O céu sobre a floresta de Albaria começava a escurecer, tingindo o horizonte com tons de azul e cinza enquanto nuvens espessas se acumulavam, prenunciando uma tempestade iminente. Um frio incomum tomou conta do ambiente, congelando as folhas das árvores e cobrindo o chão com uma fina camada de gelo. O epicentro daquele fenômeno estava escondido entre as profundezas da floresta, onde uma figura solitária, de presença imponente, se movia com graça calculada.
Isolde, a Bruxa do Gelo, caminhava silenciosamente entre as árvores congeladas, sua capa longa e negra arrastando-se pelo solo cristalizado. A cada passo, um rastro de gelo se formava atrás dela, como se o próprio solo estivesse respondendo à sua presença. Seus cabelos prateados brilhavam à luz fraca do crepúsculo, e em suas mãos, o cetro de cristal refletia um brilho sinistro, emanando uma energia que parecia pulsar com um propósito sombrio.
Ela parou ao chegar a uma clareira ampla, onde um círculo de gelo perfeito havia se formado. No centro, uma gigantesca mesa de gelo esculpida estava coberta por uma aura azulada, reluzindo com fragmentos de almas aprisionadas. Ao redor da mesa, figuras indistintas começavam a se materializar — corpos esqueléticos, cobertos de gelo, com olhos brilhando em tons de azul-fantasmagórico.
Esses eram os Convivas Eternos, o exército pessoal de Isolde, criados a partir das almas de guerreiros corrompidos e Kishins derrotados. Sua essência havia sido consumida e remodelada pela magia da bruxa, transformando-os em soldados leais e imortais, incapazes de desobedecer sua mestra.
— Meus fiéis servos... — a voz de Isolde era gélida, mas carregada de autoridade. — O Banquete está apenas começando.
Ela ergueu o cetro, e uma onda de gelo se espalhou pela clareira, transformando o chão em um espelho cristalino. As figuras dos Convivas ajoelharam-se, seus corpos trêmulos com a força que os ligava à bruxa.
— Os humanos estão inquietos, movendo-se como formigas tentando proteger seu formigueiro. Mas eles não entendem... não podem compreender o que está por vir.
Enquanto Isolde comandava seu exército, sua mente vagava pelas memórias de um passado distante, quando ainda era uma jovem aprendiz na irmandade das bruxas. Ao lado de Arachne, ela havia aprendido os segredos mais sombrios da magia, desvendando mistérios que outros sequer ousavam tocar. No entanto, ao contrário de Arachne, que buscava controle por meio da manipulação e da criação de artefatos, Isolde via a magia como um meio de transcendência.
Ela acreditava que o corpo mortal era uma limitação — um casulo frágil que precisava ser abandonado para que a verdadeira imortalidade pudesse ser alcançada. Sua aliança com Arachne fora conveniente, mas nunca verdadeira. Enquanto a famosa Bruxa da Teia de Aranha tramava suas intrigas para subjugar o mundo, Isolde trabalhava silenciosamente em seu próprio projeto: a criação do Eterno Banquete.
O plano original era simples, mas ambicioso: usar almas capturadas para criar um núcleo de energia infinito, capaz de sustentar um exército imortal e indestrutível. Contudo, a destruição de Arachne pelas mãos de Shibusen havia atrasado seus planos, forçando-a a se esconder nas sombras e reconstruir suas forças.
Agora, com o tempo a seu favor, Isolde finalmente estava pronta para retomar o que havia começado.
Enquanto os Convivas Eternos permaneciam imóveis, aguardando as ordens da bruxa, uma presença distinta atravessou a clareira. Um homem alto, envolto em um manto negro, emergiu das sombras. Seus olhos brilhavam com um tom carmesim, e um sorriso cruel curvava seus lábios. Ele parou a uma distância respeitosa, mas sua postura sugeria uma confiança inabalável.
— Isolde, minha cara, parece que seus preparativos estão progredindo bem.
A bruxa não se virou imediatamente, mas um sorriso gélido tocou seus lábios.
— Malphas... sempre tão pontual. — Sua voz era afiada como gelo quebrando.
O homem chamado Malphas era um demônio menor, um servo das forças sombrias que haviam apoiado Isolde em seus esforços. Ele era responsável por reunir informações e garantir que as movimentações de Shibusen não interferissem nos planos da bruxa.
— Você está certa em agir rápido, — continuou Malphas, aproximando-se um pouco mais. — Os estudantes de Shibusen já estão desconfiados. Eles destruíram um dos seus núcleos na floresta de Albaria.
A menção do núcleo destruído fez os olhos de Isolde se estreitarem. Embora não demonstrasse abertamente, a perda daquela peça era um golpe significativo para seus planos.
— Eles não conseguirão deter o que está por vir, — ela disse friamente. — Apenas acelerei o processo.
Malphas sorriu, claramente impressionado com a confiança da bruxa.
— Mesmo assim, seria prudente lidar com esses estudantes antes que se tornem um incômodo maior. Deixe-me cuidar deles.
Isolde finalmente se virou, seus olhos brilhando como pedaços de gelo sólido.
— Não subestime Shibusen, Malphas. Eles não são tolos. Se decidir enfrentá-los, faça isso com sabedoria.
Enquanto isso, de volta à Shibusen, Maka, Soul e os outros estavam reunidos na sala de reuniões, analisando os dados sobre Isolde e suas ações. Keyon, em particular, estava visivelmente inquieto. Ele sabia que a destruição do núcleo havia sido apenas o início de algo muito maior.
— Precisamos agir rapidamente, — disse Maka, apontando para o mapa que mostrava as áreas de atividade de Isolde. — Se ela realmente está criando um exército, não temos tempo a perder.
Cleo assentiu, mas havia uma preocupação evidente em seus olhos.
— Mas como podemos enfrentá-la? — ela perguntou. — Essa bruxa parece muito mais poderosa do que qualquer coisa que já enfrentamos.
Kid, sempre metódico, interveio.
— Precisamos dividir nossos esforços. Uma equipe deve rastrear os outros núcleos, enquanto outra lida diretamente com Isolde.
Shinigami-sama concordou, mas sua expressão permanecia sombria.
— Lembrem-se, Isolde não é como as outras bruxas. Ela é uma estrategista. Tudo o que faz é planejado meticulosamente. Não podemos permitir que ela nos manipule.
De volta à floresta, Isolde ergueu seu cetro e começou a entoar um feitiço antigo. O ar ao seu redor tornou-se pesado, carregado com energia mágica. Em instantes, um portal azul-gelo se abriu no centro da clareira, revelando uma paisagem desolada e coberta por neve.
— Está na hora de movermos nossas peças, — ela declarou, olhando para os Convivas Eternos. — Preparem-se para marchar.
Com um gesto, ela apontou para o portal, e os soldados de gelo começaram a atravessá-lo, suas formas fantasmagóricas desaparecendo na névoa do outro lado.
Isolde sabia que Shibusen agiria rapidamente, mas ela estava pronta. Seu plano estava em movimento, e nada poderia detê-la.
O Eterno Banquete estava prestes a se tornar realidade.