Denise
A música pulsava no fundo, abafada pelas paredes da casa onde a festa acontecia. Denise estava ali há poucas horas, e já sentia que sua cabeça estava prestes a explodir. Não era só a mudança para a faculdade, a liberdade recém-descoberta, ou até mesmo a agitação da festa. Era ele.
Paul.
Desde o momento em que o viu, algo nela despertou. Não era apenas atração. Era algo mais profundo, mais primitivo, algo que fazia sua pele arrepiar toda vez que sentia aquele olhar escuro sobre ela. Um olhar que parecia queimá-la de dentro para fora.
Mas toda vez que seus olhos se encontravam, ele desviava. Como se estivesse lutando contra algo.
Ela não entendia.
E então, de repente, ele simplesmente saiu da festa.
Rápido, sem olhar para trás.
Denise sentiu um impulso irracional. Siga ele.
Ela mordeu o lábio, o coração disparado. Ela deveria deixá-lo ir. Mas por que deveria? Ele claramente estava mexido com alguma coisa. E talvez… talvez fosse a mesma coisa que estava mexendo com ela.
Sem pensar muito, ela se afastou da multidão e foi atrás dele.
O caminho que Paul seguiu levava para os fundos da casa. O corredor estreito estava quase escuro, iluminado apenas por uma luz fraca que piscava no poste. O som abafado da música parecia distante ali, como se aquele fosse um outro mundo, um mundo só deles.
Ele estava de costas, a respiração pesada, como se tentasse se controlar.
Denise parou alguns passos atrás dele.
— Paul?
Ele congelou por um segundo, antes de se virar lentamente.
O que ela viu nos olhos dele fez seu estômago revirar.
Desejo.
Feroz, bruto… assustador.
Mas ao mesmo tempo, havia algo mais. Algo torturado, como se ele estivesse lutando contra cada fibra do seu próprio ser.
— O que você está fazendo aqui? — A voz dele soou grave, tensa, carregada de algo que a fez estremecer.
Ela cruzou os braços, ignorando a forma como seu corpo reagia àquele olhar.
— Eu é que devia perguntar isso. Você simplesmente sumiu da festa.
Ele desviou o olhar por um segundo, os músculos do maxilar se contraindo.
— Não devia ter me seguido.
Denise riu, cruzando os braços.
— Não seja arrogante. Eu só queria saber o que aconteceu.
Paul deu um passo à frente, e ela sentiu um arrepio na nuca.
— Você não entende, Denise.
Ela franziu o cenho.
— Então me faz entender.
Ele a encarou por um momento. Longo demais. Intenso demais.
E então, como se tivesse perdido a luta contra si mesmo, Paul avançou.
Antes que ela pudesse reagir, ele a puxou pela cintura, colando seus corpos. Denise arfou, surpresa com a firmeza do toque dele. As mãos dele eram grandes, quentes, segurando-a como se não quisesse — como se não pudesse— soltá-la.
Ela abriu a boca para protestar, mas não teve chance.
Paul a beijou.
E naquele instante, o mundo parou.
O choque do contato fez seu corpo inteiro pegar fogo. O beijo dele era urgente, intenso, desesperado. Denise sentiu as mãos dele apertarem sua cintura, puxando-a ainda mais para perto, como se quisesse gravá-la em sua pele.
Ela nunca tinha sido beijada assim antes.
Na verdade, ela nunca tinha sido beijada.
O calor da boca dele, a forma como ele explorava cada canto dos seus lábios, como se estivesse faminto… Era avassalador.
Ela agarrou os ombros dele, sentindo os músculos tensos sob os dedos. O toque, o cheiro, o gosto dele— era demais.
Mas ao mesmo tempo, não era suficiente.
Um gemido baixo escapou de sua garganta, e Paul respondeu apertando ainda mais sua cintura, seus dedos pressionando a pele exposta dela.
Ela sentiu tudo ao mesmo tempo: o desejo, o medo, a confusão.
Quem era esse homem?
E por que, depois de apenas algumas horas, ele já conseguia bagunçar sua mente desse jeito?
O beijo se aprofundou. Paul deslizou uma das mãos por sua cintura, subindo lentamente até sua nuca, segurando-a com firmeza enquanto devorava sua boca.
O calor entre eles era sufocante.
E então, de repente…
Ele se afastou.
Bruscamente.
Como se tivesse sido queimado.
Denise ficou sem fôlego, o corpo ainda em chamas.
Paul deu dois passos para trás, passando a mão pelos cabelos, a respiração descontrolada. Seus olhos estavam dilatados, sombrios, como se estivesse lutando contra algo que ela não conseguia ver.
— Merda… — Ele murmurou, como se falasse consigo mesmo.
Denise piscou algumas vezes, tentando entender o que tinha acabado de acontecer.
E então, a indignação a atingiu como um raio.
— O que foi isso?! — Sua voz saiu mais alta do que pretendia.
Paul fechou os olhos por um segundo, claramente lutando contra algo dentro de si.
— Isso foi um erro.
Denise sentiu um aperto no peito.
— Um erro? — Ela riu, incrédula. — Você me beija como se estivesse prestes a me engolir e agora diz que foi um erro?
Paul não respondeu. Ele apenas balançou a cabeça, os punhos cerrados.
— Isso não pode acontecer de novo.
A raiva dela cresceu.
— Ah, não? Então me diz por quê?
Ele ficou em silêncio.
Denise sentiu o sangue ferver.
Era o primeiro dia dela na faculdade. O primeiro dia da nova fase da sua vida. Ela só queria aproveitar, conhecer gente nova, sentir a liberdade que nunca teve.
E, de alguma forma, já estava metida nisso?
Com um cara que a beijava como se fosse a única mulher no mundo e no instante seguinte a tratava como um erro?
— Quer saber? Dane-se. — Ela se virou para sair, mas a voz dele a parou.
— Denise…
Havia algo no tom dele que a fez hesitar.
Mas ela se forçou a ignorar.
Ela não ia deixar que ele bagunçasse tudo no primeiro dia.
Então, sem olhar para trás, ela voltou para a festa.
Mas, por mais que tentasse, ela sabia que nunca conseguiria esquecer aquele beijo.
E Paul… bem, Paul sabia que tinha acabado de cometer o maior erro da sua vida.
Porque agora que a havia provado, não sabia se conseguiria resistir.