Onde o Bola está?
Bryan Fernandes
Pedi licença ao meu patrão e ele me liberou. Caminhei até o rapaz, que ainda parecia um pouco atordoado. Olhei ao lado e, aparentemente, estava tudo normal; porém, não vi o André junto dele.
— Bryan, certo? — Assenti e ele continuou — Eles pegaram o André! — Proferiu, passando as mãos sobre a cabeça.
— Espera, como assim? — perguntei, surpreso, ao sentir um frio percorrer minha espinha.
— É, mano, os caras pegaram o André! — Seus olhos estavam cheios de lágrimas, mas ele continuava a me olhar sério. — Nós nos separamos esta noite à procura dos caras que disseram que ele estava roubando mercadoria. Pô, mano, nosso erro foi tentar descobrir sozinhos. Não nos encontramos no lugar marcado horas depois; os caras pegaram o André!
— Espera! Como você sabe que pegaram o André? Eu não estou entendendo nada! — Perguntei quase sem entender, enquanto o observava apavorado.
— Bryan, deixa para conversar depois do serviço! — Referiu meu patrão se aproximando, fazendo minha atenção voltar para ele.
— Não, mano! — Proferiu o rapaz tocando no meu braço.
— Já vou, senhor — Respondi ao meu patrão e em seguida olhei para o rapaz. — Me explica o que aconteceu direito! — Falei sério.
— Mano, fizeram casinha pro André! Estávamos quase perto de descobrir quem fez isso e por quê. Mas enfim, saímos em caminhos distintos e ele não retornou...
— E se isso for verdade, como eu vou saber que você não ajudou a sumir com ele? — perguntei olhando sério para ele.
— Porque horas antes dele sumir — Ele digitou no celular — Ele me enviou este áudio.
— "Moí-o pro meu lado Pietro, tô escondido aqui no QG..."— Silêncio — "Tô ouvindo os pilantras falando que se eu não pagar a tal da dívida, o Bola vai pegar a minha irmã como pagamento, merda!" — Quando ouvi a voz do André dizendo isso, senti meu corpo paralisar. Ele continuou — "Mano, se eu não retornar esta noite ainda, chama o Bryan e passa a fita pra ele caralho..."
— Vocês estão zoando! — Falei olhando-o sério. — Que sacanagem é essa para o meu lado? Cadê o André? — Dei dois passos na sua direção e ele não recuou.
— Pra que eu ia zoar com uma coisa dessas? — Ele me segurou pela camisa. — Escuta, o André era o sub do morro. Andava lado a lado do Bola e eu ao seu lado... Tem vários que queriam estar no seu lugar. Já suspeitávamos que estavam tramando para ele cair. Mano, ele me passou tudo sobre você; tu é o melhor amigo da irmã dele e ele me fez prometer que se acontecesse algo com ele, a primeira coisa que eu faria seria te contar a real.
— Porra!!!! E o que eu vou fazer caralho!! — Gritei de raiva ao chutar alguns objetos próximos. — Quanto é essa dívida?
— Tu vai pagar? Mas o André não roubou nada, mano! — Ele disse, mas ficou em silêncio quando um carro preto desceu o morro e passou por nós com vários caras armados, nos encarando.
— Você quer que eu faça o quê? Que eu espere o dono do morro pegar a minha garota e levá-la como um objeto... — Retirei a chave da moto do meu bolso e caminhei em direção a ela. — Me fala onde esse tal Bola tá?
— Mano, não é assim, você não pode chegar lá e assumir a tal dívida do André. A conversa nem saiu do QG ainda... Eles vão saber que o André soltou a língua para mais alguém, e vai sobrar pra mim! — Ele interrompeu minha saída quando subi na moto.
— E você quer que eu faça o quê? — perguntei, olhando sério para ele.
— Vamos sair na moral, procurar o André. Quando eu ouvir o boato e você estiver perto... Aí sim, você pode chegar até o Bola e resolver com ele! André também não ia querer ver a irmã como moeda de troca! — o cara falou sério.
— Mano, vou deixar uma coisa bem clara pra você! Pietro, né? — Ele assentiu e então continuei. — Eu não confio nem um pouco em você... Vocês dois andavam sempre juntos e agora você aparece aqui dizendo que mataram o André e que o dono do morro vai pegar a Carol... Vou deixar um único pingo no i: eu vou assumir essa dívida da casinha do André se estiver rolando esse boato. Vou caçar um por um dos que tramaram para ele e vou retalhar. Se você estiver no meio, pode ter certeza de que eu vou te tirar da face desta terra. — o encarei — Agora sobe aí!
— Não tô não, mano. Sei que agora parece estranho, mas você vai entender assim como eu... O André descobriu alguma coisa, por isso ele deve estar morto neste momento! — Referiu ele subindo na moto, sem capacete.
— Bryan, onde você vai? — Perguntou meu chefe se aproximando sério.
— Chefe, desculpa, mas eu preciso resolver um negócio... — Dei partida na moto. — Segunda-feira eu estarei aqui sem falta...
Ele fez uma expressão ainda mais séria. Virei a moto e subi o morro acelerado. Um misto de sentimentos estava passando pelo meu corpo neste momento. Merda! Porque envolver a Carolzinha nessa situação! Que inferno! O dono do morro pode tudo, caralho! Essa merda é comandada por ele, mas nunca que eu vou permitir que ele invada a casa da Carol e pegue ela para si.
— Encosta... Encosta a moto! — Pietro tocou no meu ombro pedindo que eu encostasse a moto próximo de um carro branco, com uns caras curtindo uma música.
— Aí rapaziada! — Pietro assente sem descer da moto; os mesmos o cumprimentam e acenam para mim movimentando a cabeça. Apenas faço o mesmo. — Aí estamos procurando o André! Vocês viram ele pelo morro?
— Quem é esse daí, manin? — Referiu um deles coçando sua barriga ao levantar sua camisa, mostrando uma arma.
— Ele é amigo da irmã do André! A família dele está procurando por ele; menor aqui já me viu com ele. Estava descendo ali embaixo e encontrei com ele; tô na ajuda. Viram ele? — Enquanto Pietro mente na cara dura, permaneço sério, apenas com um pé apoiado na moto.
— E manin, tu tá por fora hein? O morro inteiro já tá sabendo que o André foi pego tentando roubar o QG... — À medida que eles falam vou tendo certeza do final. — O corpo dele foi colocado estrategicamente pros canas encontrarem; já era! A irmãzinha dele vai ter muito azar; Bola vai descontar muito nela, na base do sexo! — Esses filhos da puta começaram a rir com deboche, fazendo com que eu segurasse no guidão da moto com mais força. — Pena que ele não vai dividir.
Eles riram olhando para si, e eu queria descer da moto e afundar o crânio deles no asfalto, mas eu preciso resolver com o maior primeiro. Engoli meu ódio por enquanto.
— Onde que eu encontro o Bola? — Antes que Pietro pudesse dizer algo, proferi olhando sério para eles; os mesmos que estavam sorrindo encostados no carro se levantaram e começaram a caminhar na nossa direção. Enquanto me segurou ao máximo para não começar uma confusão aqui mesmo.