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Chapter 6 - Capítulo 6: Correndo no Escuro.

O som repetitivo da sirene de emergência não dava descanso. O eco metálico se propagava pelas paredes apertadas do duto, enquanto as luzes vermelhas piscavam em intervalos regulares, criando sombras distorcidas no aço ao meu redor. Cada piscar era uma nova punhalada de irritação. Meu instinto me mandava seguir em frente, mas aquele barulho... tsk, era insuportável.

— Que irritante… — murmurei para mim mesmo, franzindo o cenho. Cada passo meu ressoava no estreito duto, metálico e sufocante. Eu não conhecia o lugar, essa maldita fábrica com seus segredos escondidos. Tudo o que eu tinha era meu instinto me guiando.

As paredes do duto eram apertadas, como se a fábrica quisesse me engolir. O espaço era pequeno demais para qualquer ação mais direta, o que limitava minhas opções se algo ou alguém tentasse me encurralar.

E então, como que ouvindo meus pensamentos, um som familiar ecoou pelos tubos... pesados passos correndo na minha direção.

Corra, algo dentro de mim sussurrou.

— Tsk... Ele não desiste mesmo, não é? — murmurei com desdém, já sabendo o que me esperava. Huggy Wuggy, aquele maldito brinquedo azul, estava vindo atrás de mim novamente.

A luta anterior deveria ter sido o suficiente para afastá-lo. Achei que poupar sua vida teria sido o suficiente para ele me deixar em paz. Mas parece que ele não entendeu o recado.

Dessa vez, eu sabia que lutar não era uma opção. O duto era estreito demais, a movimentação limitada. Meus punhos não teriam espaço para encontrar seus alvos, e, francamente, lutar aqui seria um erro mortal. Não havia escolha: eu tinha que correr.

Meus pés começaram a se mover, e, a cada passo, sentia o ar metálico vibrar ao meu redor. O som de Huggy correndo pelos dutos parecia ainda mais próximo, quase sufocante, como se ele estivesse respirando no meu pescoço.

A cada curva, a pressão aumentava, o espaço apertado e o ambiente sufocante faziam minha mente acelerar. Eu queria lutar, parte de mim ansiava por isso, mas aqui? Não. Aqui, era morte certa.

Eu conseguia ver algo à frente. Uma grade. E, por entre as barras, o vislumbre de dentes, os olhos fixos em mim. Huggy. Ele estava sorrindo, um sorriso largo, monstruoso, e a saliva escorria entre seus dentes.

Os olhos dele brilhavam, como se estivesse se divertindo com a perseguição, mas eu não estava assustado. Meus olhos se fixaram nos dele, um momento de conexão entre o caçador e a presa.

— Quer brincar de pegar? Vamos ver quem cansa primeiro… — sussurrei para mim mesmo, meus passos se acelerando.

Correr parecia estranho, mas era o mais sensato naquele momento. A cada passo apressado pelos dutos estreitos, o som de algo pesado e implacável se aproximava. A criatura azul não desistiria tão fácil. O som mecânico do alarme de emergência era irritante, cada luz vermelha piscante um lembrete de que eu estava longe de ter a vantagem naquele espaço apertado.

Eu não sou de correr, nunca fui. A sensação de desviar e recuar não é algo que eu aprecie. Mas enfrentar uma criatura desajeitada e impulsiva como Huggy dentro desses túneis apertados seria pura estupidez, não posso usar toda a extensão dos meus poderes, apenas no máximo uma força para igualar com aquela bizarrice ou mexer na tecnologia velha deste local.

Os passos dele ficavam mais altos a cada segundo, mais próximos. Admito, havia algo curioso na forma como ele se movia — rápido demais para alguém com aquele tamanho, quase fascinante. Quase.

Meus olhos se estreitaram quando vi a saída à frente. Uma comporta começou a fechar. Eu já sabia o que iria acontecer, como se o destino quisesse me testar, me forçando a um confronto que eu preferiria evitar ali. Senti o cheiro de ferrugem no ar e os sons das engrenagens rangendo me avisaram que a passagem estava prestes a se fechar por completo.

— Tsk... Claro, tinha que ser assim — murmurei, como uma piada de mal gosto feita por alguém.

Huggy estava perto, tão perto que eu quase pude sentir a respiração frenética da criatura atrás de mim. Olhei para baixo, analisando o piso velho e desgastado. Um sorriso curvou seus lábios. Eu não sou de me intimidar tão fácil.

— Vamos bagunçar um pouco as coisas — afirmo, dando um sorriso animado.

Com um movimento rápido, levantei a perna e chutei com força o chão enfraquecido. O impacto foi o suficiente para quebrar o metal, e eu caí no andar inferior, escapando por pouco da criatura. Assim que aterrissei, já estava em movimento novamente, correndo para sair de vez daquele inferno de dutos.

A plataforma de aço rangeu sob meus pés quando cheguei ao novo local. O lugar parecia deserto, exceto pela televisão antiga, que estava apagada, empoeirada e esquecida no canto, como uma peça de um quebra-cabeça maior. A parede à frente tinha a pintura de uma flor desbotada, um contraste curioso naquele ambiente industrial, e uma porta bem no centro, silenciosa, como se estivesse me aguardando.

Mas não tive muito tempo para contemplar.

O som familiar e perturbador de Huggy Wuggy ecoou novamente, se aproximando rápido demais. Eu me virei, notando a caixa de metal com uma estrela no topo, pendurada por uma suspensão visivelmente enferrujada. Perfeito.

Aquele momento foi quase em câmera lenta. Puxei o braço azul do GrabPack e, com precisão cirúrgica, agarrei a caixa pesada. Um puxão forte, e a suspensão cedeu no instante exato em que Huggy emergia do duto. Ele mal teve tempo de registrar o que estava acontecendo antes da plataforma começar a desmoronar sob seus pés.

Mas antes que a gravidade pudesse fazer o trabalho por mim, me move com velocidade, agarrando o braço de Huggy no último segundo, não vai acabar assim.

— Sabe, a brincadeira não vai terminar assim. — afirmei dando um sorriso provocativo.

Eu puxei Huggy de volta para a plataforma, segurando seu braço com firmeza. Ele estava quieto, imóvel, sem reação. Aquele brinquedo grotesco, que antes me perseguia incansavelmente, agora parecia... perplexo? Algo havia mudado em seu olhar, uma hesitação que eu não esperava.

— Você pode me entender, não é? — perguntei, sabendo que provavelmente não teria uma resposta verbal. — Sei que você está consciente... De alguma forma.

Huggy não respondeu, como esperado. Seus dentes, que antes estavam expostos de maneira ameaçadora, se fecharam lentamente. O sorriso desajeitado e torto voltou, como se ele estivesse tentando se ajustar à sua forma "habitual", como um brinquedo esquecido que retorna ao padrão pré-programado.

Suspirei, observando aquele sorriso bizarro. — Acho que podemos considerar isso como uma trégua... Por enquanto.

Ele não atacou, não fez nenhum movimento agressivo. Apenas se virou de costas, seus passos pesados ecoando pelo chão enquanto ele seguia por um caminho diferente do meu.

Fiquei parado por um momento, observando a figura gigante desaparecer lentamente pela escuridão. O que isso significava? Ele havia desistido de me caçar? Talvez fosse sua maneira de dizer que não iria mais se intrometer ou que estava concedendo uma breve pausa no jogo.

Eu não sabia. Não tinha como saber se ele ainda era meu inimigo ou não, mas de qualquer forma, soltei um suspiro de alívio. Sentar na plataforma de aço, sentindo a tensão sair dos meus ombros, era um luxo momentâneo que eu estava mais do que disposto a aproveitar.

Olhei ao redor, observando o estrago que havia causado. A estrutura da plataforma estava comprometida, rangendo sob o peso dos eventos recentes. Meus olhos pousaram na televisão antiga, empoeirada e escura, e mais adiante, avistei uma fita cassete esquecida em cima de uma prateleira, escura como o ambiente ao meu redor.

— Vamos ver o que você tem a me dizer… — murmurei, esticando o braço com o GrabPack, usando a mão azul para puxar a fita até mim. Segurei o objeto com cuidado, examinando-o por um momento, mas minha mente não estava totalmente focada nisso.

Meus pensamentos voltavam, inevitavelmente, para Huggy. Aquele momento de hesitação... de fraqueza. O que foi isso? Um vislumbre de algo mais profundo? Era como se, por um breve segundo, o monstro sádico e sanguinário tivesse desaparecido, dando lugar a uma criatura quase inocente, perdida em meio à dor, tristeza e raiva reprimidas.

— Você não passa de uma criança, no fim das contas… — sussurrei, escorando-me na grade enferrujada enquanto tentava entender o que aquilo tudo significava. Huggy havia mostrado algo mais, algo que eu não esperava ver em uma fábrica repleta de pesadelos e horrores.

Continua…