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Chapter 21 - Capítulo 21: Ecos na Pedra

O sol mal havia nascido quando Keyon abriu os olhos. A luz fraca da manhã filtrava-se pelas cortinas pesadas, lançando sombras suaves sobre o teto de pedra do quarto. O ar estava frio, e o silêncio profundo do Vaticano naquela hora tornava tudo mais pesado.

Ele se sentou devagar, sentindo os músculos rígidos da última missão ainda cobrando seu preço. Seu corpo carregava as marcas do combate, mas o cansaço físico não era nada comparado ao peso em sua mente. A reunião com a Alta Cúpula ainda ecoava em sua cabeça como um julgamento inacabado.

A condenação velada. A desconfiança. O olhar implacável dos cardeais.

Ele passou a mão pelo rosto e inspirou fundo, tentando dissipar a tensão. Mesmo com seu controle completo sobre sua parte demoníaca, ele ainda era tratado como uma bomba-relógio. Ele podia senti-lo no ar, no olhar dos exorcistas nos corredores, nas conversas abafadas quando passava.

Mas agora não era hora de se perder nesses pensamentos.

Ele se levantou e caminhou até a pequena mesa no canto do quarto. Sua espada repousava ali, ao lado da nova lâmina forjada pelo Vaticano. A arma que selava parte de seus poderes. Ele pegou a lâmina, segurando-a na mão por um momento, sentindo a leve vibração da magia seladora percorrendo o metal frio.

Era um lembrete do que o Vaticano pensava dele.

Mas também era uma prova de que ele estava no controle.

Quando finalmente saiu do quarto, encontrou Ayla encostada na parede do corredor, os braços cruzados e o olhar distante. O livro mágico pendia de sua mão esquerda, os dedos deslizando distraidamente pelas bordas das páginas.

Ela não olhou para ele imediatamente.

— Você demorou. — Sua voz era baixa, carregada de algo que ele não conseguiu identificar de imediato.

— Não dormi bem. — Keyon respondeu simplesmente.

Ayla finalmente virou-se para encará-lo, seus olhos analisando seu rosto.

— Imagino o porquê. — Havia um leve toque de ironia em sua voz, mas também preocupação genuína.

Keyon soltou um suspiro curto.

— E você? Por que está aqui tão cedo?

Ela hesitou por um momento, então desviou o olhar.

— Não consegui dormir direito também.

Keyon arqueou uma sobrancelha.

— Está preocupada comigo?

Ayla revirou os olhos.

— Não seja tão convencido.

Ele riu, mas logo o sorriso se desfez.

— … Obrigado, Ayla.

Ela olhou para ele de novo, desta vez sem desviar.

— Estamos juntos nisso. Não vou deixar você carregar tudo sozinho.

Keyon sentiu um aperto no peito, mas apenas assentiu.

— Vamos para o refeitório.

Ela concordou e os dois seguiram pelos corredores antigos do Vaticano, os passos ecoando suavemente sobre as pedras gastas.

O refeitório estava relativamente vazio àquela hora. Apenas alguns exorcistas ocupavam as mesas longas de madeira, a maioria mergulhada em relatórios ou preces silenciosas antes da refeição.

Keyon e Ayla pegaram suas bandejas e se sentaram no canto mais afastado do salão. O cheiro de café e pão recém-assado pairava no ar, misturado com o leve aroma de incenso vindo das capelas próximas.

Os dois comeram em silêncio por alguns minutos, cada um imerso em seus próprios pensamentos.

Até que Ayla quebrou o silêncio.

— Você vai treinar hoje?

Keyon assentiu.

— Preciso refinar ainda mais o controle. Agora que o Vaticano está de olho em mim, não posso deixar margem para erros.

Ayla o observou por um momento antes de falar.

— Eu vou com você.

Ele levantou os olhos para ela.

— Você tem certeza?

— Alguém precisa garantir que você não destrua o campo de treinamento.

Keyon soltou uma risada baixa.

— Justo.

O campo de treinamento ficava nos arredores do Vaticano, uma área protegida por barreiras mágicas para conter qualquer magia destrutiva. Era um local amplo, cercado por altas muralhas de pedra e salpicado de ruínas antigas usadas como obstáculos para combates simulados.

Keyon caminhou até o centro da área e fechou os olhos por um momento. Sentiu o fluxo da terra abaixo dele, cada partícula de poeira, cada rachadura nas pedras.

Ele ergueu a mão e deixou que sua energia fluísse.

A terra ao seu redor começou a se mover, pequenas rochas se levantando como se respondessem à sua chamada. Ele moldou o solo com um pensamento, criando pilares e fissuras que se estendiam pelo campo.

O controle estava mais refinado do que nunca.

Ele se moveu, e a terra se moveu com ele. Cada passo era acompanhado por uma resposta do chão, como se estivesse caminhando sobre uma extensão de seu próprio corpo.

Ayla o observava de longe, os olhos atentos a cada detalhe.

— Impressionante, — ela comentou após alguns minutos. — Parece que a terra realmente faz parte de você agora.

Keyon soltou um suspiro.

— É isso que me preocupa.

Ayla franziu a testa.

— O que quer dizer?

Ele parou, olhando para suas próprias mãos.

— Antes, eu sentia que estava manipulando a terra. Agora... sinto como se eu fosse a terra.

Houve um silêncio entre eles.

Ayla finalmente falou.

— Isso significa que você está ficando mais forte.

— Ou significa que estou me tornando menos humano.

Ayla ficou séria.

— Keyon...

Ele olhou para ela, seus olhos refletindo incerteza.

— E se eles estiverem certos? E se, no final, eu realmente não pertencer a esse mundo?

Ayla cruzou os braços.

— O que importa não é o que eles pensam. O que importa é o que você escolhe ser.

Keyon piscou, surpreso com a convicção dela.

Ela continuou.

— Você pode ter sangue demoníaco, pode ter poderes que assustam as pessoas. Mas eu vi você lutar, vi você proteger as pessoas. Se você fosse realmente um monstro, não estaria tão preocupado em não se tornar um.

Ele engoliu em seco.

— Mas e se um dia eu perder o controle?

Ayla deu um passo à frente.

— Então nós vamos impedir você.

O coração de Keyon bateu mais forte.

Por um momento, ele não soube o que dizer. Mas então ele sorriu, um sorriso pequeno, mas genuíno.

— Você realmente não sabe quando desistir, né?

Ayla sorriu de volta.

— Não. E você também não.

O vento soprou suavemente pelo campo de treinamento, levantando pequenas partículas de poeira ao redor deles.

Keyon respirou fundo.

Ele não sabia o que o futuro reservava. Mas sabia que não estava sozinho.

E isso era o suficiente por enquanto.