Denise
A escuridão da noite parecia mais densa do que o normal, como se a floresta estivesse engolindo cada fragmento de luz. A lua cheia, alta no céu, brilhava forte o suficiente para iluminar o caminho entre as árvores, mas a sensação de solidão e inquietude não diminuía. Eu caminhava com passos lentos, sentindo o terreno irregular sob meus pés. O som das folhas secas estalando quando pisava nelas parecia amplificar a agitação dentro de mim.
Eu não sabia por que estava ali, na floresta, a essa hora. A verdade era que não conseguia mais ficar dentro do meu quarto. A agitação desde o primeiro dia na faculdade ainda era muito forte. O beijo com Paul, a sua presença — tudo isso estava me consumindo de uma forma que eu não conseguia entender. Eu precisava de um espaço, de uma pausa para processar as emoções que me assaltavam desde aquele momento inesperado.
Meu corpo estava cansado, mas minha mente não cessava. Como se fosse uma tempestade interna que não queria se acalmar. A cada passo que eu dava, mais me afastava do meu próprio controle.
"Você está maluca?"
A voz familiar de Paul cortou o silêncio da floresta, fazendo meu coração disparar na mesma hora. Ele surgiu como uma sombra entre as árvores, tão inesperado quanto da primeira vez que o vi. Seus olhos, sombrios, refletiam a luz da lua, e sua postura era tão confiante que parecia desafiadora. Ele estava ali, parado, como se já soubesse que eu viria, como se ele fosse parte daquele ambiente sombrio.
Eu o encarei sem saber o que dizer. A última coisa que eu queria era ver ele ali, no meio da floresta, depois de tudo o que aconteceu. O calor que ele havia deixado em mim ainda ardia, uma sensação de algo não resolvido, de algo que não podia ser ignorado.
"Eu... só estou caminhando." Eu tentei soar calma, mas minha voz tremia. Eu sabia que ele poderia sentir isso.
Paul deu um passo à frente, seu olhar se tornando mais penetrante. "Você não pode estar aqui. Está correndo perigo."
Eu franzi a testa, tentando controlar a irritação crescente. "Eu não sou uma criança, Paul. Não preciso de alguém para me dizer o que fazer."
Ele parecia não escutar, ou talvez estivesse tão focado em algo maior que não conseguia entender a minha resistência. "Você não entende, Denise. A floresta não é segura para você. E você não faz ideia do que pode acontecer aqui à noite."
Aquelas palavras vieram carregadas de uma autoridade que eu não conseguia ignorar, mas ao mesmo tempo, aquilo só aumentou a raiva dentro de mim. Como ele podia ser tão arrogante, tão convencido de que sabia o que era melhor para mim? A frustração tomou conta de mim, e eu o desafiei com os olhos.
"Você está me dizendo isso porque acha que eu não sei o que estou fazendo? Que sou uma idiota?" A raiva transbordava em minha voz, e eu não estava mais tentando me controlar.
As palavras saíram com uma intensidade que me surpreendeu. Eu não queria dizer aquilo, mas eu precisava gritar, precisava expressar de alguma forma a confusão que ele estava me causando. Ele me encarou, e eu vi a mudança em sua expressão — um misto de frustração e algo mais. Mas ele não disse nada, apenas se aproximou ainda mais, como se quisesse me forçar a entender alguma coisa que eu não entendia.
"Eu não disse isso, Denise." Sua voz era mais baixa agora, mais controlada, mas eu percebi a tensão ali. Ele estava tentando se segurar, mas a cada passo que dava em minha direção, eu sentia a pressão aumentando. "Eu só não quero que você se machuque."
Mas naquele momento, eu não queria ouvir. Queria me afastar de tudo aquilo, não entender mais nada. E foi quando ele deu um passo mais largo, tentando me alcançar, que o chão sob meus pés cedeu.
A sensação de queda foi rápida e dolorosa. Minha perna bateu em uma pedra oculta entre as folhas secas, e eu senti a dor aguda subir pela minha coxa. Meu grito foi involuntário, e o mundo ao meu redor parecia girar. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, a escuridão foi interrompida pela presença dele, que apareceu ao meu lado com a rapidez de um relâmpago.
"Você está bem?" Sua voz, mais suave agora, estava carregada de algo que eu não esperava: preocupação. Ele se abaixou ao meu lado, olhando para a minha perna com uma expressão que era um misto de raiva e desespero. "O que você estava pensando, Denise?"
Eu o encarei, sentindo a dor ainda pulsando na minha perna, mas também sentindo uma raiva crescente. Eu não queria ser tratada como alguém frágil. Não queria que ele viesse com essa atitude protetora. Ele não tinha esse direito.
"Eu... não preciso da sua ajuda." Eu tentei me levantar, mas a dor era forte demais. Minha cabeça girava, e eu sabia que não conseguiria me manter em pé.
Ele não deu atenção ao que eu disse. Com uma facilidade desconcertante, ele me levantou com os braços firmes, me trazendo para perto de seu corpo de maneira protetora. Eu queria resistir, mas uma parte de mim sentia um alívio inexplicável.
"Não, você não vai ficar aqui sozinha." A voz dele era autoritária, sem espaço para discussão.
Eu queria gritar, queria me soltar, mas ele não me deixou. Eu fui levada com facilidade, o som dos nossos passos abafado pela vegetação e pela noite. O que estava acontecendo? Como eu estava me deixando ser carregada por ele, depois de tudo o que tinha acontecido entre nós?
Quando ele finalmente me colocou em seus braços, eu não consegui mais esconder a sensação de vulnerabilidade. Ele estava ali, cuidando de mim de uma forma que eu não queria que acontecesse, mas ao mesmo tempo não conseguia mais negar o que estava se formando dentro de mim. Ele não era apenas uma presença ameaçadora; ele era alguém que estava começando a se tornar parte de mim de uma maneira que eu não entendia.
O caminho até o meu dormitório foi silencioso, exceto pelo som da noite e pelo ritmo das nossas respirações. Eu sabia que ele estava tentando me manter calma, mas o que ele realmente queria de mim? Qual era a real intenção dele? Eu queria perguntar, mas as palavras ficaram presas na minha garganta.
Quando finalmente chegamos à entrada do meu dormitório, ele me olhou com uma intensidade que quase me fez esquecer a dor na perna. "Eu não quero te ver mais na floresta sozinha, entendeu?" Ele falou, sua voz grave e firme. "Fica bem, Denise. E, por favor, não me faça isso de novo."
Eu respirei fundo, tentando encontrar as palavras certas. Mas, antes que eu pudesse responder, ele me deixou ali, na porta do meu quarto, e sem mais nada, se afastou.
Eu fiquei ali, sozinha, sentindo o peso do que havia acontecido. Não sabia se deveria estar agradecida ou irritada com ele. Mas, acima de tudo, sabia que havia algo mais entre nós. Algo que eu ainda não conseguia entender, mas que, de algum modo, me fazia querer saber mais.
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