Não entre em confusão.
Bryan Fernandes
— Mãe...
— Mãe nada, menino... O pai dela veio aqui e fez o maior escândalo! — Na expressão da minha mãe, está nítido o seu desconforto. — Bryan, como você me faz isso, filho? Eu trabalhando e pensando que você estava tranquilo, mas não, estava trazendo a menina para dentro de casa! Bryan, cadê a sua responsabilidade?
— Mãe, calma... Eu amo a Carol e ela também gosta de mim. Eu nunca vou fazer mal a ela! — Proferi, tentando acalmá-la.
— Filho, se essa menina engravidar, o pai dela te mata, Bryan do céu! Você é maior e ela ainda é menor, garoto! Pelo amor de Deus... — Ela respira fundo, passando as mãos na cabeça.
— Mãe, calma!! — Me aproximei e segurei as suas mãos. — Eu sei o que estou fazendo... Fica tranquila! Agora eu preciso ver ela.
— Não, você não vai! — Ela me olhou séria. — A mãe dela me contou que o pai deu uma surra nela quando ela chegou...
— O quê? — Me afastei surpreso, respirando fundo. — Mãe, peraí! Depois a gente conversa...
— Bryan... Menino... Bryan, não vai lá, garoto!!! — Ouvi minha mãe falar, mas eu não podia parar agora; se aquele desgraçado machucar ela...
Subi e, conforme fui me aproximando, a viatura foi revelando mais detalhes. Já havia algumas pessoas olhando o que estava acontecendo e quando cheguei ao portão vi a Carol ajoelhada na porta abraçada com a sua mãe, o que me cortou o coração... Tentei entrar.
— Você não pode entrar, garoto! — Proferiu um policial me olhando sério.
— Eu conheço eles, me deixe passar? — Ele levou a mão à minha frente e apenas negou... 'Filho da puta'— Carol!!
Quando gritei por ela, ela me olhou no mesmo instante, se levantou e correu ao meu encontro em lágrimas. O policial tirou o braço da minha frente e então ela passou e me abraçou...
— Meu irmão foi morto, Bryan!... — Ela chora em desespero e eu apenas a abraço tentando acalmá-la. — Mataram o André... O meu irmão. — Ela foi perdendo as forças e se abaixando.
Acompanhei-a e nos abaixamos no chão. Ela se afunda nos meus braços e eu posso sentir sua dor porque meu peito se parte vendo-a sofrendo desse jeito...
— Calma carolzinha! — Eu não sei o que dizer... Então apenas fiquei abraçado com ela.
— Meu irmão amor... Nunca mais vou vê-lo. — Ela suspira em lágrimas. — Por que mataram ele? A gente pediu tanto para ele sair desse mundo, mas ele não saiu. — Ela me olhou com os olhos levemente inchados e lacrimejando. — Ele morreu, meu irmão; o meu único irmão. O que eu vou fazer sem ele?
Novamente ela afunda a cabeça em meu peito e chora em desespero. Acaricio seus cabelos enquanto a abraço forte.
— Não se preocupe minha linda! Eu estou aqui e não vou deixar nada de mal te acontecer; eu prometo! — Dou um beijo no topo da sua cabeça e ela segura firme na minha roupa como se comigo fosse seu porto seguro.
Senti alguém me levantar por trás e no impulso quase caí para trás... Porém quando fui tentar ver quem era recebi um soco no rosto e fui lançado ao chão.
— Pai para!!! — Ouvi Carol gritar. Quando voltei minha atenção ao passar a mão na boca vi o mesmo bêbado em pé vindo na minha direção.
— Seu filho da puta! Você tirou a inocência da minha filha... — Mesmo bêbado ele me levantou e me acertou com outro soco! — O que você faz aqui, seu desgraçado?
Eu não posso bater no pai dela ainda mais bêbado... Limpei o sangue que escorreu pelo meu rosto e vi a Carol correr segurando seu pai pelo braço.
— Pai para!!! Pai!!!... — Ele moveu seu braço bruscamente e conseguiu derrubá-la.
Fui para cima dele, mas fomos interrompidos por dois policiais; um me segurou com os braços para trás e o outro segurou ele colocando-o próximo da viatura e deitando-o sobre o capô. Carol se levantou e correu até mim passando a mão sobre meu rosto.
— Desculpa... Desculpa; meu pai está incontrolável! — Quando olhei as mangas da sua blusa estavam um pouco acima e então pude ver alguns hematomas.
— Ele fez isso com você? — Movi meus braços fortes e falei: — Me solta! Então o policial me soltou porque eu não fiz nada!
Levei minha mão até a mão da minha menina e subi ainda mais as mangas da sua roupa quando vi mais hematomas... Voltei minha atenção ao seu pai que estava sendo pressionado pelo policial porque ainda tentava se soltar.
— Por que você não pode ser um pai normal? Você machucou ela! — Soltei a Carol sentindo muita raiva do desgraçado.
— Bryan!!! — Ouvi a voz da minha mãe!
Mas que merda; eu vou proteger a Carol de qualquer um nem que seja a última coisa que eu faça. Fui me aproximando do pai dela com meu punho fechado... Quando senti o policial me segurar encostando-me no carro logo em seguida.
— Calma aí, garoto! Você quer descer para a cadeia...? — disse ele, me segurando pelos braços atrás do corpo, enquanto pressionava meu corpo em pé contra a viatura.
— Leva ele, que é um péssimo marido e um pai horrível... Por que vocês não fazem seu trabalho direito? Se fizessem, não haveria tantas mulheres sofrendo feminicídio! Essa lei dos infernos que vocês seguem... Soltam os merdas quando pisam o pé na delegacia! — proferi com ódio e já senti um tapa forte rodar na minha nuca.
— Quer ir preso por desacato, moleque? Estamos aqui para resolver outros assuntos, mas sem nenhum problema levamos você junto...
— Bryan, por favor — Carol se aproxima e segura meu rosto, encostando-se na viatura — Por favor, vai embora. Não quero que você vá preso por minha culpa... Por favor, vai embora; depois nos falamos.
— Escuta ela. Os ânimos aqui estão todos alterados... — disse ele, puxando meu braço com força, sem que eu fizesse nada...
— Bryan, filho, pelo amor de Deus, vamos embora!! — proferiu minha mãe, segurando meu braço.
— Por favor! Depois nos vemos... — disse a Carolzinha com os olhos cheios de lágrimas.
— Você não vai ver esse filho da pu...
Apenas assenti e ele me soltou. Quando voltei minha atenção ao seu pai, o policial que o segurava pressionou-o ainda mais contra a viatura e gritou para ele calar a boca. Antes que eu pudesse dizer algo, minha mãe pegou meu braço e saiu me puxando.
Segui-a, mas só para não causar mais confusão... Entretanto, permaneci olhando minha menina ficando para trás e caminhando na direção da sua mãe, enquanto seu pai era solto e o policial lhe dizia algo. Ele afirmava e abaixava a cabeça.
— O que foi isso, Bryan? Deu para enfrentar policial agora!? — distante, minha mãe me soltou e me olhou séria.
— Ué mãe, e por acaso eu tô errado!? — continuei andando e a olhei nos olhos. — Se eu estivesse errado, eu saberia quem é meu pai. Tenho certeza de que ele foi um merda com a senhora, assim como tantos que têm por aí!
Ela me olhou incrédula e permaneceu em silêncio... Eu não sei por que ela não me conta o que aconteceu com ele nem quem é! Sempre que toco neste assunto, ela muda o rumo da conversa... Gostaria de saber o que ele fez com ela porque se fosse uma simples separação eu ainda saberia quem ele é.
— Não estamos falando desse assunto, filho! Mas sim da possibilidade de você ser preso e de que não temos condições de pagar fiança... — ela parou e me segurou pelos dois braços enquanto me olhava. — Então por favor, não se meta em confusão.
Levei minha mão até a nuca e apenas assenti. Enquanto entrávamos em casa, segui direto para meu quarto e já observei o maldito celular tocando...
— Alô?
— Aí menor tá levando enquadro dos vermelhos! — Bola falou do outro lado da linha. Não tem nem como eu perguntar como ele sabe já que o cara comanda o morro.
— Já tá resolvido! — proferi respirando fundo.
— Não tá não! Sobe aqui... Manin tá colando aí. Sobe na moto e vem que nós vamos te ensinar a tirar o enquadro dos canas...
Ele desligou. Que merda! Tenho que sair que inferno... Peguei uma jaqueta e me vesti saindo do quarto. Minha mãe estava na cozinha e me olhou surpresa.
— Onde você vai uma hora dessas, Bryan?
— Vou subir ali em cima; já volto mãe — me aproximei dela e lhe dei um beijo na testa. — Não se preocupa!
Ela ficou me olhando e eu já ouvi o barulho da buzina da moto. Saí e já avistei Pietro parado sobre uma Honda CB600F Hornet preta... Fui ao me aproximar dele e ele apenas assentiu; fiz o mesmo. Quando subi na moto voltei minha atenção e vi minha mãe aparecer na porta! Espero que um dia ela me entenda.
Pietro ligou a moto! E subimos; vamos passar na frente da casa da Carol. Estavam todos ainda na rua, Pietro passou tão rápido quando o policial nos olhou e gritou:
— Bota o capacete vagabundos!!!
Todos voltaram suas atenções para nós; até mesmo a Carol. Eu a olhei enquanto passávamos; não sei se ela me reconheceu pois estava séria... Pietro acelerou a moto assim que ouviu os policiais fazendo ela arrancar...