Denise
O som das músicas baixas e as risadas ecoavam pelos corredores do dormitório. A luz da noite já começava a invadir seu quarto, filtrada pela cortina leve que cobria a janela. Denise estava sentada na beira da cama, olhando para o espelho com um misto de excitação e insegurança.
Ela havia escolhido um vestido simples, preto, que se ajustava ao seu corpo sem ser chamativo. Seus cachos estavam mais definidos do que o normal, e ela tinha optado por deixá-los livres, caindo suavemente ao redor de seu rosto. Seus olhos cor de mel estavam um pouco mais brilhantes que o habitual, a tensão da noite se misturando com a ansiedade de se jogar em algo novo. Algo fora do controle dos pais. A faculdade. A liberdade.
Ela passou os dedos pelo pescoço, sentindo a leveza da sua pele, e se perguntou, pela milionésima vez, se estava pronta para essa noite. Afinal, como seria conhecer pessoas sem os olhos cuidadosos de seus pais sobre ela? Como seria explorar um mundo de possibilidades sem as expectativas e limitações que sempre tivera em casa?
Bianca apareceu na porta com um sorriso travesso e os braços abertos.
— E aí, gata! Pronta para arrasar?
Denise sorriu e se levantou, ajeitando o vestido.
— Se você quiser, sim. Não sou muito de festas.
Bianca riu.
— Isso é o que todas dizem. Vem, vai ser divertido. Vai te ajudar a relaxar e a conhecer gente nova. Pode ser o começo de tudo.
Denise deu uma última olhada no espelho, ajeitando uma mecha do cabelo.
— Ok, ok. Você ganhou.
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Paul
Paul se reclinava contra a parede da casa de campo, onde as sombras da noite começavam a cobrir tudo ao redor. O cheiro da madeira e do mato fresco invadiam seus sentidos enquanto ele observava o horizonte. Seus olhos castanho-escuros estavam fixos em um ponto distante, mas sua mente não estava ali. Ele pensava nela. A garota que havia aparecido em sua mente sem aviso. O cheiro doce, o brilho nos olhos dela. O fato de, mesmo à distância, ele já ter sentido uma conexão. Algo inexplicável.
Seu corpo, embora relaxado, estava tenso. Ele sabia que aquilo não era normal. Não era algo que ele estava acostumado a sentir. O lobo dentro dele, sempre alerta e em controle, estava inquieto. Era como se um alarme tivesse disparado no momento em que sentiu o cheiro dela, como se os fios da sua vida tivessem se entrelaçado sem que ele tivesse qualquer controle sobre isso.
"Não pode ser," ele pensou. "Ela é humana. Não podemos..."
Ele cerrou os punhos, afastando os pensamentos, tentando se concentrar em outra coisa. Mas, por mais que tentasse, não conseguia se livrar da sensação de que algo estava mudando. Ele não sabia como, nem por que, mas sabia que não podia deixar isso acontecer.
— Paul! — a voz de Matteo cortou seus pensamentos.
Paul se virou. Seu primo estava se aproximando, com um copo na mão e um sorriso ligeiramente provocador no rosto.
— Está em outro planeta de novo, Paul? — Matteo perguntou, se encostando na parede ao lado dele.
Paul soltou um suspiro, tentando se recompor.
— Só pensando.
Matteo arqueou a sobrancelha.
— Você sabe o que vai acontecer se ficar nesse lugar por muito tempo, né? Vai acabar se distraindo com algo que não deve.
Paul o olhou por um momento antes de responder.
— Eu sei. Não vou deixar isso acontecer.
Matteo deu um sorriso enigmático.
— Não sei, cara. Mas só fique esperto. Não estamos na cidade. Nossos instintos, nossa natureza... Eles podem nos levar para lugares perigosos. E você não quer estar em um lugar perigoso.
Paul se afastou, sentindo a tensão crescer em seu peito. As palavras de Matteo ecoaram em sua mente. Ele não sabia como, mas sentia que algo estava prestes a mudar. Não sabia se era para o bem ou para o mal, mas sabia que, de alguma forma, ela estaria envolvida.
E ele não podia evitar.
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Denise
Quando Denise chegou à festa, o ambiente estava pulsando de energia. Música alta, luzes piscando, pessoas dançando e conversando. Era uma mistura de risos e vozes animadas, mas, ao mesmo tempo, ela se sentia como uma estranha no meio de tudo isso. Ela, que sempre foi reservada, ainda estava se adaptando àquela nova versão de si mesma.
Bianca apareceu ao seu lado, segurando uma bebida, e sorriu com entusiasmo.
— Aí está você! Vamos dançar!
Denise olhou para a pista de dança, um mar de corpos se movendo no ritmo da música. Ela hesitou por um momento, mas então, decidiu se deixar levar. Afinal, era isso que ela queria, certo? Sentir a liberdade. Se perder no momento.
Com Bianca puxando-a para o centro da pista, ela começou a se soltar. O corpo se movia sem querer, seguindo a batida da música. A sensação de estar ali, no meio daquele agito, de finalmente estar em controle, a fazia sorrir. Não importava se estava um pouco fora de sua zona de conforto. Naquele instante, ela era apenas uma estudante, uma garota querendo se descobrir, se sentir viva.
E foi então que ela o viu.
Ele estava encostado perto da parede, sozinho, observando tudo. Paul.
Seus olhos se encontraram por um segundo, e a sensação foi tão forte que Denise precisou desviar o olhar. Ele era imponente, a presença dele parecia dominar o ambiente, embora ele mal tivesse se movido. Seu cabelo curto e os olhos castanho-escuros fixaram nela com uma intensidade que a fez sentir um frio na espinha. Como se ele a tivesse visto por dentro, como se soubesse algo sobre ela que ela mesma não sabia.
Ela tentou se concentrar na música e na dança, mas não conseguia parar de pensar nele. Ele parecia tão diferente de tudo que ela já conhecera. Era como se ele vivesse em um mundo à parte, e, de alguma forma, ela estivesse sendo puxada para esse mundo.
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Paul
Paul observou de longe enquanto ela se divertia, sua presença impossível de ignorar. Cada movimento dela, a leveza dos passos, o brilho nos olhos. Tudo nela o atraía. E ele odiava isso.
A regra era clara: distância. Não podia se envolver com humanos. Não podia deixá-los saber o que ele realmente era. A tribo Fioravante era um segredo, um mistério escondido na escuridão das florestas. A relação entre lobos e humanos era um tabu, e Paul sempre soubera disso.
Mas ela... Denise. Algo nela mexia com ele de uma maneira que ele nunca imaginou que sentiria. Era como se um laço invisível os unisse, como se o simples fato de vê-la o tivesse marcado para sempre.
Ele estava completamente fora de controle.
E, quando ela olhou para ele novamente, não conseguiu mais desviar o olhar. Os olhos dela, aqueles olhos cor de mel, pareciam brilhar com algo além da diversão da noite. Eles estavam curiosos. Interessados.
Era uma sensação nova para ele, algo perigoso. Mas, ao mesmo tempo, irresistível.