Eu havia saltado rumo ao desconhecido, mergulhando para além dos limites da fábrica. No entanto, ao invés da queda brutal que esperava, eu vi deslizando por um escorregador azul, pintado com cores vibrantes e um ar infantil. A atmosfera, porém, era opressiva. A escuridão espreitava em cada curva, interrompida apenas por frases luminosas que brilhavam com interesse distorcidas, criando um contraste perturbador.
Esfreguei os olhos, tentando me ajustar à nova luminosidade, e me levantei lentamente, olhando ao redor para compreender onde havia parado.
— Poppy chegou a Game Station… e algo sobre um trem… — murmurei para mim mesmo. A sensação de que a fábrica se estendia por um labirinto interminável de corredores ocultos e salas secretas ficou mais intensa. Esse lugar é muito mais vasto e intrincado do que parece ser por fora.
Meus olhos se fixaram em algo peculiar: nomes esculpidos em destaque acima das várias entradas que se espalharam ao meu redor. Elliot Ludwig, Leith Pierre, Stella Greyber, Eddie Ritterman o quinto nome está rasurado. Figuras de importância para a história da Playtime Co. Esses nomes pertencem às mentes que moldaram a fundação e expansão da fábrica. Elliot Ludwig era o diretor, o fundador, e o Leith Pierre se bem me lembro foi a primeira fita que pegou na recepção desse lugar, pela forma que ele falou da segurança da fábrica, ele deve ser o Chefe de Segurança.
Stella… eu já havia ouvido seu nome antes, ou melhor, sua voz na gravação anterior.
— Ela… também ajudou a construir esse lugar? — murmurei, intrigado. Uma das cofundadoras, talvez? — Os outros nomes… não me dizem nada… — Pensei, meus olhos recitando sobre uma conduta de aço meia aberta, porém está cheio de sangue por debaixo da outra sala.
Minha curiosidade quase me trai. A vontade de explorar o que está além daquela porta é intensa, mas a prioridade agora é salvar Poppy. Chegar à Game Station deve ser meu foco. Respiro fundo, afastando a distração, e me viro para uma nova sala iluminada, cuja entrada exibe a palavra "Power" em letras grandes. Deve ser mais um mecanismo para restaurar energia em outra parte da fábrica.
— Então, é por ali que eu devo ir… — murmuro para mim mesmo, começando a andar em direção à passagem.
Ao entrar na sala, percebo que é mais do que um simples sistema de energia. Parece um quebra-cabeça criado para testar a paciência de qualquer um que se atreva a enfrentá-lo.
O ambiente consiste em uma plataforma de ferro elevada, com dois pilares posicionados em pontos distintos: um próximo a mim e outro mais adiante, perto de um painel de controle. Ambos parecem ser feitos de cobre ou algum material avermelhado, levemente corroído pelo tempo. No entanto, ainda parece operacional, o Jetpack pode ser a chave para reativar a energia aqui.
— Se eu tivesse mais tempo, seria divertido usar a Jatpack para brincar com isso — comentei para mim mesmo, deixando escapar um sorriso enquanto me aproxima dos pilares. — Mas estou com pressa.
Sem hesitar, deixo meus passos ecoarem pela plataforma até os condutores enferrujados. Meus dedos tocam os dispositivos com cuidado.
— Eu mesmo posso servir como um canal de energia, não é? — provoca, sentindo uma pequena onda de adrenalina.
Com um sorriso travesso, coloco uma mão em cada pilar e canalizo minha própria energia, criando um circuito improvisado. Sinto uma carga percorrendo meu corpo, transferindo-se de um condutor para o outro. O som de faíscas e o nível zumbido de eletricidade preenchendo o ar me indicam que retribuiu.
Abaixo, a plataforma estremece, enquanto a energia percorre os cabos, iluminando o caminho de volta para a sala de onde vim. A corrente seguiu em direção ao local pelo que estava curioso.
O comportamento à frente se abre com um rangido metálico, revelando um corredor escuro. Manchas de sangue secas cobrem o chão e as paredes, criando um cenário sinistro que me faz apertar os punhos. Não é exatamente uma surpresa… mas nunca deixa de ser inquietante.
Uma luz vermelha pulsante brilhou no painel ao lado da grande porta de ferro selada à minha frente. O metal parecia robusto, quase desafiador, e a estrutura exibia um pequeno sensor que reagia ao brilho da minha luva vermelha. Meus passos pararam diante dela, e, enquanto observava o alto da porta, um som leve ecoou acima, como se algo se movesse furtivamente nas sombras.
Meu olhar subiu, estreitando-se para focar na escuridão. — Eu sei que está aí. Não precisa ser tímida… — comentei, a voz carregada de indiferença e calma.
Um sussurro suave cortou o ar, doce e quase hipnotizante, mas com um toque sádico que rastejava pela melodia.
— Oww~ e a Mommy achando que ia conseguir fazer seu coraçãozinho pular… — disse a voz, carregada de uma falsa doçura.
Logo, um par de olhos esverdeados e brilhantes emergiu das trevas. A silhueta se revelou aos poucos: um corpo longo e flexível como o de uma aranha, cor-de-rosa, pendurado no teto. Os braços esguios se esticaram com elegância assustadora, e um deles segurava firmemente Poppy, que me olhava com preocupação antes de voltar seu olhar para a criatura.
— Você deve ser a Mommy Long Legs, não é? — perguntei, mantendo o tom casual enquanto a observava com um sorriso calculado.
— Acertou! — exclamou ela com um entusiasmo perturbador. — A amada mamãe que cuida das criancinhas dentro dessa fábrica! — completou, trazendo o rosto para mais perto, o pescoço se alongando grotescamente. Seus olhos enormes fixaram-se em mim, e um sorriso torto se formou em seus lábios de plástico. — Fico tão feliz que uma criança tão fofa como você reconheça a velha e doce Mommy! — cantarolou, girando a cabeça de cabeça para baixo, como se fosse parte de algum jogo distorcido.
Lembranças do antigo comercial de celular… A propaganda mostrando o brinquedo de plástico maleável que podia ser esticado de todas as formas. "Mommy Long Legs", a boneca querida de antigamente… Era estranho imaginar que algo tão bizarro pudesse ser popular entre as crianças daquela época.
Desviei o olhar por um momento, pensando nos brinquedos que já tinha encontrado. Primeiro Huggy, agora Mommy… Dá para entender um pouco melhor como esse lugar era antes de tudo dar errado.
Voltei a encará-la, sem desviar. — Então, poderia me devolver a boneca que está com você? — perguntei, mantendo um tom firme.
— Você é engraçado! — exclamou Mommy Long Legs, inclinando a cabeça para o lado de maneira quase caricatural, enquanto um sorriso perturbador se espalhava lentamente por seu rosto de plástico. — Mas a Mommy não vai te entregar a Poppy… pelo menos, não assim tão fácil… — murmurou, aproximando a boneca do próprio rosto e deslizando os dedos longos e esqueléticos pelos cabelos de Poppy, como se estivesse acariciando um brinquedo frágil. — Que tal brincar comigo, querido? — completou, a voz tingida de uma doçura sinistra.
Interessante… — Brincar?
— Sim! — riu ela, um som leve e estranhamente infantil, mas com um tom que enviava calafrios. — Faz tanto tempo desde que alguém apareceu para brincar comigo nos jogos daqui… — Mommy fez uma pausa dramática, como se saboreasse cada palavra. — Tem sido tão entediante… Mas agora você está aqui. Eu ouvi dizer que a Poppy queria levar você em um tour pela fábrica usando o trenzinho, hmm~? — cantarolou, estendendo a palavra como se provocasse.
Então, ela estava escutando tudo esse tempo? Desde quando? Desde o momento que coloquei os pés na fábrica?
Enquanto eu a observava, Mommy usava a Poppy como se fosse apenas uma boneca, manipulando seus movimentos com um sorriso sádico, claramente se divertindo. A pequena boneca me olhava com uma expressão aflita, mas incapaz de reagir.
— E se você ganhar nos joguinhos que a Mommy preparar… — Mommy interrompeu meus pensamentos, agora fingindo uma voz caricaturalmente fina, como se estivesse imitando Poppy. — Mommy pode até te dar a senha do trem! — anunciou, as palavras carregadas de um entusiasmo forçado.
— Oh, mas que ideia maravilhosa, não é, Poppy? — Mommy girou a cabeça de um lado para o outro, fingindo conversar com a boneca. — Mommy amou essa ideia! — completou, rindo sozinha de sua própria encenação.
Poderia simplesmente arrancar Poppy das mãos da Mommy e acabar com esse teatrinho agora mesmo, mas… talvez seja mais interessante explorar um pouco mais dessa fábrica. Não vou cair nos truques dela, mas quero ver até onde isso vai. Afinal, diferente do Huggy, Mommy parece ter um nível de consciência própria. Isso pode ser útil.
— Certo, aceito o seu desafio — respondi com uma nota de animação na voz.
— Mommy fica tão feliz com isso! — ela começou, mas a interrompi antes que pudesse continuar.
— Mas quero impor uma condição. Caso eu vença os seus três jogos eu vou querer uma recompensa de minha escolha… — disse, aproximando-me devagar de seu rosto. Ficamos a poucos centímetros de distância, e pude sentir o cheiro distinto de plástico misturado com sangue seco e poeira antiga. A tonalidade rosada do corpo dela estava desgastada, encardida pelo tempo e pela sujeira acumulada.
Ela piscou surpresa, mas seu olhar logo se estreitou, e o sorriso deformado se alargou em pura diversão.
— Que ousado… você é bem diferente das crianças ou dos funcionários que já passaram por aqui… — sussurrou com uma risadinha maliciosa. — Tudo bem, querido. Se você ganhar, eu lhe darei uma recompensa, do jeito que você preferir. Mas… — a expressão de Mommy tornou-se sombria, sua voz sibilante e ameaçadora. — Se tentar trapacear ou quebrar as regras… eu vou rasgar você pedaço por pedaço enquanto ainda estiver respirando, e me divertirei arrancando seus órgãos um a um.
As palavras dela, por mais brutais que fossem, não me incomodaram. O tom ameaçador parecia tão casual para ela quanto uma simples brincadeira. Em vez de recuar, sorri, apreciando o momento.
— Dito isso, eu sou Renier. Não sou uma criança, querida Mommy Long Legs. É um prazer conhecê-la.
Ela me observou com uma expressão de curiosidade sombria, como se estivesse saboreando cada palavra que saía dos meus lábios.
— Renier… vou me lembrar desse nome… — murmurou, rindo baixinho enquanto se afastava, seu corpo desaparecendo lentamente na escuridão acima. — Vejo você mais à frente… — sussurrou, a voz ecoando pelo vazio da fábrica até sumir completamente.
Com a partida dela, a grande porta de ferro à minha frente se abriu com um gemido metálico, revelando um novo setor para explorar. Ainda havia uma preocupação persistente quanto a Poppy está sob o controle de Mommy, mas, por enquanto, acredito que ela não fará nenhum mal real… pelo menos, não enquanto o jogo estiver em andamento.
Então é isso. O único caminho é seguir em frente. Esses desafios vão ser interessantes…
Continua…