Durante o horário escolar, Renier se encontrava com a cabeça enterrada em sua mesa, apenas esperando pelo sinal tocar para ir embora.
Ele realmente não era fã de continuar invadindo mundos comuns como iguais a Terra, e fingir sempre estudar e ir para escola, dado ao seu status como imortal obviamente sua aparência como um adolescente de 16 anos não mudaria. Então obviamente o obrigando a fazer parte da sociedade comum sempre que entra em mundos normais, para passar mais despreocupado pelos humanos que para ele eram bem normais.
Mas a forma indiferente por ter uma boa memória é repetir o mesmo ciclo de aulas em vários mundos o levava a fazer tudo com extrema facilidade. O que claro levaria a um certo incômodo aos olhos de seus colegas.
Neste momento não era diferente, dado aos olhares de 2 garotos observando o aluno novo com uma carranca no rosto e olhares de inveja era algo que Renier tinha o costume de ignorar por não ser importante para ele.
Uns dos garotos falando para o outro de forma incomodada murmura sobre o novo colega de classe. — Ele age como se fosse melhor do que nós, — afirmou ele.
O outro garoto com uma aparência mais parruda e com um cabelos ruivos logo devolve o comentário. — Sim, as garotas não param de olhar para ele, sendo que ele nem tem nada de especial, — indagou ele estalando os lábios.
O primeiro garoto se aproxima de Renier, batendo na mesa para chamar sua atenção. Sem muita cerimônia, Renier ergue a cabeça, sua expressão carregada de tédio.
— Precisa de alguma coisa? — perguntou Renier, direto, os olhos azuis brilhando por trás de uma máscara de desinteresse.
— Ei, Renier, você tem tempo livre hoje? — disse o garoto, forçando um sorriso descontraído, tentando parecer amigável, mas Renier percebeu a intenção por trás de suas palavras.
— Por que não vai direto ao ponto? — Renier rebateu, sem paciência para rodeios. O outro garoto hesitou por um segundo, desconcertado pela falta de reação de Renier, mas logo voltou a falar, tentando manter o tom casual.
— Sabe, tem um lugar famoso aqui na cidade. Uma fábrica antiga... de brinquedos. Está fechada há décadas. — O garoto começou a explicar, a voz carregando um toque de mistério que não conseguiu captar totalmente a atenção de Renier.
— E o que tem de tão interessante nisso? — Renier indagou, confuso, já que aquele mundo era estranho para ele, e uma fábrica de brinquedos abandonada não parecia grande coisa.
— Os funcionários que trabalhavam lá... desapareceram. Sumiram sem deixar rastro. — A voz do garoto assumiu um tom mais sombrio, tentando envolver Renier na história.
O amigo ruivo do garoto, visivelmente desconfortável com a ideia, interveio. — Cara, você quer mesmo entrar naquele lugar estranho?
— Claro que sim. — O primeiro garoto respondeu, mentindo descaradamente para Renier. — Aqui na escola, temos uma tradição. Os alunos novos, se forem corajosos o suficiente, entram na fábrica e trazem de volta um brinquedo de lá. Você faria isso, não faria, Renier?
Renier, embora percebesse as intenções maliciosas, sorriu internamente. Ele podia sentir o medo e a incerteza do outro garoto, e algo nele queria ver até onde aquilo iria.
Renier olhou para os dois garotos à sua frente, seus olhos frios e sem interesse. Ele podia sentir a malícia nas intenções deles, mas decidiu jogar o jogo deles, pelo menos por enquanto. Afinal, algo nesse convite soava levemente intrigante, mesmo que ele soubesse que não deveria esperar muito de um mundo comum como aquele.
— Uma fábrica abandonada de brinquedos? — Renier repetiu, sua voz carregada de um tom levemente sarcástico. — E vocês querem que eu entre lá e traga um brinquedo de volta para provar minha coragem?
O garoto ruivo assentiu, tentando esconder o nervosismo com um sorriso forçado. — Isso mesmo. Mas, claro, se você não tiver coragem... podemos entender.
Renier estreitou os olhos, um leve sorriso surgindo no canto de sua boca. — Muito bem. Vou aceitar o desafio. Mas aviso que, se for só uma perda de tempo, não ficarei muito feliz.
Os dois garotos se entreolharam, surpresos com a resposta de Renier. Eles não esperavam que o novo aluno aceitasse tão prontamente, mas agora estavam presos na própria armadilha.
— Ótimo! — O primeiro garoto respondeu, tentando soar confiante. — Vamos nos encontrar hoje à noite, às 8, na frente da fábrica. Não se atrase.
Renier apenas acenou com a cabeça antes de se recostar novamente na cadeira, voltando à sua posição anterior de completo desinteresse. Os dois garotos se afastaram, cochichando entre si, claramente satisfeitos por terem conseguido o que queriam. Mal sabiam eles que o que planejavam para Renier seria, na verdade, uma oportunidade para ele testar algo novo nesse mundo.
Renier, depois de sair da escola, passou o restante da tarde em seu quarto, olhando para a tela do celular. Ele estava deitado na cama, uma perna cruzada sobre a outra, enquanto pesquisava mais sobre a tal Fábrica Playtime que os dois garotos haviam mencionado. Ao digitar o nome da fábrica, algumas imagens de brinquedos antigos surgiram nos resultados de busca. Brinquedos como a boneca Poppy, Huggy Wuggy, Kissy Missy… Nomes que não significavam nada para ele, mas que pareciam ter algum valor histórico para aquele mundo.
Ele franziu o cenho ao ler uma breve nota que mencionava o fechamento da fábrica após quarenta anos de atividade. As informações, no entanto, eram incrivelmente vagas. Nenhum relato detalhado, nenhuma explicação sobre o motivo exato do encerramento das operações. As menções aos funcionários que desapareceram eram esparsas e quase sempre encobertas por rumores e teorias conspiratórias sem base concreta.
Renier continuou deslizando pela tela, até que uma linha de texto prendeu sua atenção: "Orfanato dentro da Fábrica". Ele parou por um momento, olhando fixamente para aquelas palavras. Um orfanato? Dentro de uma fábrica de brinquedos? Isso não era apenas estranho, mas também inquietante. Como uma instalação que abrigava crianças poderia simplesmente fechar as portas sem que ninguém fizesse um escândalo a respeito? Nenhuma investigação policial, nenhum relatório público… nada.
Ele ponderou sobre a época em que a fábrica esteve ativa. Se ela havia existido antes do século XX, então já teria passado por duas grandes guerras, o que poderia explicar, em parte, a escassez de informações. Mas ainda assim, aquilo não parecia certo. Algo naquela história tinha um ar sinistro, e isso despertou a curiosidade de Renier de uma maneira que ele não esperava.
— Um orfanato… — ele murmurou para si mesmo, os olhos fixos na tela do celular. — E o que diabos aconteceu com essas crianças?
Ele fechou o celular, decidido a investigar mais a fundo. Algo lhe dizia que essa "brincadeira" dos garotos poderia revelar mais do que eles mesmos imaginavam. E Renier estava disposto a descobrir o que realmente estava por trás daquele lugar misterioso.
Ele levantou-se da cama, sentindo a excitação crescente dentro de si. A noite prometia ser mais interessante do que ele havia previsto inicialmente.
Continua…