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Chapter 34 - Capítulo 33: O Dia do Demônio.

O silêncio da noite pairava pesado, quebrado apenas pelo som ocasional do vento batendo contra as janelas. Anastasia dormia profundamente, o corpo cansado após mais um dia de rotina intensa. Porém, algo a despertou. Seus olhos abriram-se subitamente, e antes que pudesse reagir ou fazer qualquer som, uma mão abafou sua boca.

Ela se debateu por um momento, até que um brilho vermelho familiar surgiu na escuridão. Era Aura. Seu olhar severo e os dedos próximos aos lábios indicavam claramente: silêncio.

Anastasia respirou fundo, tentando acalmar o coração acelerado pelo susto. Aura, percebendo que ela havia entendido, retirou a mão de sua boca e sussurrou:

— Não faça barulho. Precisamos agir rápido. Pegue Malo e Anny e levem-se para o lugar mais seguro da casa.

Ainda atordoada e confusa, Anastasia sussurrou de volta:

— O que está acontecendo? Onde está Renier?

Ela se virou instintivamente para o lado da cama onde Renier deveria estar, mas encontrou apenas o espaço vazio. A ausência dele a fez sentir um calafrio que percorreu sua espinha.

— Ele tem trabalho a fazer — respondeu Aura, em um tom sério e baixo. — Como Guardião Negro, ele está lidando com algo... maior do que imaginávamos.

A tensão no ar era palpável, e Anastasia, mesmo sem compreender completamente a situação, percebeu a urgência nos olhos de Aura. Sua atenção foi desviada para a janela quando um brilho avermelhado chamou sua atenção. O horizonte da Floresta Perdida estava iluminado por uma luz escarlate, como se o próprio fogo consumisse o coração da floresta.

— O que... o que ele está fazendo? — sussurrou Anastasia, com a voz trêmula.

— O que deve ser feito — respondeu Aura, firme. — Ele me instruiu a levar você, Malo e Anny para a Guilda dos Exploradores. Kirara está esperando por vocês lá.

Antes que pudesse protestar, o som de gritos ecoou ao longe, vindos da direção do forte. Eram soldados, suas vozes alarmadas e urgentes se misturando com o som de sinos que começavam a soar. A cidade estava em alerta máximo. Anastasia se levantou rapidamente, o coração disparado, sentindo o medo começar a tomar conta de seu corpo.

— Isso... isso é o Dia do Demônio? — perguntou ela, com a voz tremendo, olhando para Aura em busca de respostas.

Aura apertou os punhos, seu semblante duro, mas seus olhos revelavam preocupação.

— Não sei, mas precisamos agir como se fosse.

Com passos rápidos e silenciosos, elas foram até o quarto de Malo e Anny. Malo, mesmo meio sonolenta, despertou rapidamente ao sentir a urgência na voz de Aura. Anny, com os olhos arregalados, segurou firme na mão de sua mãe, enquanto Malo ja estava em alerta com suas garras afiadas, pronta para proteger a todos.

Aura guiou o pequeno grupo para fora da casa, evitando as áreas mais expostas. O caos começava a se espalhar pela Cidade Fronteira, com soldados correndo pelas ruas e as ordens de comando ecoando acima dos sons de pânico.

Anastasia olhou para trás, na direção da floresta, sentindo uma mistura de impotência e preocupação. Aquele brilho vermelho parecia pulsar como um coração maligno, cada vez mais forte. Seu pensamento estava apenas em Renier e na perigosa tarefa que ele havia assumido sozinho.

Aura, percebendo a hesitação de Anastasia, tocou seu ombro.

— Ele vai voltar. Sempre volta. Mas agora, você precisa confiar nele.

Com um aceno hesitante, Anastasia continuou seguindo. O destino era a Guilda dos Exploradores, onde Kirara as esperava, mas o peso da ansiedade era esmagador. O que quer que estivesse acontecendo naquela noite, não era algo que Renier ou qualquer outro poderia ignorar.

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A Guilda estava em um caos controlado, com crianças e mulheres sendo levadas rapidamente ao subsolo. O som de monstros ecoava pelas ruas, acompanhado pelo estrondo das armas e gritos dos soldados que faziam o possível para conter a horda. Anastasia, ofegante, observava os arredores da sala principal enquanto segurava Anny perto de si. Malo, apesar de visivelmente cansada, mantinha a postura de proteção, enquanto Aura se aproximava de Kirara.

— Onde está Renier? — perguntou Kirara, sua voz firme cortando o tumulto. — Ele é essencial agora, mais do que nunca.

Aura lançou um olhar sombrio, hesitando por um momento antes de responder:

— Ele está... fazendo o que deve ser feito. Não posso dizer mais do que isso.

Essa resposta trouxe mais dúvidas do que alívio. Kirara franziu o cenho, claramente insatisfeita, mas decidiu não pressionar por enquanto. Anastasia, por outro lado, não conseguiu conter sua inquietação.

— O Dia do Demônio era daqui a três dias! — disse ela, aflita. — Por que isso está acontecendo agora?

Malo também demonstrava preocupação, seus olhos fixos em Aura.

— Ele está seguro? — perguntou ela, sua voz baixa, mas carregada de ansiedade. — Fazendo isso sozinho?

Kirara ergueu a mão, pedindo silêncio. Respirou fundo antes de responder, sua voz carregada de autoridade:

— Renier sabe o que está fazendo. Ele é o Guardião Negro. Se há alguém que pode lidar com isso, é ele.

Selena, a nekomata, suspirou.

— Mas ele não está aqui — disse ela, com um tom amargo. — E sem ele, estamos perdidos nya~.

A atmosfera na Guilda tornou-se pesada, como se a própria esperança estivesse se esvaindo. O ar parecia mudar, tornando-se denso, impregnado por um cheiro de enxofre. Anastasia estremeceu ao sentir um calafrio correr por sua espinha, um presságio de algo profano e poderoso.

Foi então que uma risada cortou o ar como uma lâmina, ecoando do lado de fora da Guilda. Uma voz feminina, carregada de sarcasmo e malícia, atravessou as paredes de carvalho.

— Vocês dependem tanto de uma criança... Um Guardião que ainda nem entende seu próprio poder. Patético.

Aura e Kirara se colocaram em posição defensiva, suas mãos firmes no cabo das espadas. Anastasia mal conseguiu se mover, o peso da aura demoníaca que envolvia o lugar parecia paralisá-la.

— Quem é você?! — gritou Kirara, sua voz firme, mas com um traço de hesitação.

O aço dos pinos que seguravam as portas principais começou a derreter, o som do metal sendo consumido por algo quente e corrosivo reverberou pelo salão. Em seguida, a porta explodiu com uma força avassaladora, fragmentos de madeira voando em todas as direções. Aura, Malo e Kirara reagiram imediatamente, colocando-se como escudos na frente de Anastasia.

A fumaça vermelha invadiu o espaço, o cheiro de enxofre se intensificando, enquanto dois olhos demoníacos brilhavam na escuridão. Quando a poeira começou a baixar, uma figura feminina emergiu. Seu kimono escuro contrastava com sua presença quase teatral. Os longos cabelos lisos balançavam levemente, enquanto sua mão repousava com elegância sobre o cabo de uma katana.

— Há quanto tempo, Kirara... — disse a mulher, com um sorriso suave e perigoso, seus olhos fixos na chefe da Guilda.

Kirara congelou. Sua mão tremia sobre a espada, enquanto seus olhos se arregalavam em incredulidade. Não era possível. Essa mulher, aquela voz... não deveria estar viva.

— Ma... Makoto? — sussurrou Kirara, a voz carregada de emoção.

Aura e Malo se entreolharam rapidamente, confusas, mas mantiveram-se firmes em suas posições. Anastasia, ainda atrás delas, sentiu a gravidade da situação aumentar. A mulher diante delas era algo além do entendimento mortal, um ser cuja presença trazia à tona um turbilhão de sentimentos e memórias na chefe da Guilda.

A figura inclinou levemente a cabeça, com um sorriso enigmático.

— Surpresa, Kirara? Pensei que me reconheceria de imediato. Afinal, fui sua mestra... mas vejo que o tempo enfraqueceu sua coragem.

Kirara deu um passo para trás, sua mente dividida entre a incredulidade e a necessidade de proteger aqueles ao seu redor.

— Não... você morreu... há trezentos anos.

Makoto deu uma risada baixa, sua voz ecoando pelo salão como uma melodia sinistra.

— Oh, minha querida. Há coisas piores do que a morte... e eu voltei para testemunhar se meu legado ainda está de pé... ou se foi desperdiçado.

O silêncio que se seguiu foi interrompido apenas pelo som distante das batalhas lá fora, enquanto todos na Guilda tentavam processar o que estavam vendo. A antiga Guardiã, a fundadora do Reino Aurélia, estava ali. Mas o que sua presença significava? E o que ela queria com Renier e com a cidade?

Continua…