Desespero.
Caroline Almeida
Acho que este foi um dos melhores momentos que tive com o Bryan! Claro que já tivemos muitos, mas sempre há um que supera, certo? E este superou. Não haveria ninguém melhor com quem eu poderia perder a minha virgindade. Com ele, é diferente; sinto que posso ser quem eu quiser quando estou ao seu lado. Eu o amo!
Ontem e hoje foram os melhores dias. Sinto-me tão feliz! Não tenho apenas um amigo em Bryan; agora ele me completa por inteiro, e eu amo isso! Porém, como tudo tem seu quase fim, eu precisava subir para casa e ele tinha que trabalhar... Nos despedimos da melhor forma possível e então me aproximei da porta da minha casa.
Segurei no trinco da porta e respirei fundo. Tomara que meu pai não esteja em casa! A porta estava destrancada, então entrei devagar. Assim que me virei para fechá-la...
— Aonde você estava, Caroline Almeida? — A voz do meu pai fez meu peito tremer e todo o amor que recebi do Bryan se transformou em medo.
— Pai, eu... — Tentei me explicar...
— Eu nada, sua vagabunda! Você passou a noite com aquele desavergonhado?!! — Seu grito ecoou pela casa e minha mãe apareceu da cozinha, séria e com uma expressão aterrorizada.
— Não fui eu!...
— Cala a boca, menina!!! — Seu grito me fez encostar na porta. Eu nunca vi meu pai tão nervoso assim comigo; apenas com meu irmão.
— Calma...
— Cala a boca, mulher! — Minha mãe tentou intervir, mas meu pai a interrompeu ao voltar sua atenção para ela. — Não interrompa minha educação com essa menina... Você já me fez criar um vagabundo; não vou criar outro!
Na sequência, senti a mão pesada dele bater no meu rosto. Levei a mão ao local ainda ardendo e voltei minha atenção à minha mãe, que cobriu a boca com as duas mãos. Olhei novamente para meu pai e vi que ele havia tirado o cinto; com a parte da fivela, começou a me bater.
— Para, pai!!! — Gritei tentando me defender enquanto sentia a fivela atingir meus braços e pernas; ele nem estava mirando...
— Para com isso, homem!!! — Gritou minha mãe tentando segurá-lo. Porém, só consegui ver quando ele a empurrou e voltou a me bater.
Me encolhi o mais baixo que consegui enquanto sentia arder e queimar os locais onde a fivela atingia meu corpo. As lágrimas de dor já escorriam pelo meu rosto.
— Eu nunca te bati! Mas hoje você vai aprender a ser uma mulher e não uma vagabunda!!!! — Ele gritou enquanto descontava sua raiva em cima do cinto que me atingia.
Não sei qual doía mais: suas palavras ou a surra que estava levando... A última vez que levei foi nas costas, quando minha mãe segurou seu braço.
— Vá para o seu quarto, Carol! — disse ela, ainda o segurando.
Com muita dor, me levantei e corri sem olhar para trás. Entrei no meu quarto e fechei a porta em seguida. Me deitei sobre a minha cama, encolhida, com medo do meu pai entrar aqui e me bater mais. Porém, eu só ouvia seus gritos e sentia queimar nos locais onde a fivela pegou, sem contar que ficaram as marcas.
— Será que amar o Bryan é tão errado assim? — chorei descontrolada.
Ainda mais porque não me sinto arrependida do que fiz. Será que eu deveria? Tenho dezessete anos, nunca fiz nada de errado a não ser estudar e ajudar em casa. Por que meu pai é tão agressivo? Bastava ele conversar, mas não, ele tem que gritar e bater. Talvez eu entenda um pouco agora o porquê da revolta do meu irmão.
Os gritos cessaram e minhas pernas tremiam debaixo das cobertas quando ouvi o bater de uma porta. Voltei minha atenção para a entrada do meu quarto e vi a porta se abrindo. Senti meu corpo gelar e respirei aliviada quando minha mãe entrou.
— Como você está, filha? Ele já saiu! — proferiu minha mãe ao se aproximar e sentar ao meu lado. Eu não consegui respondê-la, apenas deitei no seu colo.
— Filha, me perdoe. Estávamos tão focados na vida do seu irmão que acabamos deixando você sem uma certa orientação! — disse minha mãe acariciando meus cabelos. Sua voz tranquila e doce me acalmava e eu fui conseguindo parar de chorar, mas a dor física ainda ficou.
— Você passou a noite com o Bryan? — indagou ela. Eu engoli em seco, apenas concordando.
— E vocês se gostam? — novamente minha mãe perguntou e eu apenas assenti, chorando outra vez.
— Como sua mãe! — ela me sentou e, olhando nos meus olhos, continuou — Eu deveria ter te orientado antes, mas ainda não é tarde, filha... Apenas não engravide sem uma estabilidade e, caso aconteça, nunca abandone seu filho! — Assenti olhando para ela enquanto continuava — Todo mundo sabe que isso acontece em algum momento de nossas vidas! Devemos ter consciência disso e nos prevenir. Você já é uma moça, filha; mesmo que não tenhamos te orientado direito, você sabe o que faz e eu estou aqui por você.
Minhas lágrimas molhavam meu rosto; ainda não me sentia arrependida do que fiz! Porém, minha mãe era a melhor mãe que eu poderia ter; uma conversa é bem mais fácil do que uma surra.
— Desculpa, mãe. Eu só não queria preocupar você com isso... Aconteceu, mas o Bryan não me obrigou a nada; aliás, fui eu quem... — comecei a chorar me sentindo péssima e como se fosse uma oferecida agora.
Minha mãe me acalmou, explicou várias coisas e disse que é super normal a mulher ter iniciativa também, o que fez eu me sentir menos oferecida! Passei o dia todo trancada no meu quarto; eu não queria ver meu pai. Até porque ele chegou gritando no horário do almoço... Dormi durante o dia de tanta tristeza pela surra que levei e minha mãe respeitou meu momento.
Ouvi um grito que me fez acordar assustada; estava com uma roupa que tampava minhas pernas e braços onde ficaram as marcas da surra que levei do meu pai... Quando pensei que ele tinha feito algo a ela, saí correndo e abri a porta. Ao olhar na direção da sala, vi policiais e minha mãe chorando no chão enquanto um deles tentava acalmá-la.
— Mãe, o que foi? — caminhei ao seu encontro já com as pernas trêmulas, observando lá fora e percebendo que estava caindo à noite.
— O seu irmão! — ela me olhou enquanto o policial se afastava. Então minha mãe, ainda desorientada e em lágrimas, conseguiu se levantar. Ao segurar meus braços ela disse — O seu irmão foi encontrado morto!