No silencioso amanhecer do 69° distrito de Rukongai, Keiyon Arks caminhava pelas vielas estreitas, sentindo o vento frio da manhã roçar sua pele negra. A leve neblina que cobria o solo parecia refletir os murmúrios da alma da região, marcada por histórias de sobrevivência e perda. Keiyon, com seus 1,80 metros de altura, cortava a paisagem com sua postura firme e olhos pretos que pareciam desvendar os segredos mais profundos. Seus longos cabelos negros balançavam enquanto ele ajeitava o anel prateado no dedo indicador, um hábito constante que o ajudava a manter a concentração.
Ele não era um Shinigami qualquer. Embora fosse apenas um membro normal da quinta divisão, seu reiatsu pulsava silenciosamente, tão intenso que poderia rivalizar com o de um capitão. Contudo, Keiyon optava por manter esse poder oculto, quase como um segredo íntimo. Sua vida em Rukongai nunca havia sido fácil, mas ele se orgulhava de ter protegido seus irmãos — Gerson, Neyton, Mizi e Yoann — em meio à dureza da vida no distrito 69.
Enquanto ele caminhava, os sons das manhãs no distrito ecoavam ao seu redor. Vendedores já começavam a expor seus produtos desgastados, crianças corriam entre as barracas improvisadas, e os habitantes conversavam em tons baixos, sempre com uma sombra de desconfiança nos olhos. Era um ambiente de constante alerta, um reflexo das dificuldades de quem vivia longe da segurança da Seireitei.
Keiyon parou em frente à casa onde ele e seus irmãos cresceram, uma estrutura simples feita de madeira velha, mas que ainda mantinha o calor das memórias. Ele passava ali todas as manhãs antes de seguir para seus deveres na quinta divisão, como uma forma de lembrar de onde veio. Ele suspirou e murmurou para si mesmo:
— Mais um dia.
Naquele mesmo dia, rumores corriam pelas ruas de Rukongai. Diziam que um grupo estranho havia sido visto atravessando o distrito, liderado por um humano com cabelos alaranjados. Keiyon ouviu as conversas enquanto atravessava o mercado local, intrigado, mas decidiu ignorá-las. Era comum histórias exageradas se espalharem pelo distrito, e ele tinha assuntos mais importantes para tratar.
Ao chegar à Seireitei, as energias estavam diferentes. Os guardas do portão estavam mais alertas, e o fluxo de mensageiros parecia maior que o normal. Ele se dirigiu à sede da quinta divisão, onde encontrou seus colegas já reunidos em pequenos grupos, sussurrando sobre acontecimentos recentes. Algo estava definitivamente fora do comum.
Keiyon, mantendo sua postura tranquila, aproximou-se de um de seus colegas, Hina, uma Shinigami de baixa patente com quem frequentemente treinava.
— O que está acontecendo? — perguntou ele, sua voz grave, mas controlada.
— Há intrusos em Seireitei, Keiyon. Humanos, dizem. Mas o mais estranho é que não são humanos comuns. Um deles tem uma força impressionante e derrotou vários membros da guarda em Rukongai, sem sequer usar uma Zanpakutou. Dizem que ele está com a Kuchiki Rukia.
A menção de Rukia despertou a curiosidade de Keiyon. Ele a conhecia apenas de vista, mas sabia de sua ligação com o capitão da sexta divisão, Kuchiki Byakuya. Algo grande estava em movimento, e ele sentiu um arrepio percorrer sua espinha, como se o destino estivesse prestes a mudar.
Enquanto os rumores sobre os intrusos se espalhavam, a atmosfera na quinta divisão se tornava cada vez mais pesada. O capitão Aizen Sousuke, com sua calma habitual, parecia mais reservado que o normal. Ele sempre fora uma figura enigmática, mas havia algo de estranho em sua postura naquele dia. Keiyon, apesar de respeitar seu capitão, sempre sentira uma desconexão com ele, como se uma máscara invisível escondesse sua verdadeira natureza.
Ao entardecer, durante uma reunião de rotina na sede da divisão, Aizen fez um breve pronunciamento, agradecendo o trabalho de seus subordinados. Sua voz era serena, quase hipnótica, mas havia uma tensão subjacente em suas palavras. Keiyon, atento como sempre, percebeu pequenos detalhes: a forma como Aizen evitava fazer contato visual direto, o leve sorriso que parecia esconder algo mais profundo.
Após a reunião, Keiyon foi chamado por seu tenente, Ichimaru Gin, para uma missão de patrulha nos portões sul da Seireitei. Embora obedecesse às ordens sem questionar, ele sentiu um desconforto ao estar sob o comando do tenente de sorriso traiçoeiro. Gin o olhou de forma intrigante antes de dizer:
— Arks-kun, você parece sempre saber mais do que diz. Gosto disso. Só espero que não saiba demais.
Keiyon não respondeu, apenas deu um leve aceno e seguiu para sua missão. Ele sabia que algo grande estava por vir, mas não esperava que aquela noite mudaria tudo.
Na calmaria antes da tempestade, Keiyon se retirou para um campo de treinamento isolado nos arredores da Seireitei. Ele desembainhou sua Zanpakutou, Burado Tenshis, admirando sua lâmina vermelha que parecia pulsar como se fosse viva.
— Está inquieta hoje... — ele murmurou para sua Zanpakutou.
Uma voz sussurrou em sua mente, profunda e poderosa:
— Keiyon, o sangue será derramado em breve. Esteja pronto para carregar o fardo.
Era o espírito de Burado Tenshis, sempre um guia enigmático, mas confiável. Ele sentiu o peso das palavras e empunhou a lâmina com determinação. Se o destino está se movendo, então preciso estar preparado para enfrentá-lo, pensou.
Enquanto treinava, ele sentiu um tremor no ar, um reiatsu avassalador que o fez interromper seus movimentos. Voltando para a sede da quinta divisão, ele encontrou a confusão instaurada: Aizen Sousuke havia desaparecido, deixando para trás um rastro de traição e caos.
Keiyon sabia que aquele era apenas o começo de algo muito maior. As peças do tabuleiro estavam se movendo, e ele, um simples Shinigami de Rukongai, sentia que seu papel nessa história seria maior do que poderia imaginar.