Renier ficou alguns segundos observando o enorme brinquedo de pé à sua frente, um sorriso congelado no rosto de pelúcia. Algo nele parecia... errado. Renier estreitou os olhos, desconfiado.
— Depois eu resolvo isso... — murmurou, desviando o olhar do Huggy Wuggy e voltando sua atenção para o saguão.
Ele começou a caminhar pela sala, examinando cada detalhe. Algumas portas estavam visivelmente trancadas, enquanto outras pareciam conectadas ao sistema de energia principal da fábrica. Sem eletricidade, seria impossível abrir qualquer uma delas.
De repente, o som estridente de algo caindo ecoou pela sala, fazendo Renier virar rapidamente a cabeça em direção ao brinquedo gigante. Uma chave brilhante repousava no chão, bem aos pés do Huggy Wuggy, como se tivesse acabado de cair de algum lugar escondido. Isso só serviu para aumentar as suspeitas de Renier sobre o brinquedo, mas ele decidiu não perder tempo com isso agora.
Ele se abaixou lentamente, mantendo um olho atento no brinquedo, e pegou a chave.
— Parece que as coisas estão ficando interessantes... — ele pensou, sentindo que o mistério da fábrica só começava a se revelar.
Renier levantou com a chave em mãos, sentindo o peso dela. Seu olhar voltou para o Huggy Wuggy, que continuava imóvel, olhos arregalados e sorriso sinistro estampado na face. O som de metal rangendo nas articulações do brinquedo ressonava baixinho, quase como um suspiro no ar.
— Está tentando ser sutil? — Renier comentou com uma leve risada, sem esperar resposta. A tensão no ar aumentava, mas ele não se deu ao trabalho de desviar o olhar.
Ele se virou, ignorando o olhar frio com um sorriso meio torto do brinquedo gigante. Movendo-se com precisão, Renier se dirigiu a uma porta do outro lado do saguão. O ambiente parecia sussurrar segredos, memórias impregnadas nas paredes da fábrica abandonada. Enfiou a chave na fechadura, girando-a com um leve clique. A porta rangeu, abrindo-se lentamente para revelar um corredor longo e escuro.
O frio do lugar era palpável, e o cheiro de mofo e metal enferrujado invadiu suas narinas. Sem hesitar, ele avançou, os passos ecoando suavemente pelas paredes metálicas. Huggy, em algum lugar atrás dele, parecia sentir a falta de atenção de Renier como um desafio.
Renier chegou a uma nova sala, onde o painel de controle da energia estava coberto de poeira e teias de aranha. Ele suspirou, movendo a mão para limpar a superfície, revelando os botões e interruptores desgastados. Com um olhar rápido, analisou o painel.
— Vamos ver… Será que os geradores ainda estão ativos? — indagou ele, apertando os botões do painel.
Quando as luzes piscaram e o sistema de energia começou a roncar de volta à vida, ele ouviu um som suave, quase um riso baixo e distorcido. Ele não precisou se virar para saber que Huggy não estava mais onde ele o deixara. E, assim, a verdadeira brincadeira havia começado.
Renier se movia com calma, mas atento, seus passos ecoando pelos corredores escuros da fábrica abandonada. O cheiro de mofo e metal enferrujado enchia o ar, mas havia outra coisa que se infiltrava por baixo disso, algo que ele não conseguia ignorar. Uma mistura de morte e tristeza, uma sensação pesada que parecia se agarrar à própria estrutura do lugar. Seus olhos varreram o ambiente, cada sombra, cada esquina, como se esperando que algo se movesse subitamente.
Após o desaparecimento repentino do Huggy Wuggy, ele estava ciente de que não estava mais sozinho na fábrica. Algo estava observando, aguardando. Mas Renier, com um meio sorriso, ignorou a ameaça implícita. Para ele, a fábrica era um quebra-cabeça a ser resolvido, um mistério que ele estava ansioso para desenterrar.
Movendo-se por entre passagens estreitas e subindo pequenas escadas de metal, ele encontrou algumas baterias espalhadas, cada uma posicionada como se esperasse ser descoberta. Ele guardou as baterias no bolso, fazendo um mapa mental de onde cada uma poderia ser útil. Em pouco tempo, ele chegou a uma plataforma alta que parecia importante, uma parte central para os sistemas internos da fábrica. O painel de controle ali estava apagado, precisando de uma nova fonte de energia.
Renier ajustou o peso do dispositivo em sua mão, observando um gancho que balançava suavemente acima dele. De uma caixa semi-aberta, uma mão vermelha caiu com um som abafado. Ele a pegou, examinando-a por um momento. Era idêntica à que ele já possuía, apenas em uma cor diferente. Um sorriso formou-se em seu rosto enquanto ele a acoplava ao dispositivo. Agora ele tinha acesso a um novo nível de controle sobre a fábrica.
Ele olhou ao redor, absorvendo a atmosfera sombria que o cercava. Havia algo quase emocionante naquele lugar, um mistério assombrado que o fazia se sentir vivo. Ele continuou, mais cauteloso agora, mas sem perder o entusiasmo.
Ao virar uma esquina, ele viu um aparelho de TV antigo com uma fita cassete ao lado. A fita era marcada com uma etiqueta simples: "Relato do Funcionário #4". Ele a colocou no aparelho e pressionou "play". A fita chiou e, então, uma voz masculina começou a falar, nervosa e ansiosa.
— Eu não sei como explicar, mas há algo que se move nos corredores à noite. Eu vi… alguma coisa. Um brinquedo… Eu não sei. Mas, olha, eu não estou maluco. Tem algo aqui que não deveria estar.
A voz foi cortada abruptamente por outra mais autoritária, o gerente.
— Isso não é nada. Vamos voltar ao trabalho, ok? Sem mais distrações.
Renier sorriu ao ouvir o relato. "Algo que se move nos corredores…" Aquilo apenas reforçava o que ele já sabia. Algo estava aqui. Algo grande.
Ele avançou, a fábrica parecia estar ficando mais fria e o cheiro de tristeza agora se intensificava. Cada corredor parecia ter uma história própria, cada máquina silenciada como um sussurro de outra época. Finalmente, ele chegou a uma sala maior: a "Make a Friend". As paredes altas e as máquinas imponentes faziam com que o ambiente parecesse uma catedral dedicada a brinquedos esquecidos.
Com um pouco de esforço, ele conseguiu encontrar o painel de controle da energia. Girando os interruptores enferrujados e apertando os botões necessários, o sistema roncou e estremeceu, antes de finalmente ganhar vida. As luzes piscavam e as engrenagens começavam a se mover, sacudindo a poeira acumulada de anos de inatividade.
Renier observou enquanto as máquinas antigas começavam a trabalhar, montando um brinquedo peça por peça. O ruído mecânico preenchia o espaço com uma melodia industrial quase hipnotizante. Ele ficou ali por um momento, apenas observando. Um brinquedo completo caiu na esteira à sua frente, e ele pegou-o nas mãos. O ambiente parecia mais pesado agora, como se algo estivesse prestes a acontecer.
— Me pergunto quem foi o responsável por deixar essas fitas cassetes espalhadas, bem a fita que informava sobre a Grabpack, não me parecia ser muito relevante, — murmurou Renier. — Mas me pergunto quem em sã consciência criaria essas mãos com tanta potência para conseguir arrancar ou esmagar a cabeça de alguém.
Renier olhou para o brinquedo, um gato em suas mãos, com um leve sorriso.
— Você até que é bem fofo, talvez leve você comigo para fora da fábrica quando eu terminar de explorar esse lugar.
Renier segue até o sensor da porta, onde poderia colocar o brinquedo para ativar a porta a frente, ao tomar essa decisão, a escuridão a frente enquanto a grande porta de aço se abria um sentido de antecipação e um ar gelado a espreita pelo momento certo o aguardava, talvez Huggy Wuggy teria o encurralado?
Continua…