Chereads / Legado Cósmico: A Jornada do Guardião Negro / Chapter 58 - Capítulo 57: Interrogatório.

Chapter 58 - Capítulo 57: Interrogatório.

Os passos de Dra. Jennifer ecoavam pelo corredor frio, cada movimento marcado pela tensão crescente. Ela parou diante da porta maciça, que pulsava com energia. Camadas de proteção envolviam a entrada: runas mágicas brilhavam em tonalidades douradas, circuitos tecnológicos piscavam em padrões intrincados, e sistemas de segurança multiversais monitoravam cada partícula de movimento ao redor. Tudo isso para conter o Guardião Negro, uma entidade que parecia desafiar todas as leis da existência.

Jennifer respirou fundo, tentando manter a compostura, mas seus dedos estavam trêmulos, e seu coração parecia bater com a força de um tambor de guerra. Ela olhou para suas mãos, tentando estabilizá-las, mas a inquietação era incontrolável. Suas cobras, longas, elegantes e sempre alertas, moviam-se em seu cabelo, como se refletissem sua agitação. Seus olhos esverdeados encontraram o próprio reflexo em uma das paredes metálicas, e ela sentiu um frio na espinha.

— Respire, Jennifer... é só mais um trabalho. — murmurou para si mesma.

Uma voz ecoou pelo rádio embutido na parede ao lado, interrompendo seus pensamentos. A Administradora, com seu tom sempre calculado, mas carregado de uma leve ironia, falou:

— Dra. Jennifer, você está mais nervosa do que deveria. Ele não morde, sabe? Bem... não sem motivo. — Sua risada suave atravessou o rádio, um som que deveria acalmar, mas parecia brincar com os nervos de Jennifer.

Jennifer franziu o cenho, tentando não demonstrar fraqueza.

— Fico feliz que ache isso engraçado, Administradora. Eu estou prestes a entrar em uma sala com uma entidade que já destruiu um Primordial e uma Sombra como se fossem brinquedos quebrados. Então, com todo respeito, um pouco de nervosismo é mais do que justificável.

A Administradora sorriu do outro lado, embora Jennifer não pudesse ver.

— Ele veio sem hostilidade, Dra. Jennifer. Foi contido sem resistência. O Guardião Negro aceitou estar aqui. Isso, por si só, já diz muito sobre ele. Apenas seja você mesma, e... quem sabe, talvez ele até goste de cobras. — A última frase veio com uma ponta de humor malicioso.

Jennifer respirou fundo novamente, tentando absorver as palavras. Ainda assim, a ideia de estar cara a cara com algo tão além de sua compreensão a fazia questionar cada decisão que a levou até aquee momento. Ela sabia que o Guardião Negro não era apenas uma criatura ou uma força. Ele era um evento, um paradoxo em forma humanoide.

Com um último olhar para as runas brilhantes, ela estendeu a mão para o painel. As cobras em seu cabelo se retraíram um pouco, como se pressentissem o perigo. A porta começou a se abrir lentamente, liberando uma brisa carregada de energia crua. Jennifer sentiu o peso daquele momento, a eletricidade no ar fazendo sua pele arrepiar.

Dentro, o Guardião Negro aguardava.

✦—✵☽✧☾✵—✦

A sala era deslumbrantemente branca, um contraste perfeito para as runas douradas que brilhavam sutilmente nos pilares, emanando um calor quase imperceptível. No centro, uma mesa de metal polido refletia as luzes frias do teto, e, diante dela, sentado com uma postura desleixada, estava Renier.

Ele parecia entediado, com a cabeça apoiada nos braços, como se estivesse ali por obrigação. Seus cabelos escuros caíam sobre os olhos azuis brilhantes, que exibiam uma tranquilidade que destoava da magnitude de seu título. Dra. Jennifer parou na entrada por um momento, observando-o. Aquilo era o Guardião Negro? A entidade que, segundo registros, havia destruído Primordiais e distorcido o espaço-tempo com facilidade? Ele parecia... normal.

Jennifer franziu o cenho, tentando apagar aquele pensamento. Normal? Não. Ele era tudo, menos isso. Havia algo nele, uma presença que fazia o ar ao redor dele vibrar de forma quase imperceptível. Sua beleza, algo que seria difícil de ignorar mesmo para os mais focados, parecia um detalhe insignificante diante da confiança que ele exalava.

Reajustando os óculos, ela entrou na sala, mantendo sua postura profissional. Aproximou-se da mesa e colocou um caderno de notas sobre ela. Renier sequer levantou a cabeça.

— Boa tarde, Anomalia-013. — começou Jennifer, sua voz firme.

Renier ergueu a cabeça devagar, seus olhos azuis focando diretamente nela com um olhar afiado, porém calmo. Ele inclinou levemente a cabeça, como se analisasse cada movimento dela, antes de falar:

— Se tentar me reduzir a um número na sua tabela, doutora, vai se arrepender.

Jennifer piscou, surpresa pela reação rápida e cortante, mas tentou manter a compostura. Seu tom continuou firme, embora seus dedos traíssem seu nervosismo ao ajustarem a posição do caderno.

— Não quis desmerecê-lo, Guardião. São apenas normas da Organização dos Seres da Noite. Todas as... anomalias precisam ser classificadas.

Renier apoiou o queixo na mão, inclinando-se para frente com um sorriso de canto que carregava mais desafio do que humor.

— Eu entendo, doutora. Vocês têm suas normas. Mas não se engane... Eu não sou uma de suas "anomalias".

Jennifer sentiu um calor subir pelo rosto, algo entre irritação e desconforto. Ela cruzou os braços e rebateu, sua voz um pouco mais afiada:

— Estamos aqui para garantir o equilíbrio natural entre os seres vivos, Guardião. Impedimos que ameaças malignas fiquem vagando pelo multiverso e destruindo tudo em seu caminho. Você deveria agradecer à Organização por fazer o trabalho que você abandonou enquanto estava... sumido.

Renier riu baixo, um som suave, mas cheio de desdém, enquanto se recostava na cadeira.

— Sumido? — Ele ergueu uma sobrancelha. — Você fala como se eu tivesse tirado férias. Acredite, doutora, se eu me ausentei, foi por algo que nenhum de vocês seria capaz de entender.

Jennifer abriu a boca para responder, mas as palavras não vieram. A calma de Renier era desconcertante, e seus olhos pareciam enxergar algo além do óbvio. Ele continuou:

— Vocês são impressionantes, admito. Tecnologia, magia, energia cósmica... Uma pedra no caminho de muitos seres por aí.

Ela estreitou os olhos, sentindo a provocação na escolha da palavra.

— "Pedra no caminho", é isso que acha da Organização? Nós mantemos o equilíbrio, evitamos que o caos consuma tudo. Você, mais do que ninguém, deveria entender isso.

Renier inclinou-se para frente novamente, seus olhos encontrando os dela com uma intensidade que parecia perfurar sua fachada profissional.

— Entendo mais do que você imagina. Mas equilíbrio? — Ele riu suavemente. — Equilíbrio é relativo, doutora. Vocês acham que têm controle. Acreditam que estão segurando as rédeas do multiverso. Mas eu sou o Guardião Negro. Eu sou o equilíbrio, e também o caos que vocês tanto temem.

A tensão pairava no ar da sala branca, como uma corda esticada prestes a se romper. Dra. Jennifer inclinou-se para frente, encarando Renier com uma mistura de desafio e inquietação, sua postura rígida mascarando o nervosismo que sentia.

— Então talvez seja hora de provar que ainda merece esse título. Afinal, o que você fez nos últimos anos além de desaparecer?

Renier ergueu o olhar, um sorriso enigmático e perigosamente calmo surgindo em seus lábios. Ele inclinou-se levemente para trás, cruzando os braços em um gesto relaxado, mas cheio de autoridade.

— "Provar"? — repetiu, sua voz carregada de um tom quase divertido. — Eu não preciso provar nada para você ou para sua Organização.

Seus olhos brilharam intensamente em um tom azul profundo, como duas estrelas consumindo a escuridão. A sala pareceu mais fria, mais pesada. Mesmo as cobras nos cabelos de Jennifer recuaram, encolhendo-se diante da presença avassaladora dele.

— Eu sou o Guardião Negro — continuou Renier, sua voz agora severa. — Não há nada que você, sua Organização dos Seres da Noite ou qualquer forma de vida possa fazer para me contrariar.

Jennifer sentiu um arrepio subir por sua espinha, sua compostura vacilando por um breve instante. Mesmo assim, ela manteve a pose.

Respirou fundo, tentando dissipar a tensão e manter o foco. Pegou a caneta e começou a anotar, ainda que suas mãos tremessem levemente.

— Muito bem, Guardião. Vamos continuar com o interrogatório — disse ela, sua voz soando mais controlada do que ela realmente se sentia.

Renier sorriu, relaxando novamente na cadeira.

— Ótimo. Faça suas perguntas.

Jennifer começou, marcando algo em seu caderno.

— Você foi classificado como "Classe Calamidade" pela O.S.N., com o título de Guardião Negro. Para registro, preciso do seu nome completo e idade.

Renier respondeu de forma casual:

— Renier Kanemoto. Dezesseis anos. — Ele fez uma pausa e sorriu brincalhão. — Meu peso, no entanto, vai ficar para sua imaginação, doutora.

Jennifer estreitou os olhos, claramente irritada com o tom debochado, mas continuou.

— Dezesseis anos... — murmurou, mais para si mesma. — Uma criança com esse nível de poder e arrogância. Parece uma piada cósmica.

Renier ouviu, mas não reagiu. Apenas inclinou a cabeça, como se analisasse algo invisível. Depois, ergueu a mão levemente, chamando a atenção de Jennifer.

— Posso fazer uma pergunta? — indagou ele, com um sorriso provocador.

Jennifer suspirou, ajustando os óculos.

— Não estamos em uma escola, Guardião. Você não precisa pedir permissão para perguntar.

Renier riu baixo, mas a curiosidade era genuína em seu tom.

— Por que fui classificado como "Calamidade"? O que isso significa exatamente?

Jennifer endireitou-se na cadeira, ajustando o caderno em suas mãos. Sua voz assumiu um tom mais formal, quase didático.

— Nossa classificação avalia o nível de ameaça que uma anomalia representa para o equilíbrio do multiverso. Temos níveis como "Terrestres", para seres que poderiam destruir uma montanha ou uma cidade; "Planetárias", para aqueles que podem devastar continentes ou planetas inteiros; e assim por diante.

Renier arqueou uma sobrancelha, interessado.

— Então, "Calamidade" seria algo... além disso?

Jennifer assentiu lentamente.

— Exatamente. Seres como você, Guardião, são raros. Calamidades têm o poder de influenciar não apenas mundos, mas universos inteiros. — Ela apontou a caneta para ele. — Alguém que pode matar uma Sombra e um Demônio Primordial com facilidade e ainda carregar o título de Guardião Negro é algo que a Organização não está preparada para enfrentar.

Renier sorriu de forma ampla, quase satisfeito com a descrição. Ele olhou brevemente para a câmera no canto da sala, como se soubesse que estava sendo observado.

— Interessante. Mas, mesmo sendo essa "Calamidade", aqui estou eu, preso pela sua Organização.

Jennifer estreitou os olhos, sua expressão endurecendo.

— Você pode até ter um rosto bonito e o encanto de um garoto jovem, mas não me engana, Renier. — Sua voz ganhou um tom afiado. — Você tem um motivo para estar aqui. Alguém como você não seria capturado por acaso.

Renier manteve o sorriso, mas seus olhos brilharam com algo mais profundo, um segredo que ele ainda não estava disposto a revelar.

— Talvez, doutora. Talvez você tenha razão. — Ele inclinou-se levemente para frente, apoiando os cotovelos na mesa. — Mas isso é algo que nem mesmo você está pronta para saber.

O silêncio voltou a dominar a sala, enquanto Jennifer sentia o peso daquelas palavras ecoando em sua mente. Ela sabia que aquele "interrogatório" estava apenas começando, mas, no fundo, tinha a sensação de que não era ela quem estava no controle.

Continua…