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Chapter 31 - Capítulo 30: A Guilda dos Exploradores - Encontro com o Passado.

A manhã estava nublada, mas a cidade fervilhava com sua rotina agitada. Renier e Aura seguiam pela calçada, um ao lado do outro. A atmosfera pesada da Cidade Fronteira contrastava com a leveza da conversa entre os dois.

— Por que a Malo não veio com a gente? — perguntou Aura, seus olhos brincando com a curiosidade.

Renier manteve o olhar à frente, observando as pessoas nas tendas e os soldados em patrulha.

— Eu posso senti-la, mesmo à distância. Achei melhor ela ficar com a Anny e a Anastasia, só por precaução.

Aura assentiu, mas não deixou passar a chance de provocá-lo.

— Você se apegou àquela família, hein? Foi por causa da noite com a Anastasia, ou é porque você realmente gostou dela?

Renier deu de ombros, um pequeno sorriso surgindo em seus lábios.

— Eu gosto de qualquer forma de vida. Mas... quero vê-las felizes.

Aura riu, batendo de leve o ombro no dele.

— Você tem o dom de arrasar corações, Renier. Um verdadeiro mulherengo, não é?

Renier apenas riu, aceitando a provocação sem tentar se defender. Enquanto caminhavam, os sons da cidade preenchiam o espaço ao redor. Porém, havia algo diferente naquela manhã — um clima de tensão entre as pessoas.

— Parece que o povo está mais tenso do que o normal, não acha? — comentou Aura, observando as expressões preocupadas ao redor.

— Provavelmente estão sentindo que o infame Dia do Demônio está próximo — respondeu Renier, com um tom sério.

Ambos pararam diante de um edifício imponente no centro da rua principal. O símbolo de um escudo com uma espada cravada era inconfundível.

— Deve ser aqui — disse Renier.

Enquanto se aproximavam para entrar, foram surpreendidos. Um homem foi arremessado pela porta, caindo com estrondo em um monte de lixo próximo. Renier puxou Aura para o lado instintivamente, evitando serem atingidos.

— O que foi isso? — Aura arregalou os olhos, confusa com o que acabara de presenciar.

Antes que Renier pudesse responder, uma figura apareceu na porta. Era uma nekomata, sua aparência exótica chamando atenção. Duas caudas balançavam freneticamente enquanto ela, com um olhar afiado e as garras à mostra, se aproximava do homem caído. Seu uniforme de empregada verde-claro parecia destoar da cena.

— Nya~! Já falei para não voltar aqui! As empregadas deste estabelecimento não estão disponíveis para assédio ou cortejos indesejados! — ela exclamou, com uma mistura de autoridade e animação em sua voz.

Renier ficou parado, surpreso, enquanto observava a cena. Aura cruzou os braços, intrigada.

— Bem... isso foi inesperado.

A nekomata voltou sua atenção para eles, ajeitando-se e fingindo que nada havia acontecido.

— E vocês dois? Estão aqui para apreciar nossas bebidas ou para se filiarem à guilda, nya~?

Aura deu um passo à frente, apresentando-se.

— Sou Aura Douji.

Renier pensou por um instante antes de responder, sabendo que talvez fosse a hora de testar seu título.

— Renier Kanemoto. O Guardião Negro.

Assim que as palavras saíram de sua boca, os olhos da nekomata se arregalaram, e suas orelhas felpudas se ergueram como se tivessem captado um raio. Sem hesitar, ela agarrou Renier e Aura pelos braços.

— Venham comigo. Agora. — Sua voz era firme, sem deixar espaço para questionamentos.

Os dois trocaram olhares rápidos, confusos, enquanto eram arrastados para dentro da guilda. O lugar era amplo, com um bar movimentado, mesas cheias e um quadro de missões que mal puderam observar. Antes que pudessem absorver o ambiente, a nekomata os puxava para o segundo andar com uma agilidade felina.

— Alguma ideia do que está acontecendo? — murmurou Aura para Renier enquanto subiam as escadas.

— Nenhuma... mas acho que vamos descobrir em breve — respondeu ele, tentando manter a calma enquanto a curiosidade e a desconfiança cresciam em seu peito.

Selena bateu na porta de madeira maciça com energia, os nós dos dedos ecoando pelo corredor do segundo andar. Sua excitação era palpável, a cauda dupla balançando de forma frenética.

Renier, observando a placa acima da porta com os dizeres "Chefe da Guilda", permaneceu calmo, embora seus olhos revelassem um misto de curiosidade e cautela. Aura, ao seu lado, parecia intrigada, mas também mantinha a postura alerta.

De dentro do cômodo, uma voz feminina, autoritária e levemente irritada, atravessou a porta:

— Selena, pare de fazer escândalo e entre logo.

Sem cerimônias, a nekomata abriu a porta, revelando o interior rústico do escritório. Livros e papéis espalhados por uma escrivaninha robusta, estantes cheias de mapas e um brasão da Guilda enfeitavam o espaço. No entanto, o contraste mais notável estava na figura que dominava o ambiente.

Uma mulher de cabelos longos e volumosos, vermelhos como sangue, repousava de forma desleixada atrás da mesa. Suas pernas estavam cruzadas sobre a superfície da escrivaninha, revelando um kimono estilizado que, embora inspirado em trajes tradicionais, acentuava cada curva de seu corpo bem definido. Seus olhos carmesins brilharam com uma intensidade feroz ao se voltarem para os visitantes.

— Selena, quem são esses dois? — perguntou, sua voz gotejando desinteresse. — Espero que sejam importantes o suficiente para interromper minha paz.

Selena, ignorando o tom frio, aproximou-se com entusiasmo, puxando Renier para frente como se fosse um troféu.

— Este aqui é Renier Kanemoto, o Guardião Negro! — anunciou triunfante. — E, Mestre Kirara, ele é o neto da Makoto!

A reação foi instantânea. Os olhos carmesins da vampira se estreitaram em incredulidade, e ela se levantou abruptamente, batendo as mãos na mesa.

— Você está dizendo que é neto da Makoto Kanemoto? — perguntou, a descrença evidente em sua voz. — Se estiver mentindo sobre ser o Guardião Negro, garoto, eu mesma rasgo sua garganta.

Renier manteve-se firme, seus olhos assumindo o brilho etéreo dos Olhos das Revelações.

— Não tenho razões para mentir — respondeu com seriedade. — Sou Renier Kanemoto, sucessor do título de Guardião Negro, neto de Makoto Kanemoto e aquele que herdou os Olhos das Revelações, o último descendente da família Kanemoto.

O impacto de suas palavras reverberou pela sala. Kirara pareceu congelar, encarando-o com uma mistura de choque e emoção. Selena, por sua vez, balançava as caudas freneticamente, como se absorvesse o momento. Antes que Renier pudesse reagir, a mulher o puxou para um abraço esmagador. Sua força sobrenatural deixou-o momentaneamente sem ar, mas o gesto não era agressivo. Pelo contrário, através de seus olhos, Renier captou a onda de nostalgia e saudade que emanava dela.

— Você… Então ela estava certa… — murmurou Kirara, sua voz tremendo. — É a única conexão que restou entre mim e Makoto. Ela disse que um novo Guardião iria surgir quando ela caísse… — disse ela, emotiva quase como uma profecia se realizando ao tocar em Renier.

Selena, percebendo a surpresa de Renier, apressou-se a esclarecer.

— Renier, esta é Kirara, a Mestre da Guilda. Ela é uma vampira e foi a última pupila da sua avó. Kirara foi a única a testemunhar a última batalha de Makoto contra o Alaster… e seu sacrifício ao selá-lo.

Renier permaneceu em silêncio por um momento, absorvendo as informações. Kirara finalmente afrouxou o abraço, recuando apenas o suficiente para encará-lo diretamente. Sua expressão, antes fria e distante, agora estava carregada de emoção.

— Makoto foi mais do que minha mestra — disse Kirara, a voz tingida de melancolia. — Ela foi minha mentora, minha inspiração… e minha salvação. Perdê-la foi como perder uma parte de mim. E agora, você aparece, como ela prometeu que apareceria.

Renier sentiu o peso dessas palavras. Embora nunca tivesse conhecido sua avó, através dos Olhos das Revelações, ele podia sentir a profundidade da conexão que Kirara tinha com ela. Isso não era apenas um reencontro; era uma ponte entre o passado e o presente.

Com um sorriso contido, Renier estendeu a mão para Kirara.

— Parece que o legado de minha avó nos conectou de uma forma inesperada, hehe… — afirmou ele sem jeito.

Kirara aceitou o gesto, seu aperto firme e determinado.

— Se você é mesmo o herdeiro de Makoto, então carrega um peso enorme em seus ombros, garoto. Espero que esteja à altura.

Renier sorriu levemente, o brilho de seus olhos se intensificando.

— Acredite, eu já estou carregando mais peso do que poderia imaginar, mas dou conta, afinal sou o Guardião Negro.

Kirara viu um leve vislumbre da imagem de sua mestre na aparência de Renier. — Heh, os Kanemoto de fato são iguais… acho que vou começar a gostar de você, Renier — disse ela, colocando a mão na cintura com um sorriso que aparecia suas presas como marca de sua natureza como vampira.

O silêncio que se seguiu foi carregado de respeito mútuo. Aura, que havia permanecido em silêncio até então, finalmente sorriu, sentindo que algo importante havia acabado de começar.

Continua…