Assumo a dívida dele.
Bryan Fernandes
Um deles levanta sua camisa, mostrando uma arma em sua cintura, o que não me intimidou nem um pouco. A vida da minha Carolzinha tá em jogo; acredita que uma arma vai me parar? Só se eles apertarem o gatilho e não errarem.
— Quem você pensa que é para achar que nós vamos dizer onde o Bola está, maluco? — Referiu um deles, segurando o guidão da moto e olhando para os outros.
— Não é da sua conta! — Tirei a mão dele da minha moto e continuei — Se você não me falar, eu mesmo encontro ele!
— Tá maluco, seu merda! — O mesmo tirou a arma e apontou-a para a minha cabeça...
— Opa! Aí vamos parar. Vai querer fazer isso sem motivos? — O tal Pietro desceu da moto segurando a mão do cara que estava com a arma. Ao abaixá-la, ele parou na minha frente de costa para mim e olhando para o cara.
— Vai defender esse merda que você nem conhece, manin! — O cara o empurrou de leve, e ele continuou parado, enquanto o outro retornava para perto dos outros que estavam se achando — Aí, manin! Tu levou sorte de não estar com o André; se não, já tava no caixão há uma hora dessas. Sua mania de proteger otario não para, né? — Ele balançou a arma na nossa direção novamente — Uma hora dessas tu morre por engano manin...
— Aí vai ficar tirando mesmo! Passa o radinho para o Bola e pede passagem logo, mano!!! — Pietro disse sério — André era sub do Bola, mano, e eu sou amigo dele! Quero saber que fita foi essa!!
— Já falei qual foi, cara!!! — O mesmo pegou o celular em mãos ao nos olhar dizendo — Mas se você quer ouvir do patrão, mano, vai que é sua!! — Observo que ele disca e leva o celular próximo da orelha. Após alguns segundos, ele fala — Aí chefe, manin, tá aqui com um zé valentão querendo saber o que houve com o André! Já passei a fita, mas os dois estão pedindo passagem.
Ele sorri, me olhou e voltou seu olhar para o Pietro!
— Falo chefe! — Ele desliga o celular, aponta pra nós e afirma — Me segue se tiver coragem...
— Demorou! — Proferi ligando a moto.
Pietro subiu e já me deu um cutucão. Quando percebeu que os caras entraram no carro e ligaram o motor, me disse:
— Tá querendo morrer!? Não enfrenta os cara não que você morre, parça...
— Eu não sou seu parça! — Comecei a seguir o carro e num tom mais alto continuei — Carol é muito mais importante para mim do que todos vocês juntos!
Ficamos em silêncio enquanto subi o morro seguindo o carro, que saia cortando entre os carros e as pessoas do morro sem diminuir a velocidade. Pensando que eu ia ficar com medo de fazer o mesmo, cortei entre os carros e fiz algumas freadas bruscas entre as pessoas... E eu percebi que aqueles merdas estavam rindo pelo retrovisor.
Pietro parece que já está acostumado; ele segura na garupa da moto e segue sem reclamar... Comecei a perceber que as casas aqui em cima são mais bem construídas: casas grandes e carros chiques, motos... E vários caras armados andam pela rua e ficam nos observando de soslaio.
Mais à frente, o carro para, próximo de uma casa que parece simples. Eles descem fumando e encostam no carro. Eu parei a moto, o Pietro desceu e eu fui em seguida.
— Aqui é a casa de uma amiga do Bola! — Após ele falar isso, a porta se abre e várias mulheres saem de lá de dentro, com roupas minúsculas.
Elas já vêm logo se encostando nos caras dos carros; uns iniciam beijos e outros abraços. Duas vêm na nossa direção e uma delas abraça o Pietro, que a beija no pescoço.
— Oi, você é novo por aqui, bebê? — A mesma parou na minha frente com um sorriso no rosto. Na sequência, ela veio me abraçar.
— Não faço parte disso! — Segurei seus braços e a afastei, mas parece que ela gostou do que eu fiz, porque sorriu. Voltei minha atenção ao Pietro e continuei: — Pietro, cadê o Bola?
— Ele tá lá dentro, bebê. Venha comigo, vocês dois. — A mesma segurou minha mão e eu soltei enquanto caminhava atrás dela. O Pietro veio junto em silêncio.
Por fora, a casa parecia simples, mas por dentro era muito luxuosa. Caminhamos e sentimos o odor de droga; o Pietro parecia preocupado. Várias mulheres e homens estão aqui dentro; parece que estão dando uma festa ou um churrasco. Seguimos a mesma até a parte dos fundos da casa; tem um quintal com piscina.
Se a casa da amiga é assim, imagina a do próprio! No fundo, passando pela piscina, avistamos uma mesa com vários homens armados e um outro sentado. Nos aproximamos e paramos porque eles entraram na nossa frente.
— Aí ele tá comigo! — Após o Pietro falar, os mesmos me olharam de cima a baixo e riram, abrindo passagem.
— Manin, onde você estava, meu caro? Não te vi junto com o André!? — Um deles que estava sentado se levantou ao caminhar e parou na nossa frente.
— Seguimos caminhos distintos depois da pequena discussão...
— Sei! Aquela em que o traíra queria tirar satisfação com meus homens fingindo que não estaria roubando mercadoria minha! — O mesmo interrompeu o Pietro e terminou sua frase me olhando. — Então é você quem peitou meus homens lá embaixo no morro? Queria me ver? Tô aqui, menor.
O mesmo retirou uma arma da sua cintura e a entregou para o Pietro, que segurou levando para sua cintura atrás. Ele tentou me intimidar.
— Eu ouvi sobre o André! E também que você quer fazer mal à irmã dele! — Após as minhas palavras todos me olharam.
— Eu, mal a uma mulher? — O mesmo riu. — Eu não faço mal às mulheres; elas me desejam sem nem me conhecer... Claro que o André morreu e alguém vai ter que pagar a dívida dele! — O desgraçado me olha e sorri debochado. — A família dele não tem dinheiro; então me satisfaço apenas com a irmã. Não vou colocar uma dama para trabalhar e pagar as dívidas do irmão; vou usá-la como pagamento!
Engoli em seco. Frente a frente com ele, fechei meus punhos, e os caras sacaram suas armas assim que perceberam; já o Pietro fez um sinal disfarçado como um 'não'. Lembrei que ele me disse que o André confiava em mim para protegê-la. Eu ainda não pensei direito como, mas no impulso e na raiva eu apenas disse:
— Eu assumo a dívida dele.