Paul
O motor da moto roncava baixo enquanto Paul cortava as ruas da cidade, os olhos fixos no caminho à frente. O vento frio da manhã batia contra seu rosto, mas não fazia nada para esfriar o calor que ainda queimava sob sua pele.
Ele não deveria ter beijado Denise.
A tribo não permitia contato próximo com humanos. O risco era grande demais. Mas quando ela o seguiu naquela noite, quando ficou ali, tão perto, olhando para ele com aqueles olhos cor de mel cheios de confusão e desejo… ele perdeu o controle.
E agora? Agora ele estava fodido.
Paul estacionou a moto no campus e desligou o motor, respirando fundo antes de tirar o capacete. Estava acostumado a ser observado, mas hoje os olhares pareciam incomodar mais do que o normal.
Ou talvez fosse só sua mente pregando peças nele.
Ajeitou a mochila no ombro e entrou no prédio de Engenharia. O primeiro dia do terceiro ano seria tranquilo – pelo menos em teoria. Mas a realidade era que sua cabeça estava em qualquer lugar, menos nas aulas.
E, para piorar, Denise estudava ali perto.
Foco.
Ele entrou na sala e escolheu um lugar no fundo, longe da confusão. Alguns alunos já estavam lá, jogando conversa fora.
— Paul! — Uma voz familiar chamou.
Ele olhou para o lado e viu Bruno, um colega do curso, vindo em sua direção com um sorriso relaxado.
— E aí, cara. Sobreviveu às férias?
Paul deu de ombros.
— Sobrevivi.
Bruno riu e jogou a mochila na cadeira ao lado.
— Bom te ver, mano. A galera tava se perguntando se você ia sumir de vez esse semestre.
Paul arqueou a sobrancelha.
— Por quê?
— Ah, sei lá. Você sempre some, aparece quando quer, faz seu trabalho e vai embora. Meio lobo solitário, saca?
Paul prendeu a respiração por um segundo antes de forçar um riso curto.
Se você soubesse o quão certo está…
A aula começou logo depois, mas ele mal ouviu o professor. Seus pensamentos estavam presos em um ciclo interminável de questionamentos.
Ele precisava evitar Denise.
Não porque não queria vê-la. Mas porque queria demais.
E isso era um problema.
Quando a aula terminou, Paul pegou suas coisas rapidamente e saiu da sala antes que Bruno pudesse puxá-lo para mais conversa. O corredor estava cheio de estudantes se movimentando entre as salas, vozes e risadas preenchendo o espaço.
E então ele sentiu.
Um arrepio percorreu sua espinha antes mesmo de vê-la.
Ele parou no meio do corredor, os músculos tensos. Seu olhar varreu o ambiente até encontrá-la.
Denise.
Ela estava do outro lado do corredor, mexendo no celular enquanto andava com um livro preso ao peito. Seu cabelo cacheado balançava suavemente a cada passo. Ela mordia o lábio, distraída, sem notar a confusão que causava dentro dele.
Ela não olhou para ele.
Mas Paul não conseguia parar de olhar para ela.
O que ela estava pensando? Será que também sentia aquela tensão insuportável? Será que queria esquecê-lo tanto quanto ele queria esquecer ela?
Ou será que queria mais?
Denise passou por ele sem parar, sem sequer erguer os olhos. E isso o irritou mais do que deveria.
Seu instinto rugiu dentro dele, mas ele forçou os pés a ficarem no lugar.
Controle-se, Paul.
Ele soltou o ar lentamente e seguiu na direção contrária. Ficar longe dela era a única opção segura.
Mas, no fundo, ele sabia.
Isso estava longe de acabar.
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