O retorno ao Vaticano foi silencioso. O grupo, exausto da batalha, mal trocou palavras no caminho de volta. O corpo do general da Illuminati fora incinerado no campo de batalha, e os poucos demônios sobreviventes fugiram para as sombras, sabendo que a luta estava perdida. Mas a vitória não parecia tão doce quanto deveria.
Keyon sentia um peso no peito. Mesmo com seu controle refinado sobre seus poderes demoníacos e a aprovação indireta de Arthur Auguste Angel, ele sabia que essa guerra estava longe de acabar.
Ayla caminhava ao seu lado, o livro mágico ainda apertado contra o peito. Kieran observava Nyx, que, mesmo em seu tamanho reduzido, ainda mostrava sinais de cansaço. Mira e Lucas andavam em silêncio, os olhares distantes.
Quando os portões do Vaticano se ergueram à sua frente, um grupo de exorcistas já os aguardava. Entre eles, um homem de vestes negras e olhos frios deu um passo à frente.
— Paladino Arthur Auguste Angel, a Alta Cúpula do Vaticano pede sua presença imediata. — O homem fez uma breve pausa antes de olhar diretamente para Keyon. — O mesmo vale para você.
Keyon sentiu o olhar afiado do exorcista sobre ele. Embora não fosse incomum ser chamado após uma missão desse nível, algo na voz do homem indicava que essa convocação não era apenas para parabenizá-los.
Arthur assentiu sem hesitação. — Muito bem. Keyon, venha comigo.
Os outros membros do grupo trocaram olhares inquietos, mas sabiam que não poderiam acompanhar.
— Nos contem tudo depois, — disse Ayla em um sussurro, seus olhos cheios de preocupação.
Keyon apenas acenou e seguiu Arthur pelos corredores sagrados do Vaticano.
A Sala dos Juízes era um dos locais mais temidos dentro do Vaticano. Era ali que as decisões mais severas eram tomadas, onde exorcistas eram julgados por falhas, pecados e até traições.
Keyon entrou ao lado de Arthur e sentiu o peso dos olhares sobre ele. Sentados em tronos ornamentados estavam cinco cardeais, suas vestes vermelhas contrastando com o dourado da câmara. No centro, um homem de barba branca e olhar implacável se levantou.
— Paladino Arthur Auguste Angel. Exorcista Keyon. — Sua voz ecoou pelas paredes de pedra. — Soube que a missão foi um sucesso. O general da Illuminati foi eliminado e o avanço das forças demoníacas foi contido.
Arthur inclinou a cabeça respeitosamente. — Sim, Eminência.
O cardeal então virou-se para Keyon.
— O que me preocupa, no entanto, não é a vitória, mas os meios pelos quais ela foi conquistada.
O silêncio na sala tornou-se sufocante.
— Você, um meio-demônio, foi capaz de derrotar um dos generais mais poderosos da Illuminati, algo que muitos exorcistas de alto escalão falhariam em fazer. — O cardeal estreitou os olhos. — Isso pode ser visto como um milagre... ou um presságio.
Keyon manteve sua postura firme. — Controlei minha parte demoníaca. Usei meus poderes para servir ao Vaticano e proteger aqueles que lutaram ao meu lado.
— E por quanto tempo você manterá esse controle? — Outro cardeal questionou, sua voz carregada de desconfiança. — O sangue demoníaco dentro de você pode ser domesticado agora, mas e no futuro?
Keyon respirou fundo, sua mente voltando para todas as batalhas, para todos os momentos em que ele sentiu sua essência demoníaca ameaçando consumi-lo. Mas ele também se lembrou da sua determinação, da promessa que fez a si mesmo de nunca ceder ao caos dentro dele.
Arthur interveio. — Se Keyon fosse uma ameaça, eu o teria eliminado pessoalmente. Mas ele provou sua lealdade. Se ele pode ser uma arma contra a Illuminati, então deveríamos usá-lo, não condená-lo.
Os cardeais trocaram olhares, claramente debatendo o peso das palavras de Arthur.
Após um longo silêncio, o cardeal mais velho suspirou.
— Muito bem. Keyon continuará como um exorcista do Vaticano. Mas será mantido sob vigilância constante. — Ele olhou diretamente para o jovem. — Um único deslize... e sua sentença será a excomunhão e exorcismo imediato.
Keyon assentiu, engolindo a frustração. Ele sabia que nada do que dissesse mudaria a opinião deles. Ele teria que provar com ações, não palavras.
Arthur se virou para sair, e Keyon o seguiu. Mas antes de sair da câmara, uma última frase ecoou atrás dele.
— Se ele perder o controle... mate-o você mesmo, Arthur.
A porta se fechou atrás deles.
Enquanto Keyon e Arthur deixavam a Sala dos Juízes, em outra ala do Vaticano, um grupo de figuras encapuzadas se reunia em uma câmara secreta.
— Ele está se tornando forte demais, — disse uma voz grave.
— E a Alta Cúpula permitiu que ele continuasse entre nós, — outra voz respondeu, cheia de desprezo.
— Se ele cair em desgraça, o Vaticano não hesitará em eliminá-lo. Precisamos apenas esperar o momento certo... e se esse momento não vier, nós o criaremos.
O grupo silenciosamente assentiu, enquanto uma figura mais à frente murmurava palavras que selariam o destino de Keyon.
— A luz e as trevas não podem coexistir. Ele cairá... e quando isso acontecer, estaremos prontos.
Keyon retornou aos seus aposentos, ainda absorvendo tudo o que havia acontecido. A ameaça da Illuminati ainda era real, mas agora ele sabia que não enfrentava apenas demônios — havia inimigos dentro do próprio Vaticano.
Ele se sentou no chão, fechando os olhos e sentindo o fluxo da terra ao seu redor. O poder dentro dele parecia diferente agora, mais estável, mais fluido. Mas ele também podia sentir algo... como se algo estivesse esperando para ser despertado.
Havia muito a ser feito. E ele não poderia falhar.
Do lado de fora, Ayla, Kieran, Mira e Lucas esperavam ansiosos. Assim que ele abriu a porta, Ayla foi a primeira a falar.
— Como foi?
Keyon soltou um suspiro. — Estou sob vigilância. Se eu errar, estou morto.
O silêncio caiu sobre o grupo.
Kieran cruzou os braços, seu olhar frio. — Então vamos garantir que você não erre.
Mira assentiu. — Não deixaremos que te transformem em um monstro.
Lucas deu um pequeno sorriso. — E se tentarem... nós lutamos por você.
Keyon sentiu algo quente no peito. Ele não estava sozinho.
— Obrigado, — ele disse, sua voz carregada de determinação.
A guerra ainda não havia acabado. Mas ele estava pronto para enfrentar qualquer desafio que viesse.