçou.