O vento soprou suavemente sobre Karakura, carregando consigo a poeira fina das batalhas recém-terminadas. O céu, antes marcado por fendas dimensionais e explosões de reiatsu, agora recuperava lentamente sua tonalidade natural. Pequenos fragmentos de energia ainda crepitavam no ar, resquícios dos poderes colossais que haviam sido desencadeados durante o confronto final.
Keiyon Arks permaneceu imóvel no centro do campo de batalha, seu corpo ainda revestido pela armadura cristalina de sangue de sua Bankai. A lança em suas mãos tremulava levemente, ecoando sua exaustão, mas seus olhos não desviavam do ponto onde Aizen havia caído. Mesmo selado, mesmo derrotado, a presença do ex-capitão da Quinta Divisão ainda parecia impregnar o ambiente, como uma sombra persistente que se recusava a se dissipar.
Ichigo Kurosaki, ao seu lado, respirava pesadamente. O manto negro de seu Getsuga Tenshō Final já havia se dissolvido completamente, deixando apenas seu uniforme rasgado e o suor escorrendo pelo rosto. Ele não dizia nada. Apenas observava.
O primeiro som que quebrou o silêncio foi o estalo metálico das correntes espirituais que envolviam Aizen. Kisuke Urahara permaneceu de pé diante do traidor selado, seu rosto parcialmente oculto pelo chapéu listrado, mas seu olhar atento e afiado.
— "Terminou," — ele murmurou, mais para si mesmo do que para qualquer um.
O Hōgyoku, agora brilhando fracamente, ainda estava embutido no peito de Aizen, mas sua pulsação parecia instável, como se tivesse perdido sua convicção.
Aizen, por sua vez, não resistia mais. Seu olhar, antes repleto de arrogância, agora carregava algo indefinível — não medo, não arrependimento, mas talvez uma curiosidade amarga.
— "Tsk…" — ele riu baixinho. — "Então foi assim que terminou…"
O ar ao redor ainda estava carregado. O solo rachado. O cheiro de destruição impregnava tudo. Mas pela primeira vez desde que essa guerra começou… houve silêncio.
Não demorou muito para que os outros Capitães finalmente chegassem ao local do combate.
Primeiro veio Shunsui Kyōraku, seu haori de Capitão balançando ao vento. Seus olhos normalmente relaxados estavam sérios — ele já havia entendido tudo apenas pelo cenário ao seu redor.
Atrás dele, Jūshirō Ukitake e Sui-Feng vieram logo depois, seguidos por Byakuya Kuchiki e Tōshirō Hitsugaya, cujas expressões eram indecifráveis.
O último a chegar foi Genryūsai Shigekuni Yamamoto.
O velho comandante não demonstrava emoção, mas sua presença dominava o local. Ele caminhou lentamente até onde Aizen estava selado e parou diante dele.
Houve um momento de silêncio absoluto.
— "Aizen Sousuke," — Yamamoto finalmente disse, sua voz profunda e carregada de peso. — "Sua ambição levou muitos a sofrerem. Sua traição não será esquecida."
Aizen não respondeu. Apenas olhou para Yamamoto com um sorriso fraco e, finalmente, fechou os olhos.
O Comandante então voltou seu olhar para os demais.
— "Esta guerra acabou. Mas os danos que ela causou ainda precisam ser reparados."
Ele olhou diretamente para Keiyon e Ichigo.
— "Vocês dois… foram os pilares desta vitória."
Ichigo desviou o olhar, sem saber como responder.
Keiyon manteve-se firme.
— "Fizemos o que era necessário."
O Comandante apenas assentiu.
— "Os feridos precisam de atendimento imediato. E Karakura… precisa ser restaurada."
Com o fim da batalha, a energia espiritual que preenchia Karakura começou a se dispersar lentamente. Os Shinigamis iniciaram a evacuação dos feridos, enquanto os Capitães discutiam as próximas etapas.
Keiyon se afastou um pouco do grupo, permitindo-se um momento de solidão. Sua Bankai finalmente se desfez, e sua armadura cristalina de sangue estalou antes de desaparecer completamente, deixando apenas sua Zanpakutō em sua forma selada.
O cansaço finalmente o atingiu.
Ele olhou para o céu e respirou fundo.
A luta contra Aizen tinha sido… algo além do que qualquer um poderia prever.
Mesmo com a força de Ichigo, mesmo com a intervenção dos Capitães, a vitória não havia sido garantida até o último instante. Se o Hōgyoku não tivesse rejeitado Aizen… talvez tudo tivesse sido diferente.
Esse pensamento o incomodava.
Porque significava que, de certa forma… eles não venceram completamente por mérito próprio.
Houve sorte.
E em uma guerra… depender da sorte era algo perigoso.
Se um inimigo tão forte quanto Aizen surgisse no futuro, seriam capazes de vencê-lo sem depender do acaso?
Keiyon apertou os punhos.
Ele não podia permitir que essa experiência fosse desperdiçada.
Havia muito a se aprender.
E ele aprendia rápido.
Keiyon sentiu uma presença ao seu lado e, sem precisar olhar, soube quem era.
Ichigo ficou ali, sem dizer nada por um longo tempo. Apenas olhando para a paisagem devastada de Karakura.
Quando ele finalmente falou, sua voz era baixa:
— "Eu não esperava que fosse assim."
Keiyon olhou para ele.
— "Assim como?"
Ichigo hesitou.
— "Eu esperava que… quando derrotássemos Aizen, tudo ficasse mais claro. Mas agora que acabou… sinto que ainda tem algo errado."
Keiyon entendeu.
Ele também sentia isso.
Aizen pode ter sido derrotado… mas o peso dessa batalha não desapareceria facilmente.
Os estragos foram profundos.
E ambos sabiam que esse era apenas um capítulo na história maior.
Keiyon respirou fundo e então disse:
— "A única coisa que podemos fazer agora… é nos fortalecer ainda mais. Porque, cedo ou tarde… algo pior que Aizen pode aparecer."
Ichigo fechou os olhos, absorvendo essas palavras.
Então, ele assentiu.
— "Você tem razão."
Os dois permaneceram ali por mais um tempo, deixando o vento levar consigo os resquícios da batalha.
E mesmo sem dizer mais nada… ambos entenderam algo muito claro.
Essa vitória não era o fim de tudo.
Era apenas… o começo.