A viagem de volta à Shibusen foi silenciosa e cheia de pensamentos sombrios. A floresta de Albaria e seus segredos haviam deixado uma marca indelével em Keyon e Cleo. O núcleo que encontraram na caverna e as palavras da misteriosa voz que ecoaram em suas mentes pairavam como uma nuvem de incerteza. Eles sabiam que algo muito mais perigoso do que simples Kishins estava por trás daquele caos.
O grupo chegou a Shibusen ao final da tarde, os últimos raios de sol filtrando-se pelas árvores enquanto passavam pela entrada do campus. A tensão no ar era palpável, e o peso da missão incompleta parecia pesar ainda mais ao se aproximarem da Sala da Morte.
Ao entrar, a figura imponente de Shinigami-sama aguardava-os atrás de sua mesa, com um olhar mais sério do que o habitual. A expressão dele era grave, e não demorou para que ele quebrasse o silêncio.
— Então, como foi a missão? — Shinigami-sama perguntou, sua voz ecoando suavemente pela sala, mas com um tom que sugeria preocupação.
Maka foi a primeira a responder, sua voz firme, mas marcada pela exaustão.
— Encontramos três Kishins na floresta de Albaria. Eram mais fortes e mais inteligentes do que os anteriores, quase como se estivessem sendo controlados por algo. No centro da floresta, descobrimos uma caverna com uma esfera negra... destrutiva. Quando a destruímos, ouvimos uma voz que parecia ser a de quem estava por trás de tudo isso. A mensagem foi clara: "O Eterno Banquete já começou."
Shinigami-sama estreitou os olhos, evidentemente preocupado com as implicações daquela informação. Ele fez uma pausa, como se estivesse processando tudo o que ouvira, antes de se virar para a tela do computador à sua direita. Ela piscou com a ativação de um novo sistema de dados.
— O Eterno Banquete... — repetiu ele em voz baixa, como se a palavra fosse carregada de uma história que já começava a se revelar. — Isso é mais grave do que pensei.
Death the Kid, sempre atento aos detalhes, franziu o cenho, olhando fixamente para o pai. Ele havia absorvido a mensagem, mas algo ainda o incomodava.
— Você sabe quem está por trás disso, pai? — ele perguntou, a tensão na voz. — Quem é essa pessoa? O que ela quer com esses Kishins?
Shinigami-sama olhou para o grupo e, com um gesto, fez aparecer mais informações na tela. A imagem que surgiu era uma mulher com cabelos prateados, olhos frios como o gelo, e uma presença que parecia atravessar o próprio espaço. Ela usava um manto escuro, o qual emitiu um brilho azul congelado, e nas mãos, uma bengala de cristal com uma esfera na ponta que emanava uma energia gelada. A legenda abaixo da imagem dizia: "A Bruxa Isolde, Mestra do Gelo e Feiticeira do Eterno Banquete."
— Isolde... — Shinigami-sama começou, a expressão dele se tornando ainda mais grave. — Uma bruxa antiga e poderosa. Ela já foi aliada de Arachne, uma das bruxas mais temidas que o mundo já conheceu. Mas ela desapareceu de vista há muito tempo. Agora, parece que ela está tentando reunir forças para algo muito maior do que simples Kishins.
A sala estava imersa em um silêncio tenso enquanto as palavras de Shinigami-sama pairavam no ar. A história de Arachne era bem conhecida entre os bruxos e guerreiros, uma das bruxas mais poderosas e astutas, cujas ações ameaçaram a paz no mundo. Ela tinha sido uma aliada valiosa para muitos, mas suas ambições eram grandes demais para qualquer um, até mesmo para seus próprios aliados. Isolde, embora não tão conhecida, foi uma das figuras que esteve ao lado de Arachne durante a ascensão da bruxa e suas ambições sombrias.
No entanto, a história de Isolde estava longe de ser simples. Ela não era uma bruxa qualquer. Sua especialidade estava nas artes do gelo — não apenas como um feitiço de destruição, mas como uma forma de controlar a alma e a essência das pessoas, congelando suas emoções e até mesmo suas memórias. Seu poder era tão vasto que até mesmo Arachne, com toda sua inteligência, teve dificuldades em manter sua aliança com ela.
Diziam que Isolde nunca havia confiado em ninguém. Seus olhos gélidos viam os outros como meras peças em um tabuleiro de xadrez, manipulando-os sem piedade. Quando a aliança com Arachne se desfez, Isolde desapareceu das sombras, como se tivesse sido engolida por seu próprio poder. No entanto, agora ela estava de volta, e com ela, algo ainda mais perigoso do que o simples retorno de um Kishin.
Enquanto o grupo ouvia atentamente, uma imagem de Isolde surgiu na tela novamente, desta vez acompanhada de um relato de suas habilidades e seu papel na organização do Eterno Banquete.
— Isolde foi responsável por aperfeiçoar uma forma única de feitiçaria que envolve a manipulação de almas através do gelo. — Shinigami-sama explicou. — Ela pode congelar as emoções de suas vítimas, tornando-as incapazes de agir com clareza. Sua habilidade com a magia do gelo vai além do simples controle sobre a temperatura; ela pode criar armas de gelo, formar barreiras impenetráveis e, em casos mais extremos, ela pode criar um exército de seres gelados, controlando suas almas.
Cleo olhou para a tela, seus olhos observando atentamente cada palavra, enquanto Keyon, ao seu lado, parecia pensativo. O que estava por trás desse Eterno Banquete? Por que ela estava agora reunindo os Kishins?
— A questão mais importante, no entanto, é saber o que ela quer. — Shinigami-sama continuou, sua voz mais grave. — O Eterno Banquete... é uma cerimônia antiga, de origens desconhecidas, mas uma coisa é certa: é uma tentativa de alcançar a imortalidade. Através da corrupção de almas e da criação de novos Kishins, Isolde está buscando uma forma de aperfeiçoar essa arte. Ela quer criar um exército, mas não um exército qualquer. Ela quer um exército eterno, com poder suficiente para desafiar até mesmo as forças que a governam.
O que parecia ser uma simples missão para eliminar Kishins tornou-se uma revelação de algo muito mais complexo e perigoso. O Eterno Banquete não era apenas uma sequência de ataques isolados — era parte de um plano muito maior. Isolde estava tentando criar uma nova ordem no mundo das bruxas, um novo tipo de Kishin, mais poderoso e com a capacidade de controlar a própria essência da vida.
A missão de Keyon e do grupo não havia terminado. Na verdade, ela estava apenas começando.
— Vamos atrás dela. — Keyon disse, sua voz firme e cheia de determinação. — Precisamos parar Isolde antes que ela consiga completar seu plano.
Shinigami-sama assentiu, seu olhar se tornando mais sério.
— Isso não será fácil. Isolde tem aliados e um exército que está crescendo. O caminho será difícil, mas vocês têm o poder e a determinação para impedir que ela consiga o que deseja. Lembrem-se de uma coisa: ela não age sozinha. Outros podem estar por trás de suas ações, e suas intenções vão muito além do que podemos ver agora.
O grupo se reuniu, suas expressões decididas, cientes de que estavam diante de uma batalha muito maior do que imaginavam. Eles haviam enfrentado Kishins antes, mas nunca algo como o que estavam prestes a enfrentar.
A verdadeira batalha contra o Eterno Banquete estava prestes a começar.