No alto de um telhado desgastado pela destruição causada pelo Dia do Demônio, Renier se mantinha imóvel, sua presença irradiava um poder silencioso e imponente. Os olhos do jovem brilhavam em um tom azul etéreo, pulsando como estrelas em uma vastidão cósmica. Ele observava a figura abaixo dele: Makoto Kanemoto, seu ancestral, mas não a verdadeira. Dentro daquele corpo repousava Alaster, o Príncipe do Inferno, manipulando a Guardiã Negra de outrora como um mero fantoche.
A expressão de Alaster, transparecendo no rosto da Makoto possuída, era uma mistura de fúria e desprezo. Ele não aceitava o fato de ter sido atraído por uma armadilha arquitetada por um "pirralho" que sequer completara seu primeiro ciclo como Guardião Negro. A cidade Fronteira parecia congelada em mar infernal, cercada por um céu avermelhado que anunciava presságios sombrios. A lua vermelha brilhava atrás de Renier, conferindo-lhe uma aura mística e ameaçadora.
Makoto, ou melhor, Alastair quebrou o silêncio, zombando.
— Arrogante, não é? Um moleque recém-nomeado Guardião Negro achando que pode vencer um Príncipe do Inferno, sou um Demônio Primordial! Estou no corpo da sua ancestral, eu sei tudo sobre os Kanemoto, suas formas de combate tudo dos tão prezados Guardiãoes Negros! E você acha que vai ganhar?
Renier respondeu com um sorriso sarcástico, seus lábios desenhando um traço de escárnio.
— Depender de um corpo morto para lutar por você... Patético. Está claro que não passa de um demônio fracassado.
As palavras eram como ácido. Uma veia saltou na testa de Alaster, a provocação corroendo o pouco de paciência que ele tinha. Movendo-se com uma velocidade avassaladora, ele avançou contra Renier, liberando um golpe demoníaco devastador. A energia cortante atravessou o espaço como uma lâmina invisível, causando uma explosão que destruiu casas próximas e deixou um rastro de destruição até o muro distante da cidade.
Mas Renier já não estava lá. Ele reapareceu do outro lado, equilibrando-se em uma viga quebrada, como se estivesse brincando.
— Muito frio~ — provocou com um sorriso travesso. — Achei que você queria brincar de pega-pega.
A fúria do Príncipe do Inferno alcançou seu auge. Sua aura demoníaca cresceu como uma tempestade, cobrindo a cidade com um cheiro sufocante de enxofre e uma pressão esmagadora. O ar ao redor parecia vibrar sob o peso de sua presença, enquanto Alaster rosnou de raiva.
Antes que Renier pudesse reagir, Alaster perfurou seu peito com uma lâmina demoníaca. O som da risada sádica do Príncipe ecoou pela noite.
— Peguei você, pirralho! — Alaster declarou com triunfo.
Mas Renier apenas riu, segurando a lâmina cravada em seu peito. Lentamente, ele a puxou para fora, enquanto seu ferimento se fechava.
— Olha, você me acertou… um ponto, mas ainda não significa que vou morrer só por ter me matado, heh…— disse Renier, com um tom sorrindo.
Alaster recuou, horrorizado.
— O que você é? Você não é humano! Não é como os outros Guardiões!
Renier apenas o encarou com frieza. Em um movimento rápido, ele agarrou Alaster pelo pescoço, erguendo-o no ar como se fosse um brinquedo quebrado.
— Não há vitória e nem fuga para você — declarou. — Mas, por desonrar o nome da minha os Kanemoto ao pegar o corpo da minha avó, vou lhe mostrar algo único Alaster.
Canalizando sua energia cósmica, Renier golpeou o peito de Makoto com precisão calculada. Não para feri-la, mas para arrancar Alaster à força de seu corpo. Um grito demoníaco reverberou pela cidade enquanto Alaster era expulso, sua essência se contorcendo até tomar sua forma diferente, fraca, vulnerável, grotesca e degradada.
Makoto caiu no chão, enquanto Alaster, agora em sua aparência demoníaca, tentava recuar, apavorado.
— Que tipo de aberração você é?! Como pode fazer isso?! — ele gritou, seus olhos arregalados de pavor.
Renier apenas sorriu, frio como a noite.
— Apenas o Guardião Negro.
Em um movimento elegante e mortal, sua foice cortou o ar, separando a cabeça de Alaster de seu corpo. A cabeça rolou para longe enquanto o corpo desabava no chão.
Girando a foice para limpá-la do sangue, Renier lançou um último olhar superior para os restos do Príncipe do Inferno. Não havia necessidade de palavras. Ele era o Guardião Negro, o equilíbrio entre luz e trevas, e ninguém desafiaria essa verdade.
Renier desfazia a foice no ar com um movimento fluido, como se o simples gesto de limpar a lâmina fosse uma formalidade insignificante. Seus olhos, implacáveis e penetrantes, observavam o corpo caído de Makoto.
A imagem dela ali, submissa ao poder de Alaster, estava longe de ser uma despedida definitiva. Ele se agachou, os dedos tocando suavemente a bochecha da mulher, como se quisesse afastar qualquer vestígio de incerteza ou dor que ela pudesse ter experimentado.
— Não é hora de dormir — murmurou ele, sua voz baixa e cheia de uma calma incomum.
Embora sua avó não estivesse de fato morta, as palavras pareciam carregar mais do que apenas uma tentativa de consolo. Renier parecia querer trazer algo mais profundo à tona, algo que escapava da realidade da situação.
Makoto, confusa e ainda desnorteada pela possessão que havia dominado seu corpo, lentamente abriu os olhos, tentando compreender o que estava acontecendo ao seu redor. Seu olhar, turvo no início, foi gradualmente se clareando, até que um sorriso leve se formou em seus lábios. Ela, finalmente, reconheceu a presença do neto, e sua risada veio como um eco de algo familiar, mas não menos afiado.
— Manipulador… — ela zombou lembrando de toda a situação do confronto, sua voz um pouco falha, mas ainda cheia de vigor. — Você foi muito bom com palavras, Renier.
Renier a observou com uma leve preocupação, sem se importar com a ironia que ela trazia. Ele se inclinou um pouco mais, sua voz carregada de curiosidade.
— Ainda está viva, Makoto? — ele perguntou, como se precisasse de uma confirmação para o que já sabia, enquanto o processo da possessão ainda acontecia.
Makoto, vagamente, afirmou com um tom cansado, mas também com um fundo de sinceridade.
— Sim… eu estive… o tempo todo. — Ela pausou, como se estivesse recuperando a consciência aos poucos. — E ver a forma como você lidou com ele… foi… interessante. Não esperava sair viva disso, para ser sincera.
Renier soltou uma risada baixa, sem realmente humor, mas que não escondia o peso de uma compreensão maior.
— Não tenho interesse em governar este reino, vovó. Isso tudo foi só uma desculpa. — Sua voz se suavizou enquanto ele olhava para ela com um ar de paciência, algo que não era comum em sua personalidade tão marcada pela determinação. — Então permiti que sua alma não fosse destruída junto com Alaster, por isso… não precisava morrer aqui.
Makoto ficou um pouco constrangido com a sinceridade de Renier, o modo como ele a tratava não como uma figura mítica ou venerada, mas com uma naturalidade que ela, por mais que soubesse, ainda achava estranha. Ela balançou a cabeça com leveza, ainda tocada pela presença dele.
— Não me chame de vovó, Renier — disse ela, sorrindo com um leve rubor. — Apesar dos meus… 300 anos, eu ainda mantenho a aparência de uma garota de 16, assim como você. Me faz sentir como se estivesse velha demais para ser chamada assim.
Renier levantou e estendeu a mão para ela, um gesto simples, mas carregado de significado. Ele a ajudaria a levantar, não como o Guardião Negro, mas como o neto, o único que poderia ainda cuidar daquilo que ela representava. Ele a olhou com um sorriso suave e uma confiança inabalável.
— Vamos, sua aprendiz — disse ele com um tom que beirava a intimidade. — Todos ficarão felizes em vê-la. Não fique deitada o tempo todo. Temos um dever como o novo e a antiga Guardiã a cumprir.
Enquanto ela tomava a sua mão, um silêncio profundo os envolvia, mas uma nova conexão se formava entre os dois. Não era mais uma luta por poder ou controle, mas uma renovação de um vínculo, agora mais forte do que nunca.
Continua…