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Chapter 29 - Capítulo 28: Um Calor Familiar.

Na casa, após um longo dia, Anastasia pediu a Renier que verificasse se Anny estava dormindo. Ele subiu ao segundo andar, e ao chegar na porta do quarto da menina, sorriu ao ver a cena diante dele. Anny estava profundamente adormecida, enroscada na cauda felpuda da Malo, que também dormia abraçada a ela na cama. Para um Wendigo, Renier pensou que aquilo era uma mudança drástica de postura, mas não ruim.

Descendo as escadas, ele encontrou Anastasia na sala e comentou com um sorriso:

— Parece que as crianças já estão nos reinos dos sonhos.

Anastasia também riu, enquanto Aura saía da cozinha com um olhar sério, mas cansado.

— Tem um quarto de hóspedes? — ela perguntou, os olhos voltando-se para Anastasia.

Renier percebeu que Aura não havia descansado um minuto desde que a encontrara na Floresta Perdida. Anastasia, gentil como sempre, respondeu:

— Suba as escadas. O quarto ao lado do da Anny está vazio, pode se ajeitar por lá.

Aura fez um leve aceno, mas antes de subir, voltou-se para Renier.

— Você não se sente cansado? — perguntou com genuína curiosidade.

Renier pensou por um momento antes de responder calmamente:

— Não. Sono não é algo que me afeta.

Claro, ele omitiu a verdade. Como filho da Yggdrasil, necessidades mortais como dormir, comer ou beber eram desnecessárias. No entanto, ele fazia todas essas coisas por hábito ou para evitar levantar suspeitas. Não era algo que ele pretendia revelar tão cedo.

— Vou descansar um pouco, então. Qualquer coisa, me acorde — disse Aura, desaparecendo escada acima. A porta do quarto se fechou, deixando Renier e Anastasia sozinhos na sala, em um silêncio pontuado apenas pelo som de xícaras de chá sendo postas sobre a mesa.

Anastasia o observava atentamente e, após um breve momento, comentou com um tom suave:

— Mesmo sem te ver completamente, sinto que você está tenso. É por terem revelado sua identidade como Guardião Negro?

Renier suspirou, sua expressão um misto de cansaço e frustração.

— Em parte, sim. Não gosto de ser o centro das atenções.

Havia algo mais, no entanto, algo mais profundo que o incomodava. Ele hesitou, mas então continuou:

— Mas não é só isso. O que realmente me perturba é o último resquício que tenho da minha família: meu avô. Ele nunca me falou sobre o legado que carrego ou me preparou para ser um Guardião, como minha avó ou outros antecessores. Na verdade, ele mal mencionava minha avó, exceto para dizer que ela havia... desaparecido.

Ele fez uma pausa, o olhar perdido em algum ponto da mesa.

— É frustrante. Passei minha vida no escuro sobre quem eu sou, e agora chego a um lugar onde finalmente ouço histórias sobre minha família, sobre como minha avó morreu para selar um demônio. E o que me dizem? Que é meu dever terminar o que ela começou. Como se eu já soubesse o que fazer.

Anastasia o ouviu em silêncio, seu rosto expressando compreensão. Depois de um momento, ela estendeu a mão na direção dele, buscando tocar a dele em um gesto de conforto. Renier percebeu e segurou a mão dela, o que fez Anastasia sorrir diante de sua gentileza.

— Eu entendo esse sentimento — ela disse, com uma voz calma. — Perder alguém que você ama e carregar esse peso de expectativas... é sufocante. Mas quero te dizer algo que aprendi sendo mãe: não se prenda demais àqueles que se foram. Lute por aqueles que ainda estão aqui.

Renier ficou em silêncio, refletindo sobre suas palavras. Anastasia, com um pequeno sorriso, continuou:

— Esses ensinamentos, você sabia? Eram da sua avó. A Rainha Makoto. Ela dizia isso para a antiga Rainha deste Reino.

O olhar de Renier voltou para ela, intrigado.

— Como você sabe disso?

— Porque ela era sábia. Assim como você é agora. E, honestamente, Renier Kanemoto... você não precisa seguir o caminho de ninguém. Por que não faz isso do seu jeito? Como sua avó fez do dela?

As palavras de Anastasia ficaram ecoando na mente de Renier. Talvez ela estivesse certa. Talvez fosse hora de parar de se afundar nas sombras de um passado que ele nunca conheceu e, em vez disso, começar a escrever sua própria história.

Renier abriu um pequeno sorriso, mais para si mesmo do que para Anastasia, e tomou outro gole do chá.

— Talvez você esteja certa — ele respondeu, suavemente.

Anastasia apenas sorriu, satisfeita por, ao menos por um momento, aliviar a tensão que ele carregava.

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Renier ajeitou-se no sofá, relaxando ao lado de Anastasia. O ambiente era simples, mas carregava um calor reconfortante que ele raramente experimentava em suas jornadas. Apesar de estar longe do seu mundo, aquele momento parecia familiar de uma forma quase nostálgica. Ele olhou em volta, observando os pequenos detalhes da casa.

— Esse tipo de calor..., — começou ele, quebrando o silêncio. — Faz-me lembrar do que perdi ao sair do meu mundo.

Anastasia, sentindo a sinceridade em sua voz, inclinou a cabeça ligeiramente, curiosa. — O que quer dizer com isso, Renier?

Ele deu um leve sorriso, melancólico, mas cheio de esperança. — Os laços que fiz no meu mundo... Eu gosto de pensar que ainda estão lá, mesmo sem mim. Pelo menos... espero que sim.

Aquelas palavras ficaram no ar, carregadas de saudade e significado. Sem hesitar, Anastasia estendeu a mão, localizando o rosto de Renier com seus dedos delicados. Seus movimentos eram cuidadosos, quase reverentes, enquanto ela tocava sua bochecha.

— Você tem o espírito de um guerreiro, — disse ela com suavidade. — Mas ao mesmo tempo, carrega a alma de alguém jovem e... vulnerável.

Renier ficou visivelmente desconfortável, não com o toque, mas com as palavras dela. Ele desviou o olhar, mas não recuou.

— E então, — ela continuou, com um sorriso provocativo. — Quantos anos você tem mesmo, Renier?

Ele suspirou, mas respondeu calmamente. — Dezesseis. Pelo menos no momento.

Anastasia soltou uma risada leve, quase musical. — Bem jovem para alguém que carrega tanta sabedoria e peso, não acha? Me diga... você tem algo contra mulheres com uma idade um pouco mais... avançada? Ainda mais uma mulher com uma filha?

Renier percebeu onde aquela conversa estava indo, mas manteve-se atento. Ele analisou rapidamente. Pelo tom dela, Anastasia parecia ter entre 24 e 25 anos. Talvez, como nos tempos medievais da Terra, mulheres como ela fossem vistas de forma diferente após perderem o marido.

— Você quer saber se isso importa para mim? — Renier perguntou, erguendo uma sobrancelha.

Ela não respondeu de imediato, mas continuou, um pouco hesitante. — Sim. Eu sou viúva, com uma filha pequena e... não consigo enxergar. Homens no meu mundo não olham para mim da mesma forma. Eu... sou invisível para eles.

Renier observou seu rosto por um momento. — Isso não me importa nem um pouco. Na verdade, eu acho você... extremamente atraente.

As palavras dele atingiram Anastasia como uma onda inesperada. Ela ficou estática por um momento antes de um rubor surgir intensamente. Era raro ouvir algo assim, especialmente de alguém tão jovem.

— Você está me lisonjeando… — murmurou ela, escondendo um sorriso tímido.

— E por que não faria isso? — Renier respondeu com uma risada suave. — Você fica fofa com essa expressão.

Anastasia mordeu o lábio, hesitante, mas sua curiosidade a venceu. — Então... como você me vê, Renier? Como alguém que você cuidaria? Como cuida da Aura... ou da Malo?

Ele ergueu uma sobrancelha, curioso com a pergunta. Mas antes que ela pudesse continuar, Renier moveu-se, segurando suavemente o rosto dela com ambas as mãos.

— Eu cuido delas de formas diferentes, — ele começou, sua voz baixa e intensa. — Porque cada uma delas é única... como você é.

Antes que ela pudesse reagir, Renier inclinou-se e a beijou. Foi um beijo apaixonado, profundo e cheio de emoção. Anastasia ficou imóvel, sentindo o calor e os sentimentos por trás do gesto. Seu coração batia rápido, e ela se sentiu, pela primeira vez em anos, desejada de verdade.

Quando Renier finalmente afastou os lábios, ele olhou diretamente para ela, sua voz agora um sussurro:

— Para mim, você é perfeita do jeito que é. Eu cuidaria de você sem hesitar. E... eu vejo você como alguém muito mais do que pensa ser.

Anastasia ficou sem palavras. As barreiras que ela havia construído ao redor de seu coração pareciam começar a desmoronar.

Renier sorriu suavemente, observando-a enquanto ela tentava processar suas palavras e ações. — E aí? — ele brincou. — O que acha disso?

Anastasia apenas sorriu, sem conseguir esconder o leve rubor em suas bochechas, acho que havia a atingindo de uma forma que nem palavras ela conseguia formar para tentar rebater essa provocação de Renier…

Continua…