O salão principal da Organização dos Seres da Noite era vasto e impressionante. As paredes eram adornadas com uma tela holográfica gigante, projetando em tempo real a vasta rede das raízes de Yggdrasil, um emaranhado de energia que se estendia por todo o Multiverso. A cada pulsar, os caminhos de diferentes mundos surgiam e se entrelaçavam, formando uma teia complexa de conexões, monitorada por sistemas sofisticados. Ao redor, os pesquisadores não-humanos estavam imersos em seus computadores, com aparências tão variadas quanto suas habilidades e origens, todos trabalhando incansavelmente para decifrar os segredos do universo. Para Renier, era uma visão extraordinária, algo que ele nunca havia imaginado, mesmo em sua mais profunda compreensão das forças que regiam os mundos.
No entanto, a tranquilidade do momento foi quebrada quando Dra. Jennifer, com sua postura imponente, chamou sua atenção. Ele voltou o olhar para ela, observando-a se sentar em sua mesa com a mesma graça de sempre.
- Eu vejo que está impressionado - comentou Jennifer, seus olhos, ainda expostos sem os óculos escuros, refletindo um brilho calculado. - Mas há algo que precisamos discutir.
Renier apenas observou em silêncio enquanto ela continuava.
- Muitos dos que trabalham para a Organização usam portais convencionais para viajar entre os mundos, acessados e fornecidos pela O.S.N. Acontece que, como você deve saber, ninguém além de você tem a capacidade de atravessar os mundos sem depender desses portais.
Renier sentiu uma leve tensão surgir, mas manteve sua postura calma. Não precisava de lembretes sobre seu poder. Ele sabia o quanto era diferente de todos ali. Mas antes que pudesse responder, a voz da Administradora soou por trás dele, fazendo-o virar ligeiramente a cabeça.
- Claro, sempre há exceções - disse ela com um tom tranquilo, mas cheio de significado. - Renier pode ir e vir como bem entender, sem depender dos portais da Organização.
Renier olhou para a Administradora, ciente de que ela completava a explicação que já sabia de cor.
- E qual é o ponto das duas? - perguntou ele, sua voz carregada de curiosidade.
Dra. Jennifer, sem hesitar, explicou com frieza e precisão:
- O ponto, Renier, é que você pode viajar entre os mundos sem limitações. No entanto, não sabemos para onde você vai, ou por quê. Precisamos saber onde você está indo, pois isso afeta diretamente as operações da Organização.
Renier cruzou os braços, um sorriso leve tocando seus lábios.
- Isso é uma linha tênue, Dra. Jennifer - disse ele com um tom de leve provocação. - Eu só vou para os mundos onde as Sombras, enviadas do Vazio, estão. Até que uma apareça, vou para qualquer lugar que desejar.
A Administradora acenou com a cabeça, como se já esperasse essa resposta. Ela então pegou uma xícara de café e deu um pequeno gole, observando Renier com interesse, antes de retirar algo do bolso. Dois braceletes escuros, com tecnologia de ponta, brilharam sob a luz suave do ambiente. Ela os estendeu em sua direção, sua expressão impassível.
- Coloque-os - ordenou ela.
Renier não hesitou. Colocou os braceletes em ambos os pulsos, observando como se ajustavam perfeitamente à sua pele. Ele não pôde deixar de comentar com um tom descontraído:
- Combina comigo, eu diria.
A Administradora deu uma leve risada, mas não demorou a voltar ao assunto sério.
- Os braceletes têm a funcionalidade de GPS e sistemas de localização - explicou ela, com uma confiança silenciosa. - Agora, quando você for enviado para outro mundo, a Dra. Jennifer poderá monitorar sua localização. Eles também servirão para nos rastrear caso as Sombras estejam presentes em algum lugar. Dessa forma, podemos garantir que sua missão, seja onde for, seja eficiente e precisa.
Renier tocou os braceletes levemente, sentindo a tecnologia avançada pulsar em suas mãos. Algo em seu interior, talvez sua própria energia cósmica, parecia sintonizar com o dispositivo de uma forma que não podia explicar. Ele olhou para a Administradora e Dra. Jennifer, absorvendo as implicações da nova missão que se aproximava.
No salão principal da Organização, o silêncio tenso entre Renier, Dra. Jennifer e a Administradora foi quebrado quando Jennifer retomou sua explicação, com a precisão de alguém que sempre sabia exatamente o que dizer.
- Sua primeira missão como "Agente de Mudança", ou melhor, Guardião Negro, será em um mundo de nível básico - afirmou Jennifer, seus olhos brilhantes fixos em Renier.
Renier inclinou a cabeça, intrigado.
- Um mundo de nível básico? O que isso significa?
A Administradora ergueu uma sobrancelha, visivelmente surpresa com a pergunta.
- Você, o Guardião Negro, não sabe sobre os níveis dos mundos? Interessante... Jennifer, mostre a ele.
Jennifer não demorou. Acenou com a cabeça e começou a digitar rapidamente em seu teclado holográfico. Nas enormes telas que projetavam as raízes de Yggdrasil, as imagens começaram a mudar. Agora, cenas de mundos diferentes se desenrolavam diante de Renier, como janelas para realidades paralelas. Ele viu civilizações em reinos medievais, seres mágicos voando por céus estrelados, e batalhas épicas onde magia e espadas se entrelaçavam em coreografias caóticas.
- Esses são mundos de nível básico, Renier - explicou Jennifer. - Mundos onde o desenvolvimento da civilização e da magia ainda está em um estágio inicial.
Renier observou atentamente as imagens, absorvendo as informações. Era fascinante, mas ele ainda não entendia o propósito disso.
- E o que isso tem a ver comigo? - perguntou ele, sua voz carregada de curiosidade.
A Administradora sorriu levemente, sua postura firme como sempre.
- Todos os mundos existem de forma independente, mas cada um tem algo em comum: um limite de poder que pode suportar. Pense nesses mundos como balões frágeis - ela disse, olhando diretamente para ele.
Jennifer complementou a explicação, gesticulando com as mãos enquanto falava:
- Imagine que cada mundo é um balão de festa. Cada um tem um limite para o quanto de "ar" - ou, neste caso, poder - pode ser soprado dentro dele antes de estourar.
Renier cruzou os braços, processando a metáfora. Ele finalmente perguntou:
- Então, cada mundo tem um limite para o quanto de poder pode ser usado dentro dele?
A Administradora assentiu, satisfeita com a conclusão dele.
- Exatamente. Para aqueles que nascem nesses mundos, o nível de poder já é intrínseco à realidade. A magia, as habilidades, tudo é aceito como normal pela estrutura daquele mundo. Mas você, Renier, é diferente. Você é uma anomalia, um ser de fora da realidade.
Antes que Renier pudesse responder, Jennifer interveio, sua voz ficando um pouco mais séria:
- Isso significa que, se você exercer muito poder em um desses mundos, pode literalmente romper o tecido da realidade. Quanto mais "ar" você assoprar no balão, mais rápido ele irá estourar.
Renier ficou estupefato, um silêncio incômodo pairando no ar enquanto ele processava a gravidade da informação.
- Então, o simples fato de eu usar meus poderes pode destruir um mundo? - ele perguntou, sua voz mais baixa agora, quase hesitante.
Jennifer acenou, e logo respondeu: - E é por isso que você será testado em um mundo de nível básico. Precisamos saber se você consegue conter sua energia e operar dentro dos limites sem causar... acidentes.
Renier respirou fundo, sentindo o peso da responsabilidade crescer sobre seus ombros. Ele sabia que carregar o título de Guardião Negro implicava lidar com perigos imensuráveis, mas nunca havia considerado o fato de que ele próprio poderia ser o maior deles.
- Entendido - respondeu ele finalmente, com um tom mais sério. - Só espero que esses mundos estejam prontos para mim.
O ambiente parecia pesar com a atmosfera tensa que se instalava. Dra. Jennifer observava Renier com um olhar que mesclava frustração e cautela, como alguém que precisava expor uma verdade desconfortável. Respirando fundo, ela iniciou a conversa:
- Renier, precisamos falar sobre o que aconteceu no Mundo Zero.
Ele arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços em resposta.
- O que exatamente eu fiz de errado? - questionou, direto e sério, mas com um tom de leve irritação.
Antes que Jennifer pudesse responder, a Administradora interveio, sua postura calma e palavras ponderadas.
- Pegue leve com ele, Jennifer. Ele ainda é jovem. Está aprendendo a lidar com seus poderes.
Jennifer hesitou por um momento, mas continuou, digitando no teclado holográfico. Imagens do Mundo Zero surgiram nas enormes telas do salão. Era a batalha de Renier contra a Sombra, uma luta que ele lembrava claramente.
- Olhe com atenção - disse Jennifer, tocando o holograma com uma caneta. - O que você vê aqui?
Renier observou as cenas. Ele se viu lutando contra a Sombra, sua energia cósmica azul brilhando intensamente, colidindo com a energia púrpura e corrosiva da Sombra, criando distorções grotescas na realidade.
- É a energia corrosiva dela, da Sombra - respondeu ele. - Aquela mulher do Vazio que eu matei. Mas qual é o ponto disso? Eu venci, não?
Jennifer não respondeu de imediato, apenas olhou para a Administradora, que suspirou antes de falar:
- Renier, observe os impactos dos ataques. Cada vez que sua energia cósmica colidia com o poder do Vazio dela, o próprio tecido daquele universo começava a se desgastar.
A Administradora apontou para uma cena em que uma enorme distorção espacial havia surgido, uma fenda na realidade que pulsava como uma ferida aberta.
- Isso não é uma simples distorção, Renier. É um colapso iminente - continuou ela. - Se a luta tivesse se prolongado por mais tempo, se sua forma de Dragão não tivesse surgido para finalizar a Sombra...
Jennifer interrompeu a Administradora, quebrando a caneta holográfica em sua mão com um gesto de frustração.
- ...aquele mundo teria sido completamente destruído! - afirmou ela, sua voz carregada de emoção.
Renier ficou em silêncio, observando as imagens enquanto digeria as palavras delas. Ele finalmente compreendia o que elas queriam dizer. Não era apenas uma questão de vencer ou perder. Cada golpe que ele desferia, cada uso de sua energia, colocava o próprio universo em risco.
- Então... eu quase destruí tudo? - perguntou ele, sua voz baixa, um tom de incredulidade misturado com arrependimento.
Jennifer percebeu a mudança no semblante de Renier. Embora ele tentasse manter uma expressão indiferente, ela conseguia ver a sombra de culpa que pairava sobre ele.
- Renier - disse ela, agora em um tom mais suave. - É por isso que estamos trabalhando tanto para controlar seus poderes. Não porque você seja uma ameaça ou esteja fazendo algo errado, mas porque queremos evitar que isso aconteça novamente.
A Administradora esboçou um sorriso gentil, tentando aliviar a tensão.
- É por isso que prezamos pelo equilíbrio, certo? Para garantir que nem o caos nem a destruição prevaleçam, mas sim a harmonia.
Renier respirou fundo, suas mãos se cerrando ao lado do corpo.
- Entendido. Não vou deixar que isso aconteça de novo.
Jennifer e a Administradora trocaram um olhar. Elas sabiam que Renier estava se punindo internamente, mas também reconheciam sua determinação. A responsabilidade dele como Guardião Negro era imensa, mas ele não a carregava sozinho, e elas estavam lá para ajudá-lo a manter o equilíbrio.
Continua...