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Chapter 28 - Capítulo 27: Uma “Aura” de Motivação.

Após o jantar, o silêncio se estendeu pela cozinha, quebrado apenas pelo som do detergente e da água, enquanto Renier e Aura se encarregaram de limpar a louça. Renier estava quieto, quase imerso em seus próprios pensamentos. Aura notou isso imediatamente. O ambiente, que antes estava leve e descontraído, agora parecia mais tenso.

A frustração de Aura foi tomando conta dela. Não era normal para ele ficar tão distante, tão reservado. Ela sabia que a revelação sobre sua avó, a antiga Guardiã Negra, tinha mexido com ele, mas não esperava que ele ficasse tão indiferente. Sem saber como lidar com a situação, ela suspirou e decidiu falar.

— Desculpe, Renier… Não pensei que isso fosse te afetar tanto. Eu deveria ter te contado antes sobre a história da Guardiã Negra. Sobre sua avó. Mas… eu não sabia que ela tinha algo a ver com você, com a sua família… — Ela hesitou, tentando entender como ele poderia se sentir em relação àquele peso histórico que agora recaía sobre seus ombros.

Renier, sem levantar os olhos da louça, respondeu com calma. Sua voz, fria como sempre, cortou o silêncio com facilidade. — Você não precisa se desculpar, Aura. Já se passaram tantos anos… Eu nunca conheci minha avó, então não faz diferença. Não me importa. — Ele terminou de enxugar um prato, colocando-o na prateleira com a mesma indiferença com que falava.

Aura, no entanto, não se contentou com a resposta dele. Algo na forma como ele tratava o assunto a deixou desconfortável. Era como se ele estivesse se desconectando não apenas de sua herança, mas também de tudo o que a conectava ao seu próprio passado, a um legado que deveria ser importante. Ela não podia entender como ele poderia ser tão… frio, tão indiferente.

Ela não conteve mais a frustração e perguntou, quase com impaciência. — Então você prefere ignorar que existe um legado deixado nesse mundo por alguém da sua família? Que há algo, alguém, que tem uma conexão com você? E você realmente acha que isso não é importante?

Renier parou por um instante, sentindo a intensidade das palavras dela. Ele se virou para olhar para ela, e, nesse momento, seu olhar foi como uma tempestade de azul. Seus Olhos das Revelações brilharam com uma intensidade fria, como se a resposta que ele estava prestes a dar fosse definitiva.

— A única família que eu tive já se foi. — Sua voz saiu baixa, mas cheia de peso. — E o legado que o título de 'Guardião Negro' carrega… é a morte. Todos que vieram antes de mim, todos da minha linhagem, desapareceram, indo para outros mundos ou tendo seus destinos traçados pela morte. Esse é o legado da família Kanemoto. — Ele respirou fundo, seu olhar ficando ainda mais distante. — Se esse é o legado que eu herdei, então não faz sentido para mim continuar nele. Eu não sou parte disso. Eu não sou parte de nenhum clã, de nenhum sangue… eu vou fazer o meu próprio caminho. Eu não sigo os passos de ninguém. Não da minha família, não dos demônios como você ou da Shuten Douji. Eu sou apenas… eu.

Aura ficou em silêncio, o impacto das palavras de Renier atingindo-a como uma lâmina afiada. O brilho nos olhos dele a fez entender que ele não estava simplesmente rejeitando o legado de sua família; ele estava rejeitando a dor que o acompanhava, a dor que vinha com a perda, a dor de ser alguém que sempre carregou o peso de um destino já traçado. Ela não sabia o que dizer, então se limitou a olhar para ele, percebendo que havia algo muito mais profundo escondido por trás da frieza que ele exibia.

Renier, por sua vez, continuou com sua tarefa, sem olhar para ela, mas o silêncio agora parecia mais pesado, mais denso. Ele não se importava em deixar claro que sua família não tinha mais influência sobre ele. Mas, no fundo, havia um vazio que ele nunca poderia preencher, e talvez esse fosse o maior preço de carregar o título de Guardião Negro.

Aura chamou por Renier com uma suavidade inesperada, sua voz quase como um sussurro enquanto se aproximava dele por trás. Antes que ele pudesse reagir, ela o envolveu em um abraço, seus braços firmes ao redor dele, como se tentasse compartilhar um pouco da energia que ele parecia tão determinado a manter guardada. Renier ficou tenso no início, mas não afastou o abraço, embora não dissesse nada. Isso era algo diferente vindo de Aura, algo que ele não esperava.

Ela falou com firmeza, mas também com uma fragilidade perceptível. — Eu entendo, Renier… Essa solidão de seguir sozinho. Eu sei bem o que é. Você… como Guardião Negro, você tem seu próprio peso, não é? Eu… também tenho o meu.

Aura deu uma pausa, e Renier, ainda imerso em seus próprios pensamentos, virou-se para ela. Seus olhos se encontraram, e ela não hesitou, continuando com a mesma firmeza. — Eu sou filha da Shuten Douji, uma das três filhas dela. Uma grande expectativa recai sobre mim, sobre o que devo ser. E muitas dessas expectativas... eu escolhi rejeitar. Escolhi o meu próprio caminho, assim como você fez.

Renier a olhou por um momento, a expressão ainda mais séria. Mas, antes que pudesse responder, algo extraordinário aconteceu.

O corpo de Aura começou a mudar diante dele, como se um novo poder estivesse despertando dentro dela. Seus cabelos, antes escuros, começaram a clarear, mudando para um branco puro, até a ponta dos seus pés, que estavam amarrados por um laço. O seu corpo se expandiu de maneira impressionante, sua forma ficando mais imponente e definida. A armadura que ela usava se transformou em um kimono escuro, mais grandioso e cheio de detalhes, e dois pares de chifres surgiram de sua cabeça, curvando-se de maneira ameaçadora. Seus olhos, agora vermelhos como sangue, brilharam intensamente.

Renier se afastou um passo, surpreso não só pela transformação estética, mas pela onda de energia demoníaca que ele sentiu invadir o espaço ao redor dela. Ele nunca tinha sentido algo assim tão de perto, e aquilo fez com que sua expressão se tornasse admiração.

Aura, com uma voz que carregava uma força inegável, falou, como se estivesse revelando um segredo de sua linhagem. — Essa é a expectativa da filha de Shuten Douji. Uma oni com grande poder. Um poder que muitos esperam que eu use, e um poder que, por vezes, eu gostaria de não ter que carregar.

Ela deu um passo à frente, seus olhos fixos nos de Renier. — Mas, assim como você, eu escolhi meu próprio caminho. Eu não vou simplesmente seguir o que minha família ou meu legado esperam de mim.

Ela então tocou o peito de Renier, com os olhos fixos nos dele, um toque firme, quase como uma marca de possessão, e disse: — Você agora é o Guardião Negro. Eu sei que, apesar de ser quem você é, ainda carrega dentro de si a vontade de muitos. As pessoas querem que você mude o que está predestinado. E se você não for capaz de mudar, então ninguém mais terá esse poder. O futuro de muitos está nas suas mãos, Renier.

Com essas palavras, a transformação de Aura começou a desaparecer. Seu corpo voltou ao normal, os chifres se retraindo, o kimono se suavizando, e seu cabelo escurecendo novamente. Ela deu um sorriso suave, quase como se fosse um desafio silencioso. Renier permaneceu em silêncio, os olhos fixos nela enquanto ele processava o peso das palavras dela.

Mas ele não pôde evitar. A provocação era algo que ele não conseguia conter, e um sorriso malicioso apareceu em seus lábios. — Acho que prefiro a sua outra aparência. Muito mais… sensual.

Aura o olhou com uma expressão irritada, e antes que ele pudesse se afastar ou sorrir mais, ela o acertou com um golpe direto no estômago, fazendo-o se curvar com a dor repentina. — Você é um idiota, Renier! — ela resmungou, a voz embargada pela raiva, mas também com uma risadinha escondida. — Eu estava te motivando, e isso é o que vem na sua cabeça?

Renier se agachou, rindo baixo enquanto segurava a barriga, sentindo a dor da pancada. Aura olhou para ele, e seu rosto suavizou um pouco, mas ela ainda estava visivelmente irritada. Ela então soltou uma risada leve, a raiva derretendo um pouco ao vê-lo tão vulnerável. — Você é um idiota, mas ainda assim, acho que gosto disso em você.

Renier, rindo entre a dor, ergueu a cabeça e a olhou com um sorriso provocante. — É, eu sou mesmo. Mas, se você queria me motivar, parece que funcionou.

Aura revirou os olhos, mas o sorriso estava lá, tímido, à espreita. A tensão entre os dois parecia ter diminuído, mas agora havia algo diferente no ar, uma espécie de entendimento compartilhado, embora ainda sob a superfície de provocações e risadas.

Continua…