O salão principal do Vaticano estava pesado de tensão, mesmo com seus altos tetos e vitrais permitindo a entrada da luz dourada da manhã. Keyon estava ajoelhado no centro da sala, cercado pelos cavaleiros e superiores como o Paladino Arthur e os Grigori que lideravam a ordem dos exorcistas. Seus olhos encaravam o chão de mármore polido, mas sua mente estava tumultuada. Ele sabia o que estava por vir, e o peso dessa responsabilidade era sufocante.
A voz grave de um dos Grigori ecoou pelo salão, cortando o silêncio como uma lâmina afiada.
— Keyon, você é um dos nossos mais promissores exorcistas, mas também carrega um dos maiores riscos que já vimos em séculos. — Ele pausou, olhando para os outros líderes que o cercavam. — Sua herança demoníaca não pode mais ser ignorada. Nós decidimos tomar medidas para evitar que isso se torne uma ameaça para a Igreja e para a humanidade.
Keyon ergueu os olhos, encontrando o olhar do Grigori. Ele não protestou; sabia que não havia espaço para desculpas ou complacência. Ele tinha falhado em controlar seu poder e, por isso, agora estava diante do julgamento daqueles que mais confiavam nele.
— Forjamos uma arma para você, — continuou o mestre, apontando para um pedestal ao lado. — Ela foi criada com base em sua espada original, mas modificada com runas de selamento e bênçãos sagradas. Seu propósito é conter sua herança demoníaca e lhe dar a chance de controlar esse poder antes que ele o consuma por completo.
Keyon se levantou lentamente e caminhou até o pedestal. Lá estava a espada, reluzindo à luz dourada. Sua lâmina parecia familiar, mas ao mesmo tempo diferente: a superfície estava gravada com intricados selos e runas que pulsavam com uma energia sagrada. Ele sentiu um calafrio quando segurou o cabo da arma. Uma sensação de peso, não físico, mas espiritual, o percorreu. Era como se a espada estivesse viva, julgando-o enquanto aguardava para cumprir seu propósito.
— Você tem três meses, Keyon, — disse o mestre, com tom firme. — Se não conseguir controlar sua herança nesse período, será considerado um demônio, e será tratado como tal.
As palavras soaram como um veredicto final, cada sílaba cravando-se no coração de Keyon. Ele sabia que não haveria misericórdia.
Na manhã seguinte, Keyon foi escoltado por um grupo de exorcistas de alto nível até uma zona isolada, localizada nas montanhas geladas ao norte do Vaticano. O local era uma antiga capela transformada em um centro de treinamento para casos extremos. A capela, feita de pedra cinzenta, parecia minúscula em comparação com as vastas montanhas que a cercavam. Uma leve nevasca caía, cobrindo o chão de branco e tornando o ambiente ainda mais desolador.
Entre os exorcistas que o acompanhavam estavam Sir Aldric, um First Upper Class Knight, conhecido por sua força implacável e liderança, e Lady Celeste, uma poderosa conjuradora de feitiços sagrados. Ambos haviam sido designados para supervisioná-lo, garantindo que sua jornada fosse segura — e que ele não se tornasse uma ameaça.
— Este lugar é reservado para os mais fortes, — disse Sir Aldric, enquanto abria as portas da capela. — Você terá o necessário para sobreviver e treinar. Mas não espere ajuda. Esta será sua batalha, e você terá de vencê-la sozinho.
Keyon assentiu em silêncio, entrando na capela. O interior era austero, com paredes de pedra nua e poucos móveis. Um círculo de selamento havia sido gravado no chão, e havia várias velas dispostas em pontos estratégicos, iluminando o ambiente com uma luz suave e tremeluzente. Era um lugar que exalava calma, mas ao mesmo tempo, trazia um peso espiritual que Keyon sentiu imediatamente.
Lady Celeste aproximou-se dele antes de sair.
— Use esse tempo com sabedoria, Keyon. Você já controlou essa escuridão antes. Pode fazer isso de novo. Mas saiba que quanto mais profundo for, mais forte será o chamado. — Ela olhou diretamente em seus olhos, seu tom firme mas gentil. — Não permita que ele o consuma.
Com isso, os exorcistas partiram, deixando Keyon sozinho em sua jornada.
Os primeiros dias foram dedicados à meditação. Keyon sentava-se no círculo de selamento, cruzava as pernas e fechava os olhos, tentando acalmar a tempestade dentro de si. Ele podia sentir o peso da espada ao seu lado, um lembrete constante de sua situação.
Cada vez que ele tentava se concentrar, a escuridão sussurrava em sua mente. Era uma voz suave, quase sedutora, que o chamava para abrir mão do controle.
"Você sabe que não precisa resistir..." a voz dizia. "Esse poder é seu por direito. Use-o. Liberte-se dessas correntes que te prendem."
Mas Keyon se recusava a ceder. Ele respirava fundo, focando em sua conexão com a terra ao redor. Ele podia sentir o pulso do mundo sob seus pés, a estabilidade que vinha do elemento que ele controlava. Era uma lembrança de que ele não estava sozinho, de que havia algo maior do que ele.
Quando não estava meditando, ele praticava o manejo da espada. A arma era incrivelmente responsiva, mas sempre que ele tentava liberar seu poder por meio dela, as runas brilhavam, selando qualquer vestígio de sua herança demoníaca. Era frustrante, mas ao mesmo tempo, era uma oportunidade para ele aprender a lutar sem depender de seus poderes.
Depois de uma semana, Sir Aldric voltou à capela, desta vez para testar o progresso de Keyon. O exorcista veterano carregava uma espada de lâmina larga e uma expressão séria.
— Mostre-me o que aprendeu, — disse Aldric, assumindo uma postura de combate.
Keyon sabia que aquilo não seria um simples treino. Aldric era conhecido por sua brutalidade em combate, e ele não iria segurar seus golpes.
A luta começou rapidamente. Aldric avançou com uma velocidade impressionante, forçando Keyon a recuar. Ele usou a espada sagrada para se defender, mas cada impacto parecia um teste à sua determinação. A luta era intensa, mas Keyon conseguiu manter o equilíbrio, usando sua conexão com a terra para prever os movimentos de Aldric.
No entanto, quando Aldric o pressionou ao limite, a escuridão dentro de Keyon começou a emergir. Ele sentiu o calor familiar crescendo em seu peito, e seus olhos começaram a brilhar levemente. Mas antes que pudesse perder o controle, as runas da espada brilharam intensamente, queimando sua mão e trazendo-o de volta à realidade.
— Você está no caminho certo, mas ainda está longe do controle total, — disse Aldric, abaixando sua espada. — Use essa dor como um lembrete. A escuridão só o vencerá se você permitir.
Nas semanas seguintes, Keyon continuou a lutar contra seus demônios internos. Ele meditava por horas, enfrentando os sussurros constantes em sua mente. Ele treinava incessantemente, aprimorando suas habilidades físicas e sua conexão com a terra. Cada pequeno progresso era uma vitória, mas ele sabia que ainda tinha um longo caminho a percorrer.
Certa noite, enquanto olhava para as estrelas através de uma janela da capela, ele teve uma revelação. A escuridão que carregava não era apenas uma maldição, mas também uma parte de quem ele era. Ele precisava aceitá-la, em vez de rejeitá-la. Só então poderia realmente controlá-la.
E assim, Keyon encontrou um novo propósito. Ele não estava apenas lutando contra sua herança demoníaca. Ele estava aprendendo a usá-la como uma ferramenta para proteger aqueles que amava. Com esse pensamento, ele voltou ao círculo de selamento, pronto para enfrentar sua batalha mais difícil.