As três semanas que Keyon passou desaparecido foram um tormento para seus amigos. Ayla, Kieran, Mira e Lucas não apenas temiam pelo pior, mas também sentiam o vazio deixado pela ausência dele. No Vaticano, a notícia da missão "simples" que havia se complicado rapidamente se espalhou, deixando Arthur Auguste visivelmente preocupado. Apesar das ordens para esperar, o grupo decidiu agir por conta própria, partindo para a Rússia na tentativa de encontrar Keyon.
Quando o grupo chegou à vila de Primorye, as condições climáticas eram severas. O frio gélido parecia perfurar suas armaduras, mas eles estavam determinados. Ayla, como sempre, manteve a liderança natural, sua postura firme contrastando com a preocupação que sentia por dentro.
— Temos que ser rápidos. Keyon pode estar em perigo, — disse ela, olhando para o horizonte coberto de neve.
— Ele pode cuidar de si mesmo, mas algo nessa história não me cheira bem, — murmurou Kieran, enquanto Nyx, seu corvo negro, voava ao redor, procurando por sinais.
A equipe começou a investigar a área ao redor da vila, interrogando os moradores. Contudo, a maioria das respostas era vaga ou cheia de superstição.
— Eles falam sobre um "demônio da água" que domina o rio, — explicou Mira, observando uma série de marcas no chão congelado. — Isso pode ter algo a ver com o desaparecimento de Keyon.
Lucas analisava o terreno com seu equipamento especial, buscando sinais de magia residual.
— Há traços de uma batalha aqui, — disse ele, apontando para uma área próxima ao rio. — Parece que ele enfrentou algo poderoso.
Kieran, enquanto isso, confiava em Nyx. O corvo parecia agitado, voando em círculos em torno de uma trilha que levava floresta adentro.
— Ele encontrou alguma coisa, — disse Kieran, com um tom sério. — Sigam-me.
A trilha os levou a uma clareira devastada. Árvores estavam caídas, rochas estavam partidas, e o rio parecia ter mudado de curso. Lucas se ajoelhou no chão, tocando a terra.
— Isto foi magia da terra, e não qualquer magia. É como se... estivesse viva, respondendo ao chamado de alguém, — ele disse, levantando o olhar para Ayla.
Ayla franziu a testa. Ela sabia que Keyon estava desenvolvendo sua afinidade com o elemento terra, mas a magnitude do que havia acontecido ali a preocupava.
— Isso é... dele. Só pode ser, — murmurou ela, antes de olhar para Kieran. — Podemos rastreá-lo?
— Com Nyx, sim, mas vai levar um tempo. Se ele está vivo, encontraremos.
Enquanto seus amigos o procuravam, Keyon estava sentado em uma colina isolada, próxima à cabana onde havia sido acolhido. Ele passava horas em meditação, tentando processar o que havia acontecido durante sua batalha com o demônio da água. O despertar de sua herança demoníaca havia sido avassalador, e ele lutava para manter sua humanidade enquanto sentia um novo poder emergindo.
A energia da terra fluía por ele de forma mais natural agora. Ele conseguia moldar o terreno ao seu redor sem esforço, criar formas e estruturas que antes exigiam concentração intensa. Contudo, havia algo diferente: um calor sombrio que acompanhava cada movimento, como uma sombra silenciosa crescendo dentro dele.
"É como se eu não fosse mais o mesmo," pensou Keyon, observando uma pedra flutuar em sua mão antes de desintegrá-la em pó.
Ele respirava fundo, tentando afastar os pensamentos sombrios. Contudo, flashes do que o demônio da água havia dito continuavam a atormentá-lo.
— Meu pai... Quem ele realmente é? E o que isso significa para mim? — murmurou, sua voz ecoando pela colina.
Nyx, o corvo de Kieran, finalmente encontrou Keyon. Ele pousou em um galho próximo, soltando um grasnado que ecoou pelo silêncio. Keyon abriu os olhos lentamente, reconhecendo o pássaro de imediato.
— Nyx, — ele disse com um pequeno sorriso, estendendo a mão para o corvo, que voou até seu ombro.
Poucos minutos depois, o restante do grupo apareceu. Ayla foi a primeira a avistá-lo, parada no topo da colina.
— Keyon! — ela chamou, correndo até ele.
Keyon se levantou, seus olhos encontrando os dela. Ele sorriu de forma hesitante, mas havia algo diferente nele. Uma sombra de cansaço e peso que Ayla nunca tinha visto antes.
— Estou bem, Ayla, — disse ele, antes que ela pudesse perguntar. — Apenas precisava de um tempo para... me recuperar.
Kieran e Lucas chegaram logo atrás, enquanto Mira permanecia um pouco distante, observando a interação.
— Você nos deu um susto, chefe, — disse Kieran, tentando aliviar a tensão. — O que aconteceu com você?
Keyon hesitou, olhando para o chão antes de responder.
— Eu lutei contra algo... ou alguém. Um demônio poderoso, com controle sobre a água. Ele sabia coisas sobre mim, sobre minha linhagem, e... — Ele parou, respirando fundo. — Eu perdi o controle.
Ayla colocou uma mão no ombro dele.
— Você não precisa carregar isso sozinho, Keyon. Estamos aqui para você.
Lucas examinou Keyon com um olhar curioso.
— Seu poder parece... diferente. Mais forte, mas... instável.
Keyon assentiu.
— Minha conexão com o elemento terra cresceu. É mais fácil agora, mais natural, mas também... sinto algo sombrio dentro de mim. Como se uma parte de mim estivesse... mudando.
O grupo trocou olhares preocupados. Ayla finalmente quebrou o silêncio.
— Vamos voltar para o Vaticano. Precisamos descobrir mais sobre o que está acontecendo com você. E juntos, vamos enfrentar isso.
Keyon assentiu, mas uma dúvida permanecia em sua mente. Ele sabia que essa mudança era apenas o começo e que o caminho à frente seria mais perigoso do que jamais havia imaginado.