Chereads / Predestinação - A garota e o lobo / Chapter 9 - Capítulo 9 – Confusão no Primeiro Dia

Chapter 9 - Capítulo 9 – Confusão no Primeiro Dia

Denise

O despertador tocou cedo demais. Meu corpo se levantou automaticamente, mas minha mente estava ainda presa no caos de pensamentos que insistiam em se agitar. O beijo de Paul ainda estava lá, em todos os cantos da minha mente, como uma marca invisível. Eu não sabia como lidar com aquilo. Tentei me convencer de que era apenas uma experiência, que eu estava exagerando, mas, no fundo, eu sabia que algo havia mudado.

O primeiro dia de aula começou como qualquer outro, com aquela sensação de incerteza no estômago. Eu era uma caloura em uma faculdade enorme, longe de casa e dos meus pais, e ainda tentando encontrar o meu lugar em meio a tantas pessoas novas. Como qualquer outra pessoa, eu sabia que teria que me apresentar, fazer amigos, e tentar entender como as coisas funcionavam. Só que, com tudo que aconteceu na festa, parecia que nada daquilo era importante.

Eu não sabia se devia me afastar de Paul ou continuar a agir como se nada tivesse acontecido. Ele parecia ter sumido da minha cabeça, mas ao mesmo tempo estava ali, nos meus pensamentos, em cada olhar furtivo que eu lançava às pessoas ao meu redor, tentando ver se ele estava perto.

Fui para o bloco das aulas de Arquitetura, já que aquele era o lugar onde eu teria meu curso. O campus parecia enorme, e eu estava um pouco perdida, mas logo percebi que outros calouros estavam andando na mesma direção. Fui abraçada por uma série de cumprimentos, uma quantidade de rostos desconhecidos se apresentando e se desculpando por qualquer coisa que pudesse me ajudar a me integrar.

"Oi, você é caloura, né? Eu também!" Uma garota com cabelo liso e muito loiro apareceu ao meu lado, sorrindo de orelha a orelha. Ela parecia muito animada. "Eu sou a Carol. De que curso você é?"

"Arquitetura," respondi timidamente, tentando não parecer desconfortável. Eu realmente não sabia como fazer amizade, então só segui o fluxo.

"Que legal! Eu também sou de Arquitetura, estou super empolgada em conhecer gente do mesmo curso. Vai ser demais!" Ela se aproximou um pouco mais, continuando a conversa sobre várias coisas sem parar.

A conversa fluiu, e por mais que eu estivesse fisicamente ali, algo me faltava. Minha mente estava em outro lugar, e o sorriso da Carol não conseguia me tirar do torvelinho que era Paul, e tudo o que aconteceu entre nós. Eu tentei me distrair, mas nada parecia funcionar.

Quando entrei na sala de aula, o peso da expectativa dos outros calouros era palpável. Muitos estavam conversando sobre o futuro, sobre as aulas, sobre as festas que viriam. Como se fosse uma nova fase de suas vidas, um recomeço. Mas a sensação que eu sentia era diferente. Eu não sabia onde me encaixar. Minha mente estava dividida entre o desejo de me perder naquele ambiente novo, de aprender e aproveitar essa liberdade que eu finalmente tinha, e o caos interno de ter vivido algo tão… intenso, tão fora do meu controle.

E então eu o vi.

Paul estava ali, no corredor, conversando com um grupo de alunos de Engenharia Civil. Ele estava tão calmo, tão tranquilo, como se nada tivesse acontecido. Mas eu sabia que tudo havia mudado. O toque dos lábios dele estava marcado em minha memória, e meu corpo, imune a qualquer racionalidade, parecia me puxar em direção a ele.

Mas eu não podia. Eu não sabia o que fazer. Eu não sabia como agir, nem o que esperar dele. Então, fiz o que parecia mais fácil: ignorei. Fingir que não o vi foi o mais simples a fazer naquele momento. Respirei fundo e segui para minha sala, forçando-me a prestar atenção nas pessoas ao meu redor, em suas risadas e conversas.

Mas meu coração batia mais rápido enquanto eu passava por ele, e eu sabia que ele sabia que eu o vi. E que, provavelmente, ele sentia o mesmo.

A aula começou, mas minha mente estava em outro lugar. A professora falava sobre os primeiros conceitos de Engenharia de Alimentos, mas eu mal conseguia entender. Tudo o que eu conseguia ouvir era o som da minha respiração e o peso da minha própria dúvida.

"Você é nova aqui, né?" Outra voz me puxou da minha neblina mental. Um garoto, com cabelo curto e um sorriso simpático, estava sentado ao meu lado. Ele parecia tão natural e tranquilo. "Eu sou o Lucas, do curso de Engenharia Civil. Estava te vendo lá no corredor. Parece que você não conhece ninguém ainda."

"É, é meu primeiro dia," respondi, tentando sorrir. A conversa fluiu, mas meu pensamento continuava a se voltar para Paul.

Eu me vi perdida na conversa com Lucas, tentando focar em qualquer coisa que me distraísse. Mas a sensação de estar fora de lugar nunca passou. Eu queria saber o que ele estava pensando, o que ele estava sentindo, mas ao mesmo tempo não queria me envolver mais do que já estava.

Quando a aula terminou, eu senti um alívio, mas, ao mesmo tempo, um novo peso. O corredor estava cheio de estudantes se levantando, conversando, indo embora, e de repente, algo me fez olhar para a porta.

Lá estava ele.

Paul não me viu. Ou, se viu, não se importou. Mas, para mim, foi como um soco no estômago. Ele estava indo para outro lado do corredor, conversando com alguns alunos do seu curso. Ele parecia tão distante. Eu queria chamar seu nome, queria dizer algo, mas estava paralisada, em um misto de raiva e confusão.

Não sabia o que fazer. Eu queria correr até ele, mas sabia que tudo isso era um erro. O beijo não devia ter acontecido. E, por mais que eu quisesse voltar no tempo e não ter beijado ele, não podia negar o que sentia. Não podia negar a conexão. Mas a confusão… A vergonha… tudo o que veio depois me deixava sem saber para onde ir.

Eu respirei fundo e olhei para a porta. Uma parte de mim queria sair correndo, ir para o meu dormitório e tentar esquecer tudo. Mas o que eu queria mesmo, o que meu corpo gritava, era mais uma chance de falar com ele.

Eu sabia que nada daquilo estava certo. Eu sabia que eu estava me metendo em algo que não devia. Mas, ao mesmo tempo, a curiosidade sobre o que poderia acontecer, sobre o que ele sentia, sobre o que nós dois sentíamos, era mais forte que qualquer outro pensamento racional.

Eu não sabia o que o futuro nos reservava, mas algo me dizia que eu não estava preparada para o que ainda estava por vir.

Fui embora.

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