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A Bruxa Morta

🇧🇷Arthur_Ygg
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Synopsis
Em uma pequena cidade cercada por uma vasta e enigmática floresta, uma antiga lenda permeia o imaginário local: temida pelos mais velhos e descartada como mera superstição pelos jovens. Lohan Akihiko, recém-chegado à cidade para iniciar seu primeiro ano na escola local, logo percebe que os mistérios do lugar vão muito além de simples boatos. Entre sombras que sussurram segredos e uma comunidade cheia de histórias não contadas, Lohan se verá imerso em uma trama onde realidade e lenda podem ser uma coisa só.
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Chapter 1 - Capítulo 1: O Começo no Desconhecido.

Após um dia inteiro de viagem, fui levado para o coração de uma cidade que, em outras circunstâncias, seria descrita como tranquila. Minha mãe, Makoto, estava convencida de que o ambiente calmo ajudaria em sua carreira, e talvez até fosse uma mudança benéfica para mim.

Mas, sinceramente, não consigo me sentir animado. Deixar para trás meus amigos e a rotina de sempre para começar o ensino médio cercado por estranhos? Nada parece mais inconveniente.

No entanto, a cidade tem um certo charme. Envolta por uma densa floresta, a conexão com a natureza é quase palpável. Caminhar pelas ruas é como estar em um equilíbrio constante entre o moderno e o selvagem, o que cria uma atmosfera peculiar.

Agora, aqui estou eu, diante da porta da minha nova sala de aula. O corredor é silencioso, exceto pelo som abafado de vozes e risos vindo das outras turmas. Respiro fundo, mais por incômodo do que por nervosismo. A diretoria insistiu que me apresentasse à turma, como se isso fosse o segredo mágico para fazer amigos instantaneamente.

A escola tem um ar rústico, com chão de madeira escura que range levemente sob os meus tênis. A porta desliza suavemente, revelando a professora, uma mulher com feições calmas e um laço que dá um toque sutil à sua postura séria.

— Lohan Akihiko, entre e se apresente aos seus colegas — ela diz, com um tom que mistura gentileza e firmeza.

Seus olhos castanhos me analisam por um momento, antes de desviar para o restante da turma. Com um suspiro, dou um passo à frente, mas algo fora da janela prende minha atenção.

Por um breve instante, vi algo. Uma sombra escura entre as árvores na direção da floresta, seu contorno marcado por algo que parecia... um crânio de cervo?

— Aconteceu algo? — a voz da professora corta meus pensamentos.

— Não, não foi nada... — murmuro, hesitante, forçando um sorriso enquanto entro na sala.

Seus olhos estreitam-se ligeiramente, mas ela apenas dá de ombros e gesticula para que eu continue.

Caminho até o centro da sala, sentindo dezenas de olhos fixos em mim. Alguns rostos carregam curiosidade, outros apenas apatia. Respiro fundo novamente.

— Meu nome é Lohan Akihiko. É um prazer conhecê-los.

Uma breve reverência sela a apresentação. Sinto o peso dos olhares diminuir, mas ainda não consigo afastar aquela sensação incômoda. A sombra, o crânio... Talvez seja apenas a minha imaginação, certo?

Enquanto caminho até minha nova carteira, próxima à janela, não consigo evitar olhar novamente para a floresta além da cerca. Tudo parece normal agora, mas uma inquietação persiste no fundo da minha mente. Algo não está certo, e tenho a sensação de que essa nova cidade guarda segredos que ainda não estou pronto para descobrir.

— Oh, até que ele é bonitinho, — ouvi uma voz feminina ao fundo, embora ela claramente tentasse ser discreta.

Sorri levemente, fingindo não ter escutado, mas a verdade é que percebi. — Pelo menos, minha aparência não parece ser um problema — pensei, enquanto outros murmúrios de aprovação vinham de um grupo de garotas no canto da sala.

Decidi adotar um tom educado, me apresentando com calma e tentando passar a impressão de alguém acessível, sem aquele ar de "garoto da cidade grande". A última coisa que eu queria era virar alvo de antipatia logo no primeiro dia.

O primeiro período terminou rapidamente, marcado pelo toque do sinal. Enquanto os outros alunos saíam da sala, peguei meu caderno e comecei a desenhar. Explorar a escola parecia uma boa ideia, mas fazer isso sozinho não era exatamente animador.

— Ei, você desenha bem, — uma voz interrompeu meus pensamentos.

Olhei para cima e vi um garoto ruivo, com cabelos espetados e uma bandana vermelha na cabeça, aproximando-se com um sorriso despreocupado.

— Sou Março. Como as garotas estavam ocupadas demais te admirando, decidi vir falar com você primeiro, haha. — Ele parecia despreocupado e animado, embora o nome incomum tenha me chamado a atenção.

— Março, não é? Um nome curioso, mas quem sou eu para julgar? — comentei, enquanto ele puxava uma cadeira para se sentar à minha frente.

— Ah, sobre o nome... Já ouvi várias piadas, mas me acostumei. E você? Parece que chamou bastante atenção, não acha?

Eu sabia onde ele queria chegar. Desde que me sentei perto da janela, notei os olhares constantes na minha direção. Meu cabelo branco, definitivamente, não ajudava a passar despercebido.

— Talvez. Mas acredito que seja mais por curiosidade do que qualquer outra coisa. — Respondi, dando de ombros.

Março riu. — Bom, só espero que se saia melhor que o último aluno transferido. Ele acabou saindo daqui bem rápido.

— Ah, entendi. E por quê? — perguntei, levantando uma sobrancelha.

— Era um idiota. Arrogante, achava que era melhor do que todo mundo e nos chamava de "favelados". Aí ninguém teve paciência com ele. — O tom de desprezo em sua voz deixava claro o que ele achava do garoto.

— Não se preocupe. Sou diferente. Não vejo razão para criar problemas. — Sorri de leve, tentando passar confiança.

Março pareceu satisfeito com a resposta, inclinando-se para espiar o desenho em que eu trabalhava. — É um crânio de cervo?

— Sim. Vi algo parecido quando olhei pela janela no começo da aula. Achei interessante e decidi desenhar. — Respondi, continuando a sombrear o esboço.

O semblante de Março mudou rapidamente para surpresa. — Espera... Você viu a Bruxa Morta?

O grito inesperado atraiu a atenção da professora, que estava tomando café tranquilamente em sua mesa.

— Março, não comece a assustar o aluno novo com essas histórias. — Ela revirou os olhos, mas parecia mais divertida do que irritada.

Outra voz se uniu à conversa. Uma garota loira, com cachos longos e uma expressão ligeiramente provocadora, falou enquanto brincava com uma mecha de cabelo. — Março, você realmente tem talento para exagerar. Nem todo mundo vai acreditar nessa história.

— E você é...? — perguntei, embora já tivesse ouvido o nome dela na chamada.

— Lívia. — Ela sorriu, inclinando-se levemente para me analisar. Seu uniforme estava levemente desleixado, o que dava a ela um ar despreocupado. — Então, está curioso? Você parece gostar dessas coisas.

Não pude evitar sorrir de volta. — Minha mãe costumava contar histórias de monstros antes de dormir. Acho que acabei gostando disso com o tempo.

A professora riu ao ouvir meu comentário. — Coragem é algo que você parece ter de sobra, Lohan. A maioria das crianças teria pesadelos com histórias assim.

Enquanto ela voltava a saborear seu café, percebi que, além de Março, Lívia e a professora, a sala estava quase vazia. O restante dos alunos havia saído para aproveitar o intervalo na cidade, algo que a diretora aparentemente incentivava.

— Então, o que é essa tal Bruxa Morta? — Voltei minha atenção para Março, curioso.

Ele abriu um sorriso, animado por meu interesse, mas antes que pudesse responder, a professora o interrompeu.

— Acho melhor eu explicar, já que Março adora florear as coisas. A "Bruxa Morta", ou "Lobo Uivante da Angústia", é uma lenda local que existe há séculos. — Ela falou de maneira breve, como se já estivesse acostumada a contar essa história.

Lívia riu, zombando de Março. — Viu só? Você demoraria meia hora para chegar nesse ponto, e a professora terminou em segundos.

Março bufou, claramente frustrado, mas desistiu de argumentar.

Enquanto a professora continuava sua breve explicação, falando sobre um espírito que supostamente assombra a floresta, senti minha curiosidade crescer. Talvez essa cidade escondesse muito mais do que aparentava.

Quando o sinal tocou novamente e os alunos começaram a voltar para a sala, minha mente ainda estava presa à ideia da "Bruxa Morta". Afinal, o que eu realmente tinha visto na floresta naquela manhã?

Continua…